quarta-feira, 24 de março de 2021

Lucas 1, 26-38 O Messias vai chegar.

 O anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da virgem era Maria. 28O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” 29Maria ficou perturbada com essas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. 30O anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. 31Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. 32Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. 33Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim”. 34Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso se eu não conheço homem algum?” 35O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. 36Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, 37porque para Deus nada é impossível”. 38Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se.

Comentário:

* 26-38: Maria é outra representante da comunidade dos pobres que esperam pela libertação. Dela nasce Jesus Messias, o Filho de Deus. O fato de Maria conceber sem ainda estar morando com José indica que o nascimento do Messias é obra da intervenção de Deus. Aquele que vai iniciar nova história surge dentro da história de maneira totalmente nova.

Nove meses antes da festa do Natal do Senhor, a Igreja nos possibilita celebrar a Solenidade da Anunciação do Senhor. Imediatamente visita nossa memória a conhecida oração do Angelus, que resume o mistério que celebramos nessa ocasião: “O anjo do Senhor anunciou a Maria, e ela concebeu do Espírito Santo. Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a vossa palavra”. Deus projeta enviar seu Filho ao mundo, mas quer contar com o sim de Maria. Em total sintonia com os planos de Deus, ela se dispõe a fazer a vontade dele. Começa, então, o processo da encarnação de Jesus: “Eis que você ficará grávida e dará à luz um filho e lhe dará o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo”. De Maria aprendamos a investir todo o nosso ser em favor da história da salvação.

Oração
Ó Jesus, filho do Altíssimo, para vires ao mundo, Deus escolheu e preparou para ti uma digna Mãe, cujo nome é Maria. Após compreender o plano divino de salvação da humanidade, ela, consciente e livre, respondeu ao anjo: “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim como você me disse”. Amém.

 

Hebreus 10, 4-10 Um sacrifício único.

 4É impossível eliminar os pecados com o sangue de touros e bodes. 5Por isso, ao entrar no mundo, Cristo afirma: “Tu não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste-me um corpo. 6Não foram do teu agrado holocaustos nem sacrifícios pelo pecado. 7Por isso eu disse: Eis que eu venho. No livro está escrito a meu respeito: Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade”. 8Depois de dizer: “Tu não quiseste nem te agradaram vítimas, oferendas, holocaustos, sacrifícios pelo pecado” – coisas oferecidas segundo a Lei -, 9ele acrescenta: “Eu vim para fazer a tua vontade”. Com isso, suprime o primeiro sacrifício para estabelecer o segundo. 10É graças a essa vontade que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas.

Comentário:

* 1-18: O que são Paulo diz sobre a Lei, o autor repete sobre a liturgia judaica. Esta faz reviver a experiência do pecado, mas não consegue libertar dele. O sacrifício de Cristo, a existência inteira de Jesus, todo o movimento de sua consciência é o verdadeiro ato sacerdotal, o grande e perene ato de oferta. Ele tira o pecado, restabelece a ligação com Deus mediante a sua própria pessoa e experiência viva. Funda a nova aliança, o povo novo que pode ter acesso a Deus. E o caminho para esse acesso é o compromisso de fé com Cristo, compromisso que nenhuma liturgia pode substituir.

terça-feira, 23 de março de 2021

João 8, 31-42 A verdade liberta.

 31Jesus disse aos judeus que nele tinham acreditado: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, 32e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. 33Responderam eles: “Somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como podes dizer: ‘Vós vos tornareis livres’?” 34Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. 35O escravo não permanece para sempre numa família, mas o filho permanece nela para sempre. 36Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres. 37Bem sei que sois descendentes de Abraão; no entanto, procurais matar-me, porque a minha palavra não é acolhida por vós. 38Eu falo o que vi junto do Pai; e vós fazeis o que ouvistes do vosso pai”. 

A mentira escraviza - 39Eles responderam então: “O nosso pai é Abraão”. Disse-lhes Jesus: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão! 40Mas agora vós procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isto, Abraão não o fez. 41Vós fazeis as obras do vosso pai”. Disseram-lhe, então: “Nós não nascemos do adultério, temos um só pai: Deus”. 42Respondeu-lhes Jesus: “Se Deus fosse vosso Pai, vós certamente me amaríeis, porque de Deus é que eu saí e vim. Não vim por mim mesmo, mas foi ele que me enviou”.

Comentário:

* 31-38: A verdade que liberta é aceitar a vida nova trazida por Jesus, que relativiza tudo aquilo que antes parecia absoluto: riqueza, poder, ideias, estruturas. A liberdade só é possível quando se rompe com uma ordem injusta, que impede a experiência do amor de Deus através do amor ao homem.

* 39-47: O diabo é aquele que se opõe à vontade de Deus e se absolutiza, ocupando o lugar de Deus e criando uma sociedade mentirosa e assassina, que adora ídolos opressores, e é incapaz de assimilar a mensagem libertadora de Jesus.

As controvérsias entre Jesus e os judeus que tinham acreditado nele continuam. No texto de hoje, a discussão é em torno da liberdade/escravidão e filiação/paternidade. Jesus convida seus adversários a aderirem às suas palavras, para que assim sejam libertados. Eles reagem dizendo que nunca foram escravos de ninguém e alegam, inclusive, que são da descendência de Abraão. O pecado escraviza, diz Jesus, ressaltando que eles não podem esquecer que, ao longo da história, foram escravos dos impérios vizinhos. Diante da declaração de que são filhos de Abraão, o Mestre recorda-lhes que, sendo filhos de Abraão, deveriam praticar as obras dele. Os filhos, em geral, aprendem a se comportar e a fazer vendo o próprio pai. A verdade liberta quando rompemos com uma ordem injusta que impede a experiência do amor de Deus.

Oração
Divino Mestre, disseste aos teus conterrâneos: “Se Deus fosse mesmo o Pai de vocês, vocês me amariam, porque eu saí de Deus e estou aqui; não vim por mim mesmo, foi ele que me enviou”. Dá-nos compreender tua preciosa mensagem, a fim de nos aproximarmos cada vez mais de ti. Amém.

segunda-feira, 22 de março de 2021

João 8, 21-30 O pecado é rejeitar uma ordem nova.

21 Jesus continuou dizendo: “Eu parto e vós me procurareis, mas morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir”. 22Os judeus comentavam: “Por acaso, vai-se matar? Pois ele diz: ‘Para onde eu vou, vós não podeis ir’?” 23Jesus continuou: “Vós sois daqui de baixo, eu sou do alto. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. 24Disse-vos que morrereis nos vossos pecados, porque, se não acreditais que eu sou, morrereis nos vossos pecados”. 25Perguntaram-lhe, pois: “Quem és tu então?” Jesus respondeu: “O que vos digo desde o começo. 26Tenho muitas coisas a dizer a vosso respeito e a julgar também. Mas aquele que me enviou é fidedigno, e o que ouvi da parte dele é o que falo para o mundo”. 27Eles não compreenderam que lhes estava falando do Pai. 28Por isso, Jesus continuou: “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou e que nada faço por mim mesmo, mas apenas falo aquilo que o Pai me ensinou. 29Aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou sozinho, porque sempre faço o que é de seu agrado”. 30Enquanto Jesus assim falava, muitos acreditaram nele.

Comentário:

* 21-30: O pecado que leva à morte é permanecer fechado neste mundo de baixo, isto é, dentro de uma ordem sociorreligiosa injusta. Jesus é a presença atuante do Deus do êxodo ("Eu Sou , cf. Ex 3,14), que liberta o povo da escravidão e o conduz para uma vida nova, desejada por Deus (" mundo de cima" ). É através da sua morte que Jesus realiza esse êxodo.

Jesus continua seu diálogo tenso com os fariseus sobre o assunto da partida próxima. Num primeiro momento, Jesus denuncia os pecados dos seus opositores e anuncia a distância que existe entre os dois lados. Em seguida, faz sua autorrevelação. Mas os fariseus pouco entendem do que o Mestre está falando. Esse ruído na comunicação é compreensível, pois eles são “daqui debaixo e deste mundo”, enquanto Jesus é “lá de cima e de outro mundo”. “Quem és tu?”, perguntam os adversários. A exemplo do Deus do êxodo, Jesus responde “Eu Sou”. Só a partir da cruz muitos reconhecerão quem ele é e acreditarão nele. Como o Deus do êxodo, Jesus é presença atuante que liberta o povo que a ele adere e o conduz para uma vida melhor, “o mundo lá de cima”. Por meio da cruz, Jesus realiza seu êxodo e o êxodo do povo.

Oração
Ó Mestre e Senhor, não foi fácil explicar ao mundo a tua identificação com o Pai celeste. E dizias: “Quando vocês levantarem o Filho do Homem, irão saber então que Eu Sou”. Abre nossa mente para entendermos quem tu és e aumenta nossa fé para te acolher como o Filho de Deus. Amém.

 

domingo, 21 de março de 2021

João 8, 1-11 Jesus não veio para condenar.

 1Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2De madrugada, voltou de novo ao templo. Todo o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. 3Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Colocando-a no meio deles, 4disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. 5Moisés, na Lei, mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?” 6Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. 7Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: “Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. 8E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. 9E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho com a mulher, que estava lá, no meio, em pé. 10Então Jesus se levantou e disse: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” 11Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus lhe disse: “Eu também não te condeno. Podes ir e, de agora em diante, não peques mais”.

Comentário:

* 1-11: Mais uma vez Jesus mostra que a pessoa humana está acima de qualquer lei. Os homens não podem julgar e condenar, porque nenhum deles está isento de pecado. O próprio Jesus não veio para julgar, pois o Pai não quer a morte do pecador, e sim que ele se converta e viva (Ez 18,23.32).

Enquanto Jesus ensina no templo, as autoridades judaicas lhe trazem uma “mulher pega em adultério”. Invocam a Lei de Moisés para ouvir a opinião do Mestre na esperança de que ele a condene. Jesus não ligou muito para aquilo que diziam. Diante da insistência, ele os desafiou: quem não tiver pecado atire a pedra contra ela. Ninguém atirou a pedra, e Jesus não condenou a pobre mulher. O Mestre não nega a Lei, mas a supera em seus limites: a Lei condena a pessoa, Jesus condena o pecado; a Lei vê o ato em si, Jesus vê o coração da pessoa. Essa atitude de Jesus deveria corrigir a imagem de um Deus castigador, levar a comunidade a ser mais misericordiosa e desmascarar nossas atitudes intolerantes, arrogantes e preconceituosas. Por meio de suas atitudes, o Mestre nos revela a bondade e o amor que o seu e nosso Pai tem pelas pessoas.

Oração
Ó incomparável Mestre, tua atitude diante da mulher adúltera desconcertou os escribas e fariseus que buscavam motivos para te acusar. Teus gestos e sábia resposta vêm atravessando os séculos, confirmando que ninguém está autorizado a matar uma pessoa por um pecado cometido ou um erro praticado. Amém.