quinta-feira, 17 de março de 2022

Mateus 21, 33-43.45-46 Jesus acusa as autoridades.

33“Escutai esta outra parábola: certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas e construiu uma torre de guarda. Depois, arrendou-a a vinhateiros e viajou para o estrangeiro. 34Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. 35Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro e ao terceiro apedrejaram. 36O proprietário mandou de novo outros empregados, em maior número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma. 37Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho, pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’. 38Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’ 39Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram. 40Pois bem, quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?” 41Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo”. 42Então Jesus lhes disse: “Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos’? 43Por isso eu vos digo, o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos”. 45Os sumos sacerdotes e fariseus ouviram as parábolas de Jesus e compreenderam que estava falando deles. 46Procuraram prendê-lo, mas ficaram com medo das multidões, pois elas consideravam Jesus um profeta. Comentário: * 33-46: Cf. nota em Mc 12,1-12. Mateus salienta a formação de um novo povo de Deus, formado agora não por uma nação particular, mas por todos aqueles que acreditam, comprometendo-se com Jesus. A essência da parábola é contar algo considerado verdadeiro, mas de maneira simples, sutil e elegante. Jesus sabe utilizar muito bem esse recurso que tem como alvo, hoje, os chefes dos sacerdotes e anciãos. Jesus critica os líderes do povo porque estes não administram a obra de Deus como deveriam. As lideranças, de modo particular, bem como todas as pessoas envolvidas com a obra de Deus, são meros administradores que prestarão conta de seus atos. A missão desses líderes é produzir boas uvas, ou seja, proporcionar vida plena a todos que estão, de algum modo, sob seus cuidados. Quando, ao contrário, tais lideranças são geradoras de morte – e morte aqui entendida de diversas formas -, precisam ser afastadas e substituídas.

quarta-feira, 16 de março de 2022

Lucas 16, 19-31 O rico e o pobre.

19“Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias. 20Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico. 21Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas. 22Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. 23Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. 24Então gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’. 25Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. 26E, além disso, há um grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós e nem os daí poderiam atravessar até nós’. 27O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa do meu pai, 28porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento’. 29Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas, que os escutem!’ 30O rico insistiu: ‘Não, pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão se converter’. 31Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos'”. Comentário: * 19-31: A parábola é uma crítica à sociedade classista, onde o rico vive na abundância e no luxo, enquanto o pobre morre na miséria. O problema é o isolamento e afastamento em que o rico vive, mantendo um abismo de separação que o pobre não consegue transpor. Para quebrar esse isolamento, o rico precisa se converter. Nada o levará a essa conversão, se ele não for capaz de abrir o coração para a palavra de Deus, o que o leva a voltar-se para o pobre. Assim, mais do que explicação da vida no além, a parábola é exigência de profunda transformação social, para criar uma sociedade onde haja partilha de bens entre todos. A história apresentada no Evangelho de hoje pode nos possibilitar muitas leituras e interpretações. Contudo, é possível considerar que as consequências dos nossos atos serão assumidas por nós mesmos, e não por outras pessoas. Nem sempre nos é possível escolher como vivemos; pode haver diversas situações externas que dificultem a nossa vida; porém, entre os extremos, há o que chamamos de justo meio. E é nesse lugar que somos chamados a residir. Não nascemos para viver na miséria e na invisibilidade; também não somos chamados a viver no esbanjamento de uma vida vazia e superficial. Viver bem nesta vida é antecipar o Reino de Deus, ou seja, assumir o amor que promove a vida de todos como o marco da nossa existência. Todas as oportunidades nos são dadas para que cresçamos e amadureçamos como seres humanos, basta que estejamos atentos.

terça-feira, 15 de março de 2022

Mateus 20, 17-28 Autoridade é serviço.

17enquanto Jesus subia para Jerusalém, ele tomou os doze discípulos à parte e, durante a caminhada, disse-lhes: 18“Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos sumos sacerdotes e aos mestres da Lei. Eles o condenarão à morte 19e o entregarão aos pagãos para zombarem dele, para flagelá-lo e crucificá-lo. Mas no terceiro dia ressuscitará”. 20A mãe dos filhos de Zebedeu aproximou-se de Jesus com seus filhos e ajoelhou-se com a intenção de fazer um pedido. 21Jesus perguntou: “O que tu queres?” Ela respondeu: “Manda que estes meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda”. 22Jesus, então, respondeu-lhes: “Não sabeis o que estais pedindo. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?” Eles responderam: “Podemos”. 23Então Jesus lhes disse: “De fato, vós bebereis do meu cálice, mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. Meu Pai é quem dará esses lugares àqueles para os quais ele os preparou”. 24Quando os outros dez discípulos ouviram isso, ficaram irritados contra os dois irmãos. 25Jesus, porém, chamou-os e disse: “Vós sabeis que os chefes das nações têm poder sobre elas e os grandes as oprimem. 26Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser tornar-se grande torne-se vosso servidor; 27quem quiser ser o primeiro seja vosso servo. 28Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. Comentário: * 17-28: Cf. nota em Mc 10,32-45: Jesus anuncia a sua morte como consequência de toda a sua vida. Enquanto isso, Tiago e João sonham com poder e honrarias, suscitando discórdia e competição entre os outros discípulos. Jesus mostra que a única coisa importante para o discípulo é seguir o exemplo dele: servir e não ser servido. Em a nova sociedade que Jesus projeta, a autoridade não é exercício de poder, mas a qualificação para serviço que se exprime na entrega de si mesmo para o bem comum. A lógica do Reino de Deus subverte a lógica do mundo. Entre os seguidores de Jesus, como ele mesmo diz, se espera uma postura diferenciada, pois seus seguidores não são regidos pelas leis do mundo, mas pela lei do amor que reúne irmãos. Assumir esse caminho requer dos cristãos uma postura consciente e decidida. Não cabem aqui sentimentalismos, mas a certeza de que está sendo percorrido um caminho que, de fato, se decidiu percorrer. Escolher o serviço, do ponto de vista somente humano, não é aspiração de ninguém; desejamos, sim, privilégios e que sejamos servidos. Romper com essa forma de pensar significa nadar contra a correnteza e acreditar que as energias empenhadas nessa escolha estão sendo bem empregadas. No mínimo, seremos vistos como bobos; contudo, neste caso, ser bobo é estabelecer o novo para que o mundo seja melhor.

segunda-feira, 14 de março de 2022

Mateus 23, 1-12 Jesus condena a dominação intelectual.

1Jesus falou às multidões e aos seus discípulos e lhes disse: 2“Os mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. 3Por isso, deveis fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam. 4Amarram pesados fardos e os colocam nos ombros dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los nem sequer com um dedo. 5Fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros. Eles usam faixas largas, com trechos da Escritura, na testa e nos braços e põem na roupa longas franjas. 6Gostam de lugar de honra nos banquetes e dos primeiros lugares nas sinagogas. 7Gostam de ser cumprimentados nas praças públicas e de serem chamados de mestre. 8Quanto a vós, nunca vos deixeis chamar de mestre, pois um só é vosso Mestre e todos vós sois irmãos. 9Na terra, não chameis a ninguém de pai, pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus. 10Não deixeis que vos chamem de guias, pois um só é o vosso guia, Cristo. 11Pelo contrário, o maior dentre vós deve ser aquele que vos serve. 12Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado”. Comentário: * 23,1-12: Jesus critica os intelectuais e os líderes da classe dominante, que transformam o saber em poder, agindo hipocritamente e oprimindo o povo. Na nova comunidade de Jesus todos são irmãos, voltados para o serviço mútuo e reunidos em torno de Deus que é Pai, e de Jesus, que é o único líder e que veio para servir. Jesus, ao se dirigir às multidões e a seus discípulos, toca em questões práticas e, certamente, do dia a dia. Provavelmente, todos conheciam – e bem – a realidade mencionada por Jesus; contudo, colocar o dedo na ferida é comprometedor e pode ser perigoso. Jesus reconhece que os doutores da Lei e os fariseus são pessoas instruídas na fé e capazes de ensiná-la. Entretanto, para uns e outros falta coerência de vida. O que eles ensinam e cobram do povo não é vivido por eles. Aqui cabe aquele ditado: faça o que eu digo, não o que eu faço. Diante dessa situação, permanece, ao menos, um questionamento: por que algumas pessoas que têm responsabilidade de ensinar a fé não a vivem? Esse é um risco que também pode recair sobre nós, por isso, cabe a nós a revisão constante de nossa vida para que sejamos autênticos e coerentes.

domingo, 13 de março de 2022

Lucas 6, 36-38 A gratuidade nas relações.

36“Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso. Só Deus pode julgar -* 37Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. 38Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante será colocada no vosso colo; porque, com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos”. Comentário: * 27-36: A vida em sociedade é feita de relacionamentos de interesses e reciprocidade, que geram lucro, poder e prestígio. O Evangelho revoluciona o campo das relações humanas, mostrando que, numa sociedade justa e fraterna, as relações devem ser gratuitas, à semelhança do amor misericordioso do Pai. * 37-42: Cf. nota em Mt 7,1-5. Lucas salienta que as relações numa sociedade nova não devem ser de julgamento e condenação, mas de perdão e dom. Só Deus pode julgar. Aquilo que Jesus ensinou a seus discípulos atravessou séculos e é válido para nós ainda hoje. Jesus é desconcertantemente prático; contudo, engana-se quem considera que assumir na própria vida suas palavras seja fácil. Jesus pede de seus seguidores, de nós, a conversão do coração e da mente; que rompamos os esquemas que separam e tornam irmãos rivais e nos abramos à fraternidade plena e verdadeira. Não se trata aqui de um “jogo de conveniência”, mas de novo estilo de vida, em que a palavra de ordem é “amor”. Na dinâmica proposta por Jesus, não há maiores ou menores; grandes ou pequenos; superiores e inferiores. Jesus, com suas palavras, seus ensinamentos e sua vida, quer instaurar o Reino de Deus onde todos tenham lugar garantido e sua dignidade assegurada. Não somos juízes de ninguém; somos irmãos uns dos outros.

sábado, 12 de março de 2022

Filipenses 3, 17-4,1 A maturidade cristã

17Sede meus imitadores, irmãos, e observai os que vivem de acordo com o exemplo que nós damos. 18Já vos disse muitas vezes e agora o repito, chorando: há muitos por aí que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. 19O fim deles é a perdição, o deus deles é o estômago, a glória deles está no que é vergonhoso e só pensam nas coisas terrenas. 20Nós, porém, somos cidadãos do céu. De lá aguardamos o nosso Salvador, o Senhor, Jesus Cristo. 21Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas. Recomendações - 4,1Assim, meus irmãos, a quem quero bem e dos quais sinto saudade, minha alegria, minha coroa, meus amigos, continuai firmes no Senhor Comentário: * 15-21: A perfeição é a maturidade cristã que propõe a cruz e a ressurreição como centro da vida. Paulo, que deixou tudo em troca da fé em Cristo, se apresenta como modelo para a comunidade, alertando-a de novo quanto aos "inimigos da cruz de Cristo", isto é, aos judaizantes do v. 2. Em vez de fazer consistir a salvação em ritos, observâncias legais e estruturas, a vida cristã se orienta pelo testemunho, na esperança de um mundo radicalmente novo. Este só se realiza através da vinda de Jesus, como Salvador e Senhor que renova todas as coisas. * 4,1-9: Nada sabemos sobre as pessoas nomeadas nos vv. 2-3, a não ser que devem estar profundamente comprometidas com o trabalho de evangelização. Paulo parece jogar com o significado dos nomes (Evódia = "caminho fácil"; Síntique = "encontro"; Sízigo = "companheiro de canga"). A alegria cristã se baseia na salvação obtida por Cristo, e é testemunhada sobretudo pela bondade que se irradia para todos e pela tranqüila confiança em Deus. Os cristãos devem ser fiéis ao que aprenderam dos seus evangelizadores, mas também precisam estar abertos a todas as coisas sadias que encontram na sociedade.

sexta-feira, 11 de março de 2022

Mateus 5, 43-48 Amar como o Pai ama.

43“Vós ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ 44Eu, porém, vos digo, amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! 45Assim vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos. 46Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? 47E se saudais somente os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? 48Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”. Comentário: * 43-48: O Evangelho abre a perspectiva do relacionamento humano para além das fronteiras que os homens costumam construir. Amar o inimigo é entrar em relação concreta com aquele que também é amado por Deus, mas que se apresenta como problema para mim. Os conflitos também são uma tarefa do amor. O v. 48 é a conclusão e a chave para se compreender todo o conjunto formado por 5,17-47: os discípulos são convidados a um comportamento que os torne filhos testemunhando a justiça do Pai. Sobre os cobradores de impostos, cf. nota em Mc 2,13-17. O tempo da Quaresma é preparação imediata para a Páscoa do Senhor. Na Igreja primitiva, esse tempo era dedicado, de modo particular, à instrução dos catecúmenos, ou seja, daqueles e daquelas que receberiam o batismo na Vigília Pascal. Portanto, a liturgia da Palavra tem esse caráter preparatório ao batismo, pois, com o batismo, o velho homem era sepultado, dando, assim, lugar ao homem novo. E o homem novo, à semelhança do Ressuscitado, é chamado a estabelecer novas realizações. A novidade do Cristo e de seus ensinamentos se mostra nas atitudes novas desses homens e mulheres que eram reconhecidos como cristãos. Amar o inimigo, rezar por quem nos persegue, cumprimentar quem não é do nosso círculo eram desafios para quem conviveu com Jesus e para nós ainda hoje. E só em Deus somos capazes de dar essa resposta de fé.