domingo, 11 de junho de 2023

Mateus 5, 1-12 Bem-aventuranças: anseio por um mundo novo.

-* 1 Jesus viu as multidões, subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos se aproximaram, 2 e Jesus começou a ensiná-los: 3 “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. 4 Felizes os aflitos, porque serão consolados. 5 Felizes os mansos, porque possuirão a terra. 6 Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7 Felizes os que são misericordiosos, porque encontrarão misericórdia. 8 Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. 9 Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10 Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu. 11 Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim. 12 Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês.” Comentário: * 5-7: O Sermão da Montanha é um resumo do ensinamento de Jesus a respeito do Reino e da transformação que esse Reino produz. Moisés tinha recebido a Lei na montanha do Sinai; agora Jesus se apresenta como novo Moisés, proclamando sobre a montanha a vontade de Deus que leva à libertação do homem. * 1-12: As bem-aventuranças são o anúncio da felicidade, porque proclamam a libertação, e não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino através da palavra e ação de Jesus. Estas tornam presente no mundo a justiça do próprio Deus. Justiça para aqueles que são inúteis ou incômodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza que explora e no poder que oprime. Os que buscam a justiça do Reino são os “pobres em espírito.” Sufocados no seu anseio pelos valores que a sociedade injusta rejeita, esses pobres estão profundamente convictos de que eles têm necessidade de Deus, pois só com Deus esses valores podem vigorar, surgindo assim uma nova sociedade. As bem-aventuranças estão inseridas no sermão da montanha, resumo do ensinamento de Jesus a respeito do Reino e da transformação que esse Reino produz. Aos discípulos, Jesus promete a felicidade não apenas no céu, mas também a que se pode experimentar ao longo desta vida. A felicidade brota de uma série de valores sobre os quais se assenta o Reino de Deus: pobreza, humildade, justiça, misericórdia, pureza de coração, sofrimento por causa da justiça. As bem-aventuranças questionam os nossos critérios habituais e os critérios de uma sociedade que caminha exatamente na direção contrária e que se funda em pseudovalores: ganância, exploração e várias outras formas de injustiça. Em outro discurso, Jesus recomenda: “Busquem primeiro o Reino de Deus e sua justiça” (Mt 6,33).

sábado, 10 de junho de 2023

Mateus 9, 9-13 Justiça e misericórdia.

-* 9 Saindo daí, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos, e lhe disse: “Siga-me!” Ele se levantou, e seguiu a Jesus. 10 Estando Jesus à mesa em casa de Mateus, muitos cobradores de impostos e pecadores foram e sentaram-se à mesa com Jesus e seus discípulos. 11 Alguns fariseus viram isso, e perguntaram aos discípulos: “Por que o mestre de vocês come com os cobradores de impostos e os pecadores?” 12 Jesus ouviu a pergunta e respondeu: “As pessoas que têm saúde não precisam de médico, mas só as que estão doentes. 13 Aprendam, pois, o que significa: ‘Eu quero a misericórdia e não o sacrifício’. Porque eu não vim para chamar justos, e sim pecadores.” Comentário: * 9-13: Cf. nota em Mc 2,13-17. Com a citação de Oséias 6,6, Mateus esclarece o sentido da missão de Jesus: a justiça do Reino é inseparável da misericórdia. Jesus chama para o seu grupo de discípulos um cobrador de impostos. Ora, os cobradores de impostos estavam a serviço dos ocupantes romanos, e muitas vezes cometiam abusos e exploravam o povo. Eram classificados pelos fariseus como “pecadores”. Jesus faz Mateus passar da escravidão do dinheiro para a liberdade de segui-lo, já que “ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6,24). Os fariseus, porém, que se julgam sadios e santos, ficam escandalizados e murmuram ao ver Jesus fazendo refeição entre cobradores de impostos e pecadores. Na qualidade de agente da presença salvadora de Deus, Jesus cita o profeta Oseias (6,6), e deixa claro o motivo pelo qual se mistura com esse grupo: “Vão e aprendam o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício’… Eu não vim chamar justos, e sim pecadores”.

Romanos 4, 18-25 O que é ter fé.

-* 18 Esperando contra toda esperança, Abraão acreditou e tornou-se o pai de muitas nações, conforme foi dito a ele: “Assim será a sua descendência.” 19 Ele não fraquejou na fé, embora já estivesse vendo o próprio corpo sem vigor - ele tinha quase cem anos - e o ventre de Sara já estivesse amortecido. 20 Diante da promessa divina, ele não duvidou, mas foi fortalecido pela fé e deu glória a Deus. 21 Ele estava plenamente convencido de que Deus podia realizar o que havia prometido. 22 Eis o motivo pelo qual isso lhe foi creditado como justiça. 23 Ora, não é para um só que está escrito: “Isso lhe foi creditado”; 24 mas também para nós. Será igualmente creditado para nós, pois acreditamos naquele que ressuscitou dos mortos, Jesus nosso Senhor, 25 o qual foi entregue à morte pelos nossos pecados e foi ressuscitado para nos tornar justos. Comentário: * 18-25: Ter fé e entregar a própria vida a Deus é esperar contra toda esperança. Abraão acreditou que ia ser pai quando sua velhice e a esterilidade de Sara diziam o contrário. A justiça de Abraão é a fé confiante de que Deus pode realizar tudo o que promete. Nós também somos justificados por Deus quando acreditamos que ele ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos, para nos livrar da morte do pecado e nos dar a vida nova.

sexta-feira, 9 de junho de 2023

Marcos 12, 38-44 Jesus condena a dominação intelectual.

-* 38 E Jesus continuava ensinando: “Tenham cuidado com os doutores da Lei. Eles gostam de andar com roupas compridas, de ser cumprimentados nas praças públicas; 39 gostam dos primeiros lugares nas sinagogas e dos lugares de honra nos banquetes. 40 No entanto, exploram as viúvas e roubam suas casas, e para disfarçar fazem longas orações. Por isso eles vão receber uma condenação mais severa.” A verdadeira atitude religiosa -* 41 Jesus estava sentado diante do Tesouro do Templo e olhava a multidão que depositava moedas no Tesouro. Muitos ricos depositavam muito dinheiro. 42 Então, chegou uma viúva pobre, e depositou duas pequenas moedas, que valiam uns poucos centavos. 43 Então Jesus chamou os discípulos, e disse: “Eu garanto a vocês: essa viúva pobre depositou mais do que todos os outros que depositaram moedas no Tesouro. 44 Porque todos depositaram do que estava sobrando para eles. Mas a viúva na sua pobreza depositou tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver.” Comentário: * 38-40: Jesus critica os intelectuais da classe dominante, que transformam o saber em poder, aproveitando-se da própria situação para viverem ricamente à custa das camadas mais pobres do povo. Disfarçando tal exploração com orações, isto é, com motivo religioso, tornam-se ainda mais culpados. * 41-44: Enquanto os doutores da Lei “exploram as viúvas e roubam suas casas”, uma viúva pobre deposita no Tesouro do Templo “tudo o que possuía para viver”. É o único fato positivo que Jesus vê em Jerusalém. Por isso proclama solenemente esse gesto (“eu garanto a vocês”), em contraposição à solenidade ostensiva dos ricos. Mostra, assim, o significado dessa oferta: as relações econômicas que devem vigorar numa sociedade que crê em Deus são as relações de doação total, que deixam as próprias seguranças, e não as relações baseadas no supérfluo. Duas imagens contrastantes. De um lado, a exploração e a vaidade: homens letrados, os doutores da Lei. Do outro lado, a pobreza extrema e a generosidade: a mulher marginalizada, a viúva pobre. Jesus pede nossa atenção para os dois quadros. Primeiramente observar os doutores da Lei, para não imitar suas atitudes, pois fazem tudo para se colocarem em evidência pelas roupas, lugares de honra e busca de aplausos da sociedade. Pior que isso é o fato de explorarem pessoas que, pela própria condição, já vivem na pobreza extrema. Depois, Jesus nos convida a imitar o comportamento da viúva: sem recursos, mas desapegada, a ponto de depositar no cofre do templo tudo o que tinha para sua sobrevivência. Na comunidade cristã, não são os títulos e honrarias que contam, mas a generosidade discreta.

Marcos 12, 35-37 Jesus está acima de Davi.

* 35 Jesus ensinava no Templo, dizendo: “Como é que os doutores da Lei falam que o Messias é filho de Davi? 36 O próprio Davi, movido pelo Espírito Santo, falou: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: sente-se à minha direita, até que eu ponha seus inimigos debaixo de seus pés’. 37 Portanto, o próprio Davi chama o Messias de Senhor. Como é que ele pode então ser seu filho?” E uma grande multidão o escutava com gosto. Comentário: * 35-37: O título “filho de Davi” indicava a origem e o projeto do Messias: o descendente iria refazer a família real e a glória do reino de Davi. Mas Jesus critica essa concepção do Messias. Ele está acima de Davi e não veio instaurar uma monarquia. Da descendência de Davi virá o Messias. Será um rei guerreiro e vitorioso que irá restaurar a glória de Israel como nação, libertando o povo do domínio estrangeiro, por meio da força? Essa era a mentalidade corrente, não só entre os dirigentes, mas também entre o povo simples. Jesus corrige essa maneira de pensar, citando o salmo 110, que Davi teria pronunciado sob inspiração do Espírito Santo. O argumento de Jesus é o seguinte: não pode ser filho/sucessor de Davi aquele que Davi chama de Senhor, pois ao chamá-lo Senhor, Davi declara ser servo desse futuro rei. Portanto, o Messias (Jesus) é muito superior a Davi em dignidade, e seu reino será muito mais amplo que o de Davi. Jesus afasta decididamente a ideia fomentada pelos doutores da Lei a respeito de um Messias nacionalista.

quarta-feira, 7 de junho de 2023

João 6, 51-58 Jesus é o pão que sustenta para sempre.

-* 51 E Jesus continuou: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá para sempre. E o pão que eu vou dar é a minha própria carne, para que o mundo tenha a vida.” 52 As autoridades dos judeus começaram a discutir entre si: “Como pode esse homem dar-nos a sua carne para comer?” 53 Jesus respondeu: “Eu garanto a vocês: se vocês não comem a carne do Filho do Homem e não bebem o seu sangue, não terão a vida em vocês. 54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. 55 Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. 56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue vive em mim e eu vivo nele. 57 E como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, assim, aquele que me receber como alimento viverá por mim. 58 Este é o pão que desceu do céu. Não é como o pão que os pais de vocês comeram e depois morreram. Quem come deste pão viverá para sempre.” Comentário: * 51-59: A vida definitiva se encontra justamente na condição humana de Jesus (carne): Jesus é o Filho de Deus que se encarnou para dar vida aos homens, isto é, para viver em favor dos homens. A vida definitiva começa quando os homens, comprometendo-se com Jesus, aceitam a própria condição humana e vivem em favor dos outros. E Jesus dá um passo além: ele vai oferecer sua própria vida (carne e sangue) em favor dos homens. Por isso, o compromisso com Jesus exige que também o fiel esteja disposto a dar a própria vida em favor dos outros. A Eucaristia é o sacramento que manifesta eficazmente na comunidade esse compromisso com a encarnação e a morte de Jesus. Esse discurso de Jesus vai se tornar mais claro à luz da instituição da Eucaristia. Aqui ele fala de comer a sua carne e beber o seu sangue. Era naturalmente linguagem estranha aos ouvidos dos discípulos, pois para eles beber o sangue, centro da vida, era severamente proibido. Ao instituir a Eucaristia, Jesus cumpre a promessa de nos dar o seu corpo como alimento e o seu sangue como bebida. Carne e sangue equivalem à totalidade da pessoa humana. Para realizar seu desejo, isto é, dar a sua vida para a vida do mundo, Jesus escolheu o pão e o vinho, sobre os quais pronunciou as palavras “isto é o meu corpo”, “isto é o meu sangue”. É como se Jesus dissesse: “Isto sou eu: peguem e comam”. A Eucaristia é forte apelo à comunhão dos cristãos. Estes constituem a Igreja, e a Igreja é “corpo de Cristo”.

1 Coríntios 10, 16-17 Não pactuar com a idolatria.

16 O cálice da bênção que nós abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo? 17 E como há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, pois participamos todos desse único pão. Comentário: * 14-22: Participar do culto é entrar em comunhão com a divindade cultuada. Paulo opõe radicalmente a Eucaristia aos banquetes sagrados dos cultos pagãos, dizendo que é urgente a opção e coerência dos cristãos. Ao mesmo tempo salienta o lugar central da celebração eucarística: a Eucaristia expressa e cria a unidade do Corpo de Cristo, que é a Igreja.