domingo, 28 de janeiro de 2024

Marco 5, 1-20 Libertar o homem ou possuir bens?

-* 1 Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar, na região dos gerasenos. 2 Logo que Jesus saiu da barca, um homem possuído por um espírito mau saiu de um cemitério e foi ao seu encontro. 3 Esse homem morava no meio dos túmulos e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. 4 Muitas vezes tinha sido amarrado com algemas e correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava as algemas. E ninguém era capaz de dominá-lo. 5 Dia e noite ele vagava entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras. 6 Vendo Jesus de longe, o endemoninhado correu, caiu de joelhos diante dele 7 e gritou bem alto: “Que há entre mim e ti, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Eu te peço por Deus, não me atormentes!” 8 O homem falou assim, porque Jesus tinha dito: “Espírito mau, saia desse homem!” 9 Então Jesus perguntou: “Qual é o seu nome?” O homem respondeu: “Meu nome é ‘Legião’, porque somos muitos.” 10 E pedia com insistência para que Jesus não o expulsasse da região. 11 Havia aí perto uma grande manada de porcos, pastando na montanha. 12 Os espíritos maus suplicaram: “Manda-nos para os porcos, para que entremos neles.” 13 Jesus deixou. Os espíritos maus saíram do homem e entraram nos porcos. E a manada - mais ou menos uns dois mil porcos - atirou-se monte abaixo para dentro do mar, onde se afogou. 14 Os homens que guardavam os porcos saíram correndo e espalharam a notícia na cidade e nos campos. E as pessoas foram ver o que tinha acontecido. 15 Foram até Jesus, viram o endemoninhado sentado, vestido e no seu perfeito juízo, ele que antes estava possuído pela Legião. E ficaram com medo. 16 Os que tinham presenciado o fato explicaram para as pessoas o que tinha acontecido com o endemoninhado e com os porcos. 17 Então começaram a suplicar que Jesus fosse embora da região deles. 18 Enquanto Jesus entrava de novo na barca, o homem que tinha sido endemoninhado pediu-lhe que o deixasse ficar com ele. 19 Jesus, porém, não deixou. E, em troca, lhe disse: “Vá para casa, para junto dos seus, e anuncie para eles tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por você.” 20 Então o homem foi embora e começou a pregar pela Decápole tudo o que Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados. Comentário: * 1-20: A atitude dos que pedem que Jesus vá embora é a mesma de uma sociedade que valoriza mais a posse dos bens do que a libertação dos alienados e escravizados. Em primeiro lugar, Deus quer que o homem viva. A sociedade que põe qualquer coisa acima da vida humana é sociedade que rejeita Jesus. Jesus encontra-se em território pagão. Tarefa árdua o aguarda. Aparece um homem possuído por espírito impuro. Esse espírito simboliza a sociedade opressora, que tira da pessoa a liberdade de pensar e de viver dignamente. O homem, atormentado pelo espírito impuro, se encontra com Jesus. Movido pelo Espírito Santo, o mesmo Jesus que exerce seu poder sobre as forças do mar e da natureza manda também nos espíritos impuros. A fala do possesso é uma tentativa de demonstrar poder sobre Jesus. Impossível. Jesus expulsa a legião e lhe permite apossar-se da manada de porcos, cujos donos ficam inconformados, pois veem escapar sua fonte de lucro. Os habitantes do lugar também rechaçam Jesus. Gesto nobre é o do homem, que, uma vez curado, torna-se missionário de Cristo entre os pagãos.

sábado, 27 de janeiro de 2024

Marcos 1, 21-28 Jesus vence a alienação.

-* 21 Foram à cidade de Cafarnaum e, no sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. 22 As pessoas ficavam admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei. 23 Nesse momento, estava na sinagoga um homem possuído por um espírito mau, que começou a gritar: 24 “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus!” 25 Jesus ameaçou o espírito mau: “Cale-se, e saia dele!” 26 Então o espírito mau sacudiu o homem com violência, deu um grande grito e saiu dele. 27 Todos ficaram muito espantados e perguntavam uns aos outros: O que é isso? Um ensinamento novo, dado com autoridade... Ele manda até nos espíritos maus e eles obedecem!” 28 E a fama de Jesus logo se espalhou por toda parte, em toda a redondeza da Galileia. Comentário: * 21-28: A ação demoníaca escraviza e aliena o homem, impedindo-o de pensar e de agir por si mesmo (por exemplo: ideologias, propagandas, estruturas, sistemas etc.): outros pensam e agem através dele. O primeiro milagre de Jesus é fazer o homem voltar à consciência e à liberdade. Só assim o homem pode segui-lo. Marcos não diz qual era o ensinamento de Jesus; contudo, mencionando-o junto com uma ação de cura, ele sugere que o ensinamento com autoridade repousa numa prática concreta de libertação: com sua ação Jesus interpreta as Escrituras de modo superior a toda a cultura dos doutores da Lei. Por sua coerência de vida, Jesus ensina com autoridade. Pratica o que ensina. Realiza atos libertadores. Os doutores da Lei, ao invés, eram vazios; só exibiam conhecimento e impunham sobre o povo pesadas observâncias religiosas que eles próprios não cumpriam. O povo percebia essa incoerência. Na sinagoga, lugar de oração e instrução dos judeus, Jesus ensina em dia de sábado. O homem com espírito impuro é símbolo dos males que alienam e destroem a pessoa (não fala nem age por si mesma). O espírito impuro enfrenta Jesus, tentando exercer domínio sobre ele: “Eu sei quem tu és: o Santo de Deus”. Jesus, porém, com uma palavra que tem o poder de recriar a pessoa, expulsa o demônio: “Cale-se, e saia dele”. A admiração se apossa de todos, principalmente pelo “ensinamento novo, dado com autoridade”.

1 Coríntios 7, 32-35 E a virgindade?

32 Eu gostaria que vocês estivessem livres de preocupações. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar ao Senhor. 33 Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e de como agradar à esposa, 34 e fica dividido. Assim também, a mulher solteira e a virgem cuidam das coisas do Senhor, a fim de serem santas de corpo e espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo e de como possa agradar ao marido. 35 Digo isso para o bem de vocês, não para armar uma cilada; somente para que vocês façam o que é mais nobre e possam permanecer sem distração junto ao Senhor. Comentário: * 25-35: Para a Igreja primitiva eram iminentes o fim do mundo e a manifestação final e gloriosa de Jesus (vv. 29.31). É nessa perspectiva que podemos compreender muitos conselhos referentes ao matrimônio, ao celibato e à virgindade: se o fim está próximo, para que se casar e ter filhos? Na visão de Paulo, a virgindade é vista como dom total da própria vida ao Senhor, como maneira de empenhar-se totalmente no testemunho do Evangelho. Jesus já destacava a grandeza do celibato na consagração radical a Deus e ao Reino, mas sem o impor (cf. Mt 19,10-12).

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Marcos 4, 35-41 Jesus é o Senhor da história.

-* 35 Nesse dia, quando chegou a tarde, Jesus disse a seus discípulos: “Vamos para o outro lado do mar.” 36 Então os discípulos deixaram a multidão e o levaram na barca, onde Jesus já se encontrava. E outras barcas estavam com ele. 37 Começou a soprar um vento muito forte, e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já estava se enchendo de água. 38 Jesus estava na parte de trás da barca, dormindo com a cabeça num travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: “Mestre, não te importa que nós morramos?” 39 Então Jesus se levantou e ameaçou o vento e disse ao mar: “Cale-se! Acalme-se!” O vento parou e tudo ficou calmo. 40 Depois Jesus perguntou aos discípulos: “Por que vocês são tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?” 41 Os discípulos ficaram muito cheios de medo e diziam uns aos outros: “Quem é esse homem, a quem até o vento e o mar obedecem?” Comentário: * 35-41: Jesus atravessa com os discípulos para a terra dos pagãos. O mar agitado é símbolo das nações pagãs que ameaçam destruir a comunidade cristã. Mas Jesus é o Senhor da história e dos povos. O medo dos discípulos é sinal da falta de fé: eles não conseguem ver que a ação de Jesus transforma as situações. A travessia “para a outra margem do lago” indica evangelizar em território não judeu. Desafio tanto para Jesus como para os discípulos: que obstáculos encontrariam em terras pagãs, eles que já eram perseguidos em território judeu? A agitação das águas simboliza as ideias fixas dos discípulos: eles continuavam apegados a seu nacionalismo, acreditando que os judeus eram uma raça superior aos outros povos. Convencidos desse modo de pensar, os discípulos censuram Jesus, que dorme e não os apoia. Jesus acalma a tempestade. Faz cessar as pretensões judaicas. Desta vez, é Jesus quem repreende os discípulos: “Por que vocês são medrosos? Ainda não têm fé?”. Jesus, que fora perseguido pelas autoridades dos judeus e por seus próprios familiares, agora enfrenta o medo dos discípulos. O nosso medo.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Lucas 10, 1-9 Os anunciadores do Reino.

-* 1 O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos, e os enviou dois a dois, na sua frente, para toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2 E lhes dizia: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita. 3 Vão! Estou enviando vocês como cordeiros para o meio de lobos. 4 Não levem bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não parem no caminho, para cumprimentar ninguém. 5 Em qualquer casa onde entrarem, digam primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ 6 Se aí morar alguém de paz, a paz de vocês irá repousar sobre ele; se não, ela voltará para vocês. 7 Permaneçam nessa mesma casa, comam e bebam do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não fiquem passando de casa em casa. 8 Quando entrarem numa cidade, e forem bem recebidos, comam o que servirem a vocês, 9 curem os doentes que nela houver. E digam ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vocês!’ Comentário: * 1-16: Os discípulos são organizados por Jesus para anunciarem a Boa Notícia no caminho e começarem a realizar os atos que concretizam o Reino. Aqueles que não quiserem aderir à Boa Notícia ficarão fora da nova história. Assim como os Doze foram enviados em missão na Galileia, Jesus agora envia os setenta e dois (ou setenta) discípulos a evangelizar a Judeia. São setenta, como os povos que compunham a humanidade, sinal de que a Boa-nova deve estender-se ao mundo inteiro. Despojados de segurança e comodidades, vão à frente de Jesus para preparar sua chegada. Esse é o sentido de todo o apostolado da Igreja, pois é Jesus quem deve ocupar o centro da missão. Devem levar a paz também aos ambientes hostis (ovelhas entre lobos), mas não perder tempo com pessoas de má vontade (cf. v. 6). A tarefa deles é a mesma de Jesus: anunciar a Boa Notícia do Reino e curar os doentes. Vão sentir que é imenso o trabalho a realizar, por isso deverão pedir a Deus mais missionários para a grandiosa obra de expansão do Reino.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Marcos 16, 15-18 Aparições de Jesus ressuscitado.

15 Então Jesus disse-lhes: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade. 16 Quem acreditar e for batizado, será salvo. Quem não acreditar, será condenado. 17 Os sinais que acompanharão aqueles que acreditarem são estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; 18 se pegarem cobras ou beberem algum veneno, não sofrerão nenhum mal; quando colocarem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados.” 19 Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus. 20 Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e, por meio dos sinais que os acompanhavam, provava que o ensinamento deles era verdadeiro. Comentário: * 9-20: Este trecho difere muito do livro até aqui; por isso é considerado obra de outro autor. Os cristãos da primeira geração provavelmente quiseram completar o livro de Marcos com um resumo das aparições de Jesus e uma apresentação global da missão da Igreja. Parece que se inspiraram no último capítulo de Mateus (28,18-20), em Lucas (24,10-53), em João (20,11-23) e no início do livro dos Atos dos Apóstolos (1,4-14). Embora seja acréscimo de retalhos tomados de outros escritos do Novo Testamento, o trecho conserva o pensamento de Marcos, isto é: os discípulos devem continuar a ação de Jesus. Antes de sua ascensão ao céu, Jesus envia seus discípulos com uma ordem bem precisa: proclamar o Evangelho. Os destinatários são todos os povos do mundo todo. Jesus confere aos discípulos o poder de curar doentes e expulsar demônios, isto é, libertar as pessoas de tudo o que as oprime e devolver-lhes a dignidade de filhos e filhas de Deus. Muitos sinais prodigiosos haveriam de acompanhar e confirmar a obra dos seguidores de Jesus. A Igreja primitiva (ler Atos dos Apóstolos) testemunhou a verdade dessa promessa: “O Senhor confirmava o que eles diziam sobre a graça de Deus, permitindo que, através deles, se realizassem sinais e prodígios” (At 14,3). Faz parte dessa corrente de pregadores o apóstolo Paulo, através do qual Deus realizava milagres extraordinários (cf. At 19,11).

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Marcos 4, 1-20 Jesus terá êxito na sua missão.

-* 1 Jesus começou a ensinar de novo às margens do mar da Galileia. Uma multidão se reuniu em volta dele. Por isso, Jesus entrou numa barca e sentou-se. A barca estava no mar, enquanto a multidão estava junto ao mar, na praia. 2 Jesus ensinava-lhes muitas coisas com parábolas. No seu ensinamento dizia para eles: 3 “Escutem. Um homem saiu para semear. 4 Enquanto semeava, uma parte caiu à beira do caminho; os passarinhos foram e comeram tudo. 5 Outra parte caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra; brotou logo, porque a terra não era profunda. 6 Porém, quando saiu o sol, os brotos se queimaram e secaram, porque não tinham raiz. 7 Outra parte caiu no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram, a sufocaram, e ela não deu fruto. 8 Outra parte caiu em terra boa e deu fruto, brotando e crescendo: rendeu trinta, sessenta e até cem por um.” 9 E Jesus dizia: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!” O mistério da missão de Jesus -* 10 Quando Jesus ficou sozinho, os que estavam com ele, junto com os Doze, perguntaram o que significavam as parábolas. 11 Jesus disse para eles: “«Para vocês, foi dado o mistério do Reino de Deus; para os que estão fora tudo acontece em parábolas, 12 para que olhem, mas não vejam, escutem, mas não compreendam, para que não se convertam e não sejam perdoados.” Os homens diante da missão de Jesus -* 13 Jesus lhes perguntou: “Vocês não compreendem essa parábola? Como então vão compreender todas as outras parábolas? 14 O semeador semeia a Palavra. 15 Os que estão à beira do caminho são aqueles nos quais a Palavra foi semeada; logo que a ouvem, chega Satanás e tira a Palavra que foi semeada neles. 16 Do mesmo modo, os que recebem a semente em terreno pedregoso, são aqueles que ouvem a Palavra e a recebem com alegria; 17 mas eles não têm raiz em si mesmos: são inconstantes, e, quando chega uma tribulação ou perseguição por causa da Palavra, eles logo desistem. 18 Outros recebem a semente entre os espinhos: são aqueles que ouvem a Palavra; 19 mas surgem as preocupações do mundo, a ilusão da riqueza e todos os outros desejos, que sufocam a Palavra, e ela fica sem dar fruto. 20 Por fim, aqueles que receberam a semente em terreno bom, são os que ouvem a Palavra, a recebem e dão fruto; um dá trinta, outro sessenta e outro cem por um.” Comentário: * 1-9: Apesar de todos os obstáculos, o semeador realiza seu trabalho, confiando na colheita que vai ter. Jesus também: apesar de todas as reações, obstáculos e incompreensões, sua missão chegará ao fim e será bem sucedida. * 10-12: As parábolas são histórias que ajudam a ler e compreender toda a missão de Jesus. Mas é preciso “estar dentro”, isto é, seguir a Jesus, para perceber que o Reino de Deus está se aproximando através de sua ação. Os que não seguem a Jesus ficam “por fora”, e nada podem compreender. * 13-20: A explicação da parábola focaliza os vários terrenos, mostrando o efeito que a missão de Jesus (contada pela palavra do Evangelho) tem sobre os ouvintes ou leitores. Cada pessoa vê e entende a partir do lugar que ocupa na sociedade e das dificuldades que encontra para se comprometer com Jesus e para continuar a ação dele. Jesus investe tempo e energias ensinando não somente os apóstolos, mas também as multidões que chegam de todas as partes. Anuncia-lhes a Palavra, atende às necessidades pessoais de seus ouvintes, cura os enfermos. Intensa e fatigosa é sua atividade cotidiana. Obra de zeloso evangelizador, comparada ao cuidadoso trabalho do semeador. As sementes se comportam conforme a qualidade do terreno; o resultado é desigual, pois os terrenos são diferentes. Assim também a Palavra de Deus, que será acolhida segundo a disposição de cada ouvinte. Alguns se deixam envolver por ela e se tornam fiéis discípulos de Jesus. Outros, vencida a euforia inicial, vão esfriando o ânimo e se afastam. A parábola deixa espaço para cada cristão responder a si mesmo: qual é, para mim, o significado e o efeito da Palavra de Deus?