domingo, 31 de julho de 2022

Mateus 14, 13-21 O banquete da vida.

-* 13 Quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu, e foi de barca para um lugar deserto e afastado. Mas, quando as multidões ficaram sabendo disso, saíram das cidades, e o seguiram a pé. 14 Ao sair da barca, Jesus viu grande multidão. Teve compaixão deles, e curou os que estavam doentes. 15 Ao entardecer, os discípulos chegaram perto de Jesus, e disseram: “Este lugar é deserto, e a hora já vai adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar alguma coisa para comer.” 16 Mas Jesus lhes disse: “Eles não precisam ir embora. Vocês é que têm de lhes dar de comer.” 17 Os discípulos responderam: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes.” 18 Jesus disse: “Tragam isso aqui.” 19 Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama. Depois pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu, pronunciou a bênção, partiu os pães, e os deu aos discípulos; os discípulos distribuíram às multidões. 20 Todos comeram, ficaram satisfeitos, e ainda recolheram doze cestos cheios de pedaços que sobraram. 21 O número dos que comeram era mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças. Comentário: * 13-21: Cf. nota em Mc 6,31-44. Mateus salienta o comportamento de Jesus: ele não é fanático, querendo enfrentar imediatamente Herodes; mas também não é fatalista, deixando as coisas correr como estão. Ele continua fiel à missão de servir ao seu povo. Reúne e alimenta as multidões sofredoras, realizando os sinais de um novo modo de vida e de anúncio do Reino. A Eucaristia é o sacramento-memória dessa presença de Jesus, lembrando continuamente qual é a missão a que nós, cristãos, fomos chamados. A comunidade dos seguidores de Jesus é convidada a sentir compaixão da multidão faminta de vida e dignidade. “Vocês é que devem dar-lhes de comer” é o lembrete do Mestre. Na partilha e solidariedade acontece o milagre. Quando há o senso comunitário verdadeiro, ninguém fica com fome. Longe da lógica do egoísmo e do consumismo desenfreado, tão em voga na nossa sociedade, somos também chamados a saciar a fome de justiça de tantos irmãos e irmãs, que se encontram em situações desumanas. O caminho já foi mostrado por Jesus, e o povo simples na sua sabedoria também nos ensina: “O pouco com Deus é muito, o muito sem Deus é nada”

sábado, 30 de julho de 2022

Lucas 12, 13-21 A vida é dom de Deus.

* 13 Do meio da multidão, alguém disse a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo.” 14 Jesus respondeu: “Homem, quem foi que me encarregou de julgar ou dividir os bens entre vocês?” 15 Depois Jesus falou a todos: “Atenção! Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens.” 16 E contou-lhes uma parábola: “A terra de um homem rico deu uma grande colheita. 17 E o homem pensou: ‘O que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita’. 18 Então resolveu: ‘Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. 19 Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!’ 20 Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?’ 21 Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus.” Comentário: * 13-21: No caminho da vida, o homem depara com o problema das riquezas. Jesus mostra que é idiotice acumular bens para assegurar a própria vida. Só Deus pode dar ao homem a riqueza que é a própria vida. Rumo a Jerusalém e rodeado de grande multidão, Jesus é procurado por alguém que lhe pede ajuda numa questão de herança com o irmão. O Mestre responde que não veio para resolver questões de heranças de famílias. Ele não deseja ser juiz conciliador, mas companheiro que quer ajudar a entender e apontar os motivos que levam ao empobrecimento e aos conflitos entre as pessoas. A parábola a seguir contesta a concentração da riqueza e mostra que isso é loucura ou insensatez diante de Deus. Por trás da concentração, da não partilha, estão a ganância do acúmulo e a perda do sentido da vida. Cuidado com todo tipo de ganância, pois a vida não é garantida por causa dela, diz Jesus. Esse homem é “louco, insensato”, pretende tornar-se absoluto, pensando ter garantido a vida por muitos anos, mas a vida é dom de Deus, e ele não se deixa comprar por riqueza alguma. Enquanto pensa encher os próprios celeiros, o rico acaba esvaziando seu coração. A pessoa egoísta torna-se prisioneira da própria ganância, desumaniza-se e se esvazia de toda dignidade. Quando a riqueza não é dividida, ela acaba dividindo as pessoas, provocando conflitos: tornando as pessoas “mais importantes” ou “menos importantes”. “Ilusão das ilusões, tudo é ilusão” (Ecl 12,8).

Colossenses 3, 1-5.9-11 Procurar as coisas do alto.

* 1 Se vocês foram ressuscitados com Cristo, procurem as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. 2 Pensem nas coisas do alto, e não nas coisas da terra. 3 Vocês estão mortos, e a vida de vocês está escondida com Cristo em Deus. 4 Quando Cristo se manifestar, ele que é a nossa vida, então vocês também se manifestarão com ele na glória. Vida nova em Cristo -* 5 Façam morrer aquilo que em vocês pertence à terra: fornicação, impureza, paixão, desejos maus e a cobiça de possuir, que é uma idolatria. 9 Não mintam uns aos outros. De fato, vocês foram despojados do homem velho e de suas ações, 10 e se revestiram do homem novo que, através do conhecimento, vai se renovando à imagem do seu Criador. 11 E aí já não há grego nem judeu, circunciso ou incircunciso, estrangeiro ou bárbaro, escravo ou livre, mas apenas Cristo, que é tudo em todos. Comentário: * 3,1-4: Paulo não despreza as realidades terrestres. “Procurar as coisas do alto” significa descobrir a vida nova revelada em Jesus Cristo. O cristão já participa da vida que Jesus vive no mistério de Deus. Essa participação deve crescer e concretizar-se cada vez mais na história; quando Jesus estiver plenamente manifesto através do testemunho dos cristãos, então essa participação também se tornará completamente manifesta. Estes, conhecendo a vida de Cristo, são capazes de discernir e criticar tudo o que não conduz à plena realização humana. * 5-17: Através do batismo, os cristãos passam por uma transformação radical: deixam de pertencer à velha humanidade corrompida (homem velho) e começam a pertencer à nova humanidade (homem novo), que é a criação realizada em Cristo, o novo Adão, imagem de Deus (1,15). Na comunidade cristã, semente da nova humanidade, não se admitem distinções de raça, religião, cultura ou classe social: todos são iguais e participam igualmente da vida de Cristo. A transformação é coisa prática: deixar as ações que visam egoisticamente aos próprios interesses, em troca de ações a serviço da reconciliação mútua e do bem comum.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Mateus 14, 1-12 O banquete da morte.

-* 1 Naquele tempo, Herodes, governador da Galiléia, ouviu falar da fama de Jesus. 2 Disse então a seus oficiais: “Ele é João Batista, que ressuscitou dos mortos. É por isso que os poderes agem nesse homem.” 3 De fato, Herodes tinha mandado prender João, amarrá-lo e colocá-lo na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, a mulher do seu irmão. 4 Porque João dizia a Herodes: “Não é permitido você se casar com ela.” 5 Herodes queria matar João, mas tinha medo da multidão, porque esta considerava João um profeta. 6 Quando chegou o aniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou diante de todos, e agradou a Herodes. 7 Então Herodes prometeu com juramento que lhe daria tudo o que ela pedisse. 8 Pressionada pela mãe, ela disse: “Dê-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista.” 9 O rei ficou triste, mas por causa do juramento na frente dos convidados, ordenou que atendessem o pedido dela, 10 e mandou cortar a cabeça de João na prisão. 11 Depois a cabeça foi levada num prato, foi entregue à moça, e esta a levou para a sua mãe. 12 Os discípulos de João foram buscar o cadáver, e o enterraram. Depois foram contar a Jesus o que tinha acontecido. Comentário: * 1-12: A morte brutal de João Batista anuncia a morte de Jesus. Os compromissos que obrigaram Herodes a cortar a cabeça do Precursor vão levar, com muito maior razão, as autoridades a tramar e exigir a execução de Jesus. Isso porque tanto João como Jesus põem em perigo os princípios éticos vigentes. O Evangelho de hoje apresenta a rejeição de João Batista por ter sido coerente com sua missão de profeta. Num banquete festivo entre os poderosos e a pedido da filha, Herodes manda decapitar João Batista, que se encontrava na cadeia. O que aconteceu com João Batista é um prenúncio do que acontecerá com Jesus. Esse foi e sempre será o destino dos autênticos profetas que denunciam a corrupção, as injustiças e os malfeitos. Os poderosos podem até eliminar os profetas, mas não a profecia. Sempre haverá algum profeta para anunciar e denunciar. Enquanto o banquete do povo e do Reino de Deus é sinal de festa e de partilha, e símbolo de vida abundante, em muitos banquetes de poderosos se tramam corrupção, injustiças, perseguição e até morte. Todo escravo do poder traz consequências funestas para a sociedade e para a natureza.

quinta-feira, 28 de julho de 2022

João 11, 19-27 Jesus é a ressurreição e a vida.

19 Muitos judeus tinham ido à casa de Marta e Maria para as consolar por causa do irmão. 20 Quando Marta ouviu que Jesus estava chegando, foi ao encontro dele. Maria, porém, ficou sentada em casa.21 Então Marta disse a Jesus: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. 22 Mas ainda agora eu sei: tudo o que pedires a Deus, ele te dará.” 23 Jesus disse: “Seu irmão vai ressuscitar.” 24 Marta disse: “Eu sei que ele vai ressuscitar na ressurreição, no último dia.” 25 Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá. 26 E todo aquele que vive e acredita em mim, não morrerá para sempre. Você acredita nisso?” 27 Ela respondeu: “Sim, Senhor. Eu acredito que tu és o Messias, o Filho de Deus que devia vir a este mundo.” Comentário: * 17-27: Jesus se apresenta como a ressurreição e a vida, mostrando que a morte é apenas uma necessidade física. Para a fé cristã a vida não é interrompida com a morte, mas caminha para a sua plenitude. A vida plena da ressurreição já está presente naqueles que pertencem à comunidade de Jesus. Marta, irmã de Maria e de Lázaro, morava em Betânia, onde o amigo Jesus descansava do trabalho apostólico. Espontânea, dinâmica, hospitaleira e serviçal são qualidades que se podem atribuir a Marta. Um dia, estando Jesus em sua casa, Marta queixa-se da irmã que, sentada aos pés do Senhor, ouvia-lhe a palavra. Jesus lhe mostra bondosamente a primazia dos valores espirituais (cf. Lc 10,38-42). Na doença de Lázaro, suas irmãs mandam chamar Jesus. Quando ele chega, Lázaro já está morto. Marta então expressa a Jesus sincera profissão de fé: “Eu acredito que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo”. Esse diálogo entre Jesus e Marta é um dos mais antigos temas batismais preparatórios para a Páscoa. Também usado na liturgia fúnebre, para reavivar nos fiéis a esperança cristã.

quarta-feira, 27 de julho de 2022

Mateus 13, 47-53 A consumação do Reino.

* 47 “O Reino do Céu é ainda como uma rede lançada ao mar. Ela apanha peixes de todo o tipo. 48 Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e escolhem: os peixes bons vão para os cestos, os que não prestam são jogados fora. 49 Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são bons. 50 E lançarão os maus na fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes.” Um novo sentido para tudo -* 51 “Vocês compreenderam tudo isso?” Eles responderam: “Sim.” 52 Então Jesus acrescentou: “E assim, todo doutor da Lei que se torna discípulo do Reino do Céu é como pai de família que tira do seu baú coisas novas e velhas.” Jesus é rejeitado como os profetas -* 53 Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, saiu desse lugar, Comentário: * 47-50: A consumação do Reino se realiza através do julgamento que separa os bons dos maus. Os que vivem a justiça anunciada por Jesus tomarão parte definitiva no Reino; os que não vivem serão excluídos para sempre. É preciso decidir desde já. * 51-52: As parábolas revelam o segredo de Deus para aqueles que têm fé. Por isso, o doutor da Lei que se torna discípulo de Jesus é capaz de ver a ligação entre o Antigo e o Novo Testamento. Em Jesus tudo se renova e toma novo sentido. * 53-58: Cf. nota em Mc 6,1-6. Os conterrâneos de Jesus colocam a questão sobre a origem da autoridade dele, admirados de seu ensinamento e poderes milagrosos. É impossível que Jesus, sendo um deles, tenha a autoridade de Deus. Por isso, eles o rejeitam. Essa rejeição não é acidental: é apenas mais uma prova de que Jesus é o enviado de Deus. De fato, todos os profetas do Antigo Testamento também foram rejeitados. Jesus se dirige à multidão e diz que o Reino dos Céus é comparado a uma rede de pesca lançada ao mar, a qual recolhe todo tipo de peixe que entra nela. Isso significa que o Reino dos Céus está aberto a todos, recolhe todos os que desejam se agregar a ele. Como mostra a conclusão da parábola, há, porém, certas exigências do Mestre que precisam ser assumidas. Quem busca o Reino de Deus supõe que viva a prática da justiça, do amor e da fraternidade. Muitos gostariam de ter sociedade, comunidades e famílias perfeitas, infelizmente não é assim. Todos somos humanos e precisamos tolerar e aceitar o diferente, o que pensa diferente. Jesus nos lembra, porém, que nosso Deus é o Deus da justiça. Nossa justiça humana pode falhar, mas a justiça divina não falha, mesmo que às vezes se faça esperar. No fim será feita a seleção, haverá separação de bons e maus.

terça-feira, 26 de julho de 2022

Mateus 13, 44-46 A decisão pelo Reino.

* 44 “O Reino do Céu é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra, e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens, e compra esse campo.45 O Reino do Céu é também como um comprador que procura pérolas preciosas. 46 Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens, e compra essa pérola.” Comentário: * 44-46: Para entrar no Reino é necessária decisão total. Apegar-se a seguranças, mesmo religiosas, que são falsas ou puras imitações, em troca da justiça do Reino, é preferir bijuterias a uma pedra preciosa. As parábolas põem em relevo a importância do Reino dos Céus, por ele investe-se tudo o que for possível. O Reino é um tesouro escondido que precisa ser descoberto, é uma pérola que vale a pena comprar. O Reino de Deus e o Evangelho de Jesus são valores absolutos, que relativizam todos os outros supostos valores. Os seguidores de Jesus devem estar dispostos a renunciar a muitas coisas valiosas se elas se tornam incompatíveis com o projeto do Reino. Quem renuncia a algum valor tem em mente algo mais compensador. O projeto de Jesus é grande valor que precisa ser descoberto e assumido por todos os que se dizem cristãos, discípulos e missionários do Mestre. Ele é o centro de nossas buscas e a razão de nossa existência; com coragem e alegria, por ele “vendemos” e nos desfazemos de muitas outras coisas, até então consideradas valiosas.