sexta-feira, 7 de março de 2025
Lucas 5, 27-32 Jesus rejeita a hipocrisia social.
* 27 Depois disso, Jesus saiu, e viu um cobrador de impostos chamado Levi, que estava na coletoria. Jesus disse para ele: “Siga-me.” 28 Levi deixou tudo, levantou-se, e seguiu a Jesus. 29 Depois, Levi preparou em casa um grande banquete para Jesus. Estava aí numerosa multidão de cobradores de impostos e outras pessoas sentadas à mesa com eles. 30 Os fariseus e seus doutores da Lei murmuravam, e diziam aos discípulos de Jesus: “Por que vocês comem e bebem com os cobradores de impostos e com pecadores?” 31 Jesus respondeu: “As pessoas que têm saúde não precisam de médico, mas só as que estão doentes. 32 Eu não vim para chamar justos, e sim pecadores para o arrependimento.”
Comentário:
* 27-32: Cf. nota em Mc 2,13-17: Os cobradores de impostos eram desprezados e marginalizados porque colaboravam com a dominação romana, cobrando imposto e, em geral, aproveitando para roubar. Jesus rompe os esquemas sociais que dividem os homens em bons e maus, puros e impuros. Chamando um cobrador de impostos para ser seu discípulo, e comendo com os pecadores, Jesus mostra que sua missão é reunir e salvar aqueles que a sociedade hipócrita rejeita como maus.
Parece uma contradição a liturgia, no tempo em que nos orienta ao jejum e à abstinência, apresentar o relato de um banquete, ainda mais na casa de um pecador público. O que isso quer ensinar-nos? Em primeiro lugar, que Jesus veio ao mundo para iluminar os pecadores e resgatar os que estão perdidos, assim como o médico se dedica a curar os doentes. São esses os que mais precisam de Jesus para encontrar o caminho de vida nova, pois somente quando cessar toda forma de opressão, quando os pobres não tiverem mais fome ou medo, a luz de Deus iluminará o mundo, como anunciou Isaías. Temos ainda um ensinamento que nos conduz à conversão: a exemplo da transformação de vida de Levi, que, de cobrador de impostos injusto, se torna caridoso e seguidor fiel do Mestre, todo cristão é chamado à conversão e à mudança de vida.
quinta-feira, 6 de março de 2025
Mateus 9, 14-15 Jesus provoca ruptura.
* 14 Então os discípulos de João se aproximaram de Jesus, e perguntaram: “Nós e os fariseus fazemos jejum. Por que os teus discípulos não fazem jejum?” 15 Jesus respondeu: “Vocês acham que os convidados de um casamento podem estar de luto, enquanto o noivo está com eles? Mas chegarão dias em que o noivo será tirado do meio deles. Aí então eles vão jejuar.
Comentário:
* 14-17: Cf. nota em Mc 2,18-22. Jesus veio substituir o sistema da Lei, rigidamente seguido pelos fariseus. A justiça que vem da misericórdia abre as portas do Reino para todos.
O tema central de hoje é o jejum. Como qualquer outra prática religiosa, o jejum pode tornar-se algo puramente exterior, sem transformar o coração do ser humano. A intenção de Jesus não é abolir o jejum, mas renovar seu significado. Aos que criticam os discípulos por não seguirem o preceito do jejum, Jesus dá uma resposta bastante clara: sua presença é motivo de festa; depois que ele partir, os discípulos jejuarão. O jejum que todos devem praticar é revelado pelo profeta Isaías: pôr em liberdade os oprimidos, libertar os cativos, lutar contra toda forma de injustiça, repartir o pão com quem tem fome, dar abrigo ao pobre. Cristo convida os cristãos a renovarem o próprio coração, abstendo-se das más inclinações, para que possam saborear plenamente a Páscoa do Senhor, alimento para a vida eterna. Por isso, a Igreja é convidada a jejuar ao longo de todo o tempo quaresmal, para que a privação do alimento físico nos conduza à abstinência dos fermentos do pecado.
quarta-feira, 5 de março de 2025
Lucas 9, 22-25 Jesus é o Messias.
22 E acrescentou: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar no terceiro dia.” 23 Depois Jesus disse a todos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga. 24 Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim, esse a salvará. 25 De fato, que adianta um homem ganhar o mundo inteiro, se perde e destrói a si mesmo?
Comentário:
* 18-27: Não basta declarar e aceitar que Jesus é o Messias; é preciso rever a ideia a respeito do Messias, o qual, para construir a nova história, enfrenta os que não querem transformações. Por isso, ele vai sofrer, ser rejeitado e morto. Sua ressurreição será a sua vitória. E quem quiser acompanhar Jesus na sua ação messiânica e participar da sua vitória, terá que percorrer caminho semelhante: renunciar a si mesmo e às glórias do poder e da riqueza.
Após a confissão de Pedro, reconhecendo Jesus como Messias, é a vez de Jesus se pronunciar e revelar seu futuro na terra. Ao predizer seu destino de cruz, mostra as exigências feitas a quem quer segui-lo: “renuncie a si mesmo, carregue sua cruz a cada dia e me siga”. Jesus mesmo nos dá o exemplo, ao aceitar o destino de ser pregado na cruz pela salvação da humanidade. Antes de oferecer a cruz, ele próprio a carrega, assim como pratica a renúncia antes de propô-la aos seus discípulos. Jesus é verdadeiro Mestre, que ensina através do seu exemplo. Não é um masoquista que propõe o sofrimento aleatório. Quando fala das dores e da entrega da própria vida, está simbolicamente dizendo que devemos privilegiar a dimensão espiritual para sermos dignos do Reino. E isso comporta diversas renúncias e algumas mortificações; afinal, “de que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, e perder ou destruir a si mesmo?”.
terça-feira, 4 de março de 2025
Mateus 6, 1-6.16-18 Superar a justiça dos hipócritas.
* 1 “Prestem atenção! Não pratiquem a justiça de vocês diante dos homens, só para serem elogiados por eles. Fazendo assim, vocês não terão a recompensa do Pai de vocês que está no céu.”
Relação com o próximo -* 2 “Por isso, quando você der esmola, não mande tocar trombeta na frente, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa. 3 Ao contrário, quando você der esmola, que a sua esquerda não saiba o que a sua direita faz, 4 para que a sua esmola fique escondida; e seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.”
Relação com Deus -* 5 “Quando vocês rezarem, não sejam como os hipócritas, que gostam de rezar em pé nas sinagogas e nas esquinas, para serem vistos pelos homens. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa. 6 Ao contrário, quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu Pai ocultamente; e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.”
Relação consigo mesmo -* 16 “Quando vocês jejuarem, não fiquem de rosto triste, como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto para que os homens vejam que estão jejuando. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa. 17 Quando você jejuar, perfume a cabeça e lave o rosto, 18 para que os homens não vejam que você está jejuando, mas somente seu Pai, que vê o escondido; e seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.”
Comentário:
* 6,1: O termo justiça se refere, aqui, a atitudes práticas em relação ao próximo (esmola), a Deus (oração), e a si mesmo (jejum). Jesus não nega o valor dessas práticas. Ele mostra como devem ser feitas para que se tornem autênticas.
* 2-4: A esmola é um gesto de partilha, e deve ser o sinal da compaixão que busca a justiça, relativizando o egoísmo da posse. Dar esmola para ser elogiado é servir a si mesmo e, portanto, falsificá-la.
* 5-6: Na oração, o homem se volta para Deus, reconhecendo-o como único absoluto, e reconhecendo a si mesmo como criatura, relativizando a autossuficiência. Por isso, rezar para ser elogiado é colocar-se como centro, falsificando a oração.
* 16-18: Jejuar é privar-se de algo imediato e necessário, a fim de ver perspectivas novas e mais amplas para a realização da vida. Trata-se de deixar o egocentrismo, para crescer e dispor-se a realizar novo projeto de justiça. Jejuar para aparecer é perder de uma vez o sentido do jejum.
A Igreja abre a Quaresma propondo o Evangelho de Mateus, o qual apresenta três práticas muito comuns em diversas religiões: a esmola (caridade), a oração e o jejum. O Evangelho desta Quarta-feira de Cinzas chama a atenção para a forma de vivê-las: de forma discreta, sem a busca de aplausos ou interesses e sem exibicionismo. A postura externa deve corresponder à realidade interior. O que está em questão não são as “obras de piedade” em si mesmas, mas o uso que os “hipócritas” fazem delas. Essas três práticas são como que a síntese do nosso relacionamento e nosso compromisso com os outros (esmola), com Deus (oração) e consigo mesmo (jejum). A esmola é um gesto de amor que nos leva à felicidade; o jejum não é somente privar-se do alimento, é também dividir com o faminto; e para que a oração chegue a Deus, é só colocar nela as asas da esmola e do jejum (cf. Santo Agostinho). Hoje, tem início também a Campanha da Fraternidade.
2 Coríntios 5, 20-6,2 O ministério da reconciliação.
20 Sendo assim exercemos a função de embaixadores em nome de Cristo, e é por meio de nós que o próprio Deus exorta vocês. Em nome de Cristo, suplicamos: reconciliem-se com Deus. 21 Aquele que nada tinha a ver com o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que por meio dele sejamos reabilitados por Deus.
1 Visto que somos colaboradores de Deus, nós exortamos vocês para que não recebam a graça de Deus em vão. 2 Pois Deus diz na Escritura: ! “Eu escutei você no tempo favorável, e no dia da salvação vim em seu auxílio.” É agora o momento favorável. É agora o dia da salvação.
Comentário:
* 5,14-6,2: Os inimigos de Paulo dizem que ele não é apóstolo porque não foi testemunha ocular da vida terrestre de Jesus, nem lhe conheceu as palavras e atos. Por isso, não pode ser testemunha do Evangelho. No entanto, o Apóstolo mostra que o Evangelho não é simples história de Jesus, e sim o anúncio de sua morte e ressurreição, que restaura a condição humana, vence a alienação causada pelo pecado e inaugura nova era. A cruz de Jesus anuncia o fim da inimizade com Deus e inaugura a era da reconciliação universal. Enquanto esperamos o dia da ressurreição, Deus escolheu apóstolos para exercer o ministério da reconciliação. Por meio deles, o Senhor Jesus continua sua atividade na terra e convoca todos os homens: “reconciliem-se com Deus”.
segunda-feira, 3 de março de 2025
Marcos 10,28-31 O Reino é dom e partilha.
28 Pedro começou a dizer a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos.” 29 Jesus respondeu: “Eu garanto a vocês: quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e da Boa Notícia, 30 vai receber cem vezes mais. Agora, durante esta vida, vai receber casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, junto com perseguições. E, no mundo futuro, vai receber a vida eterna. 31 Muitos que agora são os primeiros serão os últimos, e muitos que agora são os últimos serão os primeiros.”
Comentário:
* 17-31: Para entrar no Reino (ou vida eterna) é preciso mais do que observar leis ou regras. O Reino é dom de Deus aos homens, e nele tudo deve ser partilhado entre todos. Isso significa repartir as riquezas em vista de uma igualdade, abolindo o sistema classista. É por isso que os ricos ficam tristes e dificilmente entram no Reino. E o que acontece quando a gente deixa tudo para seguir a Jesus e continuar o seu projeto? Encontra nova sociedade, embora em meio à perseguição, e já vive a certeza da plenitude que virá.
Para compreendermos bem o Evangelho de hoje, é preciso retomar a reflexão que a liturgia nos propôs ontem. Vimos que, para ser verdadeiros discípulos, precisamos renunciar a todos os ídolos, sobretudo o dinheiro e os bens materiais, e nos abrir plenamente a Deus, nosso único Senhor. A recompensa desse esforço é apresentada no Evangelho de hoje, ou seja, todo aquele que conseguir deixar casa, família, campos ou qualquer outro bem material receberá cem vezes mais. Isso significa que a observância dos Mandamentos, a esmola e a prática da justiça são tão agradáveis a Deus quanto o sacrifício e a oferta ritual. Ao mesmo tempo que temos uma participação ativa na Eucaristia, devemos agir dignamente, refletindo nos relacionamentos o nosso amor a Deus e ao próximo. A recompensa de tudo isso é que receberemos cem vezes mais de tudo aquilo que dermos, pois seremos membros de uma grande família que é a Igreja.
domingo, 2 de março de 2025
Marcos 10, 17-27 O Reino é dom e partilha.
* 17 Quando Jesus saiu de novo a caminhar, um homem foi correndo, ajoelhou-se diante dele e perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” 18 Jesus respondeu: “Por que você me chama de bom? Só Deus é bom, e ninguém mais. 19 Você conhece os mandamentos: não mate; não cometa adultério; não roube; não levante falso testemunho; não engane; honre seu pai e sua mãe.” 20 O homem afirmou: “Mestre, desde jovem tenho observado todas essas coisas.” 21 Jesus olhou para ele com amor, e disse: “Falta só uma coisa para você fazer: vá, venda tudo, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me.” 22 Quando ouviu isso, o homem ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque ele era muito rico.
23 Jesus então olhou em volta e disse aos discípulos: “Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!” 24 Os discípulos se admiraram com o que Jesus disse. Mas ele continuou: “Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25 É mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus!” 26 Os discípulos ficaram muito espantados quando ouviram isso, e perguntavam uns aos outros: “Então, quem pode ser salvo?” 27 Jesus olhou para os discípulos e disse: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível.”
Comentário:
* 17-31: Para entrar no Reino (ou vida eterna) é preciso mais do que observar leis ou regras. O Reino é dom de Deus aos homens, e nele tudo deve ser partilhado entre todos. Isso significa repartir as riquezas em vista de uma igualdade, abolindo o sistema classista. É por isso que os ricos ficam tristes e dificilmente entram no Reino. E o que acontece quando a gente deixa tudo para seguir a Jesus e continuar o seu projeto? Encontra nova sociedade, embora em meio à perseguição, e já vive a certeza da plenitude que virá.
Obviamente, não é a riqueza em si que impede o ser humano de se aproximar de Deus e do Reino, mas a ganância e a dificuldade de partilhar. Se não conseguimos colocar o que temos à disposição dos necessitados, não somos dignos do Reino. Esse é o verdadeiro significado da família cristã, muito bem expresso nos Atos dos Apóstolos. Se somos todos irmãos, devemos nos ajudar mutuamente em todas as necessidades: espirituais e físicas. É interessante notar que Jesus começa a interrogar o homem rico enumerando os mandamentos relativos ao próximo. Aparentemente, o rico cumpria à risca tais mandamentos. Seu problema era a incapacidade de seguir o primeiro e maior mandamento: amar a Deus sobre todas as coisas. Ou seja, a riqueza conduz à idolatria, levando a pessoa a preferir o dinheiro e os bens materiais a Deus.
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