quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Lucas 5, 1-11 O seguimento de Jesus.

-* 1 Certo dia, Jesus estava na margem do lago de Genesaré. A multidão se apertava ao seu redor para ouvir a palavra de Deus. 2 Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago; os pescadores haviam desembarcado, e lavavam as redes. 3 Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões. 4 Quando acabou de falar, disse a Simão: “Avance para águas mais profundas, e lancem as redes para a pesca.” 5 Simão respondeu: “Mestre, tentamos a noite inteira, e não pescamos nada. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes.” 6 Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes, que as redes se arrebentavam. 7 Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que fossem ajudá-los. Eles foram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem. 8 Ao ver isso, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” 9 É que o espanto tinha tomado conta de Simão e de todos os seus companheiros, por causa da pesca que acabavam de fazer. 10 Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também ficaram espantados. Mas Jesus disse a Simão: “Não tenha medo! De hoje em diante você será pescador de homens.” 11 Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo, e seguiram a Jesus. Comentário: * 5,1-11: A cena é simbólica. Jesus chama seus primeiros discípulos, mostrando-lhes qual a missão reservada a eles: fazer que os homens participem da libertação trazida por Jesus e que só pode realizar-se no seguimento dele, mediante a união com ele e sua missão. O convite ao seguimento é exigente: é preciso “deixar tudo”, para que nada impeça o discípulo de anunciar a Boa Notícia do Reino. Jesus está à beira do lago e sua preocupação primeira não é pescar peixes. Seu interesse se volta principalmente para a multidão que “se apertava ao redor dele para ouvir a Palavra de Deus”. E Jesus a ensinava. A importância desse fato é ilustrada pelo episódio que ocorre na sequência. Pela palavra de Jesus, houve abundância de peixes nas redes dos pescadores. Haverá também aproximação de multidões de pessoas para ouvir a Palavra de Deus, pela voz do discípulo do Senhor: “A partir de agora você vai ser pescador de gente”. A missão está inaugurada. Missionários são os discípulos e discípulas do Mestre de Nazaré. O tema da pregação é a Palavra de Deus. O sucesso da missão virá da humildade do evangelizador (“sou um pecador”) e do poder de Jesus: “Avance para águas mais profundas”.

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Lucas 4, 38-44 Ser livre para servir.

* 38 Jesus saiu da sinagoga, e foi para a casa de Simão. A sogra de Simão estava com febre alta, e pediram a Jesus em favor dela. 39 Inclinando-se para ela, Jesus ameaçou a febre, e esta deixou a mulher. Então, no mesmo instante, ela se levantou, e começou a servi-los. 40 Ao pôr do sol, todos os que tinham doentes atingidos por diversos males, os levavam a Jesus. Jesus colocava as mãos em cada um deles, e os curava. 41 De muitas pessoas também saíam demônios, gritando: “Tu és o Filho de Deus.” Jesus os ameaçava, e não os deixava falar, porque os demônios sabiam que ele era o Messias. Jesus anuncia o Reino -* 42 Ao raiar do dia, Jesus saiu, e foi para um lugar deserto. As multidões o procuravam, e, indo até ele, não queriam deixá-lo que fosse embora. 43 Mas Jesus disse: “Devo anunciar a Boa Notícia do Reino de Deus também para as outras cidades, porque para isso é que fui enviado.” 44 E Jesus pregava nas sinagogas da Judéia. Comentário: * 38-41: Cf. nota em Mc 1,29-34: Para os antigos, a febre era de origem demoníaca. Libertos do demônio, os homens podem levantar-se e pôr-se a serviço. Os demônios reconhecem quem é Jesus, porque sentem que a palavra e ação dele ameaça o domínio que eles têm sobre o homem. * 42-44: A Boa Notícia do Reino é o amor de Deus que provoca a transformação radical das estruturas que escravizam os homens. Para anunciá-la, Jesus vai ao encontro daqueles que ainda não a conhecem. O Evangelho de hoje expressa que Jesus veio para implementar o tempo novo. A sogra de Pedro é a representação da comunidade que precisa estar de pé, saudável, a serviço. O episódio é denso e significativo. Jesus age na simplicidade. O primeiro gesto é de aproximação. É assim que Deus faz: Ele se aproxima de nós. Ele não é do tipo que olha as pessoas de longe. É como um médico bom, que ao consultar o paciente se interessa por ele. A incessante atividade apostólica de Jesus é a expressão do agir de Deus que deseja uma humanidade saudável e plena de vida. A nossa vida cristã se realiza plenamente quando nos colocamos a serviço do próximo, obedientes à vontade de Deus.

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Lucas 4, 31-37 Jesus liberta da alienação.

* 31 Jesus foi a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e aí ensinava aos sábados. 32 As pessoas ficavam admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus falava com autoridade. 33 Na sinagoga havia um homem possuído pelo espírito de um demônio mau, que gritou em alta voz: 34 “O que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus!” 35 Jesus o ameaçou, dizendo: “Cale-se, e saia dele!” Então o demônio jogou o homem no chão, saiu dele, e não lhe fez mal nenhum. 36 O espanto tomou conta de todos, e eles comentavam entre si: “Que palavra é essa? Ele manda nos espíritos maus com autoridade e poder, e eles saem.” 37 E a fama de Jesus se espalhava em todos os lugares da redondeza. Comentário: * 31-37: Cf. nota em Mc 1,21-28: A ação demoníaca escraviza e aliena o homem, impedindo-o de pensar e de agir por si mesmo (por exemplo: ideologias, propagandas, estruturas, sistemas etc.): outros pensam e agem através dele. O primeiro milagre de Jesus é fazer o homem voltar à consciência e à liberdade. Só assim o homem pode segui-lo. Marcos não diz qual era o ensinamento de Jesus; contudo, mencionando-o junto com uma ação de cura, ele sugere que o ensinamento com autoridade repousa numa prática concreta de libertação: com sua ação Jesus interpreta as Escrituras de modo superior a toda a cultura dos doutores da Lei. A região da Galileia pode ser comparada às nossas periferias de hoje. Para lá Jesus desce a fim de proclamar e realizar o bem. O papa Francisco tem insistido para que a Igreja esteja em saída para as periferias geográficas e existenciais. O homem possuído pelo espírito de um demônio impuro está dentro da sinagoga. Isso é uma evidente crítica à estrutura de uma comunidade que também está doente. Jesus é autêntico, sua autoridade ameaça as forças do mal. Uma comunidade que alimenta e vive a íntima relação com Deus promove a libertação das pessoas e não se conforma com os sistemas injustos do mundo e da religião. Que, a exemplo de Jesus, possamos ser portadores de libertação e vida nova para as pessoas de nosso tempo.

domingo, 28 de agosto de 2022

Marcos 6, 17-29 O banquete da morte.

17 De fato, Herodes tinha mandado prender João, amarrá-lo e colocá-lo na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, com quem tinha casado, apesar de ser ela a mulher do seu irmão Filipe. 18 João dizia a Herodes: “Não é permitido você se casar com a mulher do seu irmão.” 19 Por isso, Herodíades ficou com raiva de João e queria matá-lo, mas não podia. 20 Com efeito, Herodes tinha medo de João, pois sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia. Gostava de ouvi-lo, embora ficasse embaraçado quando o escutava. 21 Finalmente chegou o dia oportuno. Era o aniversário de Herodes. E ele fez um banquete para os grandes da corte, os oficiais e os cidadãos importantes da Galiléia. 22 A filha de Herodíades entrou e dançou, agradando a Herodes e seus convidados. Então o rei disse à moça: “Peça o que quiser e eu darei a você.” 23 E jurou: “Juro que darei qualquer coisa que você me pedir, mesmo que seja a metade do meu reino.” 24 A moça saiu e perguntou à mãe: “O que vou pedir?” A mãe respondeu: ”A cabeça de João Batista.” 25 A moça correu para a sala e pediu ao rei: “Quero que me dê agora, num prato, a cabeça de João Batista.” 26 O rei ficou muito triste. Mas não pôde recusar, pois tinha feito o juramento na frente dos convidados. 27 Imediatamente o rei mandou que um soldado fosse buscar a cabeça de João. O soldado saiu, foi à prisão e cortou a cabeça de João. 28 Depois levou a cabeça num prato, deu à moça, e esta a entregou à sua mãe. 29 Ao saber disso, os discípulos de João foram, levaram o cadáver e o sepultaram. Comentário: * 14-29: A narração da morte de João Batista apresenta o destino de Jesus e dos que o seguem. A morte de João acontece dentro de um banquete de poderosos. Assim, o profeta que pregava o início de transformação radical é morto por aqueles que se sentem incomodados com essa transformação. João Batista, “o maior entre os nascidos de mulher”, segundo o elogio de Jesus, morre degolado por ordem de Herodes. O episódio se dá na fortaleza de Maqueronte, a leste do mar Morto. A celebração do martírio de São João Batista tem origens antigas (século V, na França; século VI, em Roma). Está vinculada à dedicação da igreja construída em Sebaste, na Samaria, sobre o suposto túmulo do Precursor de Cristo. Seu martírio se dá durante um banquete que Herodes oferecera “a seus magnatas, aos oficiais e às grandes personalidades da Galileia”. Nessa ocasião, o rei faz os caprichos da filha de Herodíades, que pede a cabeça de João. Tão sem juízo a filha quanto maligna e impiedosa a mãe. O profeta se vai, mas o seu testemunho de fidelidade a Deus permanece para sempre.

sábado, 27 de agosto de 2022

Lucas 14, 1.7-14 Festejar o sábado é dar vida aos homens.

* 1 Num dia de sábado aconteceu que Jesus foi comer em casa de um dos chefes dos fariseus, que o observavam. A verdadeira honra -* 7 Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou a eles uma parábola: 8 “Se alguém convida você para uma festa de casamento, não ocupe o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que você; 9 e o dono da casa, que convidou os dois, venha dizer a você: ‘Dê o lugar para ele’. Então você ficará envergonhado e irá ocupar o último lugar. 10 Pelo contrário, quando você for convidado, vá sentar-se no último lugar. Assim, quando chegar quem o convidou, ele dirá a você: ‘Amigo, venha mais para cima’. E isso vai ser uma honra para você na presença de todos os convidados. 11 De fato, quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado.” 12 Jesus disse também ao fariseu que o tinha convidado: “Quando você der um almoço ou jantar, não convide amigos, nem irmãos, nem parentes, nem vizinhos ricos. Porque esses irão, em troca, convidar você. E isso será para você recompensa. 13 Pelo contrário, quando você der uma festa, convide pobres, aleijados, mancos e cegos. 14 Então você será feliz! Porque eles não lhe podem retribuir. E você receberá a recompensa na ressurreição dos justos.” Comentário: * 14,1-6: A lei do sábado deve ser interpretada como libertação e vida para o homem. * 7-14: Nos vv. 8-11, Jesus critica o conceito de honra baseado no orgulho e ambição, que geram aparências de justiça, mas escondem os maiores contrastes sociais. A honra do homem depende de Deus, o único que conhece a situação real e global do homem; essa honra supera a crença que o homem pode ter nos seus próprios méritos. Nos vv. 12-14, Jesus mostra que o amor verdadeiro não é comércio, mas serviço gratuito, pois o pobre não pode pagar e o inimigo não pode merecer. Só Deus pode retribuir ao amor gratuito. Em dia de sábado, Jesus faz uma breve parada para se alimentar na casa de um chefe dos fariseus. Quando percebe que está sendo observado e diante do comportamento dos convidados, que escolhem os primeiros lugares, o Mestre de Nazaré conta uma parábola: a honra não consiste em escolher o primeiro lugar, mas sim ser convidado para ocupar o primeiro lugar. Os convidados a ocupar o primeiro lugar são os pobres e humilhados. Como é próprio de Lucas, ele coloca os pobres em primeiro lugar, pois eles não têm possibilidade de escolha. Com isso, Jesus ensina que seus seguidores precisam se colocar no último lugar, onde se encontram os empobrecidos, os primeiros convidados ao banquete do Reino de Deus. A parábola que Jesus conta ao chefe dos fariseus ensina a prática da gratuidade. A primeira preocupação deve ser em favor dos mais pobres, pois estes não têm condições de retribuir. Somos chamados a fazer o bem sem esperar recompensa. Desse procedimento gratuito é que nasce a felicidade da pessoa. A sociedade moderna incentiva a competição, a luta a todo custo pelos primeiros lugares e o lucro, como sendo absolutos. O jovem de hoje é incentivado a chegar ao topo, custe o que custar, mesmo pisando nos outros. Busquemos o exemplo do Mestre, que nos ensina a gratuidade nas relações.

Hebreus 12, 18-19.22-24 Não rejeitem o dom de Deus.

* 18 Vocês não se aproximaram de uma realidade palpável. Ali havia fogo ardente, escuridão, trevas, tempestade, 19 som de trombeta e ruído de palavras. E as pessoas que ouviram isso, suplicaram que Deus não dissesse mais nada, 22 Entretanto, vocês se aproximaram do monte Sião e da Jerusalém celeste, a cidade do Deus vivo. Vocês se aproximaram de milhares de anjos reunidos em festa, 23 e da assembleia dos primogênitos, que têm o nome inscrito no céu. Vocês se aproximaram de Deus, que é juiz de todos. Vocês se aproximaram dos espíritos justos que chegaram à meta final, 24 e de Jesus, o mediador de uma nova aliança. Vocês se aproximaram do sangue da aspersão, que fala muito mais alto que o sangue de Abel. Comentário: * 18-29: A aliança do Sinai realizou-se dentro de um clima terrível e fascinante (cf. Ex 19-20; Dt 4,11; 9,19). A nova aliança, porém, é uma realidade de paz e confiança: chegou o tempo da presença de Deus no Cristo ressuscitado. O modo de viver de Israel é apenas uma pista para a conduta da Igreja; e voltar para a religião insuficiente de ontem seria desprezar o dom de Deus, que é justo e julga continuamente a humanidade, exigindo verdade e justiça.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Mateus 25, 14-30 Esperar, arriscando.

* 14 “Acontecerá como um homem que ia viajar para o estrangeiro. Chamando seus empregados, entregou seus bens a eles. 15 A um deu cinco talentos, a outro dois, e um ao terceiro: a cada qual de acordo com a própria capacidade. Em seguida, viajou para o estrangeiro. 16 O empregado que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles, e lucrou outros cinco. 17 Do mesmo modo o que havia recebido dois lucrou outros dois. 18 Mas, aquele que havia recebido um só, saiu, cavou um buraco na terra, e escondeu o dinheiro do seu patrão. 19 Depois de muito tempo, o patrão voltou, e foi ajustar contas com os empregados. 20 O empregado que havia recebido cinco talentos, entregou-lhe mais cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco que lucrei’. 21 O patrão disse: ‘Muito bem, empregado bom e fiel! Como você foi fiel na administração de tão pouco, eu lhe confiarei muito mais. Venha participar da minha alegria’. 22 Chegou também o que havia recebido dois talentos, e disse: ‘Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei’. 23 O patrão disse: ‘Muito bem, empregado bom e fiel! Como você foi fiel na administração de tão pouco, eu lhe confiarei muito mais. Venha participar da minha alegria’. 24 Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento, e disse: ‘Senhor, eu sei que tu és um homem severo pois colhes onde não plantaste, e recolhes onde não semeaste. 25 Por isso, fiquei com medo, e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. 26 O patrão lhe respondeu: ! “Empregado mau e preguiçoso! Você sabia que eu colho onde não plantei, e que recolho onde não semeei. 27 Então você devia ter depositado meu dinheiro no banco, para que, na volta, eu recebesse com juros o que me pertence’. 28 Em seguida o patrão ordenou: ‘Tirem dele o talento, e dêem ao que tem dez. 29 Porque, a todo aquele que tem, será dado mais, e terá em abundância. Mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. 30 Quanto a esse empregado inútil, joguem-no lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes.” Comentário: * 14-30: Não basta estar preparado, esperando passivamente a manifestação de Jesus. É preciso arriscar e lançar-se à ação, para que os dons recebidos frutifiquem e cresçam. Jesus confiou à comunidade cristã a revelação da vontade de Deus e a chave do Reino. No julgamento, ele pedirá contas por esse dom. A comunidade o repartiu e o fez crescer, ou o escondeu dos homens? A parábola, contada por Jesus no Evangelho de hoje, nos lembra que cada um de nós tem capacidades peculiares. Deus nos concedeu responsabilidades próprias para agirmos no mundo. A fé não deve ser escondida, porque é ela que ilumina nossa ação. A multiplicação dos dons acontece quando, mesmo diante de nossas fragilidades e insuficiências, não cedemos ao fracasso. Nós pertencemos a Cristo e, a exemplo dele, devemos anunciar a Boa-nova, fazendo-a circular em toda parte. Deus nos confiou uma missão. Nossa atitude é trabalhar pela causa do Reino de Deus. Multipliquemos nossos dons com atitudes de bondade, compaixão e misericórdia. Assim, receberemos de Deus a alegre acolhida: “Muito bem, servo bom e fiel”.