terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Marcos 6, 1-6 O escândalo da encarnação.

* 1 Jesus foi para Nazaré, sua terra, e seus discípulos o acompanharam. 2 Quando chegou o sábado, Jesus começou a ensinar na sinagoga. Muitos que o escutavam ficavam admirados e diziam: “De onde vem tudo isso? Onde foi que arranjou tanta sabedoria? E esses milagres que são realizados pelas mãos dele? 3 Esse homem não é o carpinteiro, o filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? E suas irmãs não moram aqui conosco?” E ficaram escandalizados por causa de Jesus. 4 Então Jesus dizia para eles que um profeta só não é estimado em sua própria pátria, entre seus parentes e em sua família. 5 E Jesus não pôde fazer milagres em Nazaré. Apenas curou alguns doentes, pondo as mãos sobre eles. 6 E Jesus ficou admirado com a falta de fé deles. Comentário: * 1-6a: Os conterrâneos de Jesus se escandalizam: não querem admitir que alguém como eles possa ter sabedoria superior à dos profissionais e realize ações que indiquem uma presença de Deus. Para eles, o empecilho para a fé é a encarnação: Deus feito homem, situado num contexto social. O breve texto nos mostra Jesus numa de suas principais atividades, isto é, ensinando. Ensina na sinagoga e percorre “os vilarejos vizinhos, ensinando”. As reações dos ouvintes parecem seguir o mesmo esquema: numeroso grupo adere a Jesus e a seus ensinamentos, e outra parte o rejeita. Em Nazaré, onde havia passado a infância e adolescência, Jesus encontra grande rejeição à sua presença libertadora. Tanto que ele extravasa um lamento: “Um profeta só é desprezado em sua terra, entre seus parentes, e em sua casa”. A aversão ao Mestre chega a tal ponto, que ele não consegue realizar aí nenhum milagre. A seus conterrâneos faltam fé e abertura de coração. Mas o “carpinteiro, filho de Maria”, segue seu caminho levando a Boa-nova a outros povos e regiões, talvez mais receptivos à sua mensagem.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Marcos 5, 21-43 Restaurar os homens na vida total.

-* 21 Jesus atravessou de barca novamente para o outro lado do mar. Uma numerosa multidão se reuniu junto dele, e Jesus ficou na praia. 22 Aproximou-se um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo. Quando viu Jesus, caiu a seus pés, 23 e pediu com insistência: “Minha filhinha está morrendo. Vem e põe as mãos sobre ela, para que sare e viva.” 24 Jesus acompanhou Jairo. E numerosa multidão o seguia e o apertava de todos os lados. 25 Aí chegou uma mulher que sofria de hemorragia já há doze anos; 26 tinha padecido na mão de muitos médicos, gastou tudo o que tinha e, em vez de melhorar, piorava sempre mais. 27 A mulher tinha ouvido falar de Jesus. Então ela foi no meio da multidão, aproximou-se de Jesus por trás e tocou na roupa dele, 28 porque pensava: “Ainda que eu toque só na roupa dele, ficarei curada.” 29 A hemorragia parou imediatamente. E a mulher sentiu no corpo que estava curada da doença. 30 Jesus percebeu imediatamente que uma força tinha saído dele. Então virou-se no meio da multidão e perguntou: “Quem foi que tocou na minha roupa?” 31 Os discípulos disseram: “Estás vendo a multidão que te aperta e ainda perguntas: ‘quem me tocou?’”32 Mas Jesus ficou olhando em volta para ver quem tinha feito aquilo. 33 A mulher, cheia de medo e tremendo, percebeu o que lhe havia acontecido. Então foi, caiu aos pés de Jesus e contou toda a verdade. 34 Jesus disse à mulher: “Minha filha, sua fé curou você. Vá em paz e fique curada dessa doença.” 35 Jesus ainda estava falando, quando chegaram algumas pessoas da casa do chefe da sinagoga e disseram a Jairo: “Sua filha morreu. Por que você ainda incomoda o Mestre?” 36 Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da sinagoga: “Não tenha medo; apenas tenha fé!” 37 E Jesus não deixou que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e seu irmão João. 38 Quando chegaram à casa do chefe da sinagoga, Jesus viu a confusão e ouviu as pessoas chorando e gritando. 39 Jesus entrou e disse: “Por que essa confusão e esse choro? A criança não morreu. Ela está apenas dormindo.” 40 As pessoas começaram a zombar dele. Mas Jesus mandou que todos saíssem, menos o pai e a mãe da menina, e os três discípulos que o acompanhavam. Depois entraram no quarto onde a menina estava. 41 Jesus pegou a menina pela mão e disse: “Talita cúmi”, que quer dizer: “Menina, - eu lhe digo - levante-se!” 42 A menina levantou-se imediatamente e começou a andar, pois já tinha doze anos. E todos ficaram muito admirados. 43 Jesus recomendou com insistência que ninguém ficasse sabendo disso. E mandou dar comida para a menina. Comentário: * 21-43: Toda mulher menstruada ou sofrendo corrimento de sangue, era considerada impura (Lv 15,19.25), e impuros ficavam também os que fossem tocados por ela. A fé em Jesus faz que essa mulher viole a Lei e seja curada. A missão de Jesus é restaurar os homens na vida total: não só libertá-los da doença que os diminui e exclui do convívio social, mas também salvá-los da morte, que os exclui da vida antes do tempo. Dois protagonistas, duas histórias. Jairo é chefe de sinagoga; a mulher é enferma e há doze anos sofre de hemorragia, gastando todas as suas economias em tratamento sem eficácia. Jairo cai aos pés do Mestre e lhe implora a cura de sua filha que está morrendo. A mulher, considerada impura pela sua enfermidade, aproxima-se de Jesus, discretamente toca-lhe a veste, crendo que por esse gesto será curada. Recebe a cura física e a salvação pela fé. Também ela cai aos pés de Jesus, cheia de reconhecimento e gratidão. Na casa de Jairo, o clima é de morte (choradeira). Jesus, tomando a menina pela mão, ordena que volte a viver e seja alimentada, atitudes que salientam a sensibilidade de Jesus. Nem todos acreditam no poder de Jesus. Alguns caçoam dele. A maioria, entretanto, fica assombrada.

domingo, 29 de janeiro de 2023

Marcos 5, 1-20 Libertar o homem ou possuir bens?

* 1 Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar, na região dos gerasenos. 2 Logo que Jesus saiu da barca, um homem possuído por um espírito mau saiu de um cemitério e foi ao seu encontro. 3 Esse homem morava no meio dos túmulos e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. 4 Muitas vezes tinha sido amarrado com algemas e correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava as algemas. E ninguém era capaz de dominá-lo. 5 Dia e noite ele vagava entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras. 6 Vendo Jesus de longe, o endemoninhado correu, caiu de joelhos diante dele 7 e gritou bem alto: “Que há entre mim e ti, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Eu te peço por Deus, não me atormentes!” 8 O homem falou assim, porque Jesus tinha dito: “Espírito mau, saia desse homem!” 9 Então Jesus perguntou: “Qual é o seu nome?” O homem respondeu: “Meu nome é ‘Legião’, porque somos muitos.” 10 E pedia com insistência para que Jesus não o expulsasse da região. 11 Havia aí perto uma grande manada de porcos, pastando na montanha. 12 Os espíritos maus suplicaram: “Manda-nos para os porcos, para que entremos neles.” 13 Jesus deixou. Os espíritos maus saíram do homem e entraram nos porcos. E a manada - mais ou menos uns dois mil porcos - atirou-se monte abaixo para dentro do mar, onde se afogou. 14 Os homens que guardavam os porcos saíram correndo e espalharam a notícia na cidade e nos campos. E as pessoas foram ver o que tinha acontecido. 15 Foram até Jesus, viram o endemoninhado sentado, vestido e no seu perfeito juízo, ele que antes estava possuído pela Legião. E ficaram com medo. 16 Os que tinham presenciado o fato explicaram para as pessoas o que tinha acontecido com o endemoninhado e com os porcos. 17 Então começaram a suplicar que Jesus fosse embora da região deles. 18 Enquanto Jesus entrava de novo na barca, o homem que tinha sido endemoninhado pediu-lhe que o deixasse ficar com ele. 19 Jesus, porém, não deixou. E, em troca, lhe disse: “Vá para casa, para junto dos seus, e anuncie para eles tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por você.” 20 Então o homem foi embora e começou a pregar pela Decápole tudo o que Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados. Comentário: *1-20: A atitude dos que pedem que Jesus vá embora é a mesma de uma sociedade que valoriza mais a posse dos bens do que a libertação dos alienados e escravizados. Em primeiro lugar, Deus quer que o homem viva. A sociedade que põe qualquer coisa acima da vida humana é sociedade que rejeita Jesus. O possesso indomável (ninguém conseguia dominá-lo) e meio morto (cemitério, túmulos) é figura da escravidão (correntes e algemas). Com essa personagem, Marcos descreve a situação dos escravos que, por falta de alternativa, acabavam por destruir a si mesmos (machucando-se com pedras), sem com isso abalar a estrutura do poder econômico, assentado sobre a escravidão. O porco, no judaísmo, era figura do poder estrangeiro opressor e, na época de Jesus, representava o domínio de Roma. Quando os oprimidos se libertam do poder opressor, este se destrói (os porcos se afogam nas águas, como o exército do faraó). Diante do ocorrido, a classe dominante se apavora e pede que Jesus se retire, na tentativa de impedir a expansão da mensagem libertadora, que põe a pessoa humana acima do dinheiro e do poder.

sábado, 28 de janeiro de 2023

Mateus 6, 1-12 Bem-aventuranças: anseio por um mundo novo.

-* 1 Jesus viu as multidões, subiu à montanha e “entou-se. Os discípulos se aproximaram, 2 e Jesus começou a ensiná-los: 3 “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. 4 Felizes os aflitos, porque serão consolados. 5 Felizes os mansos, porque possuirão a terra. 6 Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7 Felizes os que são misericordiosos, porque encontrarão misericórdia. 8 Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. 9 Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10 Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu. 11 Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim. 12 Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês.” Comentário: *1-12: As bem-aventuranças são o anúncio da felicidade, porque proclamam a libertação, e não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino através da palavra e ação de Jesus. Estas tornam presente no mundo a justiça do próprio Deus. Justiça para aqueles que são inúteis ou incômodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza que explora e no poder que oprime. Os que buscam a justiça do Reino são os “pobres em espírito.” Sufocados no seu anseio pelos valores que a sociedade injusta rejeita, esses pobres estão profundamente convictos de que eles têm necessidade de Deus, pois só com Deus esses valores podem vigorar, surgindo assim uma nova sociedade. Proclamadas por Jesus no início de sua missão, as bem-aventuranças são o retrato do maior dos bem-aventurados, o próprio Jesus. Elas definem em que consiste o Reino de Deus. O reino deste mundo, já o sabemos, está assentado na injustiça com seus inevitáveis reflexos: opressão, ganância, egoísmo, falta de paz. O Reino de Deus, ao invés, é formado por pessoas pobres, isto é, desapegadas dos bens terrenos, que põem sua total confiança em Deus. O Reino de Deus exige a prática da justiça e a promoção da paz entre pessoas e povos. Esta escolha pode acarretar perseguições por parte dos que preferem manter um sistema corrupto e injusto. Mas, na provação, quem escolhe e abraça o Reino de Deus experimenta a verdadeira alegria e não desperdiça esforços; pode contar com a recompensa divina.

1 Coríntios 1, 26-31 Deus subverte os projetos humanos.

26 Portanto, irmãos, vocês que receberam o chamado de Deus, vejam bem quem são vocês: entre vocês não há muitos intelectuais, nem muitos poderosos, nem muitos de alta sociedade.27 Mas, Deus escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os sábios; e Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte. 28 E aquilo que o mundo despreza, acha vil e diz que não tem valor, isso Deus escolheu para destruir o que o mundo pensa que é importante. 29 Desse modo, nenhuma criatura pode se orgulhar na presença de Deus. 30 Ora, é por iniciativa de Deus que vocês existem em Jesus Cristo, o qual se tornou para nós sabedoria que vem de Deus, justiça, santificação e libertação, 31 a fim de que, como diz a Escritura: ‘Aquele que se gloria, que se glorie no Senhor”. Comentário: * 17-31: O projeto de Deus é contrário aos projetos dos homens. Os homens valorizam e dão lugar aos ricos, aos poderosos, aos intelectuais, aos que têm “status”, beleza física, facilidade de expressão etc. Consequentemente, desprezam e não dão importância àqueles que não se encaixam nesses padrões. Deus, porém, subverte a sociedade e os projetos humanos: para estabelecer e realizar os seus projetos, ele se alia aos pobres, fracos e simples, porque estes não são auto-suficientes e se abrem para Deus. É na pobreza e fraqueza destes que Deus manifesta a sua força (cf. 2Cor 12,9). E a manifestação máxima do poder e da graça de Deus é Jesus crucificado, pois a cruz é o símbolo da fraqueza, do fracasso e da vergonha, porque nela eram executados os criminosos. A verdadeira comunidade cristã é a dos pobres: ela está aliada à sabedoria do projeto de Deus; por isso, é portadora da novidade que provoca transformações radicais.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Marcos 4, 35-41 Jesus é o Senhor da história.

* 35 Nesse dia, quando chegou a tarde, Jesus disse a seus discípulos: “Vamos para o outro lado do mar.” 36 Então os discípulos deixaram a multidão e o levaram na barca, onde Jesus já se encontrava. E outras barcas estavam com ele.37 Começou a soprar um vento muito forte, e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já estava se enchendo de água. 38 Jesus estava na parte de trás da barca, dormindo com a cabeça num travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: “Mestre, não te importa que nós morramos?” 39 Então Jesus se levantou e ameaçou o vento e disse ao mar: “Cale-se! Acalme-se!” O vento parou e tudo ficou calmo. 40 Depois Jesus perguntou aos discípulos: “Por que vocês são tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?” 41 Os discípulos ficaram muito cheios de medo e diziam uns aos outros: “Quem é esse homem, a quem até o vento e o mar obedecem?” Comentário: * 35-41: Jesus atravessa com os discípulos para a terra dos pagãos. O mar agitado é símbolo das nações pagãs que ameaçam destruir a comunidade cristã. Mas Jesus é o Senhor da história e dos povos. O medo dos discípulos é sinal da falta de fé: eles não conseguem ver que a ação de Jesus transforma as situações. Embora esteja com seus discípulos na barca, Jesus dorme, isto é, não deixa sentir sua presença. Então levanta-se uma grande “tempestade de vento”, pondo em perigo a travessia. Qualquer missão sem Jesus está fadada ao fracasso. Assustados, os discípulos despertam a Jesus, chamando-lhe a atenção pela falta de apoio: “Não te importas que morramos?”. Jesus se importa, sim, e censura a falta de fé e confiança dos discípulos. Todos precisamos enfrentar os perigos exteriores e interiores (forças estranhas dentro de nós) para evitar o naufrágio. Os discípulos ainda não se dão conta de quem é realmente Jesus (Filho de Deus), mas constatam que ele tem poder sobre a natureza, o que é uma prerrogativa somente de Deus.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Marcos 4, 26-34 A missão de Jesus é irresistível.

-* 26 E Jesus continuou dizendo: “O Reino de Deus é como um homem que espalha a semente na terra. 27 Depois ele dorme e acorda, noite e dia, e a semente vai brotando e crescendo, mas o homem não sabe como isso acontece. 28 A terra produz fruto por si mesma: primeiro aparecem as folhas, depois a espiga e, por fim, os grãos enchem a espiga. 29 Quando as espigas estão maduras, o homem corta com a foice, porque o tempo da colheita chegou.” A missão atinge o mundo inteiro -* 30 Jesus dizia ainda: “Com que coisa podemos comparar o Reino de Deus? Que parábola podemos usar? 31 O Reino é como uma semente de mostarda, que é a menor de todas as sementes da terra. 32 Mas, quando é semeada, a mostarda cresce e torna-se maior que todas as plantas; ela dá ramos grandes, de modo que os pássaros do céu podem fazer ninhos em sua sombra.” 33 Jesus anunciava a Palavra usando muitas outras parábolas como essa, conforme eles podiam compreender. 34 Para a multidão Jesus só falava com parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, ele explicava tudo. Comentário: * 26-29: A missão de Jesus é portadora do Reino de Deus e da transformação que ele provoca. Uma vez iniciada, a ação de Jesus cresce e produz fruto de maneira imprevisível e irresistível. * 30-34: Diante das estruturas e ações deste mundo, a atividade de Jesus e daqueles que o seguem parece impotente, e mesmo ridícula. Mas ela crescerá, até atingir o mundo inteiro. A primeira parábola compara o Reino de Deus com o desenvolvimento escondido e misterioso da semente. Quem não se encanta com uma delicada semente que, introduzida na terra, lentamente vai se transformando em árvore robusta e alta? A semente traz em si esperança de vida. O Reino de Deus muitas vezes parece estar amortecido, sem vitalidade, sem brilho. Mas está em gestação, enfrentando desafios, oposições. Um dia triunfará. A segunda parábola compara o Reino de Deus com uma semente minúscula, quase imperceptível. Um dia se tornará árvore frondosa. O Reino tem em si promessa de estender-se mundo afora e oferecer acolhida a toda pessoa que busca liberdade (as aves do céu). Se soubermos entregar-nos ao projeto de Deus, ficaremos maravilhados ao ver como nossa vida poderá tornar-se fecunda!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Lucas 10, 1-9 Os anunciadores do Reino.

-* 1 O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos, e os enviou dois a dois, na sua frente, para toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2 E lhes dizia: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita. 3 Vão! Estou enviando vocês como cordeiros para o meio de lobos. 4 Não levem bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não parem no caminho, para cumprimentar ninguém. 5 Em qualquer casa onde entrarem, digam primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ 6 Se aí morar alguém de paz, a paz de vocês irá repousar sobre ele; se não, ela voltará para vocês. 7 Permaneçam nessa mesma casa, comam e bebam do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não fiquem passando de casa em casa. 8 Quando entrarem numa cidade, e forem bem recebidos, comam o que servirem a vocês, 9 curem os doentes que nela houver. E digam ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vocês!’ Comentário: * 10,1-16: Os discípulos são organizados por Jesus para anunciarem a Boa Notícia no caminho e começarem a realizar os atos que concretizam o Reino. Aqueles que não quiserem aderir à Boa Notícia ficarão fora da nova história. Timóteo e Tito são dois filhos espirituais e amigos diletos do apóstolo Paulo. Em algumas viagens missionárias, Timóteo foi companheiro de Paulo, com quem dividiu alegrias e sofrimentos. Era o portador de cartas e instruções que o apóstolo dirigia às recém-fundadas comunidades cristãs. Foi bispo de Éfeso. Mesmo tendo de ocupar-se com outras missões, Timóteo permaneceu sempre fiel a Paulo, principalmente quando este estava na prisão. No elenco dos livros bíblicos, constam duas “cartas pastorais” de Paulo a Timóteo. Outro colaborador de Paulo foi Tito. Exerceu a função de mediador para levar a harmonia e a paz a algumas comunidades em conflito. Foi bispo de Creta. Também a ele Paulo escreveu uma “carta pastoral”. É possível que Tito tenha evangelizado a Dalmácia, onde é venerado de modo especial.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Marcos 16, 15-18 Aparições de Jesus ressuscitado.

15 Então Jesus disse-lhes: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade. 16 Quem acreditar e for batizado, será salvo. Quem não acreditar, será condenado. 17 Os sinais que acompanharão aqueles que acreditarem são estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; 18 se pegarem cobras ou beberem algum veneno, não sofrerão nenhum mal; quando colocarem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados.” Comentário: * 9-20: Este trecho difere muito do livro até aqui; por isso é considerado obra de outro autor. Os cristãos da primeira geração provavelmente quiseram completar o livro de Marcos com um resumo das aparições de Jesus e uma apresentação global da missão da Igreja. Parece que se inspiraram no último capítulo de Mateus (28,18-20), em Lucas (24,10-53), em João (20,11-23) e no início do livro dos Atos dos Apóstolos (1,4-14). Paulo vinha sendo preparado por Deus para ser uma grande força na compreensão e expansão do cristianismo. Formado nas Sagradas Escrituras, nutria grande zelo pela religião dos seus antepassados. Era tão aplicado na consolidação do judaísmo, que se tornou feroz perseguidor dos cristãos. Foi com esse homem que Jesus teve encontro histórico na estrada de Damasco. Paulo não viu Jesus, mas foi atingido por ofuscante luz, enquanto uma voz lhe perguntava: “Por que me persegues?” Uma pergunta espera resposta, explicação, decisão. Paulo também indaga: “Quem és tu?”. “Eu sou Jesus”, esclarece a voz. A partir desse diálogo, Paulo assume novo modo de vida (conversão) e dedicação sem reservas a Jesus Cristo. Por seu testemunho de vida e suas cartas, sua palavra continua a ressoar no mundo inteiro.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Marcos 3, 31-35 A verdadeira família de Jesus.

* 31 Nisso chegaram a mãe e os irmãos de Jesus; ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo: 32 Havia uma multidão sentada ao redor de Jesus. Então lhe disseram: “Olha, tua mãe e teus irmãos estão aí fora e te procuram.” 33 Jesus perguntou: “Quem é minha mãe e meus irmãos?” 34 Então Jesus olhou para as pessoas que estavam sentadas ao seu redor e disse: “Aqui estão minha mãe e meus irmãos. 35 Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” Comentário: * 31-35: Enquanto a família segundo a carne está “fora”, a família segundo o compromisso da fé está “dentro”, ao redor de Jesus. Sua verdadeira família é formada por aqueles que realizam na própria vida a vontade de Deus, que consiste em continuar a missão de Jesus. Em outra circunstância, apresentaram-se os parentes de Jesus para tirá-lo de circulação, pois diziam que ele estava louco. É claro que nessa comitiva não estava sua mãe Maria. No episódio de hoje, porém, a mãe está presente, junto com outros familiares. As intenções parecem ser boas, pois querem vê-lo e o mandam chamar, já que estava palestrando com muita gente sentada ao seu redor. Jesus aproveita a ocasião para nos oferecer um novo conceito de parentesco que nasce da fé. Não são os laços de sangue que nos tornam próximos e irmãos de Jesus. Sua família doravante será constituída por aqueles que fazem a vontade de Deus. Uma família que abarca todas as raças e culturas e vai se multiplicando e aumentando à medida que as pessoas aceitam Jesus Cristo e se dispõem a viver fraternalmente.

domingo, 22 de janeiro de 2023

Marcos 3, 22-30 O pecado sem perdão.

22 Alguns doutores da Lei, que tinham ido de Jerusalém, diziam: “Ele está possuído por Belzebu”; e também: “É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios.” 23 Então Jesus chamou as pessoas e falou com parábolas: “Como é que Satanás pode expulsar Satanás? 24 Se um reino se divide em grupos que lutam entre si, esse reino acabará se destruindo; 25 se uma família se divide em grupos que brigam entre si, essa família não poderá durar. 26 Portanto, se Satanás se levanta e se divide em grupos que lutam entre si, ele não poderá sobreviver, mas também será destruído. 27 Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar suas coisas, se antes não amarrar o homem forte. Só depois poderá roubar a sua casa. 28 Eu garanto a vocês: tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados como as blasfêmias que tiverem dito. 29 Mas, quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, pois a culpa desse pecado dura para sempre.” 30 Jesus falou isso porque estavam dizendo: “Ele está possuído por um espírito mau.” Comentário: * 20-30: Em Jesus está presente o Espírito Santo, que o leva à missão de libertar e desalienar os homens. Por isso ele é acusado de estar “possuído por um espírito mau.” Tal acusação é pecado sem perdão. Para os acusadores, o bem é mal, e o mal é bem. Eles, na verdade, estão comprometidos e tiram proveito do mal; por isso, não reconhecem e não aceitam Jesus. Uma comitiva oficial desce de Jerusalém, o centro do poder religioso, econômico e político. São alguns doutores da Lei que chegam e começam uma campanha de difamação. Pretendem desqualificar pela base toda a atividade de Jesus, afirmando que ele está a serviço de Satanás, o rival de Deus. A acusação é grave: dizer que Jesus tem pacto com Satanás é como dizer que ele é inimigo de Deus. Atribuir a Satanás o que é ação de Deus é blasfemar contra o Espírito de Deus. Quem se fecha diante dos sinais evidentes operados por Jesus, sobre quem repousa o Espírito Santo, fecha-se à ação de Deus, também ao perdão. Quem recusa o perdão não pode recebê-lo. Portanto, pecar contra o Espírito Santo é rejeitar conscientemente a verdade. É chamar o pecado de santidade, e a santidade de pecado.

sábado, 21 de janeiro de 2023

Mateus 4, 12-23 A esperança começa na Galileia.

-* 12 Ao saber que João tinha sido preso, Jesus voltou para a Galileia. 13 Deixou Nazaré, e foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galileia, nos confins de Zabulon e Neftali, 14 para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: 15 “Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região do outro lado do rio Jordão, Galileia dos que não são judeus! 16 O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; e uma luz brilhou para os que viviam na região escura da morte.” 17 Daí em diante, Jesus começou a pregar, dizendo: “Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo.” Seguir a Jesus é comprometer-se -* 18 Jesus andava à beira do mar da Galileia, quando viu dois irmãos: Simão, também chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam jogando a rede no mar, pois eram pescadores. 19 Jesus disse para eles: “Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens.” 20 Eles deixaram imediatamente as redes, e seguiram a Jesus. 21 Indo mais adiante, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago e João, filhos de Zebedeu. Estavam na barca com seu pai Zebedeu, consertando as redes. E Jesus os chamou. 22 Eles deixaram imediatamente a barca e o pai, e seguiram a Jesus. A atividade de Jesus -* 23 Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando a Boa Notícia do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo. 24 E a fama de Jesus espalhou-se por toda a Síria. Levaram-lhe todos os doentes atingidos por diversos males e tormentos: endemoninhados, epiléticos e paralíticos. E Jesus os curou. 25 Numerosas multidões da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judéia e do outro lado do rio Jordão começaram a seguir Jesus. Comentário: * 12-25: Jesus começa sua atividade na Galileia, região distante do centro econômico, político e religioso do seu país. A esperança da salvação se inicia justamente numa região da qual nada se espera. A pregação de Jesus tem a mesma radicalidade que a de João Batista: é preciso total mudança de vida, porque o Reino do Céu está próximo. * 18-22: Cf. nota em Mc 1,16-20: O chamado dos primeiros discípulos é um convite aberto a todos os que ouvem as palavras de Jesus. Simão e André deixam a profissão; Tiago e João deixam a família... Seguir a Jesus implica deixar as seguranças que possam impedir o compromisso com uma ação transformadora. * 23-25: A atividade de Jesus consiste na palavra (ensinar, pregar) e ação (curar). É atividade dirigida aos mais pobres, necessitados e marginalizados. O conteúdo dela é descrito em Mt 5-9. Cafarnaum será a cidade de Jesus (cf. Mt 9,1). Ele não fixa morada em cidades grandes, centros do poder político, econômico, social e cultural do Império Romano. Coloca-se ao lado do pobre e não do rico, mora com os camponeses rurais e não com a elite urbana, convive com os explorados, não com os poderosos. “A luz se levantou para os que estavam assentados na região sombria da morte.” A luz é a presença de Jesus, que manifesta o Reino de Deus. Seu ministério público está começando. Para ajudá-lo em sua missão, chama os primeiros discípulos. Simão Pedro encabeça o grupo e, ao longo da narrativa de Mateus, será citado sempre em primeiro lugar. Jesus fará deles “pescadores de gente”. Vão formar a comunidade de Jesus, com modos de vida, valores e estruturas diferentes.

1 Coríntios 1, 10=13.17 Cristo está dividido?

-* 10 Eu lhes peço, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo mantenham-se de acordo uns com os outros, para que não haja divisões. Sejam estreitamente unidos no mesmo espírito e no mesmo modo de pensar. 11 Meus irmãos, alguns da casa de Cloé me informaram que entre vocês existem brigas. 12 Eu me explico. É que uns dizem: “Eu sou de Paulo!” E outros: “Eu sou de Apolo!” E outros mais: “Eu sou de Pedro!” Outros ainda: “Eu sou de Cristo!” 13 Será que Cristo está dividido? Será que Paulo foi crucificado em favor de vocês? Ou será que vocês foram batizados em nome de Paulo? 14 Agradeço a Deus o fato de eu não ter batizado ninguém de vocês, a não ser Crispo e Caio. 15 Portanto, ninguém pode dizer que foi batizado em meu nome. 16 Ah! Sim. Batizei também a família de Estéfanas. Além deles, não me lembro de ter batizado nenhum outro de vocês. Deus subverte os projetos humanos -* 17 De fato, Cristo não me enviou para batizar, mas para anunciar o Evangelho, sem recorrer à sabedoria da linguagem, a fim de que não se torne inútil a cruz de Cristo. Comentário: * 10-16: O que faz a unidade da comunidade cristã é o batismo em nome de Jesus e a submissão a ele como único Senhor. Os evangelizadores e líderes são apenas instrumentos para levar a comunidade a Jesus Cristo. Absolutizando as pessoas, ela se divide, submetendo-se a outros senhores e falsificando a função dos líderes. * 17-31: O projeto de Deus é contrário aos projetos dos homens. Os homens valorizam e dão lugar aos ricos, aos poderosos, aos intelectuais, aos que têm “status”, beleza física, facilidade de expressão etc. Consequentemente, desprezam e não dão importância àqueles que não se encaixam nesses padrões. Deus, porém, subverte a sociedade e os projetos humanos: para estabelecer e realizar os seus projetos, ele se alia aos pobres, fracos e simples, porque estes não são auto-suficientes e se abrem para Deus. É na pobreza e fraqueza destes que Deus manifesta a sua força (cf. 2Cor 12,9). E a manifestação máxima do poder e da graça de Deus é Jesus crucificado, pois a cruz é o símbolo da fraqueza, do fracasso e da vergonha, porque nela eram executados os criminosos. A verdadeira comunidade cristã é a dos pobres: ela está aliada à sabedoria do projeto de Deus; por isso, é portadora da novidade que provoca transformações radicais.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Marcos 3, 20-21 O pecado sem perdão.

-* 20 Jesus foi para casa, e de novo se reuniu tanta gente que eles não podiam comer nem sequer um pedaço de pão. 21 Quando souberam disso, os parentes de Jesus foram segurá-lo, porque eles mesmos estavam dizendo que Jesus tinha ficado louco. 22 Alguns doutores da Lei, que tinham ido de Jerusalém, diziam: “Ele está possuído por Belzebu”; e também: “É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios.” Comentário: * 20-30: Em Jesus está presente o Espírito Santo, que o leva à missão de libertar e desalienar os homens. Por isso ele é acusado de estar “possuído por um espírito mau.” Tal acusação é pecado sem perdão. Para os acusadores, o bem é mal, e o mal é bem. Eles, na verdade, estão comprometidos e tiram proveito do mal; por isso, não reconhecem e não aceitam Jesus. Sombras ameaçadoras tiram a serenidade do missionário. Ao saber que Jesus “foi para casa”, podemos imaginar que pretendia descansar um pouco, antes de retomar a pregação e as obras. Não consegue, pois as multidões se aglomeram ao seu redor, de tal modo que não lhe sobra tempo nem para comer. Entretanto, Jesus não se indispõe contra o povo, mesmo ciente das energias que consome para atender tanta gente. O que realmente perturba o pregador do Reino são os que não compreendem o projeto de Deus que Jesus veio realizar. Concretamente, aqui são seus parentes que querem interromper sua missão. E o fazem com argumento impróprio e até ofensivo: considerá-lo louco é negar sua lucidez, anular suas palavras e, pior, exigir que o tirem de circulação.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Marcos 3, 13-19 A formação do novo povo de Deus.

* 13 Jesus subiu ao monte e chamou os que desejava escolher. E foram até ele. 14 Então Jesus constituiu o grupo dos Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar, 15 com autoridade para expulsar os demônios. 16 Constituiu assim os Doze: Simão, a quem deu o nome de Pedro; 17 Tiago e João, filhos de Zebedeu, aos quais deu o nome de Boanerges, que quer dizer “filhos do trovão”; 18 André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão o cananeu, 19 e Judas Iscariotes, aquele que depois o traiu. Comentário: * 13-19: Dentre a multidão e os discípulos Jesus escolhe doze. Um pequeno grupo que será o começo de novo povo. A missão desse grupo compreende três atitudes: comprometer-se com Jesus (estar com ele) para anunciar o Reino (pregar), libertando os homens de tudo aquilo que os escraviza e aliena (expulsar os demônios). Já em plena missão, Jesus observa o imenso volume de trabalho. Mais do que auxiliares imediatos, Jesus quer junto a si um grupo de doze discípulos, aos quais dá o nome de apóstolos e que doravante serão seus companheiros inseparáveis. Receberão os ensinamentos do Mestre em duas modalidades: teoria e prática. Por um lado, o Mestre abrirá para eles um horizonte novo, revelando-lhes que ele, Jesus, é o Filho amado do Pai, cujos planos veio realizar; ao mesmo tempo, fincará os fundamentos do Reino de Deus. Por outro lado, os apóstolos serão testemunhas oculares das boas obras com que Jesus beneficia o povo. Tudo o que estão aprendendo nesta nova escola, eles não guardarão para si, mas deverão comunicar aos outros, no momento em que forem enviados. Para isso, Jesus lhes dá poder.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Marcos 3, 7-12 Jesus e a multidão.

* 7 Jesus se retirou para a beira do mar, junto com seus discípulos. Muita gente da Galiléia o seguia. 8 E também muita gente da Judéia, de Jerusalém, da Iduméia, do outro lado do Jordão, dos territórios de Tiro e da Sidônia, foi até Jesus, porque tinha ouvido falar de tudo o que ele fazia. 9 Então Jesus pediu aos discípulos que arrumassem uma barca, para ele não ficar espremido no meio da multidão. 10 Com efeito, Jesus tinha curado muitas pessoas, e todos os que sofriam de algum mal se jogavam sobre ele para tocá-lo. 11 Vendo Jesus, os espíritos maus caíam a seus pés gritando: “Tu és o Filho de Deus!” 12 Mas Jesus ordenava severamente para não dizerem quem ele era. Comentário: * 7-12: Jesus se retira, mas atrai a multidão de todos os lugares. Ele acolhe o povo, mas também toma distância. O projeto de Jesus não pode ser atrapalhado por um assistencialismo que só atende às necessidades imediatas. É preciso destruir pela raiz as estruturas injustas; estas é que produzem todo tipo de necessidades na vida do povo. Em Jesus, a misericórdia divina era oferecida a todos. Jesus não perde a ocasião de acudir os que dele se aproximam. Acolhe-os na sinagoga, nas casas e à beira do lago. O breve texto cita várias regiões de onde partiam multidões que iam à procura de Jesus. Ninguém fica excluído; também as cidades habitadas por não judeus recebem de Jesus a mesma benevolência. Vêm desejosos de tocar em Jesus, sobretudo os doentes, por constatarem que ele tinha curado muita gente. Os próprios adversários do Reino (espíritos impuros) rendem-se à evidência e proclamam: “Tu és o filho de Deus!”. Admirável é a resistência física de Jesus, porém ainda mais admirável é seu zelo pastoral e sua entrega total ao serviço dos necessitados. Sem sombras de egoísmo.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Marcos 3, 1-6 A lei de Jesus é salvar o homem.

* 1 Jesus entrou de novo na sinagoga, onde estava um homem com a mão seca. 2 Havia aí algumas pessoas espiando, para verem se Jesus ia curá-lo em dia de sábado, e assim poderem acusá-lo. 3 Jesus disse ao homem da mão seca: “Levante-se e fique no meio.” 4 Depois perguntou aos outros: “O que é que a Lei permite no sábado: fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou matá-la?” Mas eles não disseram nada. 5 Jesus então olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eles eram duros de coração. Depois disse ao homem: “Estenda a mão.” O homem estendeu a mão e ela ficou boa. 6 Logo depois, os fariseus saíram da sinagoga e, junto com alguns do partido de Herodes, faziam um plano para matar Jesus. Comentário: * 1-6: Jesus mostra que a lei do sábado deve ser interpretada como libertação e vida para o homem. Ao mesmo tempo, partidos que eram inimigos entre si reúnem-se para planejar a morte desse profeta: afinal, ele está destruindo a ideia de religião e sociedade que eles tinham.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Marcos 2, 23-28 Jesus liberta da lei.

* 23 Num dia de sábado, Jesus estava passando por uns campos de trigo. Os discípulos iam abrindo caminho, e arrancando as espigas. 24 Então os fariseus perguntaram a Jesus: “Vê: por que os teus discípulos estão fazendo o que não é permitido em dia de sábado?” 25 Jesus perguntou aos fariseus: “Vocês nunca leram o que Davi e seus companheiros fizeram quando estavam passando necessidade e sentindo fome? 26 Davi entrou na casa de Deus, no tempo em que Abiatar era sumo sacerdote, comeu dos pães oferecidos a Deus e os deu também para os seus companheiros. No entanto só os sacerdotes podem comer desses pães.” 27 E Jesus acrescentou: “O sábado foi feito para servir ao homem, e não o homem para servir ao sábado. 28 Portanto, o Filho do Homem é senhor até mesmo do sábado.” Comentário: * 23-28: O centro da obra de Deus é o homem, e cultuar a Deus é fazer o bem ao homem. Não se trata de estreitar ou alargar a lei do sábado, mas de dar sentido totalmente novo a todas as estruturas e leis que regem as relações entre os homens. Porque só é bom aquilo que faz o homem crescer e ter mais vida. Toda lei que oprime o homem é lei contra a própria vontade de Deus, e deve ser abolida. Apoiando-se na sua interpretação da Lei, os fariseus acusam os discípulos e repreendem Jesus por não observarem o SÁBADO. Com essa atitude, os fariseus revelam mentalidade mesquinha, interpretando como colheita proibida o que era apenas matar a fome com algumas espigas. Jesus responde citando um fato bíblico do rei ilustre, Davi, fato que mostra o seguinte: em caso de necessidade, suspende-se a obrigação da Lei. Deus instituiu o repouso sabático para que a pessoa tivesse um dia de repouso e, portanto, de paz e alegria. Com o episódio, aprendemos que não se deve ser mesquinho na interpretação das leis, mas colocá-las a serviço de Deus e do próximo. Ao dizer “o Filho do Homem é senhor também do SÁBADO”, Jesus mostra que tem poder não só para explicar a Lei, mas também para interpretá-la.

Marcos 2, 18-22 Jesus provoca ruptura.

* 18 Os discípulos de João Batista e os fariseus estavam fazendo jejum. Então alguns perguntaram a Jesus: “Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus fazem jejum e os teus discípulos não fazem?” 19 Jesus respondeu: “Vocês acham que os convidados de um casamento podem fazer jejum enquanto o noivo está com eles? Enquanto o noivo está presente, os convidados não podem fazer jejum. 20 Mas vão chegar dias em que o noivo será tirado do meio deles. Nesse dia eles vão jejuar. 21 Ninguém põe um remendo de pano novo em roupa velha; porque o remendo novo repuxa o pano e o rasgo fica maior ainda. 22 Ninguém coloca vinho novo em barris velhos; porque o vinho novo arrebenta os barris velhos, e o vinho e os barris se perdem. Por isso, vinho novo deve ser colocado em barris novos.” Comentário: * 18-22: O jejum caracterizava o tempo de espera. Mas esse tempo já terminou. Chegou a hora da festa do casamento, isto é, da nova e alegre relação entre Deus e os homens. A atividade de Jesus mostra que o amor de Deus vem para salvar o homem concreto e não para manter as estruturas que sugam o homem. A novidade rompe estas estruturas simbolizadas pela roupa e barril velhos. Jesus não veio para reformar; ele exige mudança radical. O jejum praticado por João Batista e pelos fariseus era uma atitude penitencial que supunha um Deus irritado com as pessoas e ao qual era necessário acalmar, e por isso elas se privavam de alimento. Eis que o Messias misericordioso já está presente, mas muitos não o percebem e continuam apegados a essa tradição, sem sentido religioso. Jesus não vem alimentar uma religião triste, em que os fiéis se obrigam a colecionar obras de reparação para agradar a Deus. É o tempo da alegria pela presença de Deus entre nós. Um Deus que perdoa pecados; que acolhe os marginalizados e os reintroduz na vida social. Um Deus que abre as portas do Reino aos povos do mundo inteiro. Esta é a novidade que Jesus traz, mas para essa novidade são necessárias mentes abertas, corações receptivos: “vinho novo em vasilhas novas”.

domingo, 15 de janeiro de 2023

João 1, 29-34 A testemunha reconhece o Salvador

* 29 No dia seguinte, João viu Jesus, que se aproximava dele. E disse: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. 30 Este é aquele de quem eu falei: ‘Depois de mim vem um homem que passou na minha frente, porque existia antes de mim’. 31 Eu também não o conhecia. Mas vim batizar com água, a fim de que ele se manifeste a Israel.” 32 E João testemunhou: “Eu vi o Espírito descer do céu, como uma pomba, e pousar sobre ele. 33 Eu também não o conhecia. Aquele que me enviou para batizar com água, foi ele quem me disse: ‘Aquele sobre quem você vir o Espírito descer e pousar, esse é quem batiza com o Espírito Santo’. 34 E eu vi, e dou testemunho de que este é o Filho de Deus.” Comentário: * 29-34: No idioma dos judeus, a mesma palavra pode significar servo e cordeiro. Jesus é o Servo de Deus, anunciado pelos profetas, aquele que devia sacrificar-se pelos seus irmãos. Também é o verdadeiro Cordeiro, que substitui o cordeiro pascal. João Batista, chamando Jesus de Cordeiro, mostra que ele é o Messias que vem tirar a humanidade da escravidão em que se encontra e conduzi-la a uma vida na liberdade. João Batista dá testemunho de Jesus, aplicando-lhe três títulos: “Cordeiro de Deus”, “aquele que batiza com o Espírito Santo” e “Filho de Deus”. A expressão “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” nos faz recordar o cordeiro pascal da libertação do Egito (cf. Ex 12,1-14) e faz referência também aos cordeiros sacrificados no templo para expiação dos pecados do povo. Jesus vai exercer uma prática libertadora, tirando as pessoas da opressão do sistema injusto. Mas o sistema injusto o mandará para a cruz. Ele batizará com o Espírito Santo, não com água somente. Em tudo, Jesus age sob o impulso do Espírito Santo e, após a ressurreição, o infundirá nos apóstolos, para que continuem sua obra no mundo. Sendo Filho de Deus, Jesus nos revela o Pai e seu projeto de vida e liberdade para todos.

1 Coríntios 1, 1-3 Endereço e saudação.

* 1 Paulo, apóstolo de Jesus Cristo por vontade e chamado de Deus, e o irmão Sóstenes, 2 à igreja de Deus que está em Corinto. Dirigimo-nos àqueles que foram santificados em Jesus Cristo e chamados a ser santos, juntamente com todos os que invocam em todo lugar o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. 3 Graça e paz a vocês da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. Comentário * 1-3: Desde o início, Paulo já salienta o aspecto da unidade, que é um dos temas fundamentais da carta: o único Senhor das igrejas é Jesus Cristo.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Marcos 2, 13-17 A formação do novo povo de Deus.

-* 13 Jesus subiu ao monte e chamou os que desejava escolher. E foram até ele. 14 Então Jesus constituiu o grupo dos Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar, 15 com autoridade para expulsar os demônios. 16 Constituiu assim os Doze: Simão, a quem deu o nome de Pedro; 17 Tiago e João, filhos de Zebedeu, aos quais deu o nome de Boanerges, que quer dizer “filhos do trovão”; Comentário: * 13-19: Dentre a multidão e os discípulos Jesus escolhe doze. Um pequeno grupo que será o começo de novo povo. A missão desse grupo compreende três atitudes: comprometer-se com Jesus (estar com ele) para anunciar o Reino (pregar), libertando os homens de tudo aquilo que os escraviza e aliena (expulsar os demônios). Jesus normalmente dá preferência aos pobres; neste episódio, porém, apresenta-se em companhia de ricos, e, ainda por cima, ricos de má reputação. Levi, embora de origem judaica, pela sua profissão – cobrador de impostos – é considerado um descrente sem lei, praticamente um pagão. Também os que estavam marginalizados e excluídos da aliança podem fazer parte do Reino de Deus. A serena convivência de Jesus com os cobradores de impostos gera pesada censura dos doutores da Lei. Não aceitam que Jesus se misture com pessoas que eles consideram pecadoras. Estão longe de entender que Jesus veio justamente para salvar o que estava perdido (cf. Lc 19,10). Veio para salvar a todos, independentemente de sua situação. No final, Jesus esclarece por que procede desse modo (cf. v. 17).

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Marcos 2, 1-12 Jesus liberta pela raiz.

-* 1 Alguns dias depois, Jesus entrou de novo na cidade de Cafarnaum. Logo se espalhou a notícia de que Jesus estava em casa. 2 E tanta gente se reuniu aí que já não havia lugar nem na frente da casa. E Jesus anunciava a palavra.3 Levaram então um paralítico, carregado por quatro homens. 4 Mas eles não conseguiam chegar até Jesus, por causa da multidão. Então fizeram um buraco no teto, bem em cima do lugar onde Jesus estava, e pela abertura desceram a cama em que o paralítico estava deitado. 5 Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao paralítico: “Filho, os seus pecados estão perdoados.” 6 Ora, alguns doutores da Lei estavam aí sentados, e começaram a pensar: 7 “Por que este homem fala assim? Ele está blasfemando! Ninguém pode perdoar pecados, porque só Deus tem poder para isso!” 8 Jesus logo percebeu o que eles estavam pensando no seu íntimo, e disse: “Por que vocês pensam assim? 9 O que é mais fácil dizer ao paralítico: ‘Os seus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levante-se, pegue a sua cama e ande?’ 10 Pois bem, para que vocês saibam que o Filho do Homem tem poder na terra para perdoar pecados, - disse Jesus ao paralítico - 11 eu ordeno a você: Levante-se, pegue a sua cama e vá para casa.” 12 O paralítico então se levantou e, carregando a sua cama, saiu diante de todos. E todos ficaram muito admirados e louvaram a Deus dizendo: “Nunca vimos uma coisa assim!” Comentário: * 2,1-12: Segundo os antigos, a doença era causada pelo pecado. Para libertar o homem, Jesus vai direto à raiz: o pecado invisível que causa os males externos e visíveis. A oposição a Jesus começa: os doutores da Lei só se preocupam com teorias religiosas, e não em transformar a situação do homem. A ação de Jesus é completa. É um dizer e fazer que cura por dentro e por fora, fazendo o homem reconquistar a capacidade de caminhar por si. Multidões se aproximam para ouvir Jesus. Neste episódio, são tantas as pessoas na casa, que lançam mão de algo inédito para colocar um paralítico aos pés de Jesus. O esforço dos quatro homens da maca demonstra solidariedade com o enfermo e fé no poder de Deus. Os quatro carregadores, figura dos quatro pontos cardeais, representam aqui as pessoas de todas as partes do mundo. Com sua palavra poderosa, o Filho do Homem perdoa os pecados do paralítico e o faz caminhar. Esse gesto de salvação integral (cura espiritual e física) provoca a indignação de alguns doutores da Lei: “Está blasfemando! Quem pode perdoar pecados, senão Deus?”. Entretanto, acima de tudo, o fato leva as pessoas a glorificarem o Senhor: “Ficaram todos admirados e glorificavam a Deus, dizendo: ‘Nunca vimos coisa assim!'”.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Marcos 1, 40-45 Jesus e os marginalizados.

* 40 Um leproso chegou perto de Jesus e pediu de joelhos: “Se queres, tu tens o poder de me purificar.” 41 Jesus ficou cheio de ira, estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero, fique purificado.” 42 No mesmo instante a lepra desapareceu e o homem ficou purificado. 43 Então Jesus o mandou logo embora, ameaçando-o severamente: 44 “Não conte nada para ninguém! Vá pedir ao sacerdote para examinar você, e depois ofereça pela sua purificação o “ 45 Mas o homem foi embora e começou a pregar muito e a espalhar a notícia. Por isso, Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ele ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte as pessoas iam procurá-lo. Comentário: * 40-45: O leproso era marginalizado, devendo viver fora da cidade, longe do convívio social, por motivos higiênicos e religiosos (Lv 13,45-46). Jesus fica irado contra uma sociedade que produz a marginalização. Por isso, o homem curado deve apresentar-se para dar testemunho contra um sistema que não cura, mas só declara quem pode ou não participar da vida social. O marginalizado agora se torna testemunho vivo, que anuncia Jesus, aquele que purifica. E Jesus está fora da cidade, lugar que se torna o centro de nova relação social: o lugar dos marginalizados é o lugar onde se pode encontrar Jesus. No tempo de Jesus, a lepra era considerada contagiosa e sinal de pecado; por isso, o leproso era afastado do convívio social e, conforme o ensinamento da sinagoga, sentia-se excluído do acesso ao Reino de Deus. O sistema marginalizava os que mais precisavam de ajuda. Isso provoca a ira de Jesus, que faz exatamente o contrário. Não só acolhe o leproso, mas toca nele, sem reservas nem medo de se contaminar, devolve-lhe a saúde e o reintegra na sociedade. A repercussão do fato poderia provocar a euforia da população e chegar aos ouvidos dos dirigentes, cuja preocupação urgente seria abafar a popularidade de Jesus. Daí a proibição de Jesus ao ex-leproso, para não espalhar a notícia. Por achar a cidade um ambiente hostil à sua presença e obra, Jesus ficava em lugares desertos e aí acolhia as multidões.

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Marcos 1, 29-39 Ser livre para servir.

* 29 Saíram da sinagoga e foram logo para a casa de Simão e André, junto com Tiago e João. 30 A sogra de Simão estava de cama, com febre, e logo eles contaram isso a Jesus. 31 Jesus foi aonde ela estava, segurou sua mão e ajudou-a a se levantar. Então a febre deixou a mulher, e ela começou a servi-los. 32 À tarde, depois do pôr-do-sol, levavam a Jesus todos os doentes e os que estavam possuídos pelo demônio. 33 A cidade inteira se reuniu na frente da casa. 34 Jesus curou muitas pessoas de vários tipos de doença e expulsou muitos demônios. Os demônios sabiam quem era Jesus, e por isso Jesus não deixava que eles falassem. Jesus rejeita a popularidade fácil -* 35 De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus se levantou e foi rezar num lugar deserto. 36 Simão e seus companheiros foram atrás de Jesus 37 e, quando o encontraram, disseram: “Todos estão te procurando.” 38 Jesus respondeu: “Vamos para outros lugares, às aldeias da redondeza. Devo pregar também ali, pois foi para isso que eu vim.” 39 E Jesus andava por toda a Galiléia, pregando nas sinagogas e expulsando os demônios. Comentário: * 29-34: Para os antigos, a febre era de origem demoníaca. Libertos do demônio, os homens podem levantar-se e pôr-se a serviço. Os demônios reconhecem quem é Jesus, porque sentem que a palavra e ação dele ameaça o domínio que eles têm sobre o homem. * 35-39: O deserto é o ponto de partida para a missão. Aí Jesus encontra o Pai, que o envia para salvar os homens. Mas encontra também a tentação: Pedro sugere que Jesus aproveite a popularidade conseguida num dia. É o primeiro diálogo com os discípulos, e já se nota tensão. Jesus se desloca da sinagoga até a casa de Simão e André. Informado sobre a febre da sogra de Simão, Jesus a cura, tomando-a pela mão. Estender a mão ao necessitado é um gesto que Jesus repete em outras circunstâncias. Quando foi que estendemos a mão para reerguer alguém do desânimo e da tristeza? Recuperada a saúde, a mulher se pôs a serviço da comunidade. Jesus, em sua missão, segue alguns critérios. Primeiramente, ele se faz solidário com os doentes e as pessoas dominadas por maus espíritos; depois, retira-se para rezar. A oração o põe em sintonia com a vontade do Pai e torna mais eficaz sua obra libertadora; enfim, não se instala no mesmo lugar, mas vai à procura dos que estão afastados, a fim de anunciar também a eles o Evangelho: “Foi para isso que eu vim”.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Marcos 1, 21-28 Jesus vence a alienação.

-* 21 Foram à cidade de Cafarnaum e, no sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. 22 As pessoas ficavam admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei. 23 Nesse momento, estava na sinagoga um homem possuído por um espírito mau, que começou a gritar: 24 “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus!” 25 Jesus ameaçou o espírito mau: “Cale-se, e saia dele!” 26 Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu dele. 27 Todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: “O que é isso? Um ensinamento novo, dado com autoridade... Ele manda até nos espíritos maus e eles obedecem!” 28 E a fama de Jesus logo se espalhou por toda parte, em toda a redondeza da Galiléia. Comentário: * 21-28: A ação demoníaca escraviza e aliena o homem, impedindo-o de pensar e de agir por si mesmo (por exemplo: ideologias, propagandas, estruturas, sistemas etc.): outros pensam e agem através dele. O primeiro milagre de Jesus é fazer o homem voltar à consciência e à liberdade. Só assim o homem pode segui-lo. Marcos não diz qual era o ensinamento de Jesus; contudo, mencionando-o junto com uma ação de cura, ele sugere que o ensinamento com autoridade repousa numa prática concreta de libertação: com sua ação Jesus interpreta as Escrituras de modo superior a toda a cultura dos doutores da Lei. Os ensinamentos de Jesus tocam o íntimo dos seus ouvintes. Cheio de convicção, ele fala de sua comunhão com o Pai, fonte autorizada e inesgotável de sua pregação, e revela os projetos de Deus sobre o mundo. As pessoas ficam encantadas com o ensinamento de Jesus, porque havia total coerência entre as suas palavras e a sua vida. O episódio apresenta, na linguagem e na mentalidade da época, Jesus enfrentando os poderes do mal que escravizam o ser humano. O espírito mau representa as pessoas que não aceitam a novidade de Jesus, isto é, liberdade e vida para todos. Elas preferem permanecer atreladas a uma instituição que oprime e explora os outros. Jesus, o “Santo de Deus”, expulsa o espírito imundo. Um “ensinamento novo, dado com autoridade”, se confirma com a prática concreta de libertação.

domingo, 8 de janeiro de 2023

Mateus 3, 13-17 A justiça vai ser realizada.

* 13 Jesus foi da Galiléia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João, e ser batizado por ele. 14 Mas João procurava impedi-lo, dizendo: “Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?” 15 Jesus, porém, lhe respondeu: “Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça.” E João concordou. 16 Depois de ser batizado, Jesus logo saiu da água. Então o céu se abriu, e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e pousando sobre ele. 17 E do céu veio uma voz, dizendo: “Este é o meu Filho amado, que muito me agrada.” Comentário: * 13-17: Neste Evangelho, as primeiras palavras de Jesus apresentam o programa de toda a sua vida e ação: cumprir toda a justiça, isto é, realizar plenamente a vontade de Deus e seu projeto salvador. Cf. também nota em Mc 1,9-11. Jesus, saindo do anonimato, vai ao encontro de João Batista e, misturado com a multidão, busca o batismo. Cerca de trinta anos se passaram desde seu nascimento. Jesus percebe que a missão dele vai além de ser um simples carpinteiro: uma voz vinda do céu o revela como “Filho amado”. João tenta resistir, mas Jesus insiste em ser batizado, pois tem a missão de “cumprir toda a justiça”. Ao receber o batismo, inicia sua caminhada missionária, manifestando-se publicamente ao mundo – epifania que chega ao auge já não pela estrela, mas pela voz do Pai. Sua grande missão é revelar a justiça, a misericórdia e a bondade do Pai, para que contagiem a humanidade e a tornem mais fraterna e solidária. A exemplo de Jesus, nós também, mediante o batismo, somos inseridos na comunidade para realizar a missão que o Pai nos confiou. Com o batismo do Senhor, conclui-se o tempo natalino e abre-se a primeira etapa do Tempo Comum.

sábado, 7 de janeiro de 2023

Mateus 2, 1-12 Jesus, perigo ou salvação?

* 1 Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia, no tempo do rei Herodes, alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, 2 e perguntaram: “Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Nós vimos a sua estrela no Oriente, e viemos para prestar-lhe homenagem.” 3 Ao saber disso, o rei Herodes ficou alarmado, assim como toda a cidade de Jerusalém. 4 Herodes reuniu todos os chefes dos sacerdotes e os doutores da Lei, e lhes perguntou onde o Messias deveria nascer. 5 Eles responderam: “Em Belém, na Judéia, porque assim está escrito por meio do profeta: 6 ‘E você, Belém, terra de Judá, não é de modo algum a menor entre as principais cidades de Judá, porque de você sairá um Chefe, que vai apascentar Israel, meu povo.’ “ 7 Então Herodes chamou secretamente os magos, e investigou junto a eles sobre o tempo exato em que a estrela havia aparecido. 8 Depois, mandou-os a Belém, dizendo: “Vão, e procurem obter informações exatas sobre o menino. E me avisem quando o encontrarem, para que também eu vá prestar-lhe homenagem.” 9 Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até que parou sobre o lugar onde estava o menino. 10 Ao verem de novo a estrela, os magos ficaram radiantes de alegria. 11 Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e lhe prestaram homenagem. Depois, abriram seus cofres, e ofereceram presentes ao menino: ouro, incenso e mirra. 12 Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, partiram para a região deles, seguindo por outro caminho. Comentário: * 1-12: Jesus é o Rei Salvador prometido pelas Escrituras. Sua vinda, porém, desperta reações diferentes. Aqueles que conhecem as Escrituras, em vez de se alegrarem com a realização das promessas, ficam alarmados, vendo em Jesus uma séria ameaça para o seu próprio modo de viver. Outros, apenas guiados por um sinal, procuram Jesus e o acolhem como Rei Salvador. Não basta saber quem é o Messias; é preciso seguir os sinais da história que nos encaminham para reconhecê-lo e aceitá-lo. A cena mostra o destino de Jesus: rejeitado e morto pelas autoridades do seu próprio povo, é aceito pelos pagãos. A notícia dos magos sobre a chegada do “rei dos judeus” abala o poderoso Herodes e as autoridades de Jerusalém. Os “estrangeiros magos” enxergam a estrela que brilha sobre Belém, algo que os poderosos de Jerusalém não conseguem fazer. Essa página do Evangelho mostra que Jesus, a “estrela que brilha”, não é exclusividade de um grupo ou de um povo. É justamente este o significado da solenidade da Epifania: Jesus se revela a todos os povos, também aos pagãos, simbolizados pelos magos. Assim como estes se puseram a caminho em busca da “estrela”, somos convidados a buscar aquele que deve iluminar nossa caminhada ao longo de todos os dias deste novo ano que estamos iniciando. Pelo relato do Evangelho, percebemos que Jesus, desde o seu nascimento, provoca divisão: a seu favor estão aqueles que se animam a trilhar os caminhos em sua companhia; contra ele estão os que se incomodam com sua proposta de vida e o rejeitam.

Efésios 3, 2-3.5-6 Paulo e o mistério de Cristo.

2 Certamente ouviram falar do modo como a graça de Deus me foi confiada em benefício de vocês. 3 Foi por revelação que Deus me fez conhecer o mistério que acabo de expor brevemente. 5 Deus não manifestou esse mistério para as gerações passadas da mesma forma com que o revelou agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: 6 em Jesus Cristo, por meio do Evangelho, os pagãos são chamados a participar da mesma herança, a formar o mesmo corpo e a participar da mesma promessa. Comentário: * 1-13: O mistério é o centro do anúncio de Paulo, e está inseparavelmente ligado à sua vocação de missionário entre os pagãos. Esse mistério é o projeto de Deus, que se realizou em Jesus Cristo e que manifesta toda a sua grandeza na Igreja, mediante o ministério de Paulo: os pagãos são chamados a pertencer ao povo de Deus.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

João 2, 1-11 Vida nova para os homens.

* 1 No terceiro dia, houve uma festa de casamento em Caná da Galiléia, e a mãe de Jesus estava aí. 2 Jesus também tinha sido convidado para essa festa de casamento, junto com seus discípulos. 3 Faltou vinho e a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho!” 4 Jesus respondeu: “Mulher, que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou.” 5 A mãe de Jesus disse aos que estavam servindo: “Façam o que ele mandar.” 6 Havia aí seis potes de pedra de uns cem litros cada um, que serviam para os ritos de purificação dos judeus. 7 Jesus disse aos que serviam: “Encham de água esses potes.” Eles encheram os potes até a boca. 8 Depois Jesus disse: “Agora tirem e levem ao mestre-sala.” Então levaram ao mestre-sala. 9 Este provou a água transformada em vinho, sem saber de onde vinha. Os que serviam estavam sabendo, pois foram eles que tiraram a água. Então o mestre-sala chamou o noivo 10 e disse: “Todos servem primeiro o vinho bom e, quando os convidados estão bêbados, servem o pior. Você, porém, guardou o vinho bom até agora.” 11 Foi assim, em Caná da Galiléia, que Jesus começou seus sinais. Ele manifestou a sua glória, e seus discípulos acreditaram nele. Comentário: * 2,1-12: Segundo João, a primeira semana de Jesus termina com a festa de casamento em Caná. João relata este episódio por causa do seu aspecto simbólico: o casamento é o símbolo da união de Deus com a humanidade, realizada de maneira definitiva na pessoa de Jesus, Deus-e-Homem. Sem Jesus, a humanidade vive uma festa de casamento sem vinho. Maria, aliviando a situação constrangedora, simboliza a comunidade que nasce da fé em Jesus, e as últimas palavras que ela diz neste evangelho são um convite: “Façam o que Jesus mandar.” Jesus diz que a sua hora ainda não chegou, pois só acontecerá na sua morte e ressurreição, quando ele nos reconcilia com Deus. Jesus utilizou a água que os judeus usavam para as purificações. Os judeus estavam cegos pela preocupação de não se mancharem, e sua religião multiplicava os ritos de purificação. Mas Jesus transformou a água em vinho! É que a religião verdadeira não se baseia no medo do pecado. O importante é receber de Jesus o Espírito. Este, como vinho generoso, faz a gente romper com as normas que aprisionam e com a mesquinhez da nossa própria sabedoria. O episódio de Caná é uma espécie de resumo daquilo que vai acontecer através de toda a atividade de Jesus: com sua palavra e ação, Jesus transforma as relações dos homens com Deus e dos homens entre si. O matrimônio, no Antigo Testamento, é símbolo frequente do amor de Deus pela comunidade (cf. Is 62,2). No Novo Testamento, simboliza a união do Messias com a Igreja (cf. Ef 5,32-33). O vinho representa o amor e é anunciado como dom messiânico (cf. Am 9,13-14). É também símbolo do Espírito Santo (cf. At 2,15-16). Maria, convidada importante, é a mãe do noivo. A mudança da água em vinho simboliza a passagem da Antiga para a Nova Aliança. Começa o tempo das novas relações com Deus e das pessoas entre si. A abundância de vinho indica o imenso amor de Deus revelado em Jesus. Ele derramará por todos o sangue da Nova Aliança. Por este sinal, o primeiro, Jesus “manifestou a sua glória, e seus discípulos acreditaram nele”.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Marcos 1, 7-11 O anúncio da chegada do Messias.

7 João pregava dizendo: “Depois de mim, vai chegar alguém mais forte do que eu. E eu não sou digno sequer de me abaixar para desamarrar as suas sandálias. 8 Eu batizei vocês com água, mas ele batizará vocês com o Espírito Santo.” O Messias é Jesus de Nazaré, o Filho de Deus -* 9 Nesses dias, Jesus chegou de Nazaré da Galiléia, e foi batizado por João no rio Jordão. 10 Logo que Jesus saiu da água, viu o céu se rasgando, e o Espírito, como pomba, desceu sobre ele. 11 E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho amado; em ti encontro o meu agrado.” Comentário: * 2-8: A pregação de João Batista é grande advertência. Ele anuncia a vinda do Messias, que vai provocar uma grande transformação. É preciso estar preparado, purificando-se e mudando o modo de ver a vida e de vivê-la. * 9-11: O céu se rasgou: Na pessoa de Jesus, a separação que havia entre Deus e os homens se rompeu. A voz apresenta o mistério do homem de Nazaré: ele é o Filho de Deus, o Messias-Rei (Sl 2,7) que vai estabelecer o Reino de Deus através do serviço, como o Servo de Javé (Is 42,1-2). João Batista não faz propaganda de si mesmo; ao contrário, aponta para outra pessoa que vem depois dele, superior a ele. Desamarrar a sandália, conforme a lei do levirato (cf. Dt 25,5), significava apropriar-se do direito de esposo. Ora, o papel de esposo, próprio de Deus, no Antigo Testamento, corresponde agora a Jesus. Ele vem com a plenitude do Espírito Santo e o infundirá sobre todos os que aceitarem fazer parte de sua comunidade. Eles serão a base e os construtores da nova sociedade, etapa terrena do Reino de Deus. Não é propriamente João que apresenta Jesus; é o Pai, cuja voz vem do céu e proclama: “Tu és o meu filho amado. Em ti eu me agrado”. A voz do Pai define e exalta Jesus como o Filho de Deus.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

João 1, 43-51 As testemunhas apontam o Salvador.

43 No dia seguinte, Jesus decidiu partir para a Galiléia. Encontrou Filipe e disse: “Siga-me.” 44 Filipe era de Betsaida, cidade de André e Pedro. 45 Filipe se encontrou com Natanael e disse: “Encontramos aquele de quem Moisés escreveu na Lei e também os profetas: é Jesus de Nazaré, o filho de José.” 46 Natanael disse: “De Nazaré pode sair coisa boa?” Filipe respondeu: “Venha, e você verá.” 47 Jesus viu Natanael aproximar-se e comentou: “Eis aí um israelita verdadeiro, sem falsidade.” 48 Natanael perguntou: “De onde me conheces?” Jesus respondeu: “Antes que Filipe chamasse você, eu o vi quando você estava debaixo da figueira.” 49 Natanael respondeu: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel!” 50 Jesus disse: “Você está acreditando só porque eu lhe disse: ‘Vi você debaixo da figueira’? No entanto, você verá coisas maiores do que essas.” 51 E Jesus continuou: “Eu lhes garanto: vocês verão o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.” Comentário: * 35-51: João descreve os sete dias da nova criação. No primeiro dia, João Batista afirma: “No meio de vocês existe alguém que vocês não conhecem.” Nos dias seguintes vemos como João Batista, João, André, Simão, Filipe e Natanael descobrem a Jesus. É sempre uma testemunha que aponta Jesus para outra. O último dia será o casamento em Caná, onde Jesus manifestará a sua glória. “O que vocês estão procurando?" São estas as primeiras palavras de Jesus neste evangelho. Essa pergunta, ele a faz a todos os homens. Nós queremos saber quem é Jesus, e ele nos pergunta sobre o que buscamos na vida. Os homens que encontraram Jesus começaram a conviver com ele. E no decorrer do tempo vão descobrindo que ele é o Mestre, o Messias, o Filho de Deus. O mesmo acontece conosco: enquanto caminhamos com Cristo, vamos progredindo no conhecimento a respeito dele. João Batista era apenas testemunha de Jesus, a quem tudo se deve dirigir. João sabia disso; por isso convida seus próprios discípulos para que se dirijam a Jesus. E os dois primeiros vão buscar outros. É desse mesmo modo que nós encontramos a Jesus: porque outra pessoa nos falou dele ou nos comprometeu numa tarefa apostólica. Jesus sempre reconhece aqueles que o Pai coloca em seu caminho. Ele reconhece Natanael debaixo da figueira e também Simão, escolhido para ser a primeira Pedra da Igreja. Vereis o céu aberto: No sonho de Jacó, os anjos subiam e desciam por uma escada que ligava a terra ao céu (leia Gn 28,10-22). Doravante é Jesus, o Filho do Homem, a nova ligação entre Deus e os homens. Dois novos discípulos são chamados por Jesus: Filipe e Natanael. Filipe era de Betsaida, cidade dos irmãos André e Pedro. Filipe leva a notícia a Natanael: “Encontramos aquele de quem Moisés escreveu na Lei, e também os profetas: é Jesus, o filho de José. Ele vem de Nazaré”. Natanael deixa transparecer seu preconceito contra os nazarenos: “De Nazaré pode vir algo de bom?”. Natanael deverá corrigir sua tendência a discriminar pessoas, se quiser pertencer ao grupo dos discípulos do Mestre. Utilizando a figura do “céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”, Jesus afirma ser o único mediador entre o Deus invisível e a humanidade. Em outra ocasião, Jesus dirá: “Eu sou o Caminho… Ninguém chega ao Pai, a não ser por mim” (Jo 14,6).

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

João 1, 35-42 As testemunhas apontam o Salvador.

-* 35 No dia seguinte, João aí estava de novo, com dois discípulos. 36 Vendo Jesus que ia passando, apontou: “Eis aí o Cordeiro de Deus.” 37 Ouvindo essas palavras, os dois discípulos seguiram a Jesus. 38 Jesus virou-se para trás, e vendo que o seguiam, perguntou: “O que é que vocês estão procurando?” Eles disseram: “Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?” 39 Jesus respondeu: “Venham, e vocês verão.” Então eles foram e viram onde Jesus morava. E começaram a viver com ele naquele mesmo dia. Eram mais ou menos quatro horas da tarde. 40 André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram a Jesus. 41 Ele encontrou primeiro o seu próprio irmão Simão, e lhe disse: “Nós encontramos o Messias (que quer dizer Cristo).” 42 Então André apresentou Simão a Jesus. Jesus olhou bem para Simão e disse: “Você é Simão, o filho de João. Você vai se chamar Cefas (que quer dizer Pedra).” Comentário: * 35-51: João descreve os sete dias da nova criação. No primeiro dia, João Batista afirma: “No meio de vocês existe alguém que vocês não conhecem.” Nos dias seguintes vemos como João Batista, João, André, Simão, Filipe e Natanael descobrem a Jesus. É sempre uma testemunha que aponta Jesus para outra. O último dia será o casamento em Caná, onde Jesus manifestará a sua glória. “O que vocês estão procurando?” São estas as primeiras palavras de Jesus neste evangelho. Essa pergunta, ele a faz a todos os homens. Nós queremos saber quem é Jesus, e ele nos pergunta sobre o que buscamos na vida. Os homens que encontraram Jesus começaram a conviver com ele. E no decorrer do tempo vão descobrindo que ele é o Mestre, o Messias, o Filho de Deus. O mesmo acontece conosco: enquanto caminhamos com Cristo, vamos progredindo no conhecimento a respeito dele. João Batista era apenas testemunha de Jesus, a quem tudo se deve dirigir. João sabia disso; por isso convida seus próprios discípulos para que se dirijam a Jesus. E os dois primeiros vão buscar outros. É desse mesmo modo que nós encontramos a Jesus: porque outra pessoa nos falou dele ou nos comprometeu numa tarefa apostólica. Jesus sempre reconhece aqueles que o Pai coloca em seu caminho. Ele reconhece Natanael debaixo da figueira e também Simão, escolhido para ser a primeira Pedra da Igreja. Vereis o céu aberto: No sonho de Jacó, os anjos subiam e desciam por uma escada que ligava a terra ao céu (leia Gn 28,10-22). Doravante é Jesus, o Filho do Homem, a nova ligação entre Deus e os homens. João Batista assume o papel de animador vocacional. Aponta Jesus que está passando e incentiva seus discípulos a segui-lo. Jesus dirige a eles a pergunta fundamental, que toda pessoa deve responder: O que você está buscando? O que é realmente importante para sua vida? Os discípulos querem conhecer mais profundamente quem é o Mestre: “Onde vives?”. Em vez de simplesmente dar o endereço, Jesus os convida a conhecer seu modo de vida e sua obra libertadora. Feita a experiência de conviver com Jesus, André leva seu irmão Simão até ele. Pelo testemunho desses primeiros discípulos, outras pessoas vão conhecendo Jesus e permanecendo com ele. Simão recebe de Jesus um novo nome, Pedro (rocha), indicando que, na nova comunidade, ele será o líder do colégio apostólico (cf. Mt 16,18).

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

João 1, 29-34 A testemunha reconhece o Salvador.

-* 29 No dia seguinte, João viu Jesus, que se aproximava dele. E disse: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. 30 Este é aquele de quem eu falei: ‘Depois de mim vem um homem que passou na minha frente, porque existia antes de mim’. 31 Eu também não o conhecia. Mas vim batizar com água, a fim de que ele se manifeste a Israel.” 32 E João testemunhou: “Eu vi o Espírito descer do céu, como uma pomba, e pousar sobre ele. 33 Eu também não o conhecia. Aquele que me enviou para batizar com água, foi ele quem me disse: ‘Aquele sobre quem você vir o Espírito descer e pousar, esse é quem batiza com o Espírito Santo’. 34 E eu vi, e dou testemunho de que este é o Filho de Deus.” Comentário: * 29-34: No idioma dos judeus, a mesma palavra pode significar servo e cordeiro. Jesus é o Servo de Deus, anunciado pelos profetas, aquele que devia sacrificar-se pelos seus irmãos. Também é o verdadeiro Cordeiro, que substitui o cordeiro pascal. João Batista, chamando Jesus de Cordeiro, mostra que ele é o Messias que vem tirar a humanidade da escravidão em que se encontra e conduzi-la a uma vida na liberdade. João Batista passa a conhecer Jesus quando este se apresenta para ser batizado. A partir desse encontro, João tem certeza de que vem cumprindo bem sua missão: preparar o terreno para a manifestação do Messias. Para isso, João batizava com água, sinal de purificação. O Messias, entretanto, batizará com o Espírito Santo, a força do alto que infunde vida nova e dá sentido aos novos tempos. Realizada a experiência do encontro com Jesus, o Batista pode com segurança apresentá-lo ao povo como o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. Ele, por sua morte, libertará o povo do sistema injusto, sistema de morte. É a ele que se deve seguir doravante, pois ele é “o Filho de Deus”. É o Messias que ultrapassa as expectativas messiânicas da época.

domingo, 1 de janeiro de 2023

João 1, 19-28 A testemunha não é o Salvador.

-* 19 O testemunho de João foi assim. As autoridades dos judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntarem a João: “Quem é você?” 20 João confessou e não negou. Ele confessou: “Eu não sou o Messias.” 21 Eles perguntaram: “Então, quem é você? Elias?”» João disse: “Não sou.” Eles perguntaram: “Você é o Profeta?” Ele respondeu: “Não.” Então perguntaram: 22 “Quem é você? Temos que levar uma resposta para aqueles que nos enviaram. Quem você diz que é?” 23 João declarou: “Eu sou uma voz gritando no deserto: ‘Aplainem o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías.” 24 Os que tinham sido enviados eram da parte dos fariseus. 25 E eles continuaram perguntando: “Então, por que é que você batiza, se não é o Messias, nem Elias, nem o Profeta?” 26 João respondeu: “Eu batizo com água, mas no meio de vocês existe alguém que vocês não conhecem, 27 e que vem depois de mim. Eu não mereço nem sequer desamarrar a correia das sandálias dele.” 28 Isso aconteceu em Betânia, na outra margem do Jordão, onde João estava batizando. Comentário: * 19-28: Quando João Batista começou a pregação, os judeus estavam esperando o Messias, que iria libertá-los da miséria e da dominação estrangeira. João anunciava que a chegada do Messias estava próxima e pedia a adesão do povo, selando-a com o batismo. As autoridades religiosas estavam preocupadas e mandaram investigar se João pretendia ser ele o Messias. João nega ser o Messias, denuncia a culpa das autoridades, e dá uma notícia inquietante: o Messias já está presente a fim de inaugurar uma nova era para o povo. Messias é o nome que os judeus davam ao Salvador esperado. Também o chamavam o Profeta. E, conforme se acreditava, antes de sua vinda deveria reaparecer o profeta Elias. João Batista é a testemunha que tem como função preparar o caminho para os homens chegarem até Jesus. Ora, a testemunha deve ser sincera, e não querer o lugar da pessoa que ela está testemunhando. No Evangelho de João, sacerdotes e levitas são membros do partido farisaico e também contrários a Jesus. Partem de Jerusalém para investigar quem é aquele pregador que está se tornando popular. As autoridades sempre temem os líderes capazes de arrastar multidões e de se tornar ameaça para quem está bem instalado no poder. João não precisa de títulos; não anda em busca de fama, tampouco usa mentiras para enganar o povo. Responde simplesmente que não é o Messias esperado como descendente legítimo de Davi; não é Elias, o profeta que pregou a fidelidade à Lei de Moisés; não é o profeta (os judeus esperavam um novo Moisés, o profeta do Êxodo). João Batista testemunha que está chegando uma pessoa que o supera em direitos. Refere-se ao Messias.