segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Marcos 10, 28-31 O Reino é dom e partilha.

28Começou Pedro a dizer a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. 29Respondeu Jesus: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, 30receberá cem vezes mais agora, durante esta vida – casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições -, e, no mundo futuro, a vida eterna. 31Muitos que agora são os primeiros serão os últimos. E muitos que agora são os últimos serão os primeiros”. Comentário: * 17-31: Para entrar no Reino (ou vida eterna) é preciso mais do que observar leis ou regras. O Reino é dom de Deus aos homens, e nele tudo deve ser partilhado entre todos. Isso significa repartir as riquezas em vista de uma igualdade, abolindo o sistema classista. É por isso que os ricos ficam tristes e dificilmente entram no Reino. E o que acontece quando a gente deixa tudo para seguir a Jesus e continuar o seu projeto? Encontra nova sociedade, embora em meio à perseguição, e já vive a certeza da plenitude que virá. Depois do alerta de Jesus a respeito da partilha dos bens, como vimos ontem, Pedro quer saber o que acontece com eles, que deixaram tudo e o seguiram. Sempre que alguém deixa alguma coisa, tem em vista algo melhor em troca. Os discípulos que deixaram tudo encontraram em Jesus e na sua mensagem uma causa e valores superiores. Na vida cristã, o ponto de partida e de chegada é sempre Jesus Cristo e o Evangelho como plenitude humana. Isso é um convite a deixar tudo o que é incompatível com o seguimento a Jesus. Esse seguimento “radical” a Jesus pode trazer incompreensões, perseguições e até a morte, como aconteceu com o próprio Mestre. Jesus procura esclarecer que o “reino do dinheiro” é incompatível com o “Reino de Deus”. A mensagem do Mestre não despreza a família nem os bens necessários a uma vida digna; ao contrário, propõe solidariedade aos desprovidos desses bens.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

Marcos 10, 17-27 O Reino é dom e partilha.

17quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?” 18Jesus disse: “Por que me chamas de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém. 19Tu conheces os mandamentos: não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua mãe!” 20Ele respondeu: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude”. 21Jesus olhou para ele com amor e disse: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” 22Mas, quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico. 23Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos: “Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!” 24Os discípulos se admiravam com essas palavras, mas ele disse de novo: “Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!” 26Eles ficaram muito espantados ao ouvirem isso e perguntavam uns aos outros: “Então, quem pode ser salvo?” 27Jesus olhou para eles e disse: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível”. Comentário: * 17-31: Para entrar no Reino (ou vida eterna) é preciso mais do que observar leis ou regras. O Reino é dom de Deus aos homens, e nele tudo deve ser partilhado entre todos. Isso significa repartir as riquezas em vista de uma igualdade, abolindo o sistema classista. É por isso que os ricos ficam tristes e dificilmente entram no Reino. E o que acontece quando a gente deixa tudo para seguir a Jesus e continuar o seu projeto? Encontra nova sociedade, embora em meio à perseguição, e já vive a certeza da plenitude que virá.

Lucas 6, 39-45 Só Deus pode julgar .

39Jesus contou uma parábola aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco? 40Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre. 41Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão e não percebes a trave que há no teu próprio olho? 42Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão. Os atos revelam a pessoa - 43Não existe árvore boa que dê frutos ruins nem árvore ruim que dê frutos bons. 44Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros nem uvas de plantas espinhosas. 45O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”. Comentário: * 37-42: Cf. nota em Mt 7,1-5. Lucas salienta que as relações numa sociedade nova não devem ser de julgamento e condenação, mas de perdão e dom. Só Deus pode julgar. * 43-45: Assim como as árvores são conhecidas pelos frutos, do mesmo modo os homens são conhecidos pelos seus atos.

1 Coríntios 15, 54-58 O triunfo da vida.

54quando este ser corruptível estiver vestido de incorruptibilidade e este ser mortal estiver vestido de imortalidade, então estará cumprida a palavra da Escritura: “A morte foi tragada pela vitória. 55Ó morte, onde está a tua vitória? Onde está o teu aguilhão?” 56O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a Lei. 57Graças sejam dadas a Deus, que nos dá a vitória pelo Senhor nosso, Jesus Cristo. 58Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, empenhando-vos cada vez mais na obra do Senhor, certos de que vossas fadigas não são em vão, no Senhor. Comentário: * 54-58: Depois que Cristo ressuscitou, nenhum tipo de morte terá a vitória final. Essa vitória de Cristo sobre a morte é também vitória contra o pecado, que introduz e alimenta a morte no mundo, e contra a lei, que mostra o que é pecado, mas não dá forças para vencê-lo. Quem acredita em Jesus ressuscitado pode cantar desde já o triunfo da vida.

sábado, 26 de fevereiro de 2022

Marcos 10, 13-16 O Reino pertence aos pobres.

13Traziam crianças para que Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam. 14Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas. 15Em verdade vos digo, quem não receber o Reino de Deus como uma criança não entrará nele”. 16Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos. Comentário: * 13-16: Aqui a criança serve de exemplo não pela inocência ou pela perfeição moral. Ela é o símbolo do ser fraco, sem pretensões sociais: é simples, não tem poder nem ambições. Principalmente na sociedade do tempo de Jesus, a criança não era valorizada, não tinha nenhuma significação social. A criança é, portanto, o símbolo do pobre marginalizado, que está vazio de si mesmo, pronto para receber o Reino. No tempo em que as crianças tinham pouco valor e praticamente não faziam parte do convívio social, muitas mães camponesas levavam suas crianças para que Jesus as tocasse; quem sabe, para protegê-las ou libertá-las do mau-olhado que se supunha ser causa de doenças, que ceifavam muitas crianças desde cedo. Certamente não era comum que alguns mestres acolhessem crianças em público. Elas eram os membros mais frágeis e vulneráveis da sociedade. Jesus se indigna contra seus discípulos que repreendiam essas pessoas que se aproximavam dele. Além disso, o Mestre convida seus seguidores a ver nas crianças modelos para quem quer pertencer ao Reino de Deus. Jesus, ao demonstrar um carinho todo especial às crianças indefesas e pouco valorizadas, ensina que no seu Reino têm lugar privilegiado os francos e indefesos.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Marcos 10, 1-12 Deus une o homem e a mulher.

1Jesus foi para o território da Judeia, do outro lado do rio Jordão. As multidões se reuniram de novo em torno de Jesus. E ele, como de costume, as ensinava. 2Alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. 3Jesus perguntou: “O que Moisés vos ordenou?” 4Os fariseus responderam: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la”. 5Jesus então disse: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu esse mandamento. 6No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. 7Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. 8Assim, já não são dois, mas uma só carne. 9Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” 10Em casa, os discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o mesmo assunto. 11Jesus respondeu: “Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra cometerá adultério contra a primeira. 12E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério”. Comentário: * 1-12: Jesus recusa ver o matrimônio a partir de permissões ou restrições legalistas. Ele reconduz o matrimônio ao seu sentido fundamental: aliança de amor e, como tal, abençoada por Deus e com vocação de eternidade. Diante desse princípio fundamental, marido e mulher são igualmente responsáveis por uma união que deve crescer sempre, e os dois se equiparam quanto aos direitos e deveres. Em terra judaica, Jesus é provocado por alguns fariseus sobre a questão do divórcio. Nessa época, o homem podia despedir sua mulher por motivos banais. Isso mostra a superioridade do homem e seu domínio sobre a mulher. Percebemos o machismo que havia na época e que está muito presente ainda hoje, em muitos lares. O Mestre quer desmascarar esse farisaísmo que havia e se posiciona a favor do matrimônio e em defesa da mulher. O matrimônio está baseado no projeto criador de Deus, reforçando a igualdade entre homem e mulher: os dois serão uma só carne. Jesus acusa os fariseus de “dureza do coração”, isso significa um coração humano fechado e insensível às instruções divinas. Esse alerta de Jesus serve para todos e para todos os tempos, quando nos fechamos em nosso legalismo doentio e não deixamos o amor de Deus agir em nós.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Marcos 9, 41-50 Quem está a favor de Jesus?

41“Quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. Cortar o mal pela raiz - 42E se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. 43Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na vida sem uma das mãos do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga.(44) 45Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na vida sem um dos pés do que, tendo os dois, ser jogado no inferno.(46) 47Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, 48‘onde o verme deles não morre e o fogo não se apaga’. 49Pois todos hão de ser salgados pelo fogo. 50Coisa boa é o sal. Mas se o sal se tornar insosso, com que lhe restituireis o tempero? Tende, pois, sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros”. Comentário: * 38-41: Jesus não quer que o grupo daqueles que o seguem se torne seita fechada e monopolizadora da sua missão. Toda e qualquer ação que desaliena o homem é parte integrante da missão de Jesus. * 42-50: Pequeninos são os pobres e fracos que esperam confiantes uma sociedade fraterna e igualitária. Eles ficariam escandalizados se os seguidores de Jesus andassem à busca de poder e formassem casta privilegiada. Isso seria trair a missão de Jesus, mal que deve ser cortado pela raiz. Todo bem realizado em favor de alguém não perderá seu valor e sua recompensa, não importa de onde ou de quem vier. Assim como o bem pode vir de fora dos círculos cristãos, também do interior da comunidade cristã podem vir males, escândalos e traições. O Mestre alerta para não provocar escândalos contra os pequeninos, que podem ser desestimulados vendo as incoerências dos cristãos. É necessário cortar o mal pela raiz. Jesus usa imagens fortes e simbólicas: cortar a mão e o pé, e arrancar o olho. Não podemos tomar essas expressões ao pé da letra, são imagens simbólicas que representam as raízes dos males: o olho vê e cobiça, o pé aproxima da coisa cobiçada, e a mão apanha a coisa cobiçada. É o escândalo do egoísmo de quem quer se apossar de tudo. Talvez se possa dizer que o maior escândalo do mundo de hoje seja a disparidade cada vez maior entre ricos e pobres.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Marcos 9, 38-40 Quem está a favor de Jesus?

38João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue”. 39Jesus disse: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. 40Quem não é contra nós é a nosso favor”. Comentário: * 38-41: Jesus não quer que o grupo daqueles que o seguem se torne seita fechada e monopolizadora da sua missão. Toda e qualquer ação que desaliena o homem é parte integrante da missão de Jesus. Temos uma atitude mesquinha dos discípulos de Jesus, proibindo alguém de fazer o bem, ao expulsar demônios. O Mestre responde com uma frase que é expressão de tolerância cristã: “quem não está contra nós, está a nosso favor”. Quem faz o bem em nome de Jesus, mesmo não fazendo parte do seu grupo, é discípulo dele. Todo o bem feito em favor de alguém é bem-vindo, venha de onde vier e de quem quer que seja. O nome de Jesus não é monopólio de uma comunidade ou grupo. De fato, vemos muitas pessoas fazendo o bem, independentemente de pertencerem ou não a uma instituição religiosa. Sabemos que Deus age livremente sobre toda a realidade humana, também através de pessoas que não são cristãs. Deveríamos nos alegrar ao ver tudo o que acontece de bom em favor de alguém. Quem faz o bem é parceiro no projeto de Jesus.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Mateus 16, 13-19 Jesus é o Messias.

13Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” 14Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros, que é Elias; outros, ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”. 15Então Jesus lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” 16Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. 17Respondendo, Jesus lhe disse: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. 18Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. 19Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”. Comentário: * 13-23: Cf. nota em Mc 8,27-33. Pedro é estabelecido como o fundamento da comunidade que Jesus está organizando e que deverá continuar no futuro. Jesus concede a Pedro o exercício da autoridade sobre essa comunidade, autoridade de ensinar e de excluir ou introduzir os homens nela. Para que Pedro possa exercer tal função, a condição fundamental é ele admitir que Jesus não é messias triunfalista e nacionalista, mas o Messias que sofrerá e morrerá na mão das autoridades do seu tempo. Caso contrário, ele deixa de ser Pedro para ser Satanás. Pedro será verdadeiro chefe, se estiver convicto de que os princípios que regem a comunidade de Jesus são totalmente diferentes daqueles em que se baseiam as autoridades religiosas do seu tempo. Cátedra é o símbolo da autoridade e do magistério do bispo, e catedral é a igreja-mãe da diocese, sede permanente do pastor. A cátedra de São Pedro é o reconhecimento de sua autoridade sobre a Igreja: “Você é Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja”. Essa investidura dada por Jesus foi reforçada depois da ressurreição: “Alimente os meus cordeiros… Alimente as minhas ovelhas” (Jo 21,15.17). Os Evangelhos fazem inúmeras referências a Pedro, mas são escassas as informações sobre seu ministério em Jerusalém, em Antioquia da Síria e em Roma. Entretanto, sua presença e martírio em Roma são comprovados por muitos estudiosos. A autoridade de Pedro (e de seus sucessores, os papas) se expressa pelo serviço, à semelhança do Mestre e Pastor, que veio para servir, e não para ser servido.

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Marcos 9, 14-29 Orar é unir-se com Deus.

14Descendo Jesus do monte com Pedro, Tiago e João e chegando perto dos outros discípulos, viram que estavam rodeados por uma grande multidão. Alguns mestres da Lei estavam discutindo com eles. 15Logo que a multidão viu Jesus, ficou surpresa e correu para saudá-lo. 16Jesus perguntou aos discípulos: “O que discutis com eles?” 17Alguém da multidão respondeu: “Mestre, eu trouxe a ti meu filho que tem um espírito mudo. 18Cada vez que o espírito o ataca, joga-o no chão e ele começa a espumar, range os dentes e fica completamente rijo. Eu pedi aos teus discípulos para expulsarem o espírito. Mas eles não conseguiram”. 19Jesus disse: “Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando terei que suportar-vos? Trazei aqui o menino”. 20E levaram-lhe o menino. Quando o espírito viu Jesus, sacudiu violentamente o menino, que caiu no chão e começou a rolar e a espumar pela boca. 21Jesus perguntou ao pai: “Desde quando ele está assim?” O pai respondeu: “Desde criança. 22E muitas vezes o espírito já o lançou no fogo e na água para matá-lo. Se podes fazer alguma coisa, tem piedade de nós e ajuda-nos”. 23Jesus disse: “Se podes!… Tudo é possível para quem tem fé”. 24O pai do menino disse em alta voz: “Eu tenho fé, mas ajuda a minha falta de fé”. 25Jesus viu que a multidão acorria para junto dele. Então ordenou ao espírito impuro: “Espírito mudo e surdo, eu te ordeno que saias do menino e nunca mais entres nele”. 26O espírito sacudiu o menino com violência, deu um grito e saiu. O menino ficou como morto, e por isso todos diziam: “Ele morreu!” 27Mas Jesus pegou a mão do menino, levantou-o e o menino ficou de pé. 28Depois que Jesus entrou em casa, os discípulos lhe perguntaram a sós: “Por que nós não conseguimos expulsar o espírito?” 29Jesus respondeu: “Essa espécie de demônios não pode ser expulsa de nenhum modo, a não ser pela oração”. Comentário: * 14-29: Os discípulos de Jesus só poderão ajudar os homens a discernir a realidade (ouvir) e dizer a palavra transformadora (falar) se estiverem plenamente convictos de que Deus quer realizar uma sociedade justa. A oração exprime a união íntima com Deus e com o seu plano, porque Deus pode desalienar o homem, vencendo o mal. Descendo da montanha, Jesus se defronta com uma multidão em volta dos discípulos incapazes de curar um “espírito mudo” que se apossou de um menino. O Mestre se queixa de seus discípulos por falta da fé, que deve ser alimentada pela oração. A oração fortalece a fé, e a fé “tudo pode”. A cena dos discípulos incapazes de realizar o “milagre” para o rapaz possuído pelo “espírito mudo” é a imagem de nossa impotência diante das doenças, das injustiças e da miséria que assolam a nossa sociedade. O “espírito mudo” que se apodera das pessoas de todos os tempos pode ser o apego ao pecado, ao egoísmo, aos ídolos do poder, da violência, da intolerância, da discriminação. O “espírito mudo” é tão extremo que não se abre ao diálogo, está fechado em si mesmo e nas suas ideias fixas. A oração e a fé podem libertar desse fechamento extremo que não admite alternativas.

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Lucas 6, 27-38 A gratuidade nas relações.

27“A vós que me escutais, eu digo: amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, 28bendizei os que vos amaldiçoam e rezai por aqueles que vos caluniam. 29Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica. 30Dá a quem te pedir e, se alguém tirar o que é teu, não peças que o devolva. 31O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles. 32Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Até os pecadores amam aqueles que os amam. 33E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que recompensa tereis? Até os pecadores fazem assim. 34E se emprestais somente àqueles de quem esperais receber, que recompensa tereis? Até os pecadores emprestam aos pecadores, para receber de volta a mesma quantia. 35Ao contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será grande, e sereis filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e os maus. 36Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso. Só Deus pode julgar - 37Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. 38Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante, será colocada no vosso colo; porque, com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos”. Comentário: * 27-36: A vida em sociedade é feita de relacionamentos de interesses e reciprocidade, que geram lucro, poder e prestígio. O Evangelho revoluciona o campo das relações humanas, mostrando que, numa sociedade justa e fraterna, as relações devem ser gratuitas, à semelhança do amor misericordioso do Pai. * 37-42: Cf. nota em Mt 7,1-5. Lucas salienta que as relações numa sociedade nova não devem ser de julgamento e condenação, mas de perdão e dom. Só Deus pode julgar. O Evangelho continua o “discurso da planície”, iniciado domingo passado. No texto de hoje, Jesus aprofunda as consequências das bem-aventuranças: propõe a superação da lei do talião, convida ao amor, tendo Deus como modelo, e exorta ao não julgamento. A seu exemplo, Jesus exige o amor sem limites para com todos, pede para rezar e fazer o bem desinteressadamente. Fazer tudo sem esperar nada em troca, a exemplo de Deus, que é misericordioso e bom para com todos. Podemos dizer que a chave de leitura do texto está no tratar os outros como gostaríamos que eles nos tratassem. O desejo do ser humano é poder viver, amar e sentir-se amado. A proposta do Evangelho é claramente contra a violência e a vingança, é uma superação da lei do talião. Na nova sociedade que Jesus propõe, haverá novas relações, pautadas pela gratuidade e que superam a espiral da violência e da arrogância. Para quebrar a espiral da violência, é preciso resistir com atitudes que a desmontem, desarmando quem aposte nela como solução. Se combatermos a violência com a violência ou com a vingança, nunca chegaremos a construir a cultura da paz e a sociedade harmoniosa. Para construir uma nova sociedade, onde não haja rancor, ódio e intolerância, a última palavra deve ser o amor e o perdão.

1 Coríntios 15, 45-49 Seremos semelhantes a Cristo ressuscitado.

45O primeiro homem, Adão, “foi um ser vivo”. O segundo Adão é um espírito vivificante. 46Veio primeiro não o homem espiritual, mas o homem natural; depois é que veio o homem espiritual. 47O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo homem vem do céu. 48Como foi o homem terrestre, assim também são as pessoas terrestres; e como é o homem celeste, assim também vão ser as pessoas celestes. 49E como já refletimos a imagem do homem terrestre, assim também refletiremos a imagem do homem celeste. Comentário: * 35-49: Não se pode imaginar a ressurreição como simples reviver, ou simples volta às condições da vida terrestre. O ser humano passará para uma condição inteiramente nova: este corpo "animal", mortal, que nos foi transmitido pelos nossos pais, torna-se "espiritual", isto é, recebe vida nova do Espírito que Cristo nos dá. Paulo usa diversas imagens para nos dar a idéia da transfiguração pela qual passaremos. Nenhuma delas, porém, é capaz de dar uma idéia completa da misteriosa e real transformação que nos tornará semelhantes ao próprio Cristo ressuscitado.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Marcos 9, 2-13 O sinal da vitória.

2Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou sozinhos a um lugar à parte sobre uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles. 3Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar. 4Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus. 5Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. 6Pedro não sabia o que dizer, pois estavam todos com muito medo. 7Então desceu uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” 8E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles. 9Ao descerem da montanha, Jesus ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. 10Eles observaram essa ordem, mas comentavam entre si o que queria dizer “ressuscitar dos mortos”. 11Os três discípulos perguntaram a Jesus: “Por que os mestres da Lei dizem que antes deve vir Elias?” 12Jesus respondeu: “De fato, antes vem Elias, para colocar tudo em ordem. Mas como dizem as Escrituras que o Filho do Homem deve sofrer muito e ser rejeitado? 13Eu, porém, vos digo: Elias já veio, e fizeram com ele tudo o que quiseram, exatamente como as Escrituras falaram a respeito dele”. Comentário: * 9,1-13: A vida e ação de Jesus não terminam na sua morte. A transfiguração é sinal da Ressurreição: a sociedade não conseguirá deter a pessoa e a atividade de Jesus, que irão continuar através de seus discípulos. A voz de Deus mostra que, daqui por diante, Jesus é a única autoridade. Todos os que ouvem o convite de Deus e seguem a Jesus até o fim, começam desde já a participar da sua vitória final, quando ressuscitarão com ele. Jesus decide tomar três discípulos e subir a montanha. Lá acontece algo extraordinário: transfigura-se diante deles. Com essa cena, Jesus manifesta-se na plenitude da sua condição humano-divina. Em Jesus, Deus revela sua glória e seu poder salvador. Pedro gostou do que estava acontecendo e pede para perpetuar a permanência em cima da montanha: “é bom estarmos aqui!” Nessa cena, os discípulos descobrem a importância da contemplação, a qual deveria levar a uma vivência mais fraterna e solidária. Símbolo da presença divina, a nuvem anuncia: este é meu filho amado, escutem-no. A transfiguração é uma exortação para que escutemos Jesus e sigamos seus ensinamentos, que estão sempre no sentido de defesa da vida. Como seria diferente a realidade se nos deixássemos conduzir pelas suas palavras, as quais apontam para as realidades do Reino de Deus.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Marcos 8, 34-9,1 O seguimento de Jesus.

34Chamou Jesus a multidão com seus discípulos e disse: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. 35Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho vai salvá-la. 36Com efeito, de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida? 37E o que poderia o homem dar em troca da própria vida? 38Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras diante dessa geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele quando vier na glória do seu Pai com seus santos anjos”. O sinal da vitória -* 9,1Disse-lhes Jesus: “Em verdade vos digo, alguns dos que aqui estão não morrerão sem antes terem visto o Reino de Deus chegar com poder”. Comentário: * 34-38: A morte de cruz era reservada a criminosos e subversivos. Quem quer seguir a Jesus esteja disposto a se tornar marginalizado por uma sociedade injusta (perder a vida) e mais, a sofrer o mesmo destino de Jesus: morrer como subversivo (tomar a cruz). * 9,1-13: A vida e ação de Jesus não terminam na sua morte. A transfiguração é sinal da Ressurreição: a sociedade não conseguirá deter a pessoa e a atividade de Jesus, que irão continuar através de seus discípulos. A voz de Deus mostra que, daqui por diante, Jesus é a única autoridade. Todos os que ouvem o convite de Deus e seguem a Jesus até o fim, começam desde já a participar da sua vitória final, quando ressuscitarão com ele. Desta vez, Jesus convoca a multidão e seus discípulos para explicar-lhes em que consiste o seguimento a ele. Anuncia claramente duas condições básicas para segui-lo: negar-se a si mesmo significa abandonar toda a ambição egoísta de poder, domínio e glória humana; carregar a própria cruz implica assumir o compromisso com o projeto de Jesus, sabendo que pode entrar em confronto com uma sociedade injusta. Enquanto a pessoa alimentar ambições de prestígio pessoal, não se empenhará pelo bem da humanidade; e se tiver medo das consequências, acabará abandonando a proposta do Mestre. Na vida, devemos fazer uma escolha: ou valorizamos nossos interesses egoístas ou orientamos a vida aos interesses propostos por Jesus. Perder a vida é orientá-la na direção do projeto de Deus: perder a vida egoísta para ganhar a vida fraterna.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Marcos 8, 27-33 Jesus é o Messias.

27Jesus partiu com seus discípulos para os povoados de Cesareia de Filipe. No caminho perguntou aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?” 28Eles responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas”. 29Então ele perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Messias”. 30Jesus proibiu-lhes severamente de falar a alguém a seu respeito. 31Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, devia ser morto e ressuscitar depois de três dias. 32Ele dizia isso abertamente. Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo. 33Jesus voltou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: “Vai para longe de mim, satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens”. Comentário: * 27-33: A pergunta de Jesus força os discípulos a fazer uma revisão de tudo o que ele realizou no meio do povo. Esse povo não entendeu quem é Jesus. Os discípulos, porém, que acompanham e vêem tudo o que Jesus tem feito, reconhecem agora, através de Pedro, que Jesus é o Messias. A ação messiânica de Jesus consiste em criar um mundo plenamente humano, onde tudo é de todos e repartido entre todos. Esse messianismo destrói a estrutura de uma sociedade injusta, onde há ricos à custa de pobres e poderosos à custa de fracos. Por isso, essa sociedade vai matar Jesus, antes que ele a destrua. Mas os discípulos imaginam um messias glorioso e triunfante. Até agora o Evangelho de Marcos procurou mostrar, por meio de sinais e milagres, quem é Jesus. Então pergunta aos discípulos para ver até que ponto chegou o conhecimento deles a respeito do Mestre. Porta-voz do grupo, Pedro responde: tu és o Messias. Jesus não quis iludir seus seguidores e lhes mostra qual será seu destino. Jesus é o Filho de Deus, mas também o homem que tem de padecer e ser perseguido. Pedro reage diante dessa proposta e começa a repreendê-lo. Diante da atitude de Pedro, Jesus o convida a continuar sendo discípulo, ficando atrás do Mestre. Sim, nós também temos muito ainda a aprender do que o Mestre fez e ensinou. É muito fácil reconhecer e seguir o Jesus dos milagres, mas não é fácil acolher o Jesus da cruz. Nem sempre estamos dispostos a seguir o Jesus que questiona as injustiças e aponta a ferida da miséria e da dor.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Marcos 8, 22-26 Da cegueira para a visão.

22Jesus e seus discípulos chegaram a Betsaida. Algumas pessoas trouxeram-lhe um cego e pediram a Jesus que tocasse nele. 23Jesus pegou o cego pela mão, levou-o para fora do povoado, cuspiu nos olhos dele, colocou as mãos sobre ele e perguntou: “Estás vendo alguma coisa?” 24O homem levantou os olhos e disse: “Estou vendo os homens. Eles parecem árvores que andam”. 25Então Jesus colocou de novo as mãos sobre os olhos dele e ele passou a enxergar claramente. Ficou curado e enxergava todas as coisas com nitidez. 26Jesus mandou o homem ir para casa e lhe disse: “Não entres no povoado!” Comentário: * 22-26: A cura em dois tempos é um símbolo do que acontece com os discípulos. Eles acompanham Jesus e vêem tudo o que ele faz, mas ainda não percebem que Jesus é o Messias. Só compreenderão isso claramente a partir da cena seguinte, onde Jesus começa a revelar seu próprio destino (Mc 8,27-10,52). Diante dos discípulos, Jesus cura um cego em duas etapas. O sentido disso é fortemente simbólico, representando os discípulos que têm dificuldades de entender a mensagem e a proposta de seu Mestre. Não basta ver apenas fisicamente, é preciso compreender o sentido da trajetória de Jesus. O caminho da fé pode ser longo e, muitas vezes, penoso, mas é necessário não desanimar nem desistir diante do primeiro obstáculo. Nem sempre chegamos à certeza das grandes opções de nossa vida de forma imediata. Todos precisamos ser curados de nossas cegueiras em relação a Jesus e suas mensagens. Necessitamos ter os olhos purificados e bem abertos para ver a realidade em que vivemos e não confundir as pessoas com objetos descartáveis. Para os profetas, abrir os olhos aos cegos equivale a libertar da opressão a que, muitas vezes, estamos submetidos.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Marcos 8, 14-21 Confiar na partilha.

14Os discípulos tinham se esquecido de levar pães. Tinham consigo na barca apenas um pão. 15Então Jesus os advertiu: “Prestai atenção e tomai cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes”. 16Os discípulos diziam entre si: “É porque não temos pão”. 17Mas Jesus percebeu e perguntou-lhes: “Por que discutis sobre a falta de pão? Ainda não entendeis e nem compreendeis? Vós tendes o coração endurecido? 18Tendo olhos, vós não vedes e, tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais 19de quando reparti cinco pães para cinco mil pessoas? Quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços?” Eles responderam: “Doze”. 20Jesus perguntou: “E quando reparti sete pães com quatro mil pessoas, quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços?” Eles responderam: “Sete”. 21Jesus disse: “E vós ainda não compreendeis?” Comentário: * 14-21: Os discípulos se preocupam por não terem acumulado pão. Jesus chama a atenção deles para não ficarem presos a um sistema que visa a acumular coisas para ter segurança (fermento dos fariseus e de Herodes). É preciso confiar na partilha: tudo o que se reparte, torna-se até mais do que suficiente. Jesus alerta os discípulos sobre o fermento dos fariseus, sua ideologia nacionalista, e dos herodianos, ideologia da dominação. São dois fermentos que destroem o Evangelho, o projeto de Jesus. Os discípulos pensam que é por não estarem levando pão consigo. A partir disso, o Mestre alerta a incompreensão de seus seguidores, depois de tudo o que ele já realizou. A passagem é uma dura repreensão do Mestre contra seus discípulos, pois eles ainda não compreendem. O alerta de Jesus serve para nós também: é importante não se fixar na superfície dos sinais realizados por ele, mas avançar para a dimensão mais profunda de tais sinais. Em outras palavras, é fundamental ir além de uma leitura fundamentalista. O texto nos mostra que podemos perder de vista o fundamental, o sentido cristão das coisas, quando estamos dominados pelo imediatismo.

domingo, 13 de fevereiro de 2022

Marcos 8, 14-21 Confiar na partilha.

14Os discípulos tinham se esquecido de levar pães. Tinham consigo na barca apenas um pão. 15Então Jesus os advertiu: “Prestai atenção e tomai cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes”. 16Os discípulos diziam entre si: “É porque não temos pão”. 17Mas Jesus percebeu e perguntou-lhes: “Por que discutis sobre a falta de pão? Ainda não entendeis e nem compreendeis? Vós tendes o coração endurecido? 18Tendo olhos, vós não vedes e, tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais 19de quando reparti cinco pães para cinco mil pessoas? Quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços?” Eles responderam: “Doze”. 20Jesus perguntou: “E quando reparti sete pães com quatro mil pessoas, quantos cestos vós recolhestes cheios de pedaços?” Eles responderam: “Sete”. 21Jesus disse: “E vós ainda não compreendeis?” Comentário: * 14-21: Os discípulos se preocupam por não terem acumulado pão. Jesus chama a atenção deles para não ficarem presos a um sistema que visa a acumular coisas para ter segurança (fermento dos fariseus e de Herodes). É preciso confiar na partilha: tudo o que se reparte, torna-se até mais do que suficiente. Jesus alerta os discípulos sobre o fermento dos fariseus, sua ideologia nacionalista, e dos herodianos, ideologia da dominação. São dois fermentos que destroem o Evangelho, o projeto de Jesus. Os discípulos pensam que é por não estarem levando pão consigo. A partir disso, o Mestre alerta a incompreensão de seus seguidores, depois de tudo o que ele já realizou. A passagem é uma dura repreensão do Mestre contra seus discípulos, pois eles ainda não compreendem. O alerta de Jesus serve para nós também: é importante não se fixar na superfície dos sinais realizados por ele, mas avançar para a dimensão mais profunda de tais sinais. Em outras palavras, é fundamental ir além de uma leitura fundamentalista. O texto nos mostra que podemos perder de vista o fundamental, o sentido cristão das coisas, quando estamos dominados pelo imediatismo.

Marcos 8, 11-13 A ação de Jesus é o sinal.

11Os fariseus vieram e começaram a discutir com Jesus. E, para pô-lo à prova, pediam-lhe um sinal do céu. 12Mas Jesus deu um suspiro profundo e disse: “Por que esta gente pede um sinal? Em verdade vos digo, a esta gente não será dado nenhum sinal”. 13E, deixando-os, Jesus entrou de novo na barca e se dirigiu para a outra margem. Comentário: * 10-13: Jesus aqui não dá nenhuma prova de ser o Messias que veio de Deus e que realiza a vontade de Deus. Quem está disposto pode concluir isso, vendo a pessoa e a atividade de Jesus. Pedir outra prova é querer um messias triunfalista, que provoca admiração, mas não liberta. O grupo dos fariseus, mais uma vez, procura arrumar encrenca com Jesus, solicitando um milagre vindo do céu. O Mestre se recusa terminantemente a realizar tal pedido, para satisfazer a curiosidade de quem não quer nada com ele. Para os fariseus de ontem e de hoje, parece que não são suficientes os gestos já realizados por Jesus em favor de tantos necessitados. Ainda em nossos dias, há pessoas que abandonam o Mestre depois de não ter conseguido o que desejavam. São tentativas de obrigar Deus a ceder às nossas vontades. A própria pessoa de Jesus é o verdadeiro e autêntico sinal da presença de Deus e da salvação da humanidade. Os sinais através dos quais Jesus se revela são um chamado à fé e ao compromisso; não são para satisfazer a curiosidade nem os caprichos de quem quer que seja. O Mestre respeita a liberdade de cada um de segui-lo ou não.

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Lucas 6, 17.20-26 Anseio por um mundo novo.

17Jesus desceu da montanha com os discípulos e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e grande multidão de gente de toda a Judeia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. 20E, levantando os olhos para os seus discípulos, disse: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus! 21Bem-aventurados, vós que agora tendes fome, porque sereis saciados! Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque havereis de rir! 22Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome por causa do Filho do Homem! 23Alegrai-vos, nesse dia, e exultai, pois será grande a vossa recompensa no céu; porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas. 24Mas ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação! 25Ai de vós, que agora tendes fartura, porque passareis fome! Ai de vós, que agora rides, porque tereis luto e lágrimas! 26Ai de vós quando todos vos elogiam! Era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas”. Comentário: * 17-26: O povo vem de todas as partes ao encontro de Jesus, porque a ação dele faz nascer a esperança de uma sociedade nova, libertada da alienação e dos males que afligem os homens. Os vv. 20-26 proclamam o cerne de toda a atividade de Jesus: produzir uma sociedade justa e fraterna, aberta para a novidade de Deus. Para isso, é preciso libertar os pobres e famintos, os aflitos e os que são perseguidos por causa da justiça. Isso, porém, só se alcança denunciando aqueles que geram a pobreza e a opressão e depondo-os dos seus privilégios. Não é possível abençoar o pobre sem libertá-lo da pobreza. Não é possível libertar o pobre da pobreza sem denunciar o rico para libertá-lo da riqueza. Em contraste com Mateus, que apresenta o “sermão da montanha”, Lucas traz o “sermão da planície”. O texto do Evangelho apresenta as quatro “bênçãos em favor dos pobres” e os quatro “ais contra os ricos”. Descendo da montanha onde escolheu seus apóstolos, Jesus se encontra com numerosos discípulos e grande multidão; diante deles proclama o discurso das bem-aventuranças. Jesus inicia o discurso da planície empregando uma linguagem direta e olhando de frente a realidade do povo sofrido e ansioso por uma boa notícia. Jesus proclama felizes os pobres, os famintos, os que choram, os perseguidos por causa de Jesus. Em contrapartida, proclama os ais contra os ricos, os saciados, os que riem e os que são elogiados. As bem-aventuranças proclamadas por Jesus não são um apelo ao conformismo; ao contrário, conclamam os pobres e famintos a levantarem a cabeça, na certeza de que, no empenho pela justiça, sua situação haverá de mudar. Os pobres não são felizes por causa de sua pobreza e miséria – o próprio Jesus condena a miséria e a fome -, são felizes porque Deus está com eles. Além de palavras de ânimo, as bem-aventuranças são também uma contestação contra a exploração e a concentração, e um apelo de solidariedade dos ricos em favor dos mais necessitados.

1 Coríntios 15, 12.16-20 Se os mortos não ressuscitam...

12Se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como podem alguns dizer entre vós que não há ressurreição dos mortos? 16Pois, se os mortos não ressuscitam, então Cristo também não ressuscitou. 17E se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem nenhum valor e ainda estais nos vossos pecados. 18Então, também os que morreram em Cristo pereceram. 19Se é para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, nós somos – de todos os homens – os mais dignos de compaixão. Deus será tudo em todos -*20Mas, na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Comentário: * 12-19: Em Corinto, alguns pensam que, depois da morte, a alma imortal continua vivendo sozinha, abandonando a matéria e o corpo, que são considerados coisas más e inferiores. Outros pensam que tudo termina com a morte e que é melhor aproveitar o momento presente. Paulo mostra que ambas as opiniões são contrárias ao núcleo da fé cristã, porque se os mortos não ressuscitam verdadeiramente, nem Cristo ressuscitou. * 20-28: Dois estados da humanidade se opõem: o pecado e a morte, dos quais Adão é o símbolo; a graça e a vida, realizadas em Cristo (cf. Rm 5,17-21). A partir do pecado, existem na sociedade forças e estruturas que invertem o destino humano, desagregando, pervertendo, e até mesmo levando os homens à morte. Cristo foi morto por essas estruturas, mas Deus o ressuscitou e lhe deu poder de destruí-las. Após vencer essas forças, também a morte será vencida; então, o triunfo será definitivo. Unida a Cristo, a humanidade estará de novo submetida a Deus e o Reino de Deus se manifestará completamente.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Marcos 8, 1-10 O banquete da vida é para todos.

1Naqueles dias, havia de novo uma grande multidão e não tinha o que comer. Jesus chamou os discípulos e disse: 2“Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não tem nada para comer. 3Se eu os mandar para casa sem comer, vão desmaiar pelo caminho, porque muitos deles vieram de longe”. 4Os discípulos disseram: “Como poderia alguém saciá-los de pão aqui no deserto?” 5Jesus perguntou-lhes: “Quantos pães tendes?” Eles responderam: “Sete”. 6Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão. Depois, pegou os sete pães e deu graças, partiu-os e ia dando aos seus discípulos, para que os distribuíssem. E eles os distribuíam ao povo. 7Tinham também alguns peixinhos. Depois de pronunciar a bênção sobre eles, mandou que os distribuíssem também. 8Comeram e ficaram satisfeitos, e recolheram sete cestos com os pedaços que sobraram. 9Eram quatro mil, mais ou menos. E Jesus os despediu.A ação de Jesus é o sinal 10Subindo logo na barca com seus discípulos, Jesus foi para a região de Dalmanuta. Comentário: * -9: A cena é outra versão do mesmo fato já apresentado em 6,30-44. Agora, porém, o banquete é realizado em território pagão: o convite para formar nova sociedade é dirigido a todos, e não apenas a um grupo ou povo de privilegiados. * 10-13: Jesus aqui não dá nenhuma prova de ser o Messias que veio de Deus e que realiza a vontade de Deus. Quem está disposto pode concluir isso, vendo a pessoa e a atividade de Jesus. Pedir outra prova é querer um messias triunfalista, que provoca admiração, mas não liberta. Jesus teve compaixão da multidão que se aglomerou em sua volta e não quis despedi-la com fome. O Mestre promove uma ação conjunta, discípulos e multidão, para encontrar uma saída. A solução foi recolher o que cada um trazia e repartir. O alimento partilhado é uma bênção que saciou a fome daquela gente e ainda sobrou. Não basta sentir compaixão pelos irmãos e irmãs mais pobres; é preciso manifestar-lhes, com gestos concretos, solidariedade. Quando a pessoa sente compaixão pelo sofrimento do outro, ela não fica indiferente. O grande problema hoje é a indiferença diante de tanta dor que vemos na nossa sociedade. É fundamental superar o “círculo da indiferença” diante de tudo que vemos. Com seu gesto, o Mestre nos ensina que é necessário tomar consciência das necessidades humanas. Ao partilhar o pão e a amizade, é possível dar graças a Deus.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Marcos 7, 31-37 Jesus inicia uma nova criação.

31Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole. 32Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão. 33Jesus afastou-se com o homem para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e, com a saliva, tocou a língua dele. 34Olhando para o céu, suspirou e disse: "Efatá!", que quer dizer: “Abre-te!” 35Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade. 36Jesus recomendou com insistência que não contassem a ninguém. Mas, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam. 37Muito impressionados, diziam: "Ele tem feito bem todas as coisas: aos surdos faz ouvir e aos mudos falar". Comentário: * 31-37: A missão de Jesus inicia nova criação (Gn 1,31). Para isso ele abre os ouvidos e a boca dos homens, para que eles sejam capazes de ouvir e falar, isto é, discernir a realidade e dizer a palavra que a transforma. Jesus continua circulando em território estrangeiro, realizando curas. No texto de hoje, temos o caso de um homem surdo e gago. O Mestre, sem medo de se contaminar, leva o homem para fora da multidão e o toca no ouvido e na língua. A surdez impede a pessoa de ouvir e acolher os ensinamentos do Mestre; ao passo que a gaguez dificulta o anúncio da Palavra. Sua deficiência o mantinha fechado em si mesmo e o impedia de se comunicar. Tudo isso pode simbolizar os discípulos incapazes de ouvir o Mestre e de serem fiéis anunciadores de sua Palavra. Podemos ver, nesse relato, também os oprimidos da sociedade: os que não contam, os ensurdecidos e calados pela opressão. A Igreja libertadora é convidada a ser voz dos que não têm voz. Com a cura, Jesus realiza as mesmas obras de Deus, descritas no livro do Gênesis: fez bem todas as coisas.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Marcos 7, 24-30 Jesus veio para todos.

24Jesus saiu e foi para a região de Tiro e Sidônia. Entrou numa casa e não queria que ninguém soubesse onde ele estava. Mas não conseguiu ficar escondido. 25Uma mulher, que tinha uma filha com um espírito impuro, ouviu falar de Jesus. Foi até ele e caiu a seus pés. 26A mulher era pagã, nascida na Fenícia da Síria. Ela suplicou a Jesus que expulsasse de sua filha o demônio. 27Jesus disse: “Deixa primeiro que os filhos fiquem saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos cachorrinhos”. 28A mulher respondeu: “É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair”. 29Então Jesus disse: “Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa. O demônio já saiu de tua filha”. 30Ela voltou para casa e encontrou sua filha deitada na cama, pois o demônio já havia saído dela. Comentário: * 24-30: A salvação trazida por Jesus não é privilégio de um povo determinado, mas é para todos os que acreditam nele e na sua missão, mesmo que sejam considerados como cães, isto é, estrangeiros. Não é mais a raça e o sangue que unem as pessoas a Deus, mas a fé em Jesus e no mundo novo e transformado que ele desperta. Mesmo que queira, Jesus não consegue ficar despercebido. Uma mulher pagã, preocupada com sua filha possuída por um espírito impuro, atira-se aos pés do Mestre, suplicando pela filha. Jesus tenta resistir, mas, diante da insistência da mulher, cede. Jesus entra “numa casa” em território não israelita. A fala do Mestre é questão de precedência e não de exclusão, isto é, ele veio para os judeus, antes de tudo, sem excluir os outros povos. A reação da mulher mostra bem isso, os cachorrinhos (pagãos) também têm necessidade do básico para a vida (as migalhas). A atitude do Mestre parece ser um teste para constatar a fé da mulher. Provavelmente o texto revela a dúvida da comunidade de Marcos a respeito da admissão ou não dos pagãos ao Reino de Deus. A conclusão é clara: sim, também entre os pagãos havia pessoas preparadas para receber os benefícios do Reino.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Marcos 7, 14-23 Jesus anuncia uma nova moralidade.

14Jesus chamou a multidão para perto de si e disse: “Escutai todos e compreendei: 15o que torna impuro o homem não é o que entra nele, vindo de fora, mas o que sai do seu interior. 16Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”. 17Quando Jesus entrou em casa, longe da multidão, os discípulos lhe perguntaram sobre essa parábola. 18Jesus lhes disse: “Será que nem vós compreendeis? Não entendeis que nada do que vem de fora e entra numa pessoa pode torná-la impura, 19porque não entra em seu coração, mas em seu estômago e vai para a fossa?” Assim Jesus declarava que todos os alimentos eram puros. 20Ele disse: “O que sai do homem, isso é que o torna impuro. 21Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, 22adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. 23Todas essas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem”. Comentário: * 14-23: O que vem de fora não torna o homem pecador, e sim o que sai do coração, isto é, da consciência humana, que cria os projetos e dá uma direção às coisas. Jesus anuncia uma nova forma de moralidade, onde os homens podem relacionar-se entre si na liberdade e na justiça. Com isso, aboliu a lei sobre a pureza e impureza (Lv 11), cuja interpretação era o fundamento de uma sociedade injusta, baseada em tabus que criavam e solidificavam diferenças entre as pessoas, gerando privilegiados e marginalizados, opressores e oprimidos. Diante da multidão, Jesus esclarece a questão da lei do puro e impuro: o que torna a pessoa pura ou impura – boa ou má – diante de Deus não são as coisas que entram em contato com ela, mas a atitude do seu coração. É dele (do coração) que saem as traições, as injustiças, a maldade. A impureza não vem de fora, é pensada a partir do coração. Jesus sugere que cada pessoa procure dentro de si mesma a raiz do pecado e a raiz do amor. Isso para dizer que não há alimento puro ou impuro, quando muito há alimentos mais saudáveis e menos saudáveis. Nenhum alimento torna a pessoa impura ou má diante de Deus. O coração da pessoa é feito para amar, só que muitas vezes as pessoas o transformam em fonte de ódio, raiva, intolerância, discriminação, inveja etc., que afastam de Deus e da boa convivência com os irmãos e irmãs.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Marcos 7, 1-13 Jesus desmascara as falsas tradições.

1os fariseus e alguns mestres da Lei vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus. 2Eles viam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. 3Com efeito, os fariseus e todos os judeus só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos. 4Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre. 5Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram então a Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?” 6Jesus respondeu: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. 7De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. 8Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”. 9E dizia-lhes: “Vós sabeis muito bem como anular o mandamento de Deus a fim de guardar as vossas tradições. 10Com efeito, Moisés ordenou: ‘Honra teu pai e tua mãe’. E ainda: ‘Quem amaldiçoa o pai ou a mãe deve morrer’. 11Mas vós ensinais que é lícito alguém dizer a seu pai e à sua mãe: ‘O sustento que vós poderíeis receber de mim é Corban, isto é, consagrado a Deus’. 12E essa pessoa fica dispensada de ajudar seu pai ou sua mãe. 13Assim vós esvaziais a palavra de Deus com a tradição que vós transmitis. E vós fazeis muitas outras coisas como estas”. Comentário: *1-13: Jesus desmascara o que está por trás de certas práticas apresentadas como religiosas. E toma um exemplo concreto referente ao quarto mandamento. Corbã era o voto, pelo qual uma pessoa consagrava a Deus os próprios bens, tornando-os intocáveis e reservados ao tesouro do Templo. Aparentemente Deus era louvado, mas na realidade os pais ficavam privados de sustento necessário, enquanto o Templo e os sacerdotes ficavam ainda mais ricos. Os fariseus e alguns doutores da Lei criticavam o comportamento dos discípulos de Jesus por não cumprirem certos preceitos humanos. Com isso, indiretamente a crítica acabava atingindo o próprio Mestre, pois este não se interessava em “ensinar” seus discípulos. Fariseus e especialistas em leis preocupavam-se com detalhes nas práticas religiosas. Jesus os esclarece sobre eles estarem muito preocupados com “preceitos humanos” e ignorarem os “preceitos divinos”. A observância das “tradições humanas” era uma forma de exploração da fé do povo e uma maneira de esconder grande hipocrisia. A hipocrisia é o cultivo de atitudes religiosas e morais exteriores, que não correspondem à atitude interior e à conversão do coração. O farisaísmo é o apego a tradições religiosas e morais sem valor autêntico, mas que dão prestígio social, esquecendo os critérios do Evangelho.

domingo, 6 de fevereiro de 2022

Marcos 6, 53-56 Jesus é a presença de Deus.

53Tendo Jesus e seus discípulos acabado de atravessar o mar da Galileia, chegaram a Genesaré e amarraram a barca. 54Logo que desceram da barca, as pessoas imediatamente reconheceram Jesus. 55Percorrendo toda aquela região, levavam os doentes deitados em suas camas para o lugar onde ouviam falar que Jesus estava. 56E, nos povoados, cidades e campos aonde chegavam, colocavam os doentes nas praças e pediam-lhe para tocar, ao menos, a barra de sua veste. E todos quantos o tocavam ficavam curados. Comentário: * 45-56: O episódio mostra o verdadeiro Deus sendo revelado em Jesus ("Eu Sou" - cf. Ex 3,14). Os discípulos não conseguem ver a presença de Deus em Jesus, porque não entenderam o acontecimento dos pães. Para quem não entende que o comércio e a posse devem ser substituídos pelo dom e pela partilha, Jesus se torna fantasma ou apenas fazedor de milagres que provoca medo, e não a presença do Deus verdadeiro. O evangelista descreve Jesus percorrendo aldeias e cidades, e curando os enfermos que o procuram. Não consegue passar despercebido, e sua presença atraía muitas pessoas. É grande a fé no poder dele; acreditam que basta tocar a veste para serem curados. O contato com Jesus comunica esperança e vida a esse povo marginalizado. Jesus é como que a última esperança dos sofredores. Isso costuma acontecer na religiosidade dos pobres: com suas promessas, esperam tudo de Deus. Muita gente ainda hoje espera que Jesus resolva todos os seus problemas, com a promessa de muitos pregadores. Toda essa procura por Jesus não o engana, pois tem consciência de sua missão a serviço do Reino e não da autopromoção. Ele se deixa mover por pura misericórdia em favor desse povo sofrido. Ele nos ensina que não podemos ficar indiferentes diante de tanto sofrimento.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Lucas 5, 1-11 O seguimento de Jesus.

1Jesus estava na margem do lago de Genesaré, e a multidão apertava-se ao seu redor para ouvir a Palavra de Deus. 2Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago. Os pescadores haviam desembarcado e lavavam as redes. 3Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois, sentou-se e, da barca, ensinava as multidões. 4Quando acabou de falar, disse a Simão: “Avança para águas mais profundas e lançai vossas redes para a pesca”. 5Simão respondeu: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”. 6Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes, que as redes se rompiam. 7Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que viessem ajudá-los. Eles vieram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem. 8Ao ver aquilo, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” 9É que o espanto se apoderara de Simão e de todos os seus companheiros, por causa da pesca que acabavam de fazer. 10Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também ficaram espantados. Jesus, porém, disse a Simão: “Não tenhas medo! De hoje em diante, tu serás pescador de homens”. 11Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus. Comentário: * 1-11: A cena é simbólica. Jesus chama seus primeiros discípulos, mostrando-lhes qual a missão reservada a eles: fazer que os homens participem da libertação trazida por Jesus e que só pode realizar-se no seguimento dele, mediante a união com ele e sua missão. O convite ao seguimento é exigente: é preciso «deixar tudo», para que nada impeça o discípulo de anunciar a Boa Notícia do Reino. Jesus abandona as sinagogas e se dirige ao ambiente dos pescadores, à beira do lago de Genesaré, proclamando a Palavra de Deus à multidão ansiosa por ouvir sua mensagem. A multidão sabe que Jesus tem palavras de esperança para o povo desolado. Depois, subindo na barca de Pedro, continua ensinando e pede a Pedro que lance as redes em águas mais profundas. Apesar de uma noite infrutífera, Pedro obedece, e o resultado é abundante. Obediência à Palavra de Deus provoca resultados positivos, ela é transformadora. É a confiança na força do Evangelho que produz resultados inesperados. Após o sucesso da pesca, o Mestre chama alguns pescadores para segui-lo e partilhar a missão. De pescadores de peixes transforma-os em pescadores de gente, pessoas dispostas a se comprometer com seu projeto. A comunidade cristã é convidada a lançar as redes em águas mais profundas, ou seja, ir além da mesmice, enfrentar sem medo os desafios. O Mestre convida a não desanimar na vida diante dos insucessos e dos fracassos, mas tentar sempre sem nunca desistir. Se não der certo de um jeito, tentar de outro. Sempre haverá uma solução quando há confiança na Palavra de Deus e quando a perseverança impulsiona para a frente.

1 Coríntios 15, 1-11 Cristo ressuscitado, fundamento da nossa fé.

1Quero lembrar-vos, irmãos, o Evangelho que vos preguei e que recebestes, e no qual estais firmes. 2Por ele sois salvos, se o estais guardando tal qual ele vos foi pregado por mim. De outro modo, teríeis abraçado a fé em vão. 3Com efeito, transmiti-vos em primeiro lugar aquilo que eu mesmo tinha recebido; a saber: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; 4que foi sepultado; que, ao terceiro dia, ressuscitou, segundo as Escrituras; 5e que apareceu a Cefas e depois aos doze. 6Mais tarde, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma vez. Destes, a maioria ainda vive e alguns já morreram. 7Depois, apareceu a Tiago e depois apareceu aos apóstolos todos juntos. 8Por último, apareceu também a mim, como a um abortivo. 9Na verdade, eu sou o menor dos apóstolos, nem mereço o nome de apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. 10É pela graça de Deus que eu sou o que sou. Sua graça para comigo não foi estéril: a prova é que tenho trabalhado mais do que os outros apóstolos – não propriamente eu, mas a graça de Deus comigo. 11É isso, em resumo, o que eu e eles temos pregado e é isso o que crestes. Comentário: * 1-11: A certeza da fé cristã se baseia num fato: a ressurreição de Cristo. Paulo recorda o ensinamento tradicional da Igreja, e o confirma enumerando as testemunhas que viram Cristo ressuscitado. Encontramos aqui os traços principais do Credo e, ao mesmo tempo, o mais antigo testemunho escrito sobre o ensinamento primitivo da Igreja a respeito das aparições de Jesus Cristo.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Marcos 6, 30-34 O banquete da vida.

30Os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. 31Ele lhes disse: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo, que não tinham tempo nem para comer. 32Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. 33Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé e chegaram lá antes deles. 34Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas. Comentário: Na volta de uma missão, os apóstolos se reúnem com Jesus para fazer uma avaliação da atividade. O Mestre os convida ao repouso, o missionário também tem direito ao descanso. Mas não conseguem ficar muito tempo afastados, pois a multidão corre atrás. E Jesus se compadece, ao perceber que são como ovelhas sem pastor. As pessoas buscam em Jesus alimentar a esperança e o sentido da vida. Elas anseiam por uma sociedade fundamentada em valores de justiça, de fraternidade, de respeito e de acolhida; enfim, tudo o que Jesus pratica e ensina. Nós nos tornamos cada vez mais humanos à medida que vivemos esses valores que o Mestre nos deixou. Tanto para os evangelizadores como para qualquer pessoa, Jesus nos ensina que são necessários o repouso, o lazer, a convivência familiar, a necessidade de repor as energias. Isso também nos humaniza.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Marcos 6, 14-29 O banquete da morte.

14 o rei Herodes ouviu falar de Jesus, cujo nome se tinha tornado muito conhecido. Alguns diziam: “João Batista ressuscitou dos mortos. Por isso os poderes agem nesse homem”. 15Outros diziam: ”É Elias”. Outros ainda diziam: “É um profeta como um dos profetas”. 16Ouvindo isso, Herodes disse: “Ele é João Batista. Eu mandei cortar a cabeça dele, mas ele ressuscitou!” 17Herodes tinha mandado prender João e colocá-lo acorrentado na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, mulher do seu irmão Filipe, com quem se tinha casado. 18João dizia a Herodes: “Não te é permitido ficar com a mulher do teu irmão”. 19Por isso Herodíades o odiava e queria matá-lo, mas não podia. 20Com efeito, Herodes tinha medo de João, pois sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia. Gostava de ouvi-lo, embora ficasse embaraçado quando o escutava. 21Finalmente, chegou o dia oportuno. Era o aniversário de Herodes, e ele fez um grande banquete para os grandes da corte, os oficiais e os cidadãos importantes da Galileia. 22A filha de Herodíades entrou e dançou, agradando a Herodes e seus convidados. Então o rei disse à moça: “Pede-me o que quiseres e eu to darei”. 23E lhe jurou, dizendo: “Eu te darei qualquer coisa que me pedires, ainda que seja a metade do meu reino”. 24Ela saiu e perguntou à mãe: “O que vou pedir?” A mãe respondeu: “A cabeça de João Batista”. 25E, voltando depressa para junto do rei, pediu: “Quero que me dês agora, num prato, a cabeça de João Batista”. 26O rei ficou muito triste, mas não pôde recusar. Ele tinha feito o juramento diante dos convidados. 27Imediatamente, o rei mandou que um soldado fosse buscar a cabeça de João. O soldado saiu, degolou-o na prisão, 28trouxe a cabeça num prato e a deu à moça. Ela a entregou à sua mãe. 29Ao saberem disso, os discípulos de João foram lá, levaram o cadáver e o sepultaram. Comentário: * 14-29: A narração da morte de João Batista apresenta o destino de Jesus e dos que o seguem. A morte de João acontece dentro de um banquete de poderosos. Assim, o profeta que pregava o início de transformação radical é morto por aqueles que se sentem incomodados com essa transformação. João Batista se tornou conhecido pela sua ousadia e coragem em denunciar aquilo que não condizia com seus princípios de vida como precursor da Boa-nova. Até depois de morto, perturba a consciência do poderoso Herodes. Com detalhes, o Evangelho de hoje descreve a morte de João Batista. Essa morte antecipa o destino de Jesus e de muitos de seus seguidores. Tudo começou numa festa de aniversário entre ricos e poderosos. Em banquetes de poderosos, muitas vezes, são tramadas mortes de inocentes. Os dois – João e Jesus – não temeram pagar o preço de sua liberdade em denunciar tudo o que vai contra o projeto de Deus a respeito da humanidade. Eles devem fidelidade somente a Deus. Ambos são símbolos da coerência que existe no cristianismo entre profetismo e martírio. Que seu exemplo inspire os discípulos e discípulas de Jesus.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Marcos 6, 7-13 A missão dos discípulos.

7Jesus chamou os Doze e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. 8Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. 9Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. 10E Jesus disse ainda: “Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida. 11Se em algum lugar não vos receberem nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés como testemunho contra eles!” 12Então os Doze partiram e pregaram que todos se convertessem. 13Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo. Comentário: * 6b-13: Os discípulos são enviados para continuar a missão de Jesus: pedir mudança radical da orientação de vida (conversão), desalienar as pessoas (libertar dos demônios), restaurar a vida humana (curas). Os discípulos devem estar livres, ter bom senso e estar conscientes de que a missão vai provocar choque com os que não querem transformações. Jesus envia os apóstolos, numa espécie de experiência, para anunciar o Evangelho, com autoridade para converter e libertar dos demônios que dominam as pessoas. A missão dos Doze é continuar a obra libertadora do Mestre. A bagagem é simples e modesta, apenas o necessário para se vestir e proteger os pés, e carregam o símbolo da missão, o bastão. Com isso, o Mestre ensina que o evangelizador deve estar livre e desapegado de tudo o que possa ser obstáculo à credibilidade da missão. A riqueza gera segurança e pode nutrir o espírito de dominação e discriminação, principalmente em ambientes simples e pobres. Com isso, os apóstolos, pregando na pobreza, deviam confiar-se na providência divina. Ela não deixaria que lhes faltasse o necessário para a sobrevivência. Jesus não convida todos a segui-lo da mesma forma, porém espera que cada um seja fiel ao seu projeto.

Lucas 2, 22-40 O Messias é pobre.

22Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor, 23conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. 24Foram também oferecer o sacrifício – um par de rolas ou dois pombinhos -, como está ordenado na Lei do Senhor. O Messias, sinal de contradição - 25Em Jerusalém havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele 26e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor. 27Movido pelo Espírito, Simeão veio ao templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, 28Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: 29“Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; 30porque meus olhos viram a tua salvação, 31que preparaste diante de todos os povos: 32luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”. 33O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. 34Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. 35Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”. 36Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. 37Depois ficara viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações. 38Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. 39Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. 40O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele. Comentário: * 21-24: Todo primogênito pertencia a Deus, e devia ser resgatado por meio de um sacrifício. Nessa ocasião, também se fazia a purificação da mãe, e se oferecia um cordeiro. Quem era pobre podia oferecer duas rolas ou dois pombinhos, em lugar do cordeiro (cf. Lv 5,1-8). O Messias nasce como dominado, em lugar pobre, e vem pobre, para os pobres. * 25-40: Simeão e Ana também representam os pobres que esperam a libertação. E Deus responde à esperança deles. O cântico de Simeão relembra a vida e missão do Messias: Jesus será sinal de contradição, isto é, julgamento para os ricos e poderosos, e libertação para os pobres e oprimidos (cf. Lc 6,20-26). Esta festa se refere tanto a Maria, por sua purificação segundo a “Lei de Moisés”, quanto a Jesus, o Filho primogênito que devia ser consagrado ao Senhor. Depois dos pastores e dos magos, Simeão, “movido pelo Espírito”, confirma a identidade do recém-nascido. Trata-se do Messias, “luz para iluminar as nações”. Essa referência à luz fez surgir na Igreja o costume de benzer as velas. Por isso, a festa de hoje é conhecida também como “a Candelária” (candela [latim] = vela). Simeão, representante da Antiga Aliança, é a testemunha viva e a voz de todos os que esperavam o Messias Redentor: “Meus olhos viram a tua salvação”. Tal salvação proclamada por Simeão, no Templo de Jerusalém, tem caráter universal, portanto faz cair por terra o exclusivismo de Israel; Deus se revela a todas as nações.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Marcos 5, 21-43 Restaurar os homens na vida total.

21Jesus atravessou de novo, numa barca, para a outra margem. Uma numerosa multidão se reuniu junto dele, e Jesus ficou na praia. 22Aproximou-se, então, um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo. Quando viu Jesus, caiu a seus pés 23e pediu com insistência: “Minha filhinha está nas últimas. Vem e põe as mãos sobre ela, para que ela sare e viva!” 24Jesus então o acompanhou. Uma numerosa multidão o seguia e o comprimia. 25Ora, achava-se ali uma mulher que, há doze anos, estava com uma hemorragia; 26tinha sofrido nas mãos de muitos médicos, gastou tudo o que possuía e, em vez de melhorar, piorava cada vez mais. 27Tendo ouvido falar de Jesus, aproximou-se dele por detrás, no meio da multidão, e tocou na sua roupa. 28Ela pensava: “Se eu ao menos tocar na roupa dele, ficarei curada”. 29A hemorragia parou imediatamente, e a mulher sentiu dentro de si que estava curada da doença. 30Jesus logo percebeu que uma força tinha saído dele. E, voltando-se no meio da multidão, perguntou: “Quem tocou na minha roupa?” 31Os discípulos disseram: “Estás vendo a multidão que te comprime e ainda perguntas: ‘Quem me tocou?'” 32Ele, porém, olhava ao redor para ver quem havia feito aquilo. 33A mulher, cheia de medo e tremendo, percebendo o que lhe havia acontecido, veio e caiu aos pés de Jesus e contou-lhe toda a verdade. 34Ele lhe disse: “Filha, a tua fé te curou. Vai em paz e fica curada dessa doença”. 35Ele estava ainda falando quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga e disseram a Jairo: “Tua filha morreu. Por que ainda incomodar o mestre?” 36Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da sinagoga: “Não tenhas medo. Basta ter fé!” 37E não deixou que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e seu irmão João. 38Quando chegaram à casa do chefe da sinagoga, Jesus viu a confusão e como estavam chorando e gritando. 39Então, ele entrou e disse: “Por que essa confusão e esse choro? A criança não morreu, mas está dormindo”. 40Começaram então a caçoar dele. Mas ele mandou que todos saíssem, menos o pai e a mãe da menina e os três discípulos que o acompanhavam. Depois entraram no quarto onde estava a criança. 41Jesus pegou na mão da menina e disse: “Talitá cum” – que quer dizer: “Menina, levanta-te!” 42Ela levantou-se imediatamente e começou a andar, pois tinha doze anos. E todos ficaram admirados. 43Ele recomendou com insistência que ninguém ficasse sabendo daquilo. E mandou dar de comer à menina. Comentário: * 21-43: Toda mulher menstruada ou sofrendo corrimento de sangue, era considerada impura (Lv 15,19.25), e impuros ficavam também os que fossem tocados por ela. A fé em Jesus faz que essa mulher viole a Lei e seja curada. A missão de Jesus é restaurar os homens na vida total: não só libertá-los da doença que os diminui e exclui do convívio social, mas também salvá-los da morte, que os exclui da vida antes do tempo. Nesse relato temos duas narrativas entrelaçadas, trazendo duas mulheres: uma em plena adolescência (doze anos), com toda a vida pela frente, à beira da morte; a outra, há doze anos carregando o peso da exploração econômica e da discriminação religiosa. Jesus vence dois poderosos inimigos: a morte da menina e a doença incurável da mulher. A mulher aproxima-se de Jesus, toca a roupa dele e fica curada; a menina é tocada por Jesus e se levanta. O encontro e o contato com Jesus transformam e promovem a vida das pessoas. O tocar em Jesus ou deixar-se tocar por ele é o gesto concreto de um encontro salvífico. A fé da mulher e a fé do pai da menina conseguem recuperar a dignidade dessas duas pessoas. A misericórdia de Jesus aliada à fé das pessoas restaura a plenitude da vida. Como seria bom ouvir de Jesus: sua fé salvou você, vai em paz.