terça-feira, 30 de setembro de 2025

Lucas 9, 57-62 Os primeiros passos do discípulo.

* 57 Enquanto iam andando, alguém no caminho disse a Jesus: “Eu te seguirei para onde quer que fores.” 58 Mas Jesus lhe respondeu: “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça.” 59 Jesus disse a outro: “Siga-me.” Esse respondeu: “Deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai.” 60 Jesus respondeu: “Deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos; mas você, vá anunciar o Reino de Deus.” 61 Outro ainda lhe disse: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa primeiro que eu vá me despedir do pessoal de minha casa.” 62 Mas Jesus lhe respondeu: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus.” Comentário: * 57-62: Os primeiros passos para os que seguem Jesus em seu caminho são: disponibilidade contínua, capacidade de renunciar a seguranças e, iniciado o caminho, não voltar para trás, por motivo nenhum. O seguimento de Jesus exige comprometimento, consciência plena e esforço pessoal. Não é tarefa fácil. Nos três convites que hoje vemos relatados, Jesus pede a quem quer ser seu discípulo que partilhe da sua simplicidade de vida, subordine tudo ao esforço missionário e renuncie aos vínculos humanos para formar uma família muito maior. Isso continua a ser exigido dos cristãos hoje, especialmente dos ordenados e consagrados, através dos votos de pobreza, obediência e castidade, mas também de todos os leigos que se dedicam de modo particular a um serviço na Igreja. No início do mês missionário, é bom recordar todos os que dedicam sua vida a essa bela e exigente missão de anunciar Cristo no mundo.

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Lucas 9, 51-56 Jesus vai para Jerusalém.

* 51 Estava chegando o tempo de Jesus ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém, 52 e enviou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho, e entraram num povoado de samaritanos, para conseguir alojamento para Jesus. 53 Mas, os samaritanos não o receberam, porque Jesus dava a impressão de quem se dirigia para Jerusalém. 54 Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para acabar com eles?” 55 Jesus porém, voltou-se e os repreendeu. 56 E partiram para outro povoado. Comentário: * 51-56: Jesus inicia o seu caminho para Jerusalém (cf. Introdução). Nessa viagem, Lucas mostra a pedagogia de Jesus, que vai indicando o caminho para aqueles que querem unir-se a ele. Tal processo por ele iniciado vai provocar sérios conflitos com aqueles que não querem mudar o rumo da história. Por enquanto, nem os samaritanos entendem que Jesus vai a Jerusalém para salvá-los. E os discípulos não imaginam que a Samaria será um dos primeiros lugares que eles evangelizarão ao saírem de Jerusalém (At 1,8). Os samaritanos eram os habitantes da região da Samaria, que ficava entre a Galileia (Nazaré) e a Judeia (Jerusalém e Belém), portanto lugar de passagem durante as peregrinações à Cidade Santa. A origem desse povo é descrita no livro dos Reis (2Rs 17). Os samaritanos viviam em grande conflito com os israelitas no tempo de Jesus, sobretudo porque, no pós-exílio, eles se opuseram à reconstrução do templo de Jerusalém, preferindo dedicar culto no templo do monte Garizim, construído no ano 328 a.C. Por isso, eram considerados idólatras e impuros pelos judeus. Nesse contexto, conseguimos entender melhor a hostilidade em relação a Jesus e a consequente reação dos discípulos no Evangelho de hoje. Jesus, porém, veio para todos, inclusive para os samaritanos, como veremos em diversas outras passagens do Evangelho.

domingo, 28 de setembro de 2025

João 1, 47-51 As testemunhas apontam o Salvador.

47 Jesus viu Natanael aproximar-se e comentou: “Eis aí um israelita verdadeiro, sem falsidade.” 48 Natanael perguntou: “De onde me conheces?” Jesus respondeu: “Antes que Filipe chamasse você, eu o vi quando você estava debaixo da figueira.” 49 Natanael respondeu: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel!” 50 Jesus disse: “Você está acreditando só porque eu lhe disse: ‘Vi você debaixo da figueira’? No entanto, você verá coisas maiores do que essas.” 51 E Jesus continuou: “Eu lhes garanto: vocês verão o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.” Comentário: * 35-51: João descreve os sete dias da nova criação. No primeiro dia, João Batista afirma: “No meio de vocês existe alguém que vocês não conhecem.” Nos dias seguintes vemos como João Batista, João, André, Simão, Filipe e Natanael descobrem a Jesus. É sempre uma testemunha que aponta Jesus para outra. O último dia será o casamento em Caná, onde Jesus manifestará a sua glória. “O que vocês estão procurando?” São estas as primeiras palavras de Jesus neste evangelho. Essa pergunta, ele a faz a todos os homens. Nós queremos saber quem é Jesus, e ele nos pergunta sobre o que buscamos na vida. Os homens que encontraram Jesus começaram a conviver com ele. E no decorrer do tempo vão descobrindo que ele é o Mestre, o Messias, o Filho de Deus. O mesmo acontece conosco: enquanto caminhamos com Cristo, vamos progredindo no conhecimento a respeito dele. João Batista era apenas testemunha de Jesus, a quem tudo se deve dirigir. João sabia disso; por isso convida seus próprios discípulos para que se dirijam a Jesus. E os dois primeiros vão buscar outros. É desse mesmo modo que nós encontramos a Jesus: porque outra pessoa nos falou dele ou nos comprometeu numa tarefa apostólica. Jesus sempre reconhece aqueles que o Pai coloca em seu caminho. Ele reconhece Natanael debaixo da figueira e também Simão, escolhido para ser a primeira Pedra da Igreja. Vereis o céu aberto: No sonho de Jacó, os anjos subiam e desciam por uma escada que ligava a terra ao céu (leia Gn 28,10-22). Doravante é Jesus, o Filho do Homem, a nova ligação entre Deus e os homens. A função dos anjos na Bíblia é a de serem mensageiros. Deus, o Todo-poderoso, “misterioso”, deseja se comunicar com o ser humano e, para isso, utiliza os anjos como porta-vozes. Eles fazem a ligação entre o céu e a terra, entre Deus e a humanidade. São muitos os exemplos, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. O significado do nome dos arcanjos que hoje festejamos é extremamente peculiar e manifesta essencialmente o sentido de intermediação entre Deus e a humanidade: Miguel – “Quem é como Deus?” (patrono da sinagoga, agora da Igreja); Gabriel – “Deus mostra a sua força” (que anunciou a encarnação do Verbo); Rafael – “Deus cura” (o guia dos viajantes).

sábado, 27 de setembro de 2025

1 Timóteo 6, 11-16 O verdadeiro doutor.

* 11 Você, porém, homem de Deus, fuja dessas coisas. Procure a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão. 12 Combata o bom combate da fé, conquiste a vida eterna, para a qual você foi chamado. Isso, você o reconheceu numa bela profissão de fé diante de muitas testemunhas. 13 Diante de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Jesus Cristo, que deu testemunho diante de Pôncio Pilatos numa bela profissão de fé, eu ordeno a você: 14 guarde o mandamento puro, de modo irrepreensível, até a Aparição de nosso Senhor Jesus Cristo. 15 Essa Aparição mostrará, nos tempos estabelecidos, o Bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, 16 o único que possui a imortalidade, que habita uma luz inacessível, que nenhum homem viu, nem pode ver. A ele, honra e poder eterno. Amém! Comentário: * 11-16: O verdadeiro doutor é aquele que foge da ambição e vive com sobriedade. Seu compromisso primeiro é com a verdade, a qual se manifesta no ministério de Cristo, relembrado nos vv. 15-16.

Lucas 16, 19-31 O rico e o pobre.

* 19 ‘Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino, e dava banquete todos os dias. 20 E um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, que estava caído à porta do rico. 21 Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E ainda vinham os cachorros lamber-lhe as feridas. 22 Aconteceu que o pobre morreu, e os anjos o levaram para junto de Abraão. Morreu também o rico, e foi enterrado. 23 No inferno, em meio aos tormentos, o rico levantou os olhos, e viu de longe Abraão, com Lázaro a seu lado. 24 Então o rico gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque este fogo me atormenta’. 25 Mas Abraão respondeu: ‘Lembre-se, filho: você recebeu seus bens durante a vida, enquanto Lázaro recebeu males. Agora, porém, ele encontra consolo aqui, e você é atormentado. 26 Além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, nunca poderia passar daqui para junto de vocês, nem os daí poderiam atravessar até nós’. 27 O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa de meu pai, 28 porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não acabem também eles vindo para este lugar de tormento’. 29 Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os profetas: que os escutem!’ 30 O rico insistiu: ‘Não, pai Abraão! Se um dos mortos for até eles, eles vão se converter’. 31 Mas Abraão lhe disse: ‘Se eles não escutam a Moisés e aos profetas, mesmo que um dos mortos ressuscite, eles não ficarão convencidos’.” Comentário: * 19-31: A parábola é uma crítica à sociedade classista, onde o rico vive na abundância e no luxo, enquanto o pobre morre na miséria. O problema é o isolamento e afastamento em que o rico vive, mantendo um abismo de separação que o pobre não consegue transpor. Para quebrar esse isolamento, o rico precisa se converter. Nada o levará a essa conversão, se ele não for capaz de abrir o coração para a palavra de Deus, o que o leva a voltar-se para o pobre. Assim, mais do que explicação da vida no além, a parábola é exigência de profunda transformação social, para criar uma sociedade onde haja partilha de bens entre todos. Jesus conta a parábola para os fariseus. A narrativa gira em torno do conflito social entre ricos e pobres, tema caro a Lucas. O rico se veste de luxo e tem comida farta, mas não tem nome. O pobre se alimenta das migalhas do rico, mas tem nome. Os dois morrem: o rico foi enterrado, e o pobre, levado ao seio de Abraão. O diálogo entre o rico e Abraão revela o caminho da superação do abismo entre ricos e pobres: a Palavra de Deus. A parábola não está enfatizando a existência do céu ou do inferno. Ela questiona o abismo que há entre riqueza e pobreza. A desgraça da riqueza é quando ela se torna “mamona”, isto é, adorada como um deus, e se torna obstáculo ao acesso ao Reino de Deus. O amor à riqueza torna cega a pessoa e a desfigura socialmente. A função social da riqueza é favorecer o bem-estar de todo cidadão. Não é humano fechar-se na “sociedade do bem-estar”, ignorando a “sociedade do mal-estar”. Não podemos ficar indiferentes diante de “tanta riqueza” em contraste com “tanta miséria”.

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Lucas 9, 43-45 O Filho do Homem vai ser entregue.

43 Todos ficaram admirados com a grandeza de Deus. O povo estava admirado com tudo o que Jesus fazia. Então Jesus disse aos discípulos: 44 “Prestem atenção ao que eu vou dizer: o Filho do Homem vai ser entregue na mão dos homens.” 45 Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus dizia. Isso estava escondido a eles, para que não entendessem. E tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto. Comentário: * 37-45: Enquanto os discípulos não mudarem sua ideia sobre o Messias, jamais realizarão atos de libertação, que dão continuidade à missão de Jesus. Jesus desperta a admiração de todos, mas seu olhar está fixo na obra decisiva da salvação, na sua entrega pela humanidade, anunciada pela segunda vez aos discípulos. A expressão “Filho do Homem” é usada, originalmente, na apocalíptica judaica, aparecendo pela primeira vez na Bíblia no livro de Daniel, como força transformadora de Deus que desce à terra e destrói os poderes deste mundo, estabelecendo os fundamentos do novo Reino de Deus. Jesus é o verdadeiro “Filho do Homem”, capaz de transformar o mundo, não a partir dos interesses humanos, mas segundo a lógica da cruz. A cruz é o fundamento sobre o qual está assente a nova Jerusalém, que acolhe todos os homens e mulheres capazes de olhar para a cruz como árvore da vida nova.

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Lucas 9, 18-22 Jesus é o Messias.

* 18 Certo dia, Jesus estava rezando num lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou: “Quem dizem as multidões que eu sou?” 19 Eles responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que tu és algum dos antigos profetas que ressuscitou.” 20 Jesus perguntou: “E vocês, quem dizem que eu sou?” Pedro respondeu: “O Messias de Deus.” 21 Então Jesus proibiu severamente que eles contassem isso a alguém. 22 E acrescentou: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar no terceiro dia.” Comentário: * 18-27: Não basta declarar e aceitar que Jesus é o Messias; é preciso rever a ideia a respeito do Messias, o qual, para construir a nova história, enfrenta os que não querem transformações. Por isso, ele vai sofrer, ser rejeitado e morto. Sua ressurreição será a sua vitória. E quem quiser acompanhar Jesus na sua ação messiânica e participar da sua vitória, terá que percorrer caminho semelhante: renunciar a si mesmo e às glórias do poder e da riqueza. Normalmente, para descrever de modo adequado e completo a identidade de uma pessoa, precisamos conhecê-la bem, de perto, intimamente. Pedro ama profundamente Jesus e, por isso, afirma com segurança: “És o Messias de Deus”. Jesus é o Filho de Deus prometido desde todos os tempos para resgatar a humanidade de seu pecado e devolver-lhe a verdadeira condição de filhos de Deus, criados à sua imagem e semelhança. Muitos batizados, hoje, não conseguem responder da mesma forma porque não se relacionam intimamente com Cristo, que transforma nosso ser corruptível e nos conduz ao Reino do amor e da vida plena. Conhecer Jesus deve ser um esforço constante do cristão, pois só assim conseguiremos viver como ele viveu e amar como ele amou. Só assim poderemos saber quem ele é e o que espera de nós.

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Lucas 9, 7-9 Jesus começa a inquietar.

* 7 O governador Herodes ouviu falar de tudo o que estava acontecendo, e ficou sem saber o que pensar, porque alguns diziam que João Batista tinha ressuscitado dos mortos; 8 outros diziam que Elias tinha aparecido; outros ainda, que um dos antigos profetas tinha ressuscitado. 9 Então Herodes disse: “Eu mandei degolar João. Quem é esse homem, sobre quem ouço falar essas coisas?” E queria ver Jesus. Comentário: * 7-9: A palavra e ação de Jesus deixam o povo e as autoridades sem saber o que pensar. É que a presença dele força todo mundo a se perguntar: “Quem é esse homem?” O encontro de Jesus e Herodes acontecerá na Paixão (23,6-12). A ação de Jesus ganha cada vez mais repercussão, e todos querem saber quem é esse homem que realiza grandes obras. Ele representa uma novidade tamanha que todos ficam confusos acerca da sua identidade. O próprio rei Herodes, ao ouvir relatos sobre a palavra e ação de Jesus, é tomado por um grande temor e curiosidade. Deseja vê-lo, quer conhecê-lo. Mas não basta ver Jesus para saber quem ele é. É preciso reconhecê-lo através da fé. Esse pequeno detalhe nos mostra que somente somos capazes de “ver” claramente quem é Jesus à luz do acontecimento pascal. Somos, portanto, privilegiados, pois hoje conhecemos Jesus verdadeiramente como ele é, mas só descobriremos a profundidade da mensagem evangélica quando abrirmos nosso coração para acolher Jesus como verdadeiro Messias.

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Lucas 9, 1-6 A missão dos discípulos.

* 1 Jesus convocou os Doze, e lhes deu poder e autoridade sobre os demônios e para curar as doenças. 2 E os enviou a pregar o Reino de Deus e a curar. 3 E disse-lhes: “Não levem nada para o caminho: nem bastão, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem duas túnicas. 4 Em qualquer casa onde vocês entrarem, fiquem aí, até vocês se retirarem do lugar. 5 E todos aqueles que não os acolherem, vocês, ao sair da cidade, sacudam a poeira dos pés, como protesto contra eles.” 6 Os discípulos partiram, e percorriam os povoados, anunciando a Boa Notícia, e fazendo curas em todos os lugares. Comentário: * 9,1-6: Cf. nota em Mc 6, 6b-13: Os discípulos são enviados para continuar a missão de Jesus: pedir mudança radical da orientação de vida (conversão), desalienar as pessoas (libertar dos demônios), restaurar a vida humana (curas). Os discípulos devem estar livres, ter bom senso e estar conscientes de que a missão vai provocar choque com os que não querem transformações. Enviando os discípulos, Jesus confere-lhes poder e autoridade sobre as coisas que escravizam as pessoas. O pecado pode ser entendido como uma forma de escravidão, através da qual nos sujeitamos aos instintos do mundo: egoísmo, idolatria, inveja, ira, ambição, inimizades, ciúmes e outras realidades semelhantes. Deus, que nunca nos abandona, atrai-nos continuamente para a liberdade, que se expressa na comunidade dos discípulos, enviados ao mundo para proclamar a Boa-nova do Reino e curar os enfermos. Os discípulos praticam a liberdade, indo de cidade em cidade sem levar nada pelo caminho: “nem bastão, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem duas túnicas”. O desprendimento total dos instintos e dos bens terrenos, associado à confiança em Deus, são características essenciais da comunidade liberta por Cristo da escravidão do pecado.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Lucas 8, 19-21 A verdadeira família de Jesus.

* 19 A mãe e os irmãos de Jesus se aproximaram, mas não podiam chegar perto dele por causa da multidão. 20 Então anunciaram a Jesus: “Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem te ver.” 21 Jesus respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e a põem em prática.” Comentário: * 19-21: Jesus instaura novas relações entre os homens, que começam a existir quando os homens põem em prática a palavra do Evangelho, continuando a missão de Jesus. Lucas também menciona a família biológica de Jesus. Isso serve para mostrar uma importante transformação na ação de Cristo: no início do Evangelho, vemos um lugar de grande destaque dado a Maria, que concebeu por ação do Espírito Santo; a Palavra de Deus que fecundou o ventre de Maria agora fecunda a comunidade dos discípulos, sua nova família, formada por todos os que aceitam e vivem seu Evangelho. Em Cristo, somos todos irmãos e irmãs, filhos e filhas de Deus, nosso Pai amoroso e misericordioso. Dessa família brota o mundo novo, cheio de vida e liberdade para todos.

domingo, 21 de setembro de 2025

Lucas 8, 16-18 Ouvir e agir.

* 16 “Ninguém acende uma lâmpada para cobri-la com uma vasilha ou colocá-la debaixo da cama. Ele a coloca no candeeiro, a fim de que todos os que entram, vejam a luz. 17 De fato, tudo o que está escondido, deverá tornar-se manifesto; e tudo o que está em segredo, deverá tornar-se conhecido e claramente manifesto. 18 Portanto, prestem atenção como vocês ouvem: para quem tem alguma coisa, será dado ainda mais; para aquele que não tem, será tirado até mesmo o que ele pensa ter.” Comentário: * 16-18: Cf. nota em Mc 4,21-25. Quem não age, perde até mesmo a compreensão que pensa ter. Nos trechos do Evangelho lidos ao longo desta semana, observaremos como Jesus inicia sua obra de forma modesta, como uma semente que germina lentamente. A luz de que nos fala o Evangelho de hoje é o próprio Cristo, que nos ilumina com sua Palavra. Aquele que se deixa iluminar não consegue esconder essa experiência pessoal que fez de Cristo, por isso a comunica aos seus irmãos e irmãs de toda forma possível, para que muitos outros também sejam iluminados. Nossa sociedade está carente de sinais positivos, sinais de esperança, sinais que só a Palavra de Deus pode dar, por isso ela deve invadir o mundo inteiro, sendo mensageira de amor e de perdão.

sábado, 20 de setembro de 2025

Lucas 16, 1-13 Tomar uma atitude prudente.

-* 1 Jesus dizia aos discípulos: “Um homem rico tinha um administrador que foi denunciado por estar esbanjando os bens dele. 2 Então o chamou, e lhe disse: ‘O que é isso que ouço contar de você? Preste contas da sua administração, porque você não pode mais ser o meu administrador’. 3 Então o administrador começou a refletir: ‘O senhor vai tirar de mim a administração. E o que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha. 4 Ah! Já sei o que vou fazer para que, quando me afastarem da administração tenha quem me receba na própria casa’. 5 E começou a chamar um por um os que estavam devendo ao seu senhor. Perguntou ao primeiro: ‘Quanto é que você deve ao patrão?’ 6 Ele respondeu: ‘Cem barris de óleo!’ O administrador disse: ‘Pegue a sua conta, sente-se depressa, e escreva cinquenta’. 7 Depois perguntou a outro: ‘E você, quanto está devendo?’ Ele respondeu: ‘Cem sacas de trigo’. O administrador disse: ‘Pegue a sua conta, e escreva oitenta’ “. 8* E o Senhor elogiou o administrador desonesto, porque este agiu com esperteza. De fato, os que pertencem a este mundo são mais espertos, com a sua gente, do que aqueles que pertencem à luz. 9 “E eu lhes declaro: Usem o dinheiro injusto para fazer amigos, e assim, quando o dinheiro faltar, os amigos receberão vocês nas moradas eternas. 10 Quem é fiel nas pequenas coisas, também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas pequenas, também é injusto nas grandes. 11 Por isso, se vocês não são fiéis no uso do dinheiro injusto, quem lhes confiará o verdadeiro bem? 12 E se não são fiéis no que é dos outros, quem lhes dará aquilo que é de vocês? 13 Nenhum empregado pode servir a dois senhores, porque, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro.” Comentário: * 1-8: Jesus elogia o administrador, que soube tomar atitude prudente. O Reino de Deus já chegou: é preciso tomar uma atitude antes que seja tarde demais; converter-se e viver conforme a mensagem de Jesus. * 9-13: Os vv. 9-13 fazem diversas aplicações da parábola. O v. 9 recomenda o uso da riqueza em favor dos pobres. Os vv. 10-12 mostram que é impossível ser fiel nas grandes coisas, quando somos negligentes nas pequenas. E o v. 13 urge uma decisão: escolher entre o serviço a Deus e o serviço às riquezas (cf. nota em Mt 6,19-24). Jesus conta uma parábola que nos inquieta ao elogiar a criatividade de alguém que pensa no seu sustento futuro. No tempo de Jesus, os grandes fazendeiros tinham seus capatazes que trabalhavam por eles. Esses capatazes nem sempre eram honestos e sinceros. Quando se veem em risco de perder o emprego, usam da criatividade para garantir o próprio futuro. A parábola convida os cristãos a serem criativos e empenhados na construção do Reino de Deus. O Evangelho questiona como é usado o dinheiro, os bens públicos e o que cada um tem. O cristão não pode entrar na lógica do mundo: lucro, acúmulo e exploração. A lógica do Reino é usar o dinheiro para criar amizade: dinheiro e bens partilhados em favor dos mais pobres. Na vida, há uma escolha: permanecer na lógica do mundo, servindo ao dinheiro, ou entrar na lógica do Reino, partilhando os bens. A palavra-chave é a conclusão do texto de hoje: “Ninguém pode servir a dois senhores”, ou seja, ao deus dinheiro (mamona) e ao Deus da vida.

1 Timóteo 2, 1-8 Deus quer salvar a todos.

* 1 Antes de tudo, recomendo que façam pedidos, orações, súplicas e ações de graças em favor de todos os homens, 2 pelos reis e por todos os que têm autoridade, a fim de que levemos uma vida calma e serena, com toda a piedade e dignidade. 3 Isso é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador. 4 Ele quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. 5 Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem 6 que se entregou para resgatar a todos. Esse é o testemunho dado nos tempos estabelecidos por Deus, 7 e para o qual eu fui designado pregador e apóstolo - digo a verdade, não minto -, doutor das nações na fé e na verdade. 8 Quero, portanto, que os homens orem em todo lugar, erguendo mãos limpas, sem ira e sem discussões. Comentário: * 1-8: O autor recomenda que os cristãos incluam na sua oração todos os homens. É a oração litúrgica universal, impulsionada pela convicção de que Deus enviou seu Filho para salvar o mundo inteiro. Ser Igreja no mundo é testemunhar que o projeto de Deus está aberto para todos.

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Lucas 8, 4-15 Uma colheita custosa.

* 4 Ajuntou-se uma grande multidão, e de todas as cidades as pessoas iam até Jesus. Então ele contou esta parábola: 5 “O semeador saiu para semear a sua semente. Enquanto semeava, uma parte caiu à beira do caminho; foi pisada e os passarinhos foram, e comeram tudo. 6 Outra parte caiu sobre pedras; brotou e secou, porque não havia umidade. 7 Outra parte caiu no meio de espinhos; os espinhos brotaram junto, e a sufocaram. 8 Outra parte caiu em terra boa; brotou e deu fruto, cem por um.” Dizendo isso, Jesus exclamou: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” O mistério da missão de Jesus -* 9 Os discípulos perguntaram a Jesus o significado dessa parábola. 10 Jesus respondeu: “A vocês foi dado conhecer os mistérios do Reino de Deus. Mas, aos outros ele vem por meio de parábolas, para que olhando não vejam, e ouvindo não compreendam.” Compreender a Palavra nos conflitos -* 11 “A parábola quer dizer o seguinte: a semente é a Palavra de Deus. 12 Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouviram; mas, depois chega o diabo, e tira a Palavra do coração deles, para que não acreditem, nem se salvem. 13 Os que caíram sobre a pedra são aqueles que, ouvindo, acolheram com alegria a Palavra. Mas eles não têm raiz: por um momento, acreditam; mas na hora da tentação voltam atrás. 14 O que caiu entre os espinhos são aqueles que ouvem, mas, continuando a caminhar, se afogam nas preocupações, na riqueza e nos prazeres da vida, e não chegam a amadurecer. 15 O que caiu em terra boa são aqueles que, ouvindo de coração bom e generoso, conservam a Palavra, e dão fruto na perseverança.” Comentário: * 4-8: Cf. nota em Mt 13,1-9: Cf. nota em Mc 4,1-9. Se o Reino já está aqui, por que existem fracassos e conflitos? Jesus trouxe as sementes do Reino, e elas se espalharam pelo mundo. Mas, assim como Jesus encontrou resistência no meio do seu próprio povo, do mesmo modo pessoas e estruturas continuam impedindo a justiça do Reino de se estabelecer entre os homens. Sem dúvida, haverá uma colheita, mas à custa de muitas perdas, isto é, muitos procurarão sufocar as sementes do Reino, antes que chegue a vitória final. Querer negar e fugir dessas dificuldades para a implantação do Reino é não compreender o seu mistério. * 9-10: Cf. nota em Mc 4, 10-12: As parábolas são histórias que ajudam a ler e compreender toda a missão de Jesus. Mas é preciso “estar dentro”, isto é, seguir a Jesus, para perceber que o Reino de Deus está se aproximando através de sua ação. Os que não seguem a Jesus ficam “por fora”, e nada podem compreender. * 11-15: Cf. notas em Mc 4, * 13-20: A explicação da parábola focaliza os vários terrenos, mostrando o efeito que a missão de Jesus (contada pela palavra do Evangelho) tem sobre os ouvintes ou leitores. Cada pessoa vê e entende a partir do lugar que ocupa na sociedade e das dificuldades que encontra para se comprometer com Jesus e para continuar a ação dele. Ao longo desta semana, o Evangelho nos apresentou diversas atividades de Jesus no meio do povo. À primeira vista, parecem ações simples, de pouca importância, mas a parábola do semeador, lida hoje, dá profundidade a toda essa aparente banalidade. Deus não age para provocar uma alteração imprevista nas situações atuais. Sua Palavra age do mesmo modo que o grão semeado na terra, que germina lentamente, mas produz frutos abundantes. A semente continua a ser lançada cada vez que lemos a Bíblia ou participamos da liturgia da Palavra. Mas, para que dê frutos, precisa encontrar um solo fértil, propício para seu crescimento. Nosso coração está preparado para acolher a Palavra de Deus e transformá-la em vida nova?

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Lucas 8, 1-3 As mulheres servem a Jesus.

* 1 Depois disso, Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus. Os Doze iam com ele, 2 e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos maus e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual haviam saído sete demônios; 3 Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e várias outras mulheres, que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam. Comentários: *1-3: Jesus continua sua missão, e vai formando uma comunidade nova, a partir daqueles que são marginalizados pela sociedade do seu tempo, como eram as mulheres. Elas também são parte integrante do grupo que acompanha Jesus. Lucas nos apresenta o nome de algumas mulheres que acompanhavam Jesus e o grupo dos Doze. Para a época, significou uma ruptura muito grande com a tradição rabínica, que não aceitava a presença de mulheres como discípulas. Por isso, esse relato tem um valor muito grande, mostrando a revolução apresentada por Jesus e a variedade de modelos de seguimento para todos os cristãos, valorizando e incentivando a presença e a atuação das mulheres ao longo do cristianismo. Infelizmente, parecemos ter regredido em relação às primeiras comunidades cristãs, nas quais as mulheres tinham grande protagonismo. A meditação deste trecho do Evangelho nos ajuda a refletir sobre o espaço que a mulher tem hoje na Igreja, um pouco ampliado com as iniciativas do papa Francisco, mas ainda muito limitado e aquém do que desejou nosso Senhor Jesus Cristo.

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Lucas 7, 36-50 O perdão gera o amor.

* 36 Certo fariseu convidou Jesus para uma refeição em casa. Jesus entrou na casa do fariseu, e se pôs à mesa. 37 Apareceu então certa mulher, conhecida na cidade como pecadora. Ela, sabendo que Jesus estava à mesa na casa do fariseu, levou um frasco de alabastro com perfume. 38 A mulher se colocou por trás, chorando aos pés de Jesus; com as lágrimas começou a banhar-lhe os pés. Em seguida, os enxugava com os cabelos, cobria-os de beijos, e os ungia com perfume. 39 Vendo isso, o fariseu que havia convidado Jesus ficou pensando: “Se esse homem fosse mesmo um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, porque ela é pecadora.” 40 Jesus disse então ao fariseu: “Simão, tenho uma coisa para dizer a você.” Simão respondeu: “Fala, mestre.” 41 “Certo credor tinha dois devedores. Um lhe devia quinhentas moedas de prata, e o outro lhe devia cinquenta. 42 Como não tivessem com que pagar, o homem perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?” 43 Simão respondeu: “Acho que é aquele a quem ele perdoou mais.” Jesus lhe disse: “Você julgou certo.” 44 Então Jesus voltou-se para a mulher e disse a Simão: “Está vendo esta mulher? Quando entrei em sua casa, você não me ofereceu água para lavar os pés; ela, porém, banhou meus pés com lágrimas, e os enxugou com os cabelos. 45 Você não me deu o beijo de saudação; ela, porém, desde que entrei, não parou de beijar meus pés. 46 Você não derramou óleo na minha cabeça; ela, porém, ungiu meus pés com perfume. 47 Por essa razão, eu declaro a você: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor. Aquele a quem foi perdoado pouco, demonstra pouco amor.” 48 E Jesus disse à mulher: “Seus pecados estão perdoados.” 49 Então os convidados começaram a pensar: “Quem é esse que até perdoa pecados?” 50 Mas Jesus disse à mulher: “Sua fé salvou você. Vá em paz!” Comentário: * 36-50: O fariseu não se considera pecador; por isso, fica numa atitude de julgamento, e não é capaz de entender e experimentar o perdão e o amor. Jesus mostra que a justiça de Deus se manifesta como amor que perdoa os pecados e transforma as condições das pessoas. O amor é expressão e sinal do perdão recebido. Todos os cristãos – jovens ou idosos, com mais ou menos encargos, sejam eles sacerdotes, religiosos ou leigos – devem ser capazes de testemunhar, com gestos concretos, e não apenas pelo discurso eloquente, a experiência de Cristo ressuscitado na própria vida. Fazer a experiência de Cristo é experimentar o perdão de Deus, porque todos somos pecadores, e todos estamos carentes da misericórdia divina. O Evangelho que acabamos de ler nos convida a reconhecer nossos pecados, a prostrar-nos aos pés de Jesus e testemunhar concretamente a experiência de amor que brota do perdão, pois quanto mais somos pecadores, maior será a graça divina e maior devem ser nossa gratidão e nosso amor.

terça-feira, 16 de setembro de 2025

Lucas 7, 31-35 Os filhos da sabedoria.

* 31 “Com quem eu vou comparar os homens desta geração? Com quem se parecem eles? 32 São como crianças que se sentam nas praças, e se dirigem aos colegas, dizendo: ‘Tocamos flauta, e vocês não dançaram; cantamos música triste, e vocês não choraram’. 33 Pois veio João Batista, que não comia nem bebia, e vocês disseram: ‘Ele tem um demônio!’ 34 Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e vocês dizem: ‘Ele é um comilão e beberrão, amigo dos cobradores de impostos e dos pecadores!’ 35 Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos.” Comentário: * 31-35: As autoridades religiosas do tempo de Jesus se comportam de maneira infantil: acusam João Batista de louco, porque é severo demais; acusam Jesus de boa-vida, porque parece muito condescendente. O povo e os cobradores de impostos se comportam de maneira sábia: acolhem João Batista e Jesus, reconhecendo neles a revelação da misericordiosa justiça de Deus. Utilizando um recurso comum da tradição rabínica, Jesus faz um desabafo iniciando pela fórmula “a quem vou comparar…?”. Seu lamento recai sobre os dirigentes do povo, incluindo as autoridades religiosas, que buscam desculpas, em vez de se abrirem ao projeto de Deus. A expressão “pessoas desta geração” tem aqui um sentido pejorativo, referindo-se a pessoas que não se dispuseram a mudar de vida. Ela serve para designar também nós, hoje. Muitas vezes, caímos na tentação de querer que Jesus intervenha na nossa vida segundo nossas conveniências, como que para nos agradar. Porém, Jesus não veio para agradar ninguém em particular, veio para salvar a humanidade toda. E Cristo nos salva fazendo das nossas vidas a festa da alegria com Deus, na qual somos saciados e inebriados pelo Senhor Jesus: isso é o que somos chamados a celebrar em cada Eucaristia.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Lucas 7, 11-17 Deus visitou o seu povo.

* 11 Em seguida, Jesus foi para uma cidade chamada Naim. Com ele iam os discípulos e uma grande multidão. 12 Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto para enterrar; era filho único, e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade ia com ela. 13 Ao vê-la, o Senhor teve compaixão dela, e lhe disse: “Não chore!” 14 Depois se aproximou, tocou no caixão, e os que o carregavam pararam. Então Jesus disse: “Jovem, eu lhe ordeno, levante-se!” 15 O morto sentou-se, e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. 16 Todos ficaram com muito medo, e glorificavam a Deus, dizendo: “Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus veio visitar o seu povo.” 17 E a notícia do fato se espalhou pela Judéia inteira, e por toda a redondeza. Comentário: * 11-17: A atividade libertadora de Jesus é a grande “visita” de Deus que vem salvar o seu povo. Essa visita é a manifestação do amor compassivo, que atende aos mais pobres e necessitados. Naim era um vilarejo próximo ao monte Tabor, numa colina chamada Moré ou Pequeno Hermon. Apenas Lucas descreve esse episódio da ressurreição do filho da viúva. Jesus é o centro da narrativa, com uma palavra divina e eficaz que devolve a vida ao jovem. Vemos alguns sinais que remetem ao milagre realizado por Elias (em 1Rs 17) e Eliseu (em 2Rs 4), além de antecipar o próprio evento pascal. Com a ressurreição do filho da viúva de Naim, é possível perceber que o poder divino toca o mais profundo da dor humana, restituindo-nos a dignidade de que o pecado nos priva através do horror da morte. Com a ressurreição de Cristo, toda a humanidade é liberta das cadeias da morte, porque Cristo inaugura uma vida nova, cuja característica não será o fim através da morte, mas a vivência do amor até as últimas consequências.

domingo, 14 de setembro de 2025

João 19,25-27 A relação entre Israel e a comunidade de Jesus.

* 25 A mãe de Jesus, a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena estavam junto à cruz. 26 Jesus viu a mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava. Então disse à mãe: “Mulher, eis aí o seu filho.” 27 Depois disse ao discípulo: “Eis aí a sua mãe.” E dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa. Comentário: * 25-27: A mãe de Jesus representa aqui o povo da antiga aliança que se conservou fiel às promessas e espera pelo salvador. E o discípulo amado representa o novo povo de Deus, formado por todos os que dão sua adesão a Jesus. Na relação mãe-filho, o evangelista mostra a unidade e continuação do povo de Deus, fiel à promessa e herdeiro da sua realização. Maria acompanhou Jesus ao longo de todo o caminho do Calvário, partilhando de suas dores profundas. Na memória de Nossa Senhora das Dores, a liturgia propõe, para nossa meditação, um pequeno trecho da crucificação de Jesus. Nesse momento específico, a tradição identificou a atribuição da maternidade de Maria a todos os cristãos, simbolizados na figura do discípulo amado. Além dessa dor narrada no Evangelho de hoje, a devoção popular enfatiza outras, totalizando sete dores: a profecia de Simeão, a fuga para o Egito, os três dias que Jesus esteve perdido, o encontro com Jesus levando a cruz, sua morte no Calvário, a descida da cruz e o sepultamento de Jesus. Desde muito cedo, os cristãos que sofrem se identificaram com a Virgem e nela buscaram consolo e força. Em 1814, o papa Pio VII introduziu a presente festa no calendário litúrgico, confirmando a participação dolorosa da Mãe na redenção operada pelo Filho. Após a ressurreição de Cristo, a dor da Mãe deu lugar à alegria e à vida, e essa mesma esperança é pedida hoje aos cristãos que sofrem. Cristo transformará nossa dor em alegria e renovação.

sábado, 13 de setembro de 2025

João 3, 13-17 A vida nova vem de Jesus.

13 Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu: o Filho do Homem. 14 Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, do mesmo modo é preciso que o Filho do Homem seja levantado. 15 Assim, todo aquele que nele acreditar, nele terá a vida eterna.” Jesus provoca decisão -* 16 “Pois Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna. 17 De fato, Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, e sim para que o mundo seja salvo por meio dele. Comentário: * 9-15: A grande novidade que Deus tem para os homens está em Jesus, que vai revelar na cruz a vida nova. Aí ele demonstra o maior ato de amor: a doação de sua própria vida em favor dos homens. * 16-21: Deus não quer que os homens se percam, nem sente prazer em condená-los. Ele manifesta todo o seu amor através de Jesus, para salvar e dar a vida a todos. Mas a presença de Jesus é incômoda, pois coloca o mundo dos homens em julgamento, provocando divisão e conflito, e exigindo decisão. De um lado, os que acreditam em Jesus e vivem o amor, continuando a palavra e a ação dele em favor da vida. De outro lado, os que não acreditam nele e não vivem o amor, mas permanecem fechados em seus próprios interesses e egoísmo, que geram opressão e exploração; por isso estes sempre escondem suas verdadeiras intenções: não se aproximam da luz. Desde as primeiras comunidades cristãs, o símbolo da cruz foi muito significativo para recordar o mistério pascal e a vida nova trazida por Jesus Cristo. Ao mesmo tempo que recorda o projeto de Deus concretizado em Jesus, convoca-nos a uma vida santa e ao compromisso com a justiça e a verdade. A festa da Exaltação da Santa Cruz se difundiu muito no Oriente, mas sua provável origem está em Roma. O imperador Constantino (306-337) mandou construir, no lugar onde anteriormente estava um palácio, residência da sua mãe, Santa Helena, uma igreja chamada “Jerusalém”, posteriormente denominada “Santa Cruz de Jerusalém”. Mas a festa do dia 14 de setembro só começaria a ser celebrada na liturgia latina a partir do século VII.

Filipenses 2, 6-11 O Evangelho autêntico.

6 Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. 7 Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem, 8 humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz! 9 Por isso, Deus o exaltou grandemente, e lhe deu o Nome que está acima de qualquer outro nome; 10 para que, ao nome de Jesus, se dobre todo joelho no céu, na terra e sob a terra; 11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai. Comentário: * 5-11: Citando um hino conhecido, Paulo mostra qual é o Evangelho da cruz, o Evangelho autêntico, e apresenta em Cristo o modelo da humildade. Embora tivesse a mesma condição de Deus, Jesus se apresentou entre os homens como simples homem. E mais: abriu mão de qualquer privilégio, tornando-se apenas homem que obedece a Deus e serve aos homens. Não bastasse isso, Jesus serviu até o fim, perdendo a honra ao morrer na cruz, como se fosse criminoso. Por isso Deus o ressuscitou e o colocou no posto mais elevado que possa existir, como Senhor do universo e da história. Os cristãos são convidados a fazer o mesmo: abrir mão de todo e qualquer privilégio, até mesmo da boa fama, para pôr-se a serviço dos outros, até o fim.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Lucas 6, 43-49 Os atos revelam a pessoa.

* 43 “Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons; 44 porque toda árvore é conhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem se apanham uvas de plantas espinhosas. 45 O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, mas o homem mau tira do seu mal coisas más, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio.” Passar para a ação -* 46 “Por que vocês me chamam: ‘Senhor! Senhor!’, e não fazem o que eu digo? 47 Vou mostrar a vocês com quem se parece todo aquele que ouve as minhas palavras e as põe em prática. 48 É semelhante a um homem que construiu uma casa: cavou fundo e colocou o alicerce sobre a rocha. Veio a enchente, a enxurrada bateu contra a casa, mas não conseguiu derrubá-la, porque estava bem construída. 49 Aquele que ouve e não põe em prática, é semelhante a um homem que construiu uma casa sobre a terra, sem alicerce. A enxurrada bateu contra a casa, e ela imediatamente desabou; e foi grande a ruína dessa casa.” Comentário: * 43-45: Assim como as árvores são conhecidas pelos frutos, do mesmo modo os homens são conhecidos pelos seus atos. * 46-49: Quem põe em prática a mensagem de Jesus, constrói a vida pessoal e comunitária sobre alicerce firme, que resiste à alienação, aos conflitos e até mesmo à perseguição. Quem fica somente no ouvir ou no falar, jamais colabora na construção de nova sociedade. Jesus conclui seu discurso ao povo com duas metáforas, uma agrária (árvore e frutos) e outra urbana (construção da casa). Através dessas imagens, Jesus sintetiza a importância da interioridade e a necessidade de traduzir o ensinamento em ação. Quem escuta a mensagem e a põe em prática transforma-se em um homem forte, capaz de enfrentar as tempestades da vida e superar os momentos de incerteza e dificuldade. Quem não dá atenção ao Evangelho é insensato. Deus nos ama e, por mais que tenhamos pecado, sempre nos acolhe. É preciso, no entanto, estarmos abertos e atentos para escutar sua Palavra e colocá-la em prática. Para conseguirmos seguir esse caminho, é preciso superar toda forma de hipocrisia, vivendo em perfeita conformidade com a proposta que Cristo nos faz.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Lucas 6, 39-42 Só Deus pode julgar.

39 Jesus contou uma parábola aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco? 40 Nenhum discípulo é maior do que o mestre; e todo discípulo bem formado será como o seu mestre. 41 Por que você fica olhando o cisco no olho do seu irmão, e não presta atenção na trave que há no seu próprio olho? 42 Como é que você pode dizer ao seu irmão: ‘Irmão, deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando você não vê a trave no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro a trave do seu próprio olho, e então você enxergará bem, para tirar o cisco do olho do seu irmão.” Comentário: * 37-42: Cf. nota em Mt 7,1-5. Lucas salienta que as relações numa sociedade nova não devem ser de julgamento e condenação, mas de perdão e dom. Só Deus pode julgar. Jesus usa uma metáfora para mostrar que o cristão deve estar consciente das suas limitações e pecados antes de querer apontar os defeitos dos outros. Corrigir o próximo é uma ação louvável, mas deve ser consciente e ponderada. Paulo fazia isso com frequência em suas cartas, mas, antes de apontar o que estava errado, dirigia palavras de motivação e recordava aos cristãos que somos apenas instrumentos de Deus e que é Cristo quem deve orientar a comunidade. Ao escrever a Timóteo, Paulo dá graças a Deus pelo dom da sua vocação e por ter sido escolhido por Cristo para ser seu embaixador no mundo. Imitar o Mestre era sua prioridade, pois é trilhando esse caminho que o cristão alcança a santidade e vive em plenitude a fé e a caridade. Imitando o Mestre, deixamos de ser cegos e nos tornamos verdadeiros discípulos, podendo, assim, guiar outros.

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Lucas 6, 27-38 A gratuidade nas relações.

* 27 “Mas, eu digo a vocês que me escutam: amem os seus inimigos, e façam o bem aos que odeiam vocês. 28 Desejem o bem aos que os amaldiçoam, e rezem por aqueles que caluniam vocês. 29 Se alguém lhe dá um tapa numa face, ofereça também a outra; se alguém lhe toma o manto, deixe que leve também a túnica. 30 Dê a quem lhe pede e, se alguém tira o que é de você, não peça que devolva. 31 O que vocês desejam que os outros lhes façam, também vocês devem fazer a eles. 32 Se vocês amam somente aqueles que os amam, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores amam aqueles que os amam. 33 Se vocês fazem o bem somente aos que lhes fazem o bem, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores fazem assim. 34 E se vocês emprestam somente para aqueles de quem esperam receber, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores emprestam aos pecadores, para receber de volta a mesma quantia. 35 Ao contrário, amem os inimigos, façam o bem e emprestem, sem esperar coisa alguma em troca. Então, a recompensa de vocês será grande, e vocês serão filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e maus. 36 Sejam misericordiosos, como também o Pai de vocês é misericordioso.” Só Deus pode julgar -* 37 “Não julguem, e vocês não serão julgados; não condenem, e não serão condenados; perdoem, e serão perdoados. 38 Deem, e será dado a vocês; colocarão nos braços de vocês uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante. Porque a mesma medida que vocês usarem para os outros, será usada para vocês.” Comentário: * 27-36: A vida em sociedade é feita de relacionamentos de interesses e reciprocidade, que geram lucro, poder e prestígio. O Evangelho revoluciona o campo das relações humanas, mostrando que, numa sociedade justa e fraterna, as relações devem ser gratuitas, à semelhança do amor misericordioso do Pai. * 37-42: Cf. nota em Mt 7,1-5. Lucas salienta que as relações numa sociedade nova não devem ser de julgamento e condenação, mas de perdão e dom. Só Deus pode julgar. O Evangelho que hoje lemos é um verdadeiro manual de ética, pois condensa em poucas palavras um novo modo de ser e estar no mundo que revoluciona a sociedade. Infelizmente, dois milênios depois de ser proposto por Jesus para mostrar a novidade do ser cristão, esse manual ainda não é utilizado pela grande maioria dos batizados. Através do batismo, deixamos de pertencer à velha humanidade (corrompida) para pertencer à nova, recriada em Cristo, novo Adão, imagem de Deus. Essa transformação radical, porém, parece não ser refletida na prática da maioria dos cristãos. O ser humano se habituou a amar em troca do amor que recebe, a fazer o bem em troca do bem que lhe foi feito, a emprestar a quem lhe emprestou primeiro… Devemos retomar o ensinamento de Cristo, revestindo-nos de sentimentos bons para espelhar sua bondade e sua divindade. A radicalidade que ele nos propõe deveria ser refletida na comunidade cristã, com ações de caridade e serviço que visem sempre ao bem comum e à glória de Deus.

terça-feira, 9 de setembro de 2025

Lucas 6, 20-26 Anseio por um mundo novo.

20 Levantando os olhos para os discípulos, Jesus disse: “Felizes de vocês, os pobres, porque o Reino de Deus lhes pertence. 21 Felizes de vocês que agora têm fome, porque serão saciados. Felizes de vocês que agora choram, porque hão de rir. 22 Felizes de vocês se os homens os odeiam, se os expulsam, os insultam e amaldiçoam o nome de vocês, por causa do Filho do Homem. 23 Alegrem-se nesse dia, pulem de alegria, pois será grande a recompensa de vocês no céu, porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas. 24 Mas, ai de vocês, os ricos, porque já têm a sua consolação! 25 Ai de vocês, que agora têm fartura, porque vão passar fome! Ai de vocês, que agora riem, porque vão ficar aflitos e irão chorar! 26 Ai de vocês, se todos os elogiam, porque era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas.” Comentário: * 17-26: O povo vem de todas as partes ao encontro de Jesus, porque a ação dele faz nascer a esperança de uma sociedade nova, libertada da alienação e dos males que afligem os homens. Os vv. 20-26 proclamam o cerne de toda a atividade de Jesus: produzir uma sociedade justa e fraterna, aberta para a novidade de Deus. Para isso, é preciso libertar os pobres e famintos, os aflitos e os que são perseguidos por causa da justiça. Isso, porém, só se alcança denunciando aqueles que geram a pobreza e a opressão e depondo-os dos seus privilégios. Não é possível abençoar o pobre sem libertá-lo da pobreza. Não é possível libertar o pobre da pobreza sem denunciar o rico para libertá-lo da riqueza. O relato das bem-aventuranças apresentado por Lucas e que hoje lemos tem algumas particularidades em relação ao texto de Mateus. Há duas estrofes, com diferentes gêneros literários. As três bem-aventuranças se assemelham aos textos dos salmos e livros sapienciais (“Felizes vocês…”), enquanto as mal aventuranças (“ai de…”) aparecem muito nos Profetas. No seu conjunto, apresentam uma contraposição entre as coisas do alto e as coisas do mundo, enquanto sinônimo das riquezas passageiras, satisfações momentâneas e alegrias efêmeras. Às pessoas que aspiram aos fúteis bens terrenos, Jesus clama ao estilo profético: “ai de vocês”. Os seguidores de Cristo são chamados a aspirar às coisas de Deus, à bem-aventurança eterna, sabendo que, na terra, tudo passa, mas o Reino de Deus é para sempre. Meditemos profundamente cada frase, pois elas revelam o modo de ser cristão desejado por Jesus.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Lucas 6, 12-19 Os doze apóstolos.

* 12 Nesses dias, Jesus foi para a montanha a fim de rezar. E passou toda a noite em oração a Deus. 13 Ao amanhecer, chamou seus discípulos, e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: 14 Simão, a quem também deu o nome de Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; 15 Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelota; 16 Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que se tornou traidor. Anseio por um mundo novo -* 17 Jesus desceu da montanha com os doze apóstolos, e parou num lugar plano. Estava aí numerosa multidão de seus discípulos com muita gente do povo de toda a Judéia, de Jerusalém, e do litoral de Tiro e Sidônia. 18 Foram para ouvir Jesus e serem curados de suas doenças. E aqueles que estavam atormentados por espíritos maus, foram curados. 19 Toda a multidão procurava tocar em Jesus, porque uma força saía dele, e curava a todos. Comentários: * 12-16: Jesus escolhe os doze apóstolos, que formarão o núcleo da comunidade nova que ele veio criar. A palavra apóstolo significa aquele que Jesus envia para continuar a sua obra. * 17-26: O povo vem de todas as partes ao encontro de Jesus, porque a ação dele faz nascer a esperança de uma sociedade nova, libertada da alienação e dos males que afligem os homens. Os vv. 20-26 proclamam o cerne de toda a atividade de Jesus: produzir uma sociedade justa e fraterna, aberta para a novidade de Deus. Para isso, é preciso libertar os pobres e famintos, os aflitos e os que são perseguidos por causa da justiça. Isso, porém, só se alcança denunciando aqueles que geram a pobreza e a opressão e depondo-os dos seus privilégios. Não é possível abençoar o pobre sem libertá-lo da pobreza. Não é possível libertar o pobre da pobreza sem denunciar o rico para libertá-lo da riqueza. Em poucas linhas, Lucas condensa várias informações importantes sobre o ministério de Jesus, desde o seu costume de rezar sozinho até seu modo de atuar, passando pela escolha do grupo dos doze apóstolos que o ajudariam de modo mais próximo na missão. Uma nota própria de Lucas é a energia boa que de Jesus procede e que é capaz de curar todo aquele que o toca. Esses elementos nos ajudam a compreender como ser cristão hoje, unindo oração e ação. Pelo batismo, Cristo também nos chama a ser seus discípulos, do mesmo modo como chamou os apóstolos, a fim de continuarmos na nossa casa e comunidade a sua missão de ensinar e curar. A sociedade deveria reconhecer os discípulos de Cristo por serem pessoas edificadas e enraizadas nele, firmes na fé e servidoras do Evangelho.

Mateus 1, 1-16.18-23 Jesus, o Messias, realiza as promessas de Deus.

* 1 Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão. 2 Abraão foi o pai de Isaac; Isaac foi o pai de Jacó; 3 Jacó foi o pai de Judá e de seus irmãos. Judá, com Tamar, foi o pai de Farés e Zara; Farés foi o pai de Esrom; Esrom foi o pai de Aram. 4 Aram foi o pai de Aminadab; Aminadab foi o pai de Naasson; Naasson foi o pai de Salmon. 5 Salmon, com Raab, foi o pai de Booz; Booz, com Rute, foi o pai de Jobed; Jobed foi o pai de Jessé; 6 Jessé foi o pai de Davi. Davi, com aquela que foi mulher de Urias, foi o pai de Salomão. 7 Salomão foi o pai de Roboão; Roboão foi o pai de Abias; Abias foi o pai de Asa. 8 Asa foi o pai de Josafá; Josafá foi o pai de Jorão; Jorão foi o pai de Ozias. 9 Ozias foi o pai de Joatão; Joatão foi o pai de Acaz; Acaz foi o pai de Ezequias. 10 Ezequias foi o pai de Manassés; Manassés foi o pai de Amon; Amon foi o pai de Josias. 11 Josias foi o pai de Jeconias e de seus irmãos, no tempo do exílio na Babilônia. 12 Depois do exílio na Babilônia, Jeconias foi o pai de Salatiel; Salatiel foi o pai de Zorobabel. 13 Zorobabel foi o pai de Abiud; Abiud foi o pai de Eliaquim; Eliaquim foi o pai de Azor. 14 Azor foi o pai de Sadoc; Sadoc foi o pai de Aquim; Aquim foi o pai de Eliud. 15 Eliud foi o pai de Eleazar; Eleazar foi o pai de Matã; Matã foi o pai de Jacó. 16 Jacó foi o pai de José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Messias. O começo de uma nova história -* 18 A origem de Jesus, o Messias, foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. 19 José, seu marido, era justo. Não queria denunciar Maria, e pensava em deixá-la, sem ninguém saber. 20 Enquanto José pensava nisso, o Anjo do Senhor lhe apareceu em sonho, e disse: “José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. 21 Ela dará à luz um filho, e você lhe dará o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados.” 22 Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 23 “Vejam: a virgem conceberá, e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus está conosco.” Comentário: * 1-17: Em Jesus, continua e chega ao ápice toda a história de Israel. Sua árvore genealógica apresenta-o como descendente direto de Davi e Abraão. Como filho de Davi, Jesus é o Rei-Messias que vai instaurar o Reino prometido. Como filho de Abraão, ele estenderá o Reino a todos os homens, através da presença e ação da Igreja. * 18-25: Jesus não é apenas filho da história dos homens. É o próprio Filho de Deus, o Deus que está conosco. Ele inicia nova história, em que os homens serão salvos (Jesus = Deus salva) de tudo o que diminui ou destrói a vida e a liberdade (os pecados). Com a genealogia de Jesus, o autor deseja provar que ele é o filho de Davi e filho da humanidade, descendente de Abraão. Ao nomear quatro mulheres estrangeiras e “suspeitas” (Tamar, Raab, Rute e Betsabeia), o evangelista quer mostrar que a missão de Jesus é universal. A genealogia é uma forma de mostrar a ascendência de uma pessoa. A história é uma sucessão de gerações. Na sequência, o evangelista mostra o nascimento virginal de Jesus. Mateus sublinha que ele não é só filho da história humana (de Abraão e de Davi), mas também filho de Deus, pela ação do Espírito Santo. Deus que se encarna no seio de Maria. O Filho de Maria será chamado “Emanuel”, o Deus sempre conosco. Vindo do alto, Jesus se torna solidário com a humanidade, realizando as expectativas do povo. Com esta festa, a Igreja quer destacar a participação e a colaboração de Maria na história da salvação, porque ela gerou no seu ventre e deu à luz aquele que salva.

sábado, 6 de setembro de 2025

Lucas 14, 25-33 Para ser discípulo de Jesus.

* 25 Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele disse: 26 “Se alguém vem a mim, e não dá preferência mais a mim que ao seu pai, à sua mãe, à mulher, aos filhos, aos irmãos, às irmãs, e até mesmo à sua própria vida, esse não pode ser meu discípulo. 27 Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo. 28 De fato, se alguém de vocês quer construir uma torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? 29 Caso contrário, lançará o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso, começarão a caçoar, dizendo: 30 ‘Esse homem começou a construir e não foi capaz de acabar!’ 31 Ou ainda: Se um rei pretende sair para guerrear contra outro, será que não vai sentar-se primeiro e examinar bem, se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? 32 Se ele vê que não pode, envia mensageiros para negociar as condições de paz, enquanto o outro rei ainda está longe. 33 Do mesmo modo, portanto, qualquer de vocês, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo. Comentário: * 25-35: Seguir a Jesus e continuar o seu projeto (= ser discípulo) é viver um clima novo na relação com as pessoas, com as coisas materiais e consigo mesmo. Trata-se de assumir com liberdade e fidelidade a condição humana, sem superficialismo, conveniência ou romantismo. O discípulo de Jesus deve ser realista, a fim de evitar ilusões e covardias vergonhosas. O Mestre parece não se animar muito com as grandes multidões. Sabe que muitos dos que estão lá não têm grande interesse em ser um fiel seguidor comprometido com o projeto do Reino. Normalmente, nós nos animamos quando vemos grandes multidões participando de celebrações, presididas por ministros “famosos ou midiáticos”. Ao apresentar suas exigências, Jesus não se preocupa se serão muitos dispostos a trilhar o caminho com ele. Três vezes, o Evangelho repete: “não pode ser meu discípulo”. O texto apresenta três exigências do Mestre para segui-lo com fidelidade: 1) desapego afetivo: deixar os interesses da família para colaborar com ele; 2) disponibilidade para a cruz: a capacidade de assumir a “própria” cruz da fidelidade; 3) renúncia a tudo o que impede a concretização do projeto do Reino.

Filemon 1, 9-10.12-17 Uma nova relação entre os homens.

9 mas prefiro pedir por amor. Quem faz este pedido sou eu, o velho Paulo, agora também prisioneiro de Jesus Cristo. 10 Peço-lhe em favor de Onésimo, o filho que eu gerei na prisão. 12 Eu o mando de volta para você; ele é como se fosse meu próprio coração. 13* Gostaria que ele tivesse ficado comigo para me servir substituindo você, enquanto estou preso por causa do Evangelho. 14 Eu, porém, não quis fazer nada sem que você desse o seu consentimento. Não quero que a sua bondade seja forçada, mas espontânea. 15 Talvez Onésimo tenha sido afastado de você por algum tempo, para que você o tenha de volta para sempre. 16 Agora você o terá, não mais como escravo, mas muito mais do que escravo: você o terá como irmão querido; ele é querido para mim, e o será muito mais para você, seja como homem, seja como cristão. 17* Assim, se você me considera como irmão na fé, receba Onésimo como se fosse eu mesmo. Comentário: * 7-12: Paulo considera Onésimo como filho, porque foi graças a ele que Onésimo se converteu. O nome Onésimo significa “útil”. * 13-16: Pedindo que Filemon trate Onésimo como irmão, Paulo mostra que o Evangelho põe fim às diferenças entre os homens e esvazia completamente o estatuto da escravidão. * 17-20: Paulo assume inteira responsabilidade, propondo-se a pagar pessoalmente o dano causado pela fuga de Onésimo. Mas lembra também que Filemon foi convertido por Paulo, a quem deve, por isso, a própria vida. Desse modo, o Apóstolo mostra que há valores muito mais importantes do que qualquer dívida material.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Lucas 6, 1-5 Jesus liberta da lei.

* 1 Num dia de sábado, Jesus estava passando por uns campos de trigo. Os discípulos arrancavam e comiam as espigas, debulhando-as com as mãos. 2 Então alguns fariseus disseram: “Por que vocês estão fazendo o que não é permitido em dia de sábado?” 3 Jesus respondeu: “Então vocês não leram o que Davi e seus companheiros fizeram quando estavam sentindo fome? 4 Davi entrou na casa de Deus, pegou e comeu dos pães oferecidos a Deus, e ainda os deu a seus companheiros. No entanto, só os sacerdotes podem comer desses pães.” 5 E Jesus acrescentou: “O Filho do Homem é senhor do sábado.” Comentário: * 1-5: Sendo senhor do sábado, Jesus está acima das leis, mesmo religiosas, que os homens elaboram. Ele relativiza essas leis, mostrando que elas não têm sentido quando impedem o homem de ter acesso aos bens necessários para a própria sobrevivência. Os pães da oferta citados por Jesus eram doze pães dispostos em duas fileiras dentro do templo, sobre uma mesa diante do Santo dos santos. Eram renovados uma vez na semana, a cada sábado, e, por serem consagrados, só podiam ser comidos pelos sacerdotes. O exemplo citado aos fariseus tem por objetivo mostrar como as leis foram sendo deturpadas ao longo do tempo por uma leitura interesseira de certas pessoas e que Jesus está acima de qualquer lei humana, pois é o Filho de Deus e se orienta pela lei celeste. Ser discípulo de Jesus é muito mais do que ser cumpridor de normas, é essencialmente promover, em todos os âmbitos, a vida nova e restaurar a dignidade humana, tal como o fez Cristo, que é o caminho que nos conduz à vida verdadeira.

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Lucas 5, 33-39 Jesus provoca ruptura.

* 33 Eles disseram a Jesus: “Os discípulos de João, e também os discípulos dos fariseus, jejuam com frequência e fazem orações, mas os teus discípulos comem e bebem.” 34 Mas Jesus disse: “Vocês acham que os convidados de um casamento podem fazer jejum enquanto o noivo está com eles? 35 Mas vão chegar dias em que o noivo será tirado do meio deles; nesses dias eles vão jejuar.” 36 Jesus contou-lhes ainda uma parábola: “Ninguém tira retalho de roupa nova para remendar roupa velha; senão, vai rasgar a roupa nova, e o retalho novo não combina com a roupa velha. 37 Ninguém coloca vinho novo em barris velhos; porque, de fato, o vinho novo arrebenta os barris velhos, e se derrama, e os barris se perdem. 38 Vinho novo deve ser colocado em barris novos. 39 E ninguém, depois de beber vinho velho, deseja vinho novo, porque diz: o velho é melhor.” Comentário: * 33-39: Cf. nota em Mc 2,18-22. Lucas salienta que quem está habituado às estruturas do velho sistema, e não se predispõe à mudança, jamais aceita a novidade trazida por Jesus (v. 39). O jejum é símbolo da penitência, da preparação do nosso corpo para o encontro com o Messias. Uma vez que Cristo está presente, é motivo para festa, e não para jejum. Em outras palavras, Cristo dá início a uma vida nova, uma nova criação, por isso seus discípulos devem ser criaturas novas, com novas práticas, leis e doutrinas, que se baseiam unicamente no amor. Ser cristão é assumir uma relação íntima e pessoal com Jesus, é fundir nossos interesses e alegrias com os de Jesus, é seguir Jesus em tudo, na alegria e na dor, na festa e na cruz. Somente com uma mentalidade totalmente nova essa unidade é possível, a mentalidade que podemos encontrar nos apóstolos, que simbolizam a Igreja nascente.

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Lucas 5, 1-11 O seguimento de Jesus.

* 1 Certo dia, Jesus estava na margem do lago de Genesaré. A multidão se apertava ao seu redor para ouvir a palavra de Deus. 2 Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago; os pescadores haviam desembarcado, e lavavam as redes. 3 Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões. 4 Quando acabou de falar, disse a Simão: “Avance para águas mais profundas, e lancem as redes para a pesca.” 5 Simão respondeu: “Mestre, tentamos a noite inteira, e não pescamos nada. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes.” 6 Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes, que as redes se arrebentavam. 7 Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que fossem ajudá-los. Eles foram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem. 8 Ao ver isso, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” 9 É que o espanto tinha tomado conta de Simão e de todos os seus companheiros, por causa da pesca que acabavam de fazer. 10 Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também ficaram espantados. Mas Jesus disse a Simão: “Não tenha medo! De hoje em diante você será pescador de homens.” 11 Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo, e seguiram a Jesus. Comentário: * 1-11: A cena é simbólica. Jesus chama seus primeiros discípulos, mostrando-lhes qual a missão reservada a eles: fazer que os homens participem da libertação trazida por Jesus e que só pode realizar-se no seguimento dele, mediante a união com ele e sua missão. O convite ao seguimento é exigente: é preciso “deixar tudo”, para que nada impeça o discípulo de anunciar a Boa Notícia do Reino. Hoje Lucas narra o primeiro encontro de Jesus com Pedro e os irmãos Tiago e João, seus primeiros discípulos. O lago de Genesaré, onde pescavam, é o mesmo mar de Tiberíades (mencionado por João) ou mar da Galileia (em Marcos e Mateus). O Evangelho nos mostra que o esforço humano, sem Deus, não produz fruto, por isso Pedro exclama: “Trabalhamos duramente a noite toda e não pescamos nada”. A exclamação de Pedro é semelhante ao grito de muitos homens e mulheres de hoje, que dizem: “Trabalhei a minha vida toda para nada”. Um famoso autor contemporâneo, Byung-Chul Han, traduz esse fenômeno numa expressão que dá título ao seu livro mais conhecido: Sociedade do cansaço. Fala de uma sociedade que vive cansada por não ter objetivos claros, por não saber para onde ir. Nós, cristãos, podemos afirmar que a sociedade está “cansada” porque caminha sem Deus.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Lucas 4, 38-44 Ser livre para servir.

* 38 Jesus saiu da sinagoga, e foi para a casa de Simão. A sogra de Simão estava com febre alta, e pediram a Jesus em favor dela. 39 Inclinando-se para ela, Jesus ameaçou a febre, e esta deixou a mulher. Então, no mesmo instante, ela se levantou, e começou a servi-los. 40 Ao pôr do sol, todos os que tinham doentes atingidos por diversos males, os levavam a Jesus. Jesus colocava as mãos em cada um deles, e os curava. 41 De muitas pessoas também saíam demônios, gritando: “Tu és o Filho de Deus.” Jesus os ameaçava, e não os deixava falar, porque os demônios sabiam que ele era o Messias. Jesus anuncia o Reino -* 42 Ao raiar do dia, Jesus saiu, e foi para um lugar deserto. As multidões o procuravam, e, indo até ele, não queriam deixá-lo que fosse embora. 43 Mas Jesus disse: “Devo anunciar a Boa Notícia do Reino de Deus também para as outras cidades, porque para isso é que fui enviado.” 44 E Jesus pregava nas sinagogas da Judéia. Comentário: * 38-41: Cf. nota em Mc 1, 29-34: Para os antigos, a febre era de origem demoníaca. Libertos do demônio, os homens podem levantar-se e pôr-se a serviço. Os demônios reconhecem quem é Jesus, porque sentem que a palavra e ação dele ameaça o domínio que eles têm sobre o homem. * 42-44: A Boa Notícia do Reino é o amor de Deus que provoca a transformação radical das estruturas que escravizam os homens. Para anunciá-la, Jesus vai ao encontro daqueles que ainda não a conhecem. Lucas nos relata uma série de curas realizadas por Jesus, iniciando pela cura da sogra de Pedro. A proximidade assinalada pela imposição das mãos ou pelo toque é um elemento importante nesses relatos, pois realiza e expressa a transmissão do poder curador a cada doente em particular. No final, Jesus anuncia que deve ir a outros lugares, pois todos merecem receber o Evangelho da salvação. Seguir Jesus significa estar em constante movimento. Significa não se acomodar, mas estar em ação e ir ao encontro das pessoas e situações que necessitem de ajuda e apoio. Jesus cura, expulsa demônios, reza, ensina… Quem quiser segui-lo, deve fazer o mesmo, deixando que a Palavra produza frutos exteriores e interiores. Inspirado pelo Espírito, o discípulo de Jesus continua no mundo sua missão de semeador da esperança e da libertação.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Lucas 4, 31-37 Jesus liberta da alienação.

-* 31 Jesus foi a Cafarnaum, cidade da Galileia, e aí ensinava aos sábados. 32 As pessoas ficavam admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus falava com autoridade. 33 Na sinagoga havia um homem possuído pelo espírito de um demônio mau, que gritou em alta voz: 34 “O que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus!” 35 Jesus o ameaçou, dizendo: “Cale-se, e saia dele!” Então o demônio jogou o homem no chão, saiu dele, e não lhe fez mal nenhum. 36 O espanto tomou conta de todos, e eles comentavam entre si: “Que palavra é essa? Ele manda nos espíritos maus com autoridade e poder, e eles saem.” 37 E a fama de Jesus se espalhava em todos os lugares da redondeza. Comentário: * 31-37: Cf. nota em Mc 1,21-28: A ação demoníaca escraviza e aliena o homem, impedindo-o de pensar e de agir por si mesmo (por exemplo: ideologias, propagandas, estruturas, sistemas etc.): outros pensam e agem através dele. O primeiro milagre de Jesus é fazer o homem voltar à consciência e à liberdade. Só assim o homem pode segui-lo. Marcos não diz qual era o ensinamento de Jesus; contudo, mencionando-o junto com uma ação de cura, ele sugere que o ensinamento com autoridade repousa numa prática concreta de libertação: com sua ação Jesus interpreta as Escrituras de modo superior a toda a cultura dos doutores da Lei. O mal faz parte do mundo. De diversos modos, os poderes espirituais do mal conspiram contra o ser humano, mesmo nos lugares mais santos. Por isso rezamos regularmente, na oração que Jesus nos ensinou: “Livrai-nos do mal”. Ao vencer os demônios, símbolo do mal e do pecado, Jesus cumpre o plano de Deus. Sua ação messiânica é exatamente eliminar pela raiz esse poder que corrompe o ser humano e a sociedade. Através do testemunho de fé, o cristão (filho da luz) realiza a mesma missão e, por isso, deve constantemente denunciar e combater o mal que vê no mundo (as trevas). É interessante notar que a expressão “Santo de Deus”, utilizada nesta narrativa, aparece apenas uma vez no Evangelho de Lucas e outras duas em todo o Novo Testamento.