quinta-feira, 30 de junho de 2022

Mateus 9, 9-13 Justiça e misericórdia.

* 9 Saindo daí, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos, e lhe disse: “Siga-me!” Ele se levantou, e seguiu a Jesus. 10 Estando Jesus à mesa em casa de Mateus, muitos cobradores de impostos e pecadores foram e sentaram-se à mesa com Jesus e seus discípulos. 11 Alguns fariseus viram isso, e perguntaram aos discípulos: “Por que o mestre de vocês come com os cobradores de impostos e os pecadores?” 12 Jesus ouviu a pergunta e respondeu: “As pessoas que têm saúde não precisam de médico, mas só as que estão doentes. 13 Aprendam, pois, o que significa: ‘Eu quero a misericórdia e não o sacrifício’. Porque eu não vim para chamar justos, e sim pecadores.” Comentário: * 9-13: Cf. nota em Mc 2,13-17. Com a citação de Oséias 6,6, Mateus esclarece o sentido da missão de Jesus: a justiça do Reino é inseparável da misericórdia. Ao mesmo tempo que Jesus chama um cobrador de impostos para segui-lo, revela também o coração de Deus que acolhe pecadores. Ao chamar Mateus e fazer refeição com os cobradores de impostos e pecadores, mexe com os fariseus, fiéis observantes da lei mosaica e ferrenhos críticos dos que a transgridem. Os cobradores de impostos eram detestados por serem colaboradores dos opressores romanos. A convivência com essas pessoas colocava Jesus e seus seguidores em situação de impureza. O Mestre não se preocupava com essas questões, sua preocupação é para com os pobres e os desprezados da sociedade. Estes são os primeiros beneficiários da misericórdia do Pai. O desejo de Jesus é revelar a misericórdia e o amor de Deus para com os desprezados, e convidar os seus seguidores a seguir o mesmo caminho da misericórdia e da compaixão.

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Mateus 9, 1-8 O poder de perdoar.

* 1 Jesus subiu numa barca, passou para a outra margem e chegou à sua cidade. 2 Nisso, levaram a ele um paralítico deitado numa cama. Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: “Coragem, filho! Os seus pecados estão perdoados.” 3 Então alguns doutores da Lei pensaram: “Esse homem está blasfemando!” 4 Mas Jesus, conhecendo os pensamentos deles, disse: “Por que é que vocês pensam coisas más? 5 O que é mais fácil dizer: ‘Os seus pecados estão perdoados’; ou dizer: ‘Levante-se e ande’? 6 Pois bem, para que vocês saibam que o Filho do Homem tem poder na terra para perdoar pecados - então disse Jesus ao paralítico: - Levante-se, pegue a sua cama e vá para a sua casa.” 7 O paralítico então se levantou, e foi para a sua casa. 8 Vendo isso, a multidão ficou com medo e louvou a Deus, por ter dado tal poder aos homens. Comentário: * 9,1-8: Cf. nota em Mc 2,1-12. Só Mateus acrescenta na conclusão as palavras “por ter dado tal poder aos homens”. Desse modo, o episódio se torna apresentação do poder de perdoar, que é entregue à comunidade da Igreja (cf. Mt 18,15-18). Temos o caso de um paralítico sendo carregado até Jesus. O Mestre se admira da fé dessas pessoas e proclama o paralítico livre dos pecados. A mentalidade daquele tempo via a doença como causa dos males. Portanto, o paralítico, uma vez perdoados seus pecados, está livre também de sua deficiência. Como sempre, os doutores da Lei questionam o gesto de Jesus. A seguir, o Mestre convida o paralítico a carregar sua própria maca e ir para casa. Um paralítico é dependente das pessoas; com seu gesto, Jesus proclama autonomia e liberdade às pessoas. Muito interessante a conclusão do Evangelho: Deus deu às pessoas a autoridade de realizar os mesmos gestos de Jesus. Quem perdoa é Deus, mediante as pessoas. E todos têm o poder e a responsabilidade de fazer o bem, como o Mestre fez. A fé das pessoas consegue realizar sinais maravilhosos.

terça-feira, 28 de junho de 2022

Mateus 8, 28-34 Jesus desaliena os homens.

* 28 Quando Jesus chegou à outra margem, à terra dos gadarenos, foram ao encontro dele dois homens possuídos pelo demônio. Saíam do meio dos túmulos e eram muito selvagens, de modo que ninguém podia passar por esse caminho. 29 Então eles gritaram: “Que é que há entre nós, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?” 30 Havia, ao longe, uma grande manada de porcos que estavam pastando. 31 Os demônios suplicavam: “Se nos expulsas, manda-nos para a manada de porcos.” 32 Jesus disse: “Podem ir.” Os demônios saíram, e foram para os porcos; e eis que toda a manada se atirou monte abaixo para dentro do mar e morreu afogada. 33 Os homens que guardavam os porcos saíram correndo, foram à cidade e contaram tudo, inclusive o caso dos possuídos pelo demônio. 34 Então toda a cidade saiu ao encontro de Jesus. Vendo-o, começaram a suplicar que Jesus se retirasse da região deles. Comentário: * 28-34: Cf. nota em Mc 5,1-20. Para desalienar os homens não existe limite de espaço (“aqui”) e de tempo (“antes do tempo”). Mateus mostra que Jesus realizou sua ação libertadora, mesmo que para isso tivesse que “invadir” áreas pagãs, consideradas propriedade do demônio. Jesus ultrapassa os limites de Israel e se dirige ao mundo conhecido como “pagão”. A missão de Jesus se estende além das fronteiras do povo eleito. Lá se defronta com dois endemoninhados violentos, que reconhecem em Jesus o “Filho de Deus” e o poder dele de vencer as forças do mal. O relato descreve o mundo de pobreza (viver no cemitério), violento sob o Império Romano (porcos). O Mestre se encontra numa realidade de impureza: mundo pagão, cemitério, porcos, endemoninhados, e é justamente a esse ambiente que ele deseja levar o Reino de Deus, para transformá-lo numa realidade pura e sem violência. O Evangelho procura sublinhar que em cada um de nós pode haver males, ídolos, “demônios” que nos atormentam e nos escravizam, aos quais devemos expulsar para nos libertar da violência, intolerância e preconceitos.

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Mateus 8, 23-27 Jesus é o Senhor das situações.

-* 23 Então Jesus entrou na barca, e seus discípulos o acompanharam. 24 E eis que houve grande agitação no mar, de modo que a barca estava sendo coberta pelas ondas. Jesus, porém, estava dormindo. 25 Os discípulos se aproximaram e o acordaram, dizendo: “«Senhor, salva-nos, porque estamos afundando!” 26 Jesus respondeu: “Por que vocês têm medo, homens de pouca fé?” E, levantando-se, ameaçou os ventos e o mar, e tudo ficou calmo. 27 Os homens ficaram admirados e disseram: “Quem é esse homem, a quem até o vento e o mar obedecem?” Comentário: * 23-27: É nos momentos de crise e dificuldades diante do mundo que a comunidade cristã (discípulos) mostra se confia ou não na presença de Jesus em seu meio. As situações críticas são sempre um termômetro que mede o grau de consciência da maturidade ou infantilidade da fé. O Evangelho de ontem termina com Jesus convidando seus discípulos a segui-lo. Entram no barco. De repente uma tempestade violenta ameaça o barco e os tripulantes. Há grande contraste entre a tranquilidade de Jesus dormindo e o desespero dos discípulos, prestes a ser tragados pelas ondas. Os discípulos invocam o Mestre para que intervenha. A barca é símbolo da comunidade que se apavora diante das dificuldades, incompreensões e perseguições, simbolizadas pelo mar. Jesus é apresentado como aquele que enfrenta as dificuldades do povo. As tempestades fazem parte da vida das comunidades e das famílias, colocando em dúvida a presença do Ressuscitado. A fé na presença dele nos encoraja a enfrentar os desafios que surgem na vida. Ainda hoje, muitas vezes, nos perguntamos por que Deus permite tanto sofrimento e por que ele não intervém.

domingo, 26 de junho de 2022

Mateus 8, 18-22 Exigências para seguir Jesus.

* 18 Vendo grandes multidões ao seu redor, Jesus mandou passar para a outra margem. 19 Então um doutor da Lei se aproximou e disse: “Mestre, eu te seguirei aonde quer que fores.” 20 Mas Jesus lhe respondeu: “As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça.” 21 Outro, que era discípulo, disse a Jesus: “Senhor, deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai.” 22 Mas Jesus lhe respondeu: “Siga-me, e deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos.” Comentário: * 18-22: Para seguir a Jesus, a pessoa precisa estar disposta a duas coisas: correr o risco da insegurança sobre o futuro, e estar pronta para não adiar o compromisso. Jesus oferece instruções para quem deseja segui-lo como discípulo-missionário. Ao doutor da Lei que se oferece para segui-lo, Jesus lhe mostra que ele vive pobre e de forma despojada: não tem onde repousar a cabeça. Com sua resposta, o Mestre parece convidar o doutor da Lei a repensar se realmente está disposto a abandonar seus privilégios e viver de forma pobre. Seguir Jesus não é aderir a uma doutrina, por mais atraente que seja, mas é seguir uma pessoa, é um modo de vida que exige desapego. Um seu discípulo pede permissão para enterrar o próprio pai. A resposta do Mestre não despreza o dever sagrado de enterrar os mortos, mas revela que os interesses pelo Reino devem estar acima de quaisquer outras preocupações humanas. Seguir Jesus é estar disposto a abandonar as atividades que, mesmo sendo boas, se tornam obstáculo para o seguimento.

sábado, 25 de junho de 2022

Lucas 9, 51-62 Jesus vai para Jerusalém.

* 51 Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém, 52 e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho, e entraram num povoado de samaritanos, para conseguir alojamento para Jesus. 53 Mas, os samaritanos não o receberam, porque Jesus dava a impressão de quem se dirigia para Jerusalém. 54 Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para acabar com eles” 55 Jesus porém, voltou-se e os repreendeu. 56 E partiram para outro povoado. Os primeiros passos do discípulo -* 57 Enquanto iam andando, alguém no caminho disse a Jesus: “Eu te seguirei para onde quer que fores.” 58 Mas Jesus lhe respondeu: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça.” 59 Jesus disse a outro: “Siga-me.” Esse respondeu: “Deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai.” 60 Jesus respondeu: “Deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos; mas você, vá anunciar o Reino de Deus.” 61 Outro ainda lhe disse: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa primeiro que eu vá me despedir do pessoal de minha casa.” 62 Mas Jesus lhe respondeu: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus.” Comentário: * 51-56: Jesus inicia o seu caminho para Jerusalém (cf. Introdução). Nessa viagem, Lucas mostra a pedagogia de Jesus, que vai indicando o caminho para aqueles que querem unir-se a ele. Tal processo por ele iniciado vai provocar sérios conflitos com aqueles que não querem mudar o rumo da história. Por enquanto, nem os samaritanos entendem que Jesus vai a Jerusalém para salvá-los. E os discípulos não imaginam que a Samaria será um dos primeiros lugares que eles evangelizarão ao saírem de Jerusalém (At 1,8). * 57-62: Os primeiros passos para os que seguem Jesus em seu caminho são: disponibilidade contínua, capacidade de renunciar as seguranças e, iniciado o caminho, não voltar para trás, por motivo nenhum. Começa aqui a grande viagem de Jesus para Jerusalém, onde a cruz o aguarda. Ao longo do percurso, acontecem encontros, milagres, controvérsias. O verdadeiro discípulo é o que segue o Mestre no caminho da renúncia a si mesmo e da solidariedade ativa com os pobres, os pequenos, os excluídos. Jesus reprova o espírito de intolerância de Tiago e João, e mantém sua firme resolução de caminhar para Jerusalém, onde entregará a própria vida em favor da humanidade. Três cenas marcam o início da caminhada. No primeiro e terceiro casos, os homens tomam a iniciativa: “Eu te seguirei”. Ao primeiro, o Mestre lhe mostra que o seguimento a ele não será fácil, pois ele sequer tem lugar onde repousar a cabeça. Ao terceiro, que deseja se despedir dos familiares, Jesus o desafia: ou seguir a nova família do Mestre ou continuar com sua família de sangue. No segundo caso, é Jesus quem chama: “Siga-me”. O convidado pede um tempo para enterrar o pai. Deixar os mortos seria atitude de se desvencilhar do passado. O diálogo com os três possíveis seguidores demonstra a prioridade do Reino. Nas três situações requerem-se: prontidão, desprendimento de outros vínculos, disposição para enfrentar o desconforto. Em vista da nova vida do Reino de Deus.

Gálatas 5, 1.13-18 A liberdade cristã.

* 1 Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres. Portanto, sejam firmes e não se submetam de novo ao jugo da escravidão. A vida segundo o Espírito -* 13 Irmãos, vocês foram chamados para serem livres. Que essa liberdade, porém, não se torne desculpa para vocês viverem satisfazendo os instintos egoístas. Pelo contrário, disponham-se a serviço uns dos outros “Ame o seu próximo como a si mesmo”. 15* Mas, se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, tomem cuidado! Vocês vão acabar destruindo-se mutuamente.16 Por isso é que lhes digo: vivam segundo o Espírito, e assim não farão mais o que os instintos egoístas desejam. 17 Porque os instintos egoístas têm desejos que estão contra o Espírito, e o Espírito contra os instintos egoístas; os dois estão em conflito, de modo que vocês não fazem o que querem. 18* Mas, se forem conduzidos pelo Espírito, vocês não estarão mais submetidos à Lei. Comentário: *1-12: Cristo nos libertou, mas podemos nos tornar escravos outra vez. Precisamos permanecer vigilantes, a fim de mantermos a liberdade e nela crescer. Os vv. 5-6 apresentam a estrutura da vida cristã: o cristão é aquele que, pela fé, acolhe a ação do Espírito e a comunica através do amor; e é do Espírito que ele espera a ressurreição, a vida no Reino de Deus. A fé, o amor e a esperança são, portanto, as atitudes características do cristão, a estrutura da vida nova. * 13-15: A vida cristã é um chamado para a liberdade. Esta, porém, não deve ser confundida com libertinagem, que é buscar e colocar tudo a serviço de si mesmo. A verdadeira liberdade leva o homem a crescer no amor e no dom de si, para colocar-se a serviço dos outros. Como os sinóticos (cf. Mc 12,31), Paulo resume a Lei no mandamento de Lv 19,18: quem ama o próximo, realiza a vontade de Deus. * 16-18: As expressões “segundo o Espírito” e “segundo os instintos egoístas” (lit.: carne) não designam duas partes do homem, e sim duas orientações diferentes de comportamento: “segundo o Espírito” é a orientação do amor, que leva o homem a servir o outro; “segundo os instintos egoístas” é a orientação do egoísmo, que leva o homem a servir a si mesmo.

sexta-feira, 24 de junho de 2022

Lucas 2, 41-51 O Messias é o Filho de Deus.

* 41 Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. 42 Quando o menino completou doze anos, subiram para a festa, como de costume. 43 Passados os dias da Páscoa, voltaram, mas o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem. 44 Pensando que o menino estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro. Depois começaram a procurá-lo entre parentes e conhecidos. 45 Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém à procura dele. 46 Três dias depois, encontraram o menino no Templo. Estava sentado no meio dos doutores, escutando e fazendo perguntas. 47 Todos os que ouviam o menino estavam maravilhados com a inteligência de suas respostas. 48 Ao vê-lo, seus pais ficaram emocionados. Sua mãe lhe disse: "Meu filho, por que você fez isso conosco? Olhe que seu pai e eu estávamos angustiados, à sua procura." 49 Jesus respondeu:"«Por que me procuravam? Não sabiam que eu devo estar na casa do meu Pai?" 50 Mas eles não compreenderam o que o menino acabava de lhes dizer. 51 Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e permaneceu obediente a eles. E sua mãe conservava no coração todas essas coisas. Comentário: * 41-52: Neste Evangelho, as primeiras palavras de Jesus mostram que toda a sua missão decorre da sua relação filial com o Pai. Isto significa que essa missão provém do próprio mistério de Deus e da realização de sua vontade entre os homens. Contudo, ela se processa dentro do mistério da Encarnação, onde Jesus vai aprendendo a viver a vida humana como qualquer outro homem. Enfocada já desde os Padres da Igreja, a grandeza do coração de Maria recebe devoção especial durante a Idade Média. A passagem da devoção privada ao culto público do Coração de Maria é obra de São João Eudes (1601-1680). Em 1942, o papa Pio XII estendeu esta festa a toda a Igreja. O caminho para Jerusalém é imagem da caminhada de fé, vivida por Maria no seu coração. Os pais sempre alimentam projetos com relação ao futuro dos filhos. Com doze anos, Jesus entra responsavelmente na sociedade cultual e social do povo da Aliança. O que fará ele de sua vida? Jesus deve realizar o projeto do Pai, projeto para o qual nasceu. Jerusalém (mencionada três vezes) é a meta rumo à qual Jesus caminha em total obediência à vontade do Pai. Com Jesus devem caminhar também sua mãe e todo discípulo seu.

quinta-feira, 23 de junho de 2022

Lucas 15, 3-7 A ovelha perdida.

"Se um de vocês tem cem ovelhas e perde uma, será que não deixa as noventa e nove no campo para ir atrás da ovelha que se perdeu, até encontrá-la? 5 E quando a encontra, com muita alegria a coloca nos ombros. 6 Chegando em casa, reúne amigos e vizinhos, para dizer: ‘Alegrem-se comigo! Eu encontrei a minha ovelha que estava perdida’. 7 E eu lhes declaro: assim, haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão." Comentário: * 3-7: A parábola não quer dizer que Deus prefere o pecador ao justo, ou que os justos sejam hipócritas. Ela ressalta o mistério do amor do Pai que se alegra em acolher o pecador arrependido ao lado do justo que persevera. Podemos dizer que o capítulo 15 é o coração do Evangelho de Lucas. Esse capítulo nos revela o desejo de Deus e o que Jesus fez ao longo de sua missão. As três parábolas – ovelha perdida, a moeda perdida e o filho perdido – exaltam o coração misericordioso e o amor terno e gratuito de Deus por nós e nos convidam à alegria quando se recupera algo perdido. A parábola da ovelha parte da preocupação pela ovelha perdida e termina na alegria por ter sido encontrada. A imagem da ovelha e do pastor é muito rica e muito utilizada pelos profetas e pelo próprio Jesus. As ovelhas são a imagem do povo de Deus e o pastor representa todos aqueles que têm certa responsabilidade por esse povo. As parábolas confrontam o bom pastor com o mau pastor. Jesus se apresenta como o bom pastor, aquele que conhece suas ovelhas, as chama pelo nome e vai em busca da perdida. O coração misericordioso de Jesus nos convida a imitá-lo no nosso relacionamento com os outros e a recuperar as pessoas esquecidas e marginalizadas pelos dirigentes e pela sociedade. A sociedade moderna exclui muito mais que um por cento de sua população. O papa Francisco nos alerta: "Devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social" (EG, 53).

Romanos 5, 5-11 O motivo da nossa esperança.

5 E a esperança não engana, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. 6 De fato, quando ainda éramos fracos, Cristo, no momento oportuno, morreu pelos ímpios. 7 Dificilmente se encontra alguém disposto a morrer em favor de um justo; talvez haja alguém que tenha coragem de morrer por um homem de bem. 8 Mas Deus demonstra seu amor para conosco porque Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores. 9 Assim, tornados justos pelo sangue de Cristo, com maior razão seremos salvos da ira por meio dele. 10 Se quando éramos inimigos fomos reconciliados com Deus por meio da morte do seu Filho, muito mais agora, já reconciliados, seremos salvos por sua vida. 11 E não só isso. Também nos gloriamos em Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual obtivemos agora a reconciliação. Comentário: * 1-11: Justificados pela fé em Jesus Cristo, estamos em paz com Deus; por isso, começamos a viver a esperança da salvação. Essa esperança é vivida em meio a uma luta perseverante, ancorada na certeza, garantida pelo Espírito Santo que nos foi dado (vv. 1-5). Deus manifestou seu amor em Jesus Cristo, que morreu por nós quando ainda éramos pecadores (vv. 6-8). Agora que já fomos reconciliados podemos crer com maior razão e esperar que seremos salvos pela vida-ressurreição de Jesus (vv. 9-11). O termo "tribulação", que aparece muitas vezes no Novo Testamento, se refere às opressões e repressões de que é vítima o povo de Deus. Opressões e repressões por parte dos poderes humanos, que procuram reduzir o alcance do testemunho cristão para que este não abale a estrutura vigente na sociedade.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Lucas 1, 57-66.80 Nascimento de João Batista.

* 57 Terminou para Isabel o tempo de gravidez, e ela deu à luz um filho. 58 Os vizinhos e parentes ouviram dizer como o Senhor tinha sido bom para Isabel, e se alegraram com ela. 59 No oitavo dia, foram circuncidar o menino, e queriam dar-lhe o nome de seu pai, Zacarias. 60 A mãe, porém, disse: "Não! Ele vai se chamar João."» 61 Os outros disseram: "Você não tem nenhum parente com esse nome!" 62 Então fizeram sinais ao pai, perguntando como ele queria que o menino se chamasse. 63 Zacarias pediu uma tabuinha, e escreveu: "O nome dele é João." E todos ficaram admirados. 64 No mesmo instante, a boca de Zacarias se abriu, sua língua se soltou, e ele começou a louvar a Deus. 65 Todos os vizinhos ficaram com medo, e a notícia se espalhou por toda a região montanhosa da Judéia. 66 E todos os que ouviam a notícia, ficavam pensando: "O que será que esse menino vai ser?" De fato, a mão do Senhor estava com ele.80 O menino ia crescendo, e ficando forte de espírito. João viveu no deserto, até o dia em que se manifestou a Israel. Comentário: * 57-66: O nome de João (= Deus tem piedade) é o sinal que evidencia o projeto de Deus sobre a criança e sua missão. * 67-80: O cântico de Zacarias é um louvor ao Deus misericordioso que realiza, através de Jesus, a "visita" aos pobres. Em Jesus se manifesta a força que liberta dos inimigos e do medo, formando um povo santo diante de Deus e justo diante dos homens. Desse modo, manifesta-se a luz que ilumina a condição do povo, abrindo uma história nova, que se encaminha para a Paz, isto é, a plenitude da vida. Com linguagem e cores vivas, Lucas narra o nascimento de João, filho de Zacarias e de Isabel. Escolhido por Deus desde o seio materno, João vem com a missão de "converter o coração dos pais aos filhos, e os rebeldes à sabedoria dos justos, e para preparar ao Senhor um povo bem-disposto" (Lc 1,17). João é a ponte entre o Antigo e o Novo Testamento. Seu nascimento traz uma alegria indizível não só para a mãe, mas também para os seus vizinhos e parentes. Afinal, Isabel era estéril, e o casal, de idade avançada. Notava-se aí clara intervenção divina. Isabel o reconhece e propaga: "“Eis o que o Senhor fez por mim, nos dias em que decidiu tirar de mim a humilhação pública" (Lc 1,25). Essa alegria contagiante se expande e desemboca nos dias do Messias, conforme anunciaram os profetas (cf. Sf 3,14).

Atos 13, 22-26 A essência da catequese de Paulo.

22 Após depor Saul da realeza, Deus suscitou para eles o rei Davi, do qual prestou o seguinte testemunho: ‘Encontrei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração; ele cumprirá todas as minhas vontades’. 23 Conforme havia prometido, Deus fez surgir da descendência de Davi um Salvador para Israel, que é Jesus. 24 E João, o precursor, havia preparado a chegada de Jesus, pregando a todo o povo de Israel um batismo de arrependimento. 25 Estando para terminar a sua missão, João declarou: ‘Não sou aquele que vocês pensam que eu seja! Vejam: depois de mim é que vem aquele do qual não mereço nem sequer desamarrar as sandálias! 26 Irmãos, descendentes de Abraão e não-judeus que adoram a Deus, esta mensagem de salvação foi enviada para nós. Comentário: * 13-43: O primeiro discurso de Paulo reflete a estrutura da sua catequese (comparar com a catequese de Pedro em At 10,34-43). A idéia-chave é a salvação, fruto da ressurreição de Cristo. A história de Israel, conduzida por Deus, é um passado de promessas em tensão para o seu cumprimento. É em Jesus que Deus as cumpre, transformando a história passada num presente que antecipa todo o futuro. Embora conhecendo as promessas, as autoridades de Israel rejeitaram Jesus e o mataram. Deus, porém, o ressuscitou, tornando-o salvador de todos os homens. É o que as Escrituras anunciam e os apóstolos testemunham. A profissão de fé expressa nessa catequese não é teoria abstrata; é experiência profundamente ligada à história, na qual se revela o acontecimento salvífico e na qual Deus nos chama para construirmos o futuro libertador antecipado em Jesus ressuscitado.

terça-feira, 21 de junho de 2022

Lucas 1, 5-17 Deus ouve o pedido dos pobres.

* 5 No tempo de Herodes, rei da Judéia, havia um sacerdote chamado Zacarias. Era do grupo de Abias. Sua esposa se chamava Isabel, e era descendente de Aarão. 6 Os dois eram justos diante de Deus: obedeciam fielmente a todos os mandamentos e ordens do Senhor. 7 Não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e os dois já eram de idade avançada. 8 Certa ocasião, Zacarias fazia o serviço religioso no Templo, pois era a vez do seu grupo realizar as cerimônias. 9 Conforme o costume do serviço sacerdotal, ele foi sorteado para entrar no Santuário, e fazer a oferta do incenso. 10 Na hora do incenso, toda a assembléia do povo estava rezando no lado de fora. 11 Então apareceu a Zacarias um anjo do Senhor. Estava de pé, à direita do altar do incenso. 12 Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e cheio de medo. 13 Mas o anjo disse: "Não tenha medo, Zacarias! Deus ouviu o seu pedido, e a sua esposa Isabel vai ter um filho, e você lhe dará o nome de João. 14 Você ficará alegre e feliz, e muita gente se alegrará com o nascimento do menino, 15 porque ele vai ser grande diante do Senhor. Ele não beberá vinho, nem bebida fermentada e, desde o ventre materno, ficará cheio do Espírito Santo. 16 Ele reconduzirá muitos do povo de Israel ao Senhor seu Deus. 17 Caminhará à frente deles, com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto." Comentário: * 5-25: A esterilidade e velhice marcam a vida desse casal justo, e o tornam objeto de humilhação pública. Zacarias e Isabel representam a comunidade dos pobres e oprimidos, que dependem de Deus. Deus se volta para esses pobres: deles nascerá João, o último profeta da antiga Aliança. João abrirá o caminho para a chegada do Messias, que iniciará a história da libertação dos pobres (cf. nota em Ml 3,22-24).

1 Pedro 1, 8-12 O papel do Filho.

8 Vocês nunca viram Jesus e, apesar disso, o amam; não o vêem, mas acreditam. E por isso sentem alegria extraordinária e gloriosa, 9 porque alcançam a meta da fé, que é a salvação de vocês. A ação do Espírito -* 10 Essa salvação já foi objeto de busca e investigação dos profetas, quando de antemão anunciavam a graça que Deus tinha reservado para nós. 11 Eles procuravam descobrir em que tempo e circunstâncias se verificariam as indicações por eles próprios recebidas do Espírito de Cristo, que estava presente neles. Foi assim que eles falaram dos sofrimentos de Cristo e das glórias que viriam depois. 12 E foi-lhes revelado que eles mesmos não veriam essas coisas, mas que, anunciando-as, estavam trabalhando para vocês. Agora, porém, os pregadores do Evangelho as manifestaram, guiados pelo Espírito Santo enviado do céu: são coisas que até os anjos gostariam de contemplar. Comentário: * 6-9: A fé é compromisso permanente com Cristo, até a morte. Cristo chegou à glória da ressurreição e da vida através de perseguições e sofrimentos. O cristão segue o mesmo caminho: mediante o testemunho de vida em meio às provas, pouco a pouco nele se manifesta o próprio Cristo, que comunica a alegria da ressurreição. * 10-12: Aquilo que estava escondido aos profetas e anjos foi revelado aos cristãos: Deus realizou seu plano salvador através de Jesus Cristo, que culminou seu testemunho na morte e ressurreição. Este é o grande mistério anunciado por aqueles que pregam o Evangelho, impulsionados pelo Espírito. E o Espírito provoca o discernimento que nos leva a compreender o projeto de Deus realizado em Jesus.

Mateus 7, 15-20 Cuidado com as falsas promessas.

* 15 “Cuidado com os falsos profetas: eles vêm a vocês vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes. 16 Vocês os conhecerão pelos frutos deles: por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas? 17 Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz maus frutos. 18 Uma árvore boa não pode dar frutos maus, e uma árvore " Comentário: * 15-20: “Nada se parece tanto com um verdadeiro profeta, como um falso profeta.” As ideologias que nos afastam da opção fundamental pelo Reino e sua justiça são cheias de fascínio, e sempre trazem a aparência de humanidade e até mesmo de fé. Só poderemos perceber a sua falsidade através daquilo que elas produzem na sociedade: a cobiça e a sede de poder, que levam à exploração e opressão. O alerta do Evangelho de hoje é sobre o cuidado com os falsos profetas. Como distingui-los? Pelos frutos; esse é um teste infalível. As ações e as práticas revelam quem são. A vestimenta e as bonitas palavras podem enganar. O verdadeiro profeta é aquele que anuncia a mensagem do Mestre, revelada no Evangelho, e denuncia tudo o que deteriora a vida das pessoas. Os falsos profetas são como lobos que se aproximam das pessoas para alimentar seu ego e seu interesse. A advertência de Jesus é para todos os que se dizem seus seguidores, mas principalmente para as lideranças das comunidades. O ensinamento de hoje se refere também aos critérios para discernir as ideologias e os programas propostos pelos poderosos em favor de alguém. Os meios de comunicação podem manipular as mentes em favor de objetivos obscuros das elites.

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Mateus 7, 6.12-14 Saber discernir.

* 6 "Não dêem aos cães o que é santo, nem atirem pérolas aos porcos; eles poderiam pisá-las com os pés e, virando-se, despedaçar vocês." A regra de ouro -* 12 "Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles. Pois nisso consistem a Lei e os Profetas." O Reino exige esforço -* 13 "Entrem pela porta estreita, porque é larga a porta e espaçoso o caminho que levam para a perdição, e são muitos os que entram por ela! 14 Como é estreita a porta e apertado o caminho que levam para a vida, e são poucos os que a encontram!" Comentário: * 6: Esta sentença provavelmente significa que é desperdício e perigo anunciar o Reino aos que não estão preocupados com ele. Se ligada à sentença sobre os dois senhores (Mt 6,24), poderia significar que é inútil e até perigoso anunciar os princípios evangélicos àqueles cujo deus são as riquezas. O coração deles está em outro lugar; fizeram outra opção fundamental. Em todo caso, a sentença parece fora de contexto, e é de difícil interpretação. * 12: No tempo de Jesus, "Lei e Profetas" indicava todo o Antigo Testamento. Esta "regra de ouro" convida-nos a ter para com os outros a mesma preocupação que temos espontaneamente para com nós mesmos. Não se trata de visão calculista - dar para receber -, mas de uma compreensão do que seja o amor do Pai. * 13-14: Tanto a opção fundamental pelo Reino e sua justiça (entrar pela porta), como continuar nessa busca fundamental (caminho), não são fáceis. A escolha verdadeira nunca será feita pelos indecisos e acomodados. Estes ficam relutando, ou escolhem a estrada mais larga proposta pelos ídolos. Nesse trecho temos vários ditos de Jesus, ainda dentro do sermão da montanha, sobre a prudência, a caridade e a decisão. Prudência com os valores do Evangelho e do Reino, considerados sagrados, que nem todos entendem ou estão dispostos a acolher. A comunidade acolhe os valores do Reino pregado por Jesus; para quem não estiver a fim desses valores, seria desperdício propô-los. A caridade é definida na conhecida “regra de ouro”: fazer aos outros o que desejamos a nós mesmos. Qualquer pessoa pode entender essa explicação da caridade. O discípulo do Reino procura agir sempre pensando no bem do próximo e espera receber o mesmo dele. O terceiro dito de Jesus é sobre a decisão: optar pela porta estreita ou pela porta larga. Nem sempre é fácil trilhar o caminho proposto por Jesus, mas é a partir de nossa opção que decidimos pela felicidade ou desgraça.

domingo, 19 de junho de 2022

Mateus 7, 1-5 Ninguém pode julgar.

-* 1 "Não julguem, e vocês não serão julgados. 2 De fato, vocês serão julgados com o mesmo julgamento com que vocês julgarem, e serão medidos com a mesma medida com que vocês medirem. 3 Por que você fica olhando o cisco no olho do seu irmão, e não presta atenção à trave que está no seu próprio olho? 4 Ou, como você se atreve a dizer ao irmão: ‘deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando você mesmo tem uma trave no seu? 5 Hipócrita, tire primeiro a trave do seu próprio olho, e então você enxergará bem para tirar o cisco do olho do seu irmão." Comentário: * 1-5: Deus nos julga com a mesma medida que usamos para os outros. O rigor do nosso julgamento sobre o nosso próximo (cisco) mostra que desconhecemos a nossa própria fragilidade e a nossa condição de pecadores diante de Deus (trave). O ensinamento do Evangelho deste dia é algo válido para todos os tempos e todas as pessoas. Uma das primeiras tendências das pessoas em relação aos outros é lançar um olhar de dúvida e julgamento. O apelo de Jesus é claro: não julgar nem condenar. Não fomos criados para condenar, mas para amar: não somos juízes, mas irmãos e irmãs. Para mostrar a hipocrisia que, muitas vezes, há ao julgar, o Mestre usa as imagens do cisco e da trave, tão claras que todos podem compreender. O apelo do Evangelho é fazer uma autocrítica antes de criticar. Aqui não se trata tanto desses pequenos e inofensivos julgamentos que se fazem dia a dia, mas de julgamentos condenatórios. Quanto aos juízes, que têm a missão de julgar, espera-se que julguem com a justiça do Reino de Deus, segundo os critérios do Evangelho, e não conforme as conveniências.

sábado, 18 de junho de 2022

Lucas 9, 18-24 Jesus é o Messias.

* 18 Certo dia, Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou: "Quem dizem as multidões que eu sou?" 19 Eles responderam: "Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que tu és algum dos antigos profetas que ressuscitou." 20 Jesus perguntou:"E vocês, quem dizem que eu sou?" Pedro respondeu: "O Messias de Deus." 21 Então Jesus proibiu severamente que eles contassem isso a alguém. 22 E acrescentou: "O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar no terceiro dia." 23 Depois Jesus disse a todos: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga. 24 Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim, esse a salvará. Comentário: * 18-27: Não basta declarar e aceitar que Jesus é o Messias; é preciso rever a ideia a respeito do Messias, o qual, para construir a nova história, enfrenta os que não querem transformações. Por isso, ele vai sofrer, ser rejeitado e morto. Sua ressurreição será a sua vitória. E quem quiser acompanhar Jesus na sua ação messiânica e participar da sua vitória, terá que percorrer caminho semelhante: renunciar a si mesmo e às glórias do poder e da riqueza. O texto deste domingo se desenrola em três temas: a confissão de Pedro em nome da comunidade, o anúncio da paixão e o convite a seguir o Mestre. Percebemos através das respostas os vários entendimentos a respeito de Jesus. É reconhecido como figura importante na história da humanidade, mas somente os discípulos o reconhecem como o “Messias de Deus”. A partir da resposta de Pedro, o Mestre chama a atenção dos discípulos para esclarecê-los de que não será um “Messias poderoso, conquistador e triunfalista”, mas apenas o “Filho do Homem”, que sofrerá, será rejeitado e entregue às autoridades, que o condenarão à morte. Será o Messias doador da própria vida em favor dos mais vulneráveis e desprezados. Jesus assume a causa dos pobres e, por isso, será condenado à morte. Seu sofrimento e sua morte não são um desejo masoquista dele, nem é vontade de Deus que assim aconteça, mas são consequência de sua fidelidade ao Pai. Além disso, convida quem estiver disposto a segui-lo, devendo renunciar a tudo o que possa impedir o seguimento fiel. Quem quiser segui-lo terá de se identificar com seu projeto, sabendo que poderá ser desafiado a ponto de doar a própria vida. Renunciar a si mesmo é desfazer-se da ambição do enriquecimento, do poder e da glória.

Gálatas 3, 26-29 A chegada da fé.

26 De fato, vocês todos são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, 27 pois todos vocês, que foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo. 28 Não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo. 29 E se vocês pertencem a Cristo, então vocês são de fato a descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa. Comentário: * 25-29: O papel da Lei terminou com a chegada de Cristo. Pela fé nele e pelo batismo, os homens se revestem de Cristo, isto é, são transformados para se tornarem imagem dele (cf. Cl 3,11). Em Cristo, portanto, os homens ficam libertos de qualquer lei e de qualquer diferença que possa privilegiar uns e marginalizar outros.

sexta-feira, 17 de junho de 2022

Mateus 6, 24-34 A escolha fundamental.

24 Ninguém pode servir a dois senhores. Porque, ou odiará a um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e às riquezas.” A busca fundamental -* 25 “Por isso é que eu lhes digo: não fiquem preocupados com a vida, com o que comer; nem com o corpo, com o que vestir. Afinal, a vida não vale mais do que a comida? E o corpo não vale mais do que a roupa? 26 Olhem os pássaros do céu: eles não semeiam, não colhem, nem ajuntam em armazéns. No entanto, o Pai que está no céu os alimenta. Será que vocês não valem mais do que os pássaros? 27 Quem de vocês pode crescer um só centímetro, à custa de se preocupar com isso? 28 E por que vocês ficam preocupados com a roupa? Olhem como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. 29 Eu, porém, lhes digo: nem o rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. 30 Ora, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é queimada no forno, muito mais ele fará por vocês, gente de pouca fé! 31 Portanto, não fiquem preocupados, dizendo: O que vamos comer? O que vamos beber? O que vamos vestir? 32 Os pagãos é que ficam procurando essas coisas. O Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de tudo isso. 33 Pelo contrário, em primeiro lugar busquem o Reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo, todas essas coisas. 34 Portanto, não se preocupem com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações. Basta a cada dia a própria dificuldade.” Comentário: * 19-24: Todo homem, consciente ou inconscientemente, tem na vida um valor fundamental, um absoluto que determina toda a sua forma de ser e viver. Qual é o absoluto: Deus ou as riquezas? Deus leva o homem à liberdade e à vida, através da justiça que gera a partilha e a fraternidade. As riquezas são resultado da opressão e da exploração, levando o homem à escravidão e à morte. É preciso escolher a qual dos dois queremos servir. * 25-34: A aquisição de bens necessários para viver se torna ansiedade contínua e pesada, se não for precedida pela busca da justiça do Reino, isto é, a promoção de relações de partilha e fraternidade. O necessário para a vida virá junto com essa justiça, como fruto natural de árvore boa. Jesus é claro, não é possível servir ao “senhor dinheiro” e ao “Senhor Deus” ao mesmo tempo. Ele alerta sobre o perigo da idolatria ao dinheiro e à riqueza. Com suas palavras, o Mestre não ensina uma confiança passiva na providência nem o desprezo às necessidades materiais, mas propõe que se procure na vida o que é essencial e não se descuide daquilo que é fundamental, a justiça do Reino de Deus. É natural a constante preocupação do povo por melhores condições de vida e é normal também a preocupação dos pais pelo futuro dos filhos. O ensinamento de Jesus está dentro do sermão da montanha, que propõe uma hierarquia de valores de acordo com o Evangelho. Dessa hierarquia de valores, o Mestre não exclui nenhuma das responsabilidades da pessoa no cuidado com a natureza, na transformação da sociedade e no empenho com sua própria história.

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Mateus 6, 19-23 A escolha fundamental.

-* 19 “Não ajuntem riquezas aqui na terra, onde a traça e a ferrugem corroem, e onde os ladrões assaltam e roubam. 20 Ajuntem riquezas no céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não assaltam nem roubam. 21 De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração. 22 A lâmpada do corpo é o olho. Se o olho é sadio, o corpo inteiro fica iluminado. 23 Se o olho está doente, o corpo inteiro fica na escuridão. Assim, se a luz que existe em você é escuridão, como será grande a escuridão! Comentário: * 19-24: Todo homem, consciente ou inconscientemente, tem na vida um valor fundamental, um absoluto que determina toda a sua forma de ser e viver. Qual é o absoluto: Deus ou as riquezas? Deus leva o homem à liberdade e à vida, através da justiça que gera a partilha e a fraternidade. As riquezas são resultado da opressão e da exploração, levando o homem à escravidão e à morte. É preciso escolher a qual dos dois queremos servir. Nós vivemos dos bens e das riquezas deste mundo, precisamos deles para uma vida de bem-estar. Quando nos diz para não ajuntar bens e riquezas neste mundo, Jesus não tinha intenção de condenar esses bens, sabia da sua necessidade, mas ele nos alerta sobre o perigo do acúmulo e do apego a esses bens. Esse ensinamento nos lembra a primeira bem-aventurança: felizes os pobres. Quem se preocupa em só acumular se fecha em si mesmo. Metade da humanidade sofre as consequências da concentração das riquezas. O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, fruto da ganância de alguns poderosos. A “ditadura de uma economia sem rosto e desumana” é uma das maiores desgraças da atualidade. O olho bom e sadio nos possibilita fazer a escolha correta entre os “valores do Reino de Deus” e os “bens do reino deste mundo”.

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Lucas 9, 11-17 Saciar a fome do povo.

11 No entanto, as multidões souberam disso, e o seguiram. Jesus acolheu-as, e falava a elas sobre o Reino de Deus, e restituía a saúde a todos os que precisavam de cura. 12 A tarde vinha chegando. Os doze apóstolos se aproximaram de Jesus, e disseram: “Despede a multidão. Assim eles podem ir aos povoados e campos vizinhos para procurar alojamento e comida, porque estamos num lugar deserto.” 13 Mas Jesus disse: “Vocês é que têm de lhes dar de comer.” Eles responderam: “Só temos cinco pães e dois peixes... A não ser que vamos comprar comida para toda esse gente!” 14 De fato, estavam aí mais ou menos cinco mil homens. Mas Jesus disse aos discípulos: “Mandem o povo sentar-se em grupos de cinquenta.” 15 Os discípulos assim fizeram, e todos se sentaram. 16 Então Jesus pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu, pronunciou sobre eles a bênção e os partiu, e ia dando aos discípulos a fim de que distribuíssem para a multidão. 17 Todos comeram, ficaram satisfeitos, e ainda foram recolhidos doze cestos de pedaços que sobraram. Comentário: * 10-17: Lucas salienta que o fato aconteceu em lugar deserto. Trata-se do povo de Deus em marcha pelo deserto, saciado pelo alimento que o próprio Deus concede. O alimento é dom de Deus. Mas os apóstolos, que são o núcleo da comunidade que cria a nova história, precisam não só perceber que o povo está desabrigado e passa fome, mas também organizar esse povo e providenciar para que o alimento seja distribuído de tal maneira que todos se sintam saciados. A Eucaristia é o sacramento do dom de Deus repartido entre os homens. Jesus acolhe as multidões, fala-lhes do Reino e cura os necessitados. O fim do dia, porém, está chegando, e o que fazer com a multidão que necessita de comida e hospedagem? Os discípulos sugerem despedir a multidão, é a solução mais fácil e cômoda. O Mestre, porém, convoca os discípulos para que não se omitam e procurem organizar o povo em grupos, recolher o que havia entre eles e, depois da bênção de Jesus, repartir entre todos. Resultado: todos comeram e ainda sobrou. É o milagre da partilha. No mundo não há falta de alimento, o que existe é a falta da partilha. Onde não se partilha, alguém acumula e muitos ficam na miséria. Onde há partilha, todos podem ter o mínimo para uma vida digna. Somente partilhando, teremos um mundo sem miséria e sem miseráveis. Se ainda há fome no mundo, é sinal de que a sociedade ainda não descobriu o valor da partilha. Ao doar sua vida pela humanidade, Jesus nos mostrou a mais sublime partilha. Na celebração do corpo e sangue de Cristo, fazemos memória dessa doação suprema do Mestre, o qual nos quer solidários com as necessidades do povo. A cena do milagre da partilha dos pães se perenizou na Eucaristia, como gesto do dom de Deus repartido entre todos, para que todos tenham vida.

1 Coríntios 11, 23-26 Eucaristia e coerência.

23 De fato, eu recebi pessoalmente do Senhor aquilo que transmiti para vocês. Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão 24 e, depois de dar graças, o partiu e disse: “Isto é o meu corpo que é para vocês; façam isto em memória de mim” 25 Do mesmo modo, após a Ceia, tomou também o cálice, dizendo: “Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que vocês beberem dele, façam isso em memória de mim.” 26 Portanto, todas as vezes que vocês comem deste pão e bebem deste cálice, estão anunciando a morte do Senhor, até que ele venha. Comentário: * 17-34: O texto é o mais antigo testemunho sobre a Eucaristia: foi escrito no ano 56, dez anos antes dos Evangelhos. No início, a celebração eucarística se fazia depois de uma ceia, onde todos repartiam os alimentos que cada um levava. Em Corinto surge um problema: nas celebrações está havendo divisão de classes sociais e de mentalidades diferentes. Muitos chegam atrasados, provavelmente porque estavam trabalhando, e não encontram mais nada. Resultado: em vez de ser um testemunho de partilha, a celebração está se tornando lugar de ostentação, foco de discriminação e contrastes gritantes. A situação oferece oportunidade para um discernimento: quem é cristão de fato? Nesse contexto, Paulo relembra a instituição da Eucaristia. Ela é a memória permanente da morte de Jesus como dom de vida para todos (corpo e sangue). A Eucaristia é a celebração da Nova Aliança, isto é, da nova humanidade que nasce da participação no ato de Jesus, não só no culto, mas na vida prática. Por isso, a comunidade que celebra a Eucaristia anuncia o futuro de uma reunião de toda a humanidade. Voltando ao problema, Paulo interpela a comunidade a examinar-se: Não será uma incoerência celebrar a Eucaristia quando na própria celebração se fazem distinções e se marginalizam os mais pobres? Anteriormente (10,17), Paulo salientara que, ao participar da Eucaristia, a comunidade forma um só corpo. Se a comunidade não entender isso («sem discernir o Corpo», v. 29), estará celebrando a sua própria condenação, pois desligará a Eucaristia do seu antecedente e de suas conseqüências práticas: solidariedade e partilha. O julgamento do Senhor se manifesta de dois modos: a própria Eucaristia se torna testemunho contra a comunidade; ao mesmo tempo, a fraqueza, doença e morte de muitos membros testemunham a falta de partilha e solidariedade. Paulo termina com duas orientações práticas: esperar que todos cheguem para começar juntos a reunião (v. 33), e não transformá-la em ocasião de ostentação e gula (vv. 21 e 34).

terça-feira, 14 de junho de 2022

Mateus 6, 1-6.16-18 Superar a justiça dos hipócritas.

* 1 “Prestem atenção! Não pratiquem a justiça de vocês diante dos homens, só para serem elogiados por eles. Fazendo assim, vocês não terão a recompensa do Pai de vocês que está no céu.” Relação com o próximo -* 2 “Por isso, quando você der esmola, não mande tocar trombeta na frente, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa. 3 Ao contrário, quando você der esmola, que a sua esquerda não saiba o que a sua direita faz, 4 para que a sua esmola fique escondida; e seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.” Relação com Deus -* 5 “Quando vocês rezarem, não sejam como os hipócritas, que gostam de rezar em pé nas sinagogas e nas esquinas, para serem vistos pelos homens. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa. 6 Ao contrário, quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu Pai ocultamente; e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.” Relação consigo mesmo -* 16 “Quando vocês jejuarem, não fiquem de rosto triste, como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto para que os homens vejam que estão jejuando. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa. 17 Quando você jejuar, perfume a cabeça e lave o rosto, 18 para que os homens não vejam que você está jejuando, mas somente seu Pai, que vê o escondido; e seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.” Comentário: * 6,1: O termo justiça se refere, aqui, a atitudes práticas em relação ao próximo (esmola), a Deus (oração), e a si mesmo (jejum). Jesus não nega o valor dessas práticas. Ele mostra como devem ser feitas para que se tornem autênticas. * 2-4: A esmola é um gesto de partilha, e deve ser o sinal da compaixão que busca a justiça, relativizando o egoísmo da posse. Dar esmola para ser elogiado é servir a si mesmo e, portanto, falsificá-la. * 5-6: Na oração, o homem se volta para Deus, reconhecendo-o como único absoluto, e reconhecendo a si mesmo como criatura, relativizando a auto-suficiência. Por isso, rezar para ser elogiado é colocar-se como centro, falsificando a oração. * 16-18: Jejuar é privar-se de algo imediato e necessário, a fim de ver perspectivas novas e mais amplas para a realização da vida. Trata-se de deixar o egocentrismo, para crescer e dispor-se a realizar novo projeto de justiça. Jejuar para aparecer é perder de uma vez o sentido do jejum. Jesus continua seu ensinamento no contexto do sermão da montanha, apresentando três práticas importantes para os judeus e também para os cristãos: a caridade, a oração e o jejum. Práticas que os judeus começaram a viver no tempo do exílio babilônico, quando não tinham mais o templo para se reunir e realizar sacrifícios. Essas práticas são válidas também para nós nos dias de hoje. Jesus não as condena, mas condena a maneira errada de vivê-las. Não são para nos exibir diante dos outros e ser aplaudidos, como fazem as pessoas hipócritas ou falsas. A esmola ou a caridade é nossa preocupação para com os outros, principalmente aqueles que mais necessitam. A oração nos coloca em comunhão com Deus para aprender dele a conduzir nossa vida. O jejum nos leva a separar aquilo que é fundamental em nossa vida daquilo que é secundário, dispensável.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Mateus 5, 43-48 Amar como o Pai ama.

* 43 “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo, e odeie o seu inimigo!’ 44 Eu, porém, lhes digo: amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que perseguem vocês! 45 Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu, porque ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e a chuva cair sobre justos e injustos. 46 Pois, se vocês amam somente aqueles que os amam, que recompensa vocês terão? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? 47 E se vocês cumprimentam somente seus irmãos, o que é que vocês fazem de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? 48 Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu.” Comentário: * 43-48: O Evangelho abre a perspectiva do relacionamento humano para além das fronteiras que os homens costumam construir. Amar o inimigo é entrar em relação concreta com aquele que também é amado por Deus, mas que se apresenta como problema para mim. Os conflitos também são uma tarefa do amor. O v. 48 é a conclusão e a chave para se compreender todo o conjunto formado por 5,17-47: os discípulos são convidados a um comportamento que os torne filhos testemunhando a justiça do Pai. Sobre os cobradores de impostos, cf. nota em Mc 2,13-17. Nesses dias, o Evangelho de Mateus (capítulo 5) apresentou Jesus ensinando seus seguidores como ler e aperfeiçoar as leis do Antigo Testamento. Depois de nos apresentar o caminho da superação da violência, o Mestre dá mais um passo adiante e nos diz como conviver com aqueles que não são tão simpáticos ou são mesmo inimigos. O recado do Evangelho de hoje é algo muito difícil: amar os inimigos e rezar por aqueles que nos perseguem, seguindo o exemplo do Pai celeste que disponibiliza sol e chuva para todos. O amor de Deus é tão imenso e gratuito que, muitas vezes, até nos assusta. Como filhos e filhas, devemos aprender dele a estender nosso amor além de nosso círculo de amizade. Jesus propõe, com seus ensinamentos, formar comunidades que se espelham no Pai celeste, que estende seu amor e sua misericórdia a todos seus filhos e filhas.

domingo, 12 de junho de 2022

Mateus 5, 38-42 Violência e resistência.

* 38 “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ 39 Eu, porém, lhes digo: não se vinguem de quem fez o mal a vocês. Pelo contrário: se alguém lhe dá um tapa na face direita, ofereça também a esquerda! 40 Se alguém faz um processo para tomar de você a túnica, deixe também o manto! 41 Se alguém obriga você a andar um quilômetro, caminhe dois quilômetros com ele! 42 Dê a quem lhe pedir, e não vire as costas a quem lhe pedir emprestado.” Comentário: * 38-42: Como se pode superar a vingança ou até mesmo a "justa" punição? O Evangelho propõe atitude nova, a fim de eliminar pela raiz o círculo infernal da violência: a resistência ao inimigo não deve ser feita com as mesmas armas usadas por ele, mas através de comportamento que o desarme. A questão do "olho por olho" era a lei que procurava limitar a violência ou a agressão: o agredido não podia revidar mais do que recebeu. É quase uma atitude natural reagir de forma agressiva diante de uma ofensa ou agressão: violência gera violência. Jesus nos ensina a superar esse comportamento e propõe fazer gestos de bondade ao sofrer alguma agressão. Ou seja, enfrentar a lógica do mal com a não violência: o mal é vencido pelo bem e o ódio é vencido pelo amor. O caminho proposto por Jesus é o único para eliminar a espiral de violência vigente na nossa sociedade e nos nossos relacionamentos. Com essa proposta, Jesus não nos pede passividade ou tolerância diante da violência, mas propõe o caminho do bem e do amor. São atitudes que desarmam o adversário e o deixam impotente. Assim cria-se um clima de fraternidade, harmonia e paz.

sábado, 11 de junho de 2022

João 16, 12-15 Jesus sacia a fome do povo.

12 Quando ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: "Recolham os pedaços que sobraram, para não se desperdiçar nada."» 13 Eles recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães que haviam comido. 14 As pessoas viram o sinal que Jesus tinha realizado e disseram: "Este é mesmo o Profeta que devia vir ao mundo." 15 Mas Jesus percebeu que iam pegá-lo para fazê-lo rei. Então ele se retirou sozinho, de novo, para a montanha. Comentário: * 1-15: Jesus propõe a missão da sua comunidade: ser sinal do amor generoso de Deus, assegurando para todos a possibilidade de subsistência e dignidade. A segurança da subsistência não está no muito que poucos possuem e retêm para si, mas no pouco de cada um que é repartido entre todos. A garantia da dignidade não se encontra no poder de um líder que manda, mas no serviço de cada um que organiza a comunidade para o bem de todos. O Evangelho da solenidade da Santíssima Trindade faz parte do grande discurso de despedida de Jesus relatado pelo Evangelho de João. O texto revela a Trindade santa de Deus: Pai, Filho e Espírito. Jesus diz a seus discípulos que tem muita coisa ainda a transmitir-lhes, mas que no momento não têm condições de compreender tudo. O prometido Espírito da Verdade haverá de clarear a vida e a mensagem do Mestre. Não há como penetrar em todos os mistérios de Deus, somente o Espírito Santo irá iluminando aquilo que Jesus praticou, ensinou e revelou. De fato, os discípulos foram entendendo muitas coisas após a ressurreição de Jesus, quando tinham recebido o dom do Espírito. A missão do Espírito Santo não é completar uma obra incompleta nem fazer concorrência com Jesus, mas receber e anunciar o que é do Mestre. Uma só é a revelação: sua fonte está no Pai, realiza-se no Filho e se completa nos fiéis por meio do Espírito. O Espírito age em nós em sintonia com o Pai e o Filho. Pela ação do Espírito, temos condições de construir comunhão de vida entre os humanos. Como é importante deixar-se iluminar e conduzir pelo Espírito da Verdade para compreender a autêntica verdade revelada por Jesus, evitando, com isso, deturpá-la segundo o bel-prazer de cada um.

Romanos 5, 1-5 O motivo da nossa esperança.

* 1 Assim, justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. 2 Por meio dele e através da fé, nós temos acesso à graça, na qual nos mantemos e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus. 3 E não só isso. Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança, 4 a perseverança produz a fidelidade comprovada, e a fidelidade comprovada produz a esperança. 5 E a esperança não engana, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Comentário: * 1-11: Justificados pela fé em Jesus Cristo, estamos em paz com Deus; por isso, começamos a viver a esperança da salvação. Essa esperança é vivida em meio a uma luta perseverante, ancorada na certeza, garantida pelo Espírito Santo que nos foi dado (vv. 1-5). Deus manifestou seu amor em Jesus Cristo, que morreu por nós quando ainda éramos pecadores (vv. 6-8). Agora que já fomos reconciliados podemos crer com maior razão e esperar que seremos salvos pela vida-ressurreição de Jesus (vv. 9-11). O termo "tribulação", que aparece muitas vezes no Novo Testamento, se refere às opressões e repressões de que é vítima o povo de Deus. Opressões e repressões por parte dos poderes humanos, que procuram reduzir o alcance do testemunho cristão para que este não abale a estrutura vigente na sociedade.

sexta-feira, 10 de junho de 2022

Mateus 10, 7-13 A missão dos apóstolos.

7 Vão e anunciem: ‘O Reino do Céu está próximo’. 8 Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça, dêem também de graça! 9 Não levem nos cintos moedas de ouro, de prata ou de cobre; 10 nem sacola para o caminho, nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão, porque o operário tem direito ao seu alimento. 11 Em qualquer cidade ou povoado onde vocês entrarem, informem-se para saber se há alguém que é digno. E aí permaneçam até vocês se retirarem. 12 Ao entrarem na casa, façam a saudação. 13 Se a casa for digna, desça sobre ela a paz de vocês; se ela não for digna, que a paz volte para vocês. Comentário: * 5-15: A missão é reunir o povo para seguir a Jesus, o novo Pastor. Ela se realiza mediante o anúncio do Reino e pela ação que concretiza os sinais da presença do Reino. A missão se desenvolve em clima de gratuidade, pobreza e confiança, e comunica o bem fundamental da paz, isto é, da plena realização de todas as dimensões da vida humana. Os enviados são portadores da libertação; rejeitá-los é rejeitar a salvação e atrair sobre si o julgamento. José Barnabé é mencionado pela primeira vez em At 4,36-37, quando vende um campo e coloca o dinheiro à disposição dos apóstolos. De Jerusalém, ele foi enviado a Antioquia da Síria, onde o cristianismo prosperava. Para ajudá-lo na missão, Barnabé convocou Paulo de Tarso (At 11,25-26), de quem foi companheiro na primeira viagem missionária. Viveu intensamente as alegrias e tribulações que a pregação do Evangelho acarreta. Se as informações sobre Barnabé são poucas, uma expressão dos Atos dos Apóstolos nos dá a síntese do seu grande valor: “Ele era homem bom, repleto do Espírito Santo e de fé” (At 11,24). Ao orientar seus apóstolos para a missão, Jesus os convida a partirem despojados e livres. O objetivo é passar por toda parte anunciando que o Reino de Deus está próximo, isto é, já está presente.

quinta-feira, 9 de junho de 2022

Mateus 5, 27-32 Adultério e fidelidade.

* 27 “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não cometa adultério’. 28 Eu, porém, lhes digo: todo aquele que olha para uma mulher e deseja possuí-la, já cometeu adultério com ela no coração. 29 Se o olho direito leva você a pecar, arranque-o e jogue-o fora! É melhor perder um membro, do que o seu corpo todo ser jogado no inferno. 30 Se a mão direita leva você a pecar, corte-a e jogue-a fora! É melhor perder um membro do que o seu corpo todo ir para o inferno. 31 Também foi dito: ‘Quem se divorciar de sua mulher, lhe dê uma certidão de divórcio’. 32 Eu, porém, lhes digo: todo aquele que se divorcia de sua mulher, a não ser por causa de fornicação, faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher divorciada, comete adultério.” Comentário: * 27-32: Jesus radicaliza até à interioridade a fidelidade matrimonial, apelando ao amor verdadeiro e leal. O adultério começa com o olhar de desejo, e o mal deve ser cortado pela raiz. A exceção citada no v. 32 pode referir-se ao caso de união ilegítima, por causa do grau de parentesco que trazia impedimento matrimonial segundo a Lei (Lv 18,6-18; At 15,29). Em geral, as leis privilegiavam os homens em detrimento das mulheres, que muitas vezes eram consideradas uma espécie de propriedade dos homens, faziam parte dos bens do marido. As intervenções de Jesus normalmente eram para salvar o lado mais fraco e explorado, colocando os dois lados em pé de igualdade. Mateus retoma um mandamento do Antigo Testamento: não cometer adultério. O adultério viola a vontade de Deus e as relações familiares e sociais. A união do homem e da mulher no matrimônio é expressão de amor; é vontade de Deus que vivam a harmonia e a beleza do amor. O Mestre esclarece que “cometer adultério” já tem seu início no olhar. Por isso, a necessidade de cortar o mal pela raiz. Muitas vezes, são necessários cortes dolorosos e profundos para salvar e fortalecer o amor e o bom relacionamento entre marido e mulher.

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Mateus 5, 20-26 A lei e a justiça.

20 Com efeito, eu lhes garanto: se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do Céu." Ofensa e reconciliação -* 21 "Vocês ouviram o que foi dito aos antigos: ‘Não mate! Quem matar será condenado pelo tribunal’. 22 Eu, porém, lhes digo: todo aquele que fica com raiva do seu irmão, se torna réu perante o tribunal. Quem diz ao seu irmão: ‘imbecil’, se torna réu perante o Sinédrio; quem chama o irmão de ‘idiota’, merece o fogo do inferno. 23 Portanto, se você for até o altar para levar a sua oferta, e aí se lembrar de que o seu irmão tem alguma coisa contra você, 24 deixe a oferta aí diante do altar, e vá primeiro fazer as pazes com seu irmão; depois, volte para apresentar a oferta. 25 Se alguém fez alguma acusação contra você, procure logo entrar em acordo com ele, enquanto estão a caminho do tribunal; senão o acusador entregará você ao juiz, o juiz o entregará ao guarda, e você irá para a prisão. 26 Eu garanto: daí você não sairá, enquanto não pagar até o último centavo." Comentário: * 17-20: A lei não deve ser observada simplesmente por ser lei, mas por aquilo que ela realiza de justiça. Cumprir a lei fielmente não significa subdividi-la em observâncias minuciosas, criando uma burocracia escravizante; significa, isto sim, buscar nela inspiração para a justiça e a misericórdia, a fim de que o homem tenha vida e relações mais fraternas. Em 5,21-48, Mateus apresenta cinco exemplos, para mostrar como é que uma lei deve ser entendida. * 21-26: A lei que proíbe matar, proíbe esse ato desde a raiz, isto é, desde a mais simples ofensa ao irmão. Mesmo ofendido e inocente, o discípulo de Jesus deve ter a coragem de dar o primeiro passo para reconciliar-se. Caso se sinta culpado, procure urgentemente a reconciliação, porque sobre a sua culpa pesa um julgamento. O início desse Evangelho é a chave para entender a proposta de Jesus sobre o Reino dos Céus: “superar a justiça dos doutores da Lei e fariseus”. Sem essa justiça não há como entrar no Reino proposto pelo Mestre. Para ele a justiça é mais ampla e profunda do que nós entendemos: compreende toda atitude e comportamento que levam à fraternidade. A justiça que ele propõe e exige dos discípulos leva em conta a pessoa e suas necessidades. A justiça do Reino ultrapassa o simples cumprimento das leis e põe no centro a pessoa: as leis precisam estar a serviço da pessoa. Não basta não matar, faz-se necessário superar ira, ódio, intolerância, insulto. Não tem como honrar a Deus se não se está bem com o irmão e a irmã que moram ao nosso lado. O verdadeiro culto a Deus é dar o primeiro passo para a reconciliação com os outros. O culto a Deus não substitui a caridade.

terça-feira, 7 de junho de 2022

Mateus 5, 17-19 A lei e a justiça.

* 17 "Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento. 18 Eu garanto a vocês: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem sequer uma letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo aconteça. 19 Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será considerado o menor no Reino do Céu. Por outro lado, quem os praticar e ensinar, será considerado grande no Reino do Céu. Comentário: * 17-20: A lei não deve ser observada simplesmente por ser lei, mas por aquilo que ela realiza de justiça. Cumprir a lei fielmente não significa subdividi-la em observâncias minuciosas, criando uma burocracia escravizante; significa, isto sim, buscar nela inspiração para a justiça e a misericórdia, a fim de que o homem tenha vida e relações mais fraternas. Em 5,21-48, Mateus apresenta cinco exemplos, para mostrar como é que uma lei deve ser entendida. O Mestre Jesus se apresenta muito livre diante das leis do Antigo Testamento. Em certos momentos, percebe-se que ele critica algumas normas do Antigo Testamento e, em outros momentos, ele nos ensina como interpretá-las. O Mestre nos mostra como ler e entender o espírito da Lei, ele é o intérprete fiel dos mandamentos. A Lei e os Profetas necessitam ser entendidos na perspectiva do Reino de Deus, a partir da ótica de Jesus. A posse do Reino dos Céus não depende das leis: quem violar os mandamentos e ensinar a fazer o mesmo será considerado menor no Reino; quem os praticar será maior no Reino. Portanto, a prática e o ensino dos mandamentos podem fazer a diferença dentro do Reino, mas não determinam o acesso a ele. O Reino dos Céus não é “recompensa” pela prática dos mandamentos, mas é dom gratuito, é um presente de Deus.

segunda-feira, 6 de junho de 2022

Mateus 5, 13-16 A força do testemunho.

* 13 “Vocês são o sal da terra. Ora, se o sal perde o gosto, com que poderemos salgá-lo? Não serve para mais nada; serve só para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. 14 Vocês são a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. 15 Ninguém acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma vasilha, e sim para colocá-la no candeeiro, onde ela brilha para todos os que estão em casa. 16 Assim também: que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de vocês que está no céu.” Comentário: * 13-16: Os discípulos de Jesus devem estar conscientes de que se acham unidos com todos aqueles que anseiam por um mundo novo. Eles não podem se subtrair a essa missão, mas precisam dar testemunho através de suas obras. Não se comprometer com isso é deixar de ser discípulo do Reino. Através do testemunho visível dos discípulos é que os homens podem descobrir a presença e a ação do Deus invisível. No sermão da montanha, Jesus compara seus discípulos ao sal e à luz. Sabemos a importância do sal na comida. Além de dar gosto e sabor à comida, o sal purifica e preserva e é símbolo de aliança. É sinal de vida (compondo o soro caseiro) e de justiça (dele deriva salário). Com sua vida e sua prática, o cristão é aquele que dá sentido e esperança às pessoas. Não se deixa corromper pelas tentações da riqueza e do poder. A vivência cristã deveria tornar a sociedade mais justa e mais fraternal. A luz é fundamental para que haja vida. Jesus se apresenta como luz da humanidade. A missão do cristão, como luz, está em continuidade com a missão do Mestre. Mediante sua atividade, os discípulos revelam a glória de Deus. Com seu comportamento e suas boas ações, o cristão proporciona à vida das pessoas sabor e luminosidade, para que a vida delas não se torne insossa e sem sentido.

domingo, 5 de junho de 2022

João 19, 25-34 A relação entre Israel e a comunidade de Jesus.

-* 25 A mãe de Jesus, a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena estavam junto à cruz. 26 Jesus viu a mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava. Então disse à mãe: "Mulher, eis aí o seu filho." 27 Depois disse ao discípulo: "Eis aí a sua mãe." E dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa. Jesus amou até o fim -* 28 Depois disso, sabendo que tudo estava realizado, para que se cumprisse a Escritura, Jesus disse: "Tenho sede." 29 Havia aí uma jarra cheia de vinagre. Amarraram uma esponja ensopada de vinagre numa vara, e aproximaram a esponja da boca de Jesus. 30 Ele tomou o vinagre e disse: "Tudo está realizad"» E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. A morte de Jesus é o maior sinal de vida -* 31 Era dia de preparativos para a Páscoa. Os judeus queriam evitar que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque esse sábado era muito solene para eles. Então pediram que Pilatos mandasse quebrar as pernas dos crucificados e os tirasse da cruz. 32 Os soldados foram e quebraram as pernas de um e depois do outro, que estavam crucificados com Jesus. 33 E se aproximaram de Jesus. Vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas, 34 mas um soldado lhe atravessou o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água. Comentário: * 25-27: A mãe de Jesus representa aqui o povo da antiga aliança que se conservou fiel às promessas e espera pelo salvador. E o discípulo amado representa o novo povo de Deus, formado por todos os que dão sua adesão a Jesus. Na relação mãe-filho, o evangelista mostra a unidade e continuação do povo de Deus, fiel à promessa e herdeiro da sua realização. * 28-30: O projeto de Deus a respeito do homem se completa na morte de Jesus, sinal do seu dom de amor até o fim. O Espírito que Jesus entrega é o mesmo que o conduziu em toda a sua atividade. Ele realiza o reino universal e constitui o novo povo de Deus, que continuará a obra de Jesus. * 31-37: Morto na cruz, Jesus é o grande sinal, o ápice de todos os sinais narrados pelo evangelista. O sangue simboliza a morte; a água simboliza o Espírito que dá a vida: com sua morte Jesus trouxe a vida. Captar e testemunhar este sinal é questão decisiva, pois só através dele a história do homem vai encontrar a possibilidade de chegar à sua plenitude, dando lugar à sociedade livre e fraterna. É acreditando na vida de Jesus que o cristão continua a obra libertadora por ele iniciada. “A Igreja é verdadeiramente mãe, a nossa mãe Igreja, uma mãe que nos dá vida em Cristo e que nos faz viver com todos os outros irmãos na comunhão do Espírito Santo. Nessa sua maternidade, a Igreja tem como modelo a Virgem Maria, o modelo mais bonito e mais excelso que possa existir. Foi o que já as primeiras comunidades cristãs esclareceram e o Concílio Vaticano II expressou de modo admirável (cf. Lumen Gentium, n. 63-64). A maternidade de Maria é, sem dúvida, única, singular, cumprindo-se na plenitude dos tempos, quando a Virgem deu à luz o Filho de Deus, concebido por obra do Espírito Santo. E, todavia, a maternidade da Igreja insere-se precisamente em continuidade com a de Maria, como sua prolongação na história. Na fecundidade do Espírito, a Igreja continua a gerar novos filhos em Cristo, sempre à escuta da Palavra de Deus e em docilidade ao seu desígnio de amor. A Igreja é mãe. Com efeito, o nascimento de Jesus no ventre de Maria é prelúdio do nascimento de cada cristão no seio da Igreja, dado que Cristo é o primogênito de uma multidão de irmãos. Nós, cristãos, não somos órfãos, temos uma mãe, e isso é sublime! Não somos órfãos! A Igreja é mãe, Maria é mãe” (Papa Francisco, Catequese, 03/09/14).

sábado, 4 de junho de 2022

João 20, 19-23 Jesus ressuscitado está vivo na comunidade.

* 19 Era o primeiro dia da semana. Ao anoitecer desse dia, estando fechadas as portas do lugar onde se achavam os discípulos por medo das autoridades dos judeus, Jesus entrou. Ficou no meio deles e disse: "A paz esteja com vocês." 20 Dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos ficaram contentes por ver o Senhor. 21 Jesus disse de novo para eles: "A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês." 22 Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: "Recebam o Espírito Santo. 23 Os pecados daqueles que vocês perdoarem, serão perdoados. Os pecados daqueles que vocês não perdoarem, não serão perdoados." Comentário: * 19-23: O medo impede o anúncio e o testemunho. Jesus liberta do medo, mostrando que o amor doado até à morte é sinal de vitória e alegria. Depois, convoca seus seguidores para a missão no meio do mundo, infunde neles o Espírito da vida nova e mostra-lhes o objetivo da missão: continuar a atividade dele, provocando o julgamento. De fato, a aceitação ou recusa do amor de Deus, trazido por Jesus, é o critério de discernimento que leva o homem a tomar consciência da sentença que cada um atrai para si próprio: sentença de libertação ou de condenação. Após o trágico fim de Jesus na última sexta-feira, os discípulos se refugiam e, por medo, trancam as portas do lugar em que se encontram. As portas fechadas, porém, não impediram o Ressuscitado de se fazer presente. É o primeiro dia da semana. O primeiro dia é sempre momento de recomeçar, de olhar confiante para a frente. O medo atrapalha o lançar-se para a frente, constitui-se num obstáculo. Ao entrar, o Ressuscitado lhes deseja a paz, sopra sobre eles o Espírito Santo e os convida a viver a reconciliação. É um programa completo que o Ressuscitado deixa para quem deseja segui-lo. A paz é o primeiro desejo e dom por excelência que Cristo ressuscitado propõe. Paz é plenitude de vida, a que toda pessoa tem direito. O cristão procura viver a paz e a propaga no meio da sociedade que se torna cada vez mais violenta. Paz é proposta de fraternidade e vivência da reconciliação e do perdão. Para viver esses valores, o Ressuscitado sopra seu Espírito, que acompanha cada fiel ao longo de sua vida. É o mesmo sopro que deu vida ao “boneco de barro” no início da criação da humanidade. Ele cria, recria e humaniza. O sopro do Ressuscitado cria a nova comunidade dos seus seguidores. Sem esse sopro divino, somos incapazes de viver a esperança, a paz e o perdão, e de levar esses valores ao mundo.

1 Coríntios 12, 3-7.12-13 Jesus é o Senhor.

3 Por isso, eu declaro a vocês que ninguém, falando sob a ação do Espírito de Deus, jamais poderá dizer: "Maldito Jesus!" E ninguém poderá dizer: "Jesus é o Senhor!" a não ser sob a ação do Espírito Santo. A Trindade gera a comunidade -* 4 Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; 5 diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; 6 diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos.7 Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A comunidade é o Corpo de Cristo -* 12 De fato, o corpo é um só, mas tem muitos membros; e no entanto, apesar de serem muitos, todos os membros do corpo formam um só corpo. Assim acontece também com Cristo. 13 Pois todos fomos batizados num só Espírito para sermos um só corpo, quer sejamos judeus ou gregos, quer escravos ou livres. E todos bebemos de um só Espírito. Comentário: * 1-3: Na efervescência carismática dos coríntios existem traços pagãos. Estes se reúnem para cultivar o espetacular e o fascínio pelo sobrenatural impregnado de mística pagã; isso acaba tornando-se verdadeiro ópio. Paulo adverte: nem todas as manifestações de entusiasmo religioso provêm de Deus. Na mística cristã, o primeiro critério para discernir os verdadeiros dons do Espírito é reconhecer Jesus como Senhor. * 4-11: A Trindade é a base sobre a qual a comunidade se constrói: nesta, toda ação provém do Pai, todo serviço provém de Jesus e todos os dons (= carismas) provêm do Espírito. Cada pessoa na comunidade recebe um dom, ou melhor, é um dom para o bem de todos. Por isso, cada um, sendo o que é e fazendo o que pode, age para o bem da comunidade, colocando-se a serviço de todos como dom gratuito. Desse modo, cada um e todos se tornam testemunho e sacramento da ação, serviço e dom do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Paulo enumera apenas os carismas de direção e ensino. A lista não é completa, pois cada pessoa é um carisma para a comunidade toda.

sexta-feira, 3 de junho de 2022

João 21, 20-25 O testemunho continua sempre.

- 20 Pedro virou-se e viu atrás de si aquele outro discípulo que Jesus amava, o mesmo que estivera bem perto de Jesus durante a ceia e que havia perguntado: "Senhor, quem é que vai traí-lo?" 21 Quando Pedro viu aquele discípulo, perguntou a Jesus: "Senhor, o que vai acontecer a ele?" 22 Jesus respondeu: "Se eu quero que ele viva até que eu venha, o que é que você tem com isso? Quanto a você, siga-me." 23 Então correu a notícia entre os irmãos de que aquele discípulo não iria morrer. Porém Jesus não disse que ele não ia morrer, mas disse: "Se eu quero que ele viva até que eu venha, o que é que você tem com isso?" O Evangelho é testemunho -* 24 Este é o discípulo que deu testemunho dessas coisas e que as escreveu. E nós sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. 25 Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que não caberiam no mundo os livros que seriam escritos. Comentário: * 15-23: A idéia de superioridade e domínio no exercício do pastoreio é absolutamente contrária ao ensino e atitude de Jesus, que considera todos os seus discípulos como amigos e irmãos. O verdadeiro pastor é aquele que segue a Jesus, colocando-se a serviço da comunidade e sendo capaz de amá-la até o fim, dando por ela até a própria vida. * 24-25: A segunda conclusão do evangelho salienta novamente o tema do testemunho. O Evangelho não é ensinamento de doutrina, nem exposição de verdades ou sistemas, nem conjunto de fórmulas jurídicas, às quais todos deveriam se ajustar. Evangelho é o testemunho de uma comunidade que se transforma cada vez mais ao seguir Jesus na experiência do amor. A relação de cada discípulo com o Mestre é pessoal e irrepetível. Essa realidade deveria ser muito tranquila, mas, em geral, não é. O ser humano tende, com muita facilidade, a comparar-se e a comparar as relações estabelecidas, e, com isso, o ciúme, a inveja e aspectos que envolvem a autoestima podem se tornar um grande problema. De maneira simples, poderíamos dizer que o ideal é que cada um cuide, sim, da própria vida e caminhada, que tenha muito cuidado ao considerar a vida do outro e, sobretudo, que tenha cuidado com o que diz e com o que diz ter ouvido sobre o outro. Um gesto impensado ou palavra mal dita pode, sim, comprometer e destruir a vida de alguém. É óbvio que não somos chamados a viver isolados ou indiferentes, mas de maneira madura e inteira quanto às exigências do seguimento de Jesus.

quinta-feira, 2 de junho de 2022

João 21, 15-19 Para dirigir a comunidade, é preciso amar.

* 15 Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: "Simão, filho de João, você me ama mais do que estes outros?" Pedro respondeu: "Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo." Jesus disse: "Cuide dos meus cordeiros." 16 Jesus perguntou de novo a Pedro: "Simão, filho de João, você me ama?" Pedro respondeu: "Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo." Jesus disse: "Tome conta das minhas ovelhas." 17 Pela terceira vez Jesus perguntou a Pedro: "Simão, filho de João, você me ama?" Então Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Disse a Jesus: "Senhor, tu conheces tudo, e sabes que eu te amo." Jesus disse: "Cuide das minhas ovelhas. 18 Eu garanto a você: quando você era mais moço, você colocava o cinto e ia para onde queria. Quando você ficar mais velho, estenderá as suas mãos, e outro colocará o cinto em você e o levará para onde você não quer ir." 19 Jesus falou isso aludindo ao tipo de morte com que Pedro iria glorificar a Deus. E Jesus acrescentou: "Siga-me." Comentário: * 15-23: A ideia de superioridade e domínio no exercício do pastoreio é absolutamente contrária ao ensino e atitude de Jesus, que considera todos os seus discípulos como amigos e irmãos. O verdadeiro pastor é aquele que segue a Jesus, colocando-se a serviço da comunidade e sendo capaz de amá-la até o fim, dando por ela até a própria vida. Nossa vocação é algo muito particular e próprio; contudo, ela não nos foi dada para nós mesmos. Nossa vocação alcança sua plenitude quando é posta a serviço dos irmãos e irmãs e da comunidade. Uma vocação encerrada em si mesma não desabrocha como deveria; como no caso de uma árvore malcuidada que não produz frutos abundantes nem saborosos o suficiente. Vocação significa compromisso que, por sua vez, implica responsabilidade. Pedro, por amor ao Mestre, é chamado a alimentar as ovelhas; e nós, em nossa vocação, por amor ao Mestre, somos chamados a realizar quais atividades? Por amor (e somente por amor) somos capazes de compreender situações duras e penosas, não por comodismo ou covardia, mas porque entendemos que seguir o Mestre pode ser algo extremamente perigoso. O Espírito Santo prometido vem em nosso socorro; mantenhamos a fé!

quarta-feira, 1 de junho de 2022

João 17, 20-26 A unidade no amor.

* 20 "Eu não te peço só por estes, mas também por aqueles que vão acreditar em mim por causa da palavra deles, 21 para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. E para que também eles estejam em nós, a fim de que o mundo acredite que tu me enviaste. 22 Eu mesmo dei a eles a glória que tu me deste, para que eles sejam um, como nós somos um. 23 Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade, e para que o mundo reconheça que tu me enviaste e que os amaste, como amaste a mim. 24 Pai, aqueles que tu me deste, eu quero que eles estejam comigo onde eu estiver, para que eles contemplem a minha glória que tu me deste, pois me amaste antes da criação do mundo. 25 Pai justo, o mundo não te reconheceu, mas eu te reconheci. Estes também reconheceram que tu me enviaste. 26 E eu tornei o teu nome conhecido para eles. E continuarei a torná-lo conhecido, para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu mesmo esteja neles." Comentário: * 20-26: Graças ao testemunho dos discípulos, as comunidades cristãs do futuro vão acreditar e se comprometer com Jesus. Na unidade do amor, as comunidades serão o sacramento ou expressão da presença atuante de Jesus, lembrando continuamente o próprio Jesus, que é o dom que o Pai concedeu aos homens. O amor com que Jesus amou os seus é fruto da relação de amor que o une ao Pai. Talvez nos seja difícil compreender o que significa esse amor; contudo, temos uma vida inteira para vivenciar esse processo de encontro com Deus em Jesus por meio do Espírito. Aqui, não há mágica ou algo que seja sobrenatural, mas sim compromisso e adesão ao que é mais caro a Jesus: a promoção de ser humano na forma mais elevada. Como dito acima, trata-se de algo processual, ou seja, comporta uma série de altos e baixos, acertos e fadigas que não são novidade para o homem e a mulher, pois esses movimentos fazem parte do seu cotidiano. De modo particular, os textos apresentados por João, o evangelista, requerem de cada um de nós atenção, postura de abertura e meditação comprometida. Só assim, alcançaremos o que ele tem a nos comunicar hoje.