sexta-feira, 30 de junho de 2023

Mateus 8, 5-17 As fronteiras do Reino.

-* 5 Jesus estava entrando em Cafarnaum, quando um oficial romano se aproximou dele, suplicando: 6 “Senhor, meu empregado está em casa, de cama, sofrendo muito com uma paralisia.” 7 Jesus respondeu: “Eu vou curá-lo.” 8 O oficial disse: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa. Dize uma só palavra e meu empregado ficará curado. 9 Pois eu também obedeço a ordens e tenho soldados sob minhas ordens. E digo a um: vá, e ele vai; e a outro: venha, e ele vem; e digo ao meu empregado: faça isso, e ele faz.” 10 Quando ouviu isso, Jesus ficou admirado, e disse aos que o seguiam: “Eu garanto a vocês: nunca encontrei uma fé igual a essa em ninguém de Israel! 11 Eu digo a vocês: muitos virão do Oriente e do Ocidente, e se sentarão à mesa no Reino do Céu junto com Abraão, Isaac e Jacó. 12 Enquanto os herdeiros do Reino serão jogados nas trevas exteriores onde haverá choro e ranger de dentes.” 13 Então Jesus disse ao oficial: “Vá, e seja feito conforme você acreditou.” E nessa mesma hora o empregado do oficial ficou curado. Ser livre para servir -* 14 Jesus foi para a casa de Pedro, e viu a sogra de Pedro deitada, com febre. 15 Então Jesus tocou a mão dela, e a febre a deixou. Ela se levantou, e começou a servi-los. Jesus é o Servo de Javé -* 16 À tarde, levaram a Jesus muitas pessoas que estavam possuídas pelo demônio. Jesus, com a sua palavra, expulsou os espíritos e curou todos os doentes, 17 para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías: “Ele tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas doenças.” Comentário: * 5-13: Atendendo ao pedido de um pagão, Jesus mostra que as fronteiras do Reino vão muito além do mundo estreito da pertença a uma origem privilegiada. A fronteira agora é a fé na palavra libertadora de Jesus. Mesmo pertencendo ao grupo dos que se consideram salvos, se não houver essa fé, também não haverá possibilidade de entrar no Reino de Deus. * 14-15: A presença de Jesus na comunidade liberta as pessoas do mal. Em resposta, as pessoas libertas se põem a serviço da comunidade. * 16-17: Mateus mostra o sentido das curas realizadas por Jesus. Citando Is 53,4, ele apresenta Jesus como o Servo de Javé, que liberta os homens de tudo aquilo que os aliena e oprime (demônios). Centurião, em cuja casa um judeu observante da Lei não podia entrar, era o chefe de cem soldados a serviço dos romanos. Um deles aproxima-se de Jesus e lhe pede a cura de seu empregado. Jesus diz que irá à casa dele. Porém, constatando o alto grau de fé do centurião, Jesus o elogia. Destaca-o como figura exemplar para todos os povos: “Em Israel não encontrei ninguém que tivesse tanta fé”. Jesus segue fazendo prodígios: cura a sogra de Pedro e, ao entardecer, cura todos os doentes que lhe são apresentados, além de expulsar muitos demônios. O Reino de Deus se manifesta concretamente em Jesus, que “assumiu nossas fraquezas e carregou nossas doenças”.

Mateus 8, 1-4 Jesus purifica.

-* 1 Quando Jesus desceu da montanha, grandes multidões começaram a segui-lo. 2 Eis que um leproso aproximou-se e ajoelhou-se diante de Jesus, dizendo: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar.” 3 Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero, fique purificado.” No mesmo instante o homem ficou purificado da lepra. 4 Então Jesus lhe disse: “Não conte isso a ninguém! Vá pedir ao sacerdote para examinar você, e depois faça a oferta que Moisés mandou, a fim de que seja um testemunho para eles.” Comentário: *1-4: O leproso era um marginalizado da vida social (Lv 13,45-46). Através da cura, Jesus o reintegra na comunidade (Lv 14). O verdadeiro cumprimento da Lei não é declarar quem é puro ou impuro, mas fazer com que a pessoa fique purificada. Poucos versículos, porém densos de conteúdo. Jesus causa uma reviravolta na sociedade do seu tempo. Os leprosos carregavam o peso da marginalização religiosa e social. Por sua condição de impuros, e conforme o que se ensinava na sinagoga, eles pensavam estar excluídos do acesso ao Reino de Deus. Um desses infelizes percebe em Jesus a predileção pelos abandonados, a manifestação da bondade de Deus, o cumprimento da promessa de libertação dos oprimidos. Rompe a barreira e encurta a distância que o separa do Mestre, que lhe favorece a aproximação e lhe atende o pedido: “Estendeu a mão e, tocando nele, Jesus disse: ‘Eu quero. Fique purificado'”. Em torno de Jesus fervilha a vida, o mal se retrai, irrompe o mundo novo: é o encontro da misericórdia de Deus com a fé do ser humano.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

Mateus 7, 21-29 A fé é uma prática.

-* 21 “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino do Céu. Só entrará aquele que põe em prática a vontade do meu Pai, que está no céu. 22 Naquele dia muitos me dirão: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantos milagres?’ 23 Então, eu vou declarar a eles: Jamais conheci vocês. Afastem-se de mim, malfeitores!” Passar para a ação -* 24 “Portanto, quem ouve essas minhas palavras e as põe em prática, é como o homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha. 25 Caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com força contra a casa, mas a casa não caiu, porque fora construída sobre a rocha. 26 Por outro lado, quem ouve essas minhas palavras e não as põe em prática, é como o homem sem juízo, que construiu sua casa sobre a areia. 27 Caiu a chuva, vieram as enxurradas, os ventos sopraram com força contra a casa, e a casa caiu, e a sua ruína foi completa!” A autoridade de Jesus -* 28 Quando Jesus acabou de dizer essas palavras, as multidões ficaram admiradas com o seu ensinamento, 29 porque Jesus ensinava como alguém que tem autoridade, e não como os doutores da Lei. Comentário: * 21-23: Nem mesmo o ato de fé mais profundo da comunidade, que é o reconhecimento de Jesus como o Senhor, faz que alguém entre no Reino. Se o ato de fé pela palavra não for acompanhado de ações, é vazio e sem sentido. A expressão “naquele dia” indica o Juízo final e nos remete a Mt 25,31-46, onde são mostradas as ações que qualificam o autêntico reconhecimento de Jesus como Senhor. * 24-27: Construir a casa sobre a rocha é viver e agir de acordo com a justiça do Reino apresentada no Sermão da Montanha. Construir a casa sobre a areia é ficar na teoria, sem passar para a prática. * 28-29: A autoridade de Jesus não se baseia em tradições ou sistemas, e sim na sua própria pessoa. Ele vive e pratica o que ensina aos outros. Na conclusão do sermão da montanha, Jesus nos estimula a pôr em prática todos os seus ensinamentos e deixa claro que o autêntico herdeiro do Reino é quem cumpre a vontade de Deus. O voto de aprovação depende das obras boas realizadas para a glória de Deus e o bem do próximo. Outros sinais, mesmo extraordinários e sob invocação do nome do Senhor, se não forem acompanhados da sinceridade de coração, mas realizados por motivos desonestos, serão reprovados “naquele dia”, momento de prestar contas. Não basta ficar só rezando e repetindo o nome de Deus sem arregaçar as mangas e partir para a prática da justiça. Quem fizer a vontade do Pai celeste, revelada por Jesus nos Evangelho

terça-feira, 27 de junho de 2023

Mateus 7, 15-20 Cuidado com as falsas promessas.

* 15 “Cuidado com os falsos profetas: eles vêm a vocês vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes. 16 Vocês os conhecerão pelos frutos deles: por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas? 17 Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz maus frutos. 18 Uma árvore boa não pode dar frutos maus, e uma árvore má não pode dar bons frutos. 19 Toda árvore que não der bons frutos, será cortada e jogada no fogo. 20 Pelos frutos deles é que vocês os conhecerão.” Comentário: * 15-20: “Nada se parece tanto com um verdadeiro profeta, como um falso profeta.” As ideologias que nos afastam da opção fundamental pelo Reino e sua justiça são cheias de fascínio, e sempre trazem a aparência de humanidade e até mesmo de fé. Só poderemos perceber a sua falsidade através daquilo que elas produzem na sociedade: a cobiça e a sede de poder, que levam à exploração e opressão. No Antigo Testamento, os falsos profetas eram o tormento dos verdadeiros profetas de Deus. Prometiam o que não podiam dar; eram complacentes com os vícios humanos, em vez de corrigi-los. Não faltarão, nas comunidades cristãs, os falsos profetas contra os quais Jesus previne seus discípulos (cf. Mt 24,11). São pessoas mal-intencionadas. É necessário cada um ficar atento aos “frutos” que elas produzem. Se forem gente do bem, farão obras boas. Se não, serão como balões portadores de vento! A advertência de Jesus atinge, antes de tudo, as lideranças religiosas: sua vida é reflexo daquilo que pregam? Mas é um apelo a todos os cristãos: mais que uma doutrina que se deve conhecer, o cristianismo é uma forma de vida; então cabe aqui a pergunta: quais são os frutos que estou produzindo para o Reino de Deus?

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Mateus 7, 6. 12-14 Saber discernir.

-* 6 “Não deem aos cães o que é santo, nem atirem pérolas aos porcos; eles poderiam pisá-las com os pés e, virando-se, despedaçar vocês.” A regra de ouro -* 12 “Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles. Pois nisso consistem a Lei e os Profetas.” O Reino exige esforço -* 13 “Entrem pela porta estreita, porque é larga a porta e espaçoso o caminho que levam para a perdição, e são muitos os que entram por ela! 14 Como é estreita a porta e apertado o caminho que levam para a vida, e são poucos os que a encontram!” Comentário: * 6: Esta sentença provavelmente significa que é desperdício e perigo anunciar o Reino aos que não estão preocupados com ele. Se ligada à sentença sobre os dois senhores (Mt 6,24), poderia significar que é inútil e até perigoso anunciar os princípios evangélicos àqueles cujo deus são as riquezas. O coração deles está em outro lugar; fizeram outra opção fundamental. Em todo caso, a sentença parece fora de contexto, e é de difícil interpretação. * 12: No tempo de Jesus, “Lei e Profetas” indicava todo o Antigo Testamento. Esta “regra de ouro” convida-nos a ter para com os outros a mesma preocupação que temos espontaneamente para com nós mesmos. Não se trata de visão calculista - dar para receber -, mas de uma compreensão do que seja o amor do Pai. * 13-14: Tanto a opção fundamental pelo Reino e sua justiça (entrar pela porta), como continuar nessa busca fundamental (caminho), não são fáceis. A escolha verdadeira nunca será feita pelos indecisos e acomodados. Estes ficam relutando, ou escolhem a estrada mais larga proposta pelos ídolos. Não é prudente falar de Deus e do seu projeto de vida e libertação a pessoas que se julgam autossuficientes, que desprezam a religião e seus símbolos sagrados. Seria desperdício total. As coisas sagradas, dentre elas a Palavra de Deus, devem ser oferecidas a quem tem o coração aberto para acolhê-las com respeito. Jesus retoma a máxima chamada “regra de ouro”. Coloca-a em chave positiva: fazer aos outros o que desejaríamos que nos fizessem. Para praticar essa norma em todos os momentos, temos de prestar atenção à realidade do outro, colocar-nos no seu lugar, enfim, sair de nós mesmos. A caridade aqui é entendida como atitude de amor sem limite, sem esperar retribuição. Isso faz parte do “caminho estreito” pelo qual se supera o egoísmo e se alcança a salvação.

domingo, 25 de junho de 2023

Mateus 7, 1-5 Ninguém pode julgar.

* 1 “Não julguem, e vocês não serão julgados. 2 De fato, vocês serão julgados com o mesmo julgamento com que vocês julgarem, e serão medidos com a mesma medida com que vocês medirem. 3 Por que você fica olhando o cisco no olho do seu irmão, e não presta atenção à trave que está no seu próprio olho? 4 Ou, como você se atreve a dizer ao irmão: ‘deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando você mesmo tem uma trave no seu? 5 Hipócrita, tire primeiro a trave do seu próprio olho, e então você enxergará bem para tirar o cisco do olho do seu irmão.” Comentário: * 1-5: Deus nos julga com a mesma medida que usamos para os outros. O rigor do nosso julgamento sobre o nosso próximo (cisco) mostra que desconhecemos a nossa própria fragilidade e a nossa condição de pecadores diante de Deus (trave). Jesus se posiciona contra o julgamento arrogante. Trata-se do julgamento que despreza e condena. Emitir juízo sobre alguém é, no mínimo, imprudente. Primeiro, porque toda pessoa é um mistério; não está em nosso poder conhecer-lhe o interior, o que pensa e o que sente. Segundo, porque mesmo que sejamos testemunhas oculares de suas atitudes, corremos o risco de interpretá-las erroneamente, não raro movidos por preconceito ou má-fé. Não fomos criados para condenar, e sim para amar. Eis por que Jesus nos deixa um recado sensato e mais que oportuno: “Tire primeiro a trave de seu olho, e então você verá bem para tirar o cisco do olho de seu irmão”. Tarefa para a vida inteira, já que corrigir os próprios defeitos não é fácil nem automático: requer intenso e perseverante trabalho espiritual.

sábado, 24 de junho de 2023

Lucas 1, 5-17 Deus ouve o pedido dos pobres.

-* 5 No tempo de Herodes, rei da Judéia, havia um sacerdote chamado Zacarias. Era do grupo de Abias. Sua esposa se chamava Isabel, e era descendente de Aarão. 6 Os dois eram justos diante de Deus: obedeciam fielmente a todos os mandamentos e ordens do Senhor. 7 Não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e os dois já eram de idade avançada. 8 Certa ocasião, Zacarias fazia o serviço religioso no Templo, pois era a vez do seu grupo realizar as cerimônias. 9 Conforme o costume do serviço sacerdotal, ele foi sorteado para entrar no Santuário, e fazer a oferta do incenso. 10 Na hora do incenso, toda a assembleia do povo estava rezando no lado de fora. 11 Então apareceu a Zacarias um anjo do Senhor. Estava de pé, à direita do altar do incenso. 12 Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e cheio de medo. 13 Mas o anjo disse: “Não tenha medo, Zacarias! Deus ouviu o seu pedido, e a sua esposa Isabel vai ter um filho, e você lhe dará o nome de João. 14 Você ficará alegre e feliz, e muita gente se alegrará com o nascimento do menino, 15 porque ele vai ser grande diante do Senhor. Ele não beberá vinho, nem bebida fermentada e, desde o ventre materno, ficará cheio do Espírito Santo. 16 Ele reconduzirá muitos do povo de Israel ao Senhor seu Deus. 17 Caminhará à frente deles, com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto.” Comentário: * 5-25: A esterilidade e velhice marcam a vida desse casal justo, e o tornam objeto de humilhação pública. Zacarias e Isabel representam a comunidade dos pobres e oprimidos, que dependem de Deus. Deus se volta para esses pobres: deles nascerá João, o último profeta da antiga Aliança. João abrirá o caminho para a chegada do Messias, que iniciará a história da libertação dos pobres (cf. nota em Ml 3,22-24).