sábado, 31 de outubro de 2020

Mateus 5, 1-12 Bem-aventuranças: anseio por um mundo novo.

 1Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, 2e Jesus começou a ensiná-los: 3“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus. 4Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados. 5Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. 6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus. 11Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós por causa de mim. 12Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.

Comentário:

* 5-7: O Sermão da Montanha é um resumo do ensinamento de Jesus a respeito do Reino e da transformação que esse Reino produz. Moisés tinha recebido a Lei na montanha do Sinai; agora Jesus se apresenta como novo Moisés, proclamando sobre a montanha a vontade de Deus que leva à libertação do homem.

* 5,1-12: As bem-aventuranças são o anúncio da felicidade, porque proclamam a libertação, e não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino através da palavra e ação de Jesus. Estas tornam presente no mundo a justiça do próprio Deus. Justiça para aqueles que são inúteis ou incômodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza que explora e no poder que oprime.

Os que buscam a justiça do Reino são os “pobres em espírito.” Sufocados no seu anseio pelos valores que a sociedade injusta rejeita, esses pobres estão profundamente convictos de que eles têm necessidade de Deus, pois só com Deus esses valores podem vigorar, surgindo assim uma nova sociedade.

A exemplo de Moisés, que, na montanha, recebe a lei e a entrega ao povo, Jesus, ao ver as multidões de sofredores que vêm a ele, sobe a montanha e nos deixa a nova lei, as bem-aventuranças, início solene do sermão da montanha. As oito bem-aventuranças são dirigidas a toda a multidão, e não apenas aos discípulos de Jesus (a nona é mais específica para seus seguidores). Ele propõe anúncios de felicidade. O que é ser feliz? Onde buscamos a felicidade? Para a sociedade moderna, felizes são os ricos, os poderosos, os “bem de vida” e os que podem consumir à vontade. Jesus, ao contrário, nos diz: felizes os pobres, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os perseguidos por causa da justiça. Essas são instâncias de felicidade propostas por Jesus para toda a humanidade, não apenas para alguns grupos específicos. À primeira vista, parece que as bem-aventuranças conclamam para a acomodação. Ao contrário, elas convocam para o “não conformismo”, para a busca dos valores do Reino (paz, justiça, misericórdia). E também não é uma proposta para a vida após a morte, mas para o presente.

Oração
Ó Jesus Mestre, és o Caminho que conduz ao Pai; és a Verdade que revela os planos divinos; és a Vida que renova o mundo. Confiantes, te pedimos, Senhor: dá-nos perseverança na constante busca da santidade nesta vida, a fim de vivermos eternamente em comunhão contigo e com todos os santos. Amém.

1 João 3, 1-3 Deus é justo.

 1Vejam que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós de fato o somos! Se o mundo não nos reconhece, é porque não reconheceu o Pai. 2Amados, desde agora já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é. 

Romper com o pecado - 3Todo o que espera nele purifica-se a si mesmo, para ser puro como Jesus é puro.

Comentário:

 * 2,29-3,2: João começa novo tema: Deus é justo. Jesus Cristo manifestou inteiramente a Deus porque, através de sua vida, mostrou concretamente o que é a justiça divina. Do mesmo modo, quem pratica a justiça mostra que é filho do Deus justo, à semelhança de Jesus. Não basta ser batizado para ser filho de Deus: é preciso praticar a justiça. Essa realidade, porém, ainda está em crescimento, e só se realizará totalmente quando puderem contemplar toda a glória de Jesus Cristo. O mundo não reconhece o Deus justo, porque o princípio que rege a vida do mundo é a injustiça. Desse modo, o mundo considera como inimigos perigosos o Deus justo e seus filhos que revelam a justiça.

* 3,3-10: Praticar a justiça é amar o irmão: esta é a vida na graça de quem conheceu a justiça de Deus - seu amor pelos homens - revelada em Jesus Cristo. Quem não ama o irmão pratica a injustiça, isto é, está do lado do Diabo e vive no pecado, que é odiar o irmão. Esse ódio, porém, não é apenas sentimento interior; é princípio de vida que rege todo pensamento e ação, e se manifesta através de preconceitos, separatismo, exploração e opressão. Com Jesus começou a era da justiça: o amor ao irmão leva à relação, à comunhão, à partilha e fraternidade.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Lucas 14, 1.7-11 Festejar o sábado é dar vida aos homens.

 1Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles o observavam. 

A verdadeira honra - 7Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então, contou-lhes uma parábola: 8“Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, 9e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: ‘Dá o lugar a ele’. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar. 10Mas, quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar quem te convidou, te dirá: ‘Amigo, vem mais para cima’. E isso vai ser uma honra para ti diante de todos os convidados. 11Porque quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”.

Comentário

* 1-6: A lei do sábado deve ser interpretada como libertação e vida para o homem.

* 7-14: Nos vv. 8-11, Jesus critica o conceito de honra baseado no orgulho e ambição, que geram aparências de justiça, mas escondem os maiores contrastes sociais. A honra do homem depende de Deus, o único que conhece a situação real e global do homem; essa honra supera a crença que o homem pode ter nos seus próprios méritos. Nos vv. 12-14, Jesus mostra que o amor verdadeiro não é comércio, mas serviço gratuito, pois o pobre não pode pagar e o inimigo não pode merecer. Só Deus pode retribuir ao amor gratuito.

A sociedade nos impulsiona constantemente a buscar uma posição de destaque. As indústrias comerciais armam entre si verdadeira “guerra”, disputando quem é a maior. Naturalmente maior evidência atrai mais dinheiro, mais investimentos, mais publicidade… Círculo vicioso sem freio. O ser humano tem tendência a querer ser o mais famoso, o mais admirado, o mais rico… Esses predicativos não servem para compor a comunidade de Jesus, pois, nela, “se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e o servidor de todos” (Mc 9,35). O próprio Jesus “renunciou ao direito de ser tratado como Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo e tomou a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2,6-7). Deus exalta os humildes.

Oração
Ó Mestre, observas que os convidados escolhem os primeiros lugares. Aproveitas a ocasião para nos dar algumas instruções sobre bom senso e civilidade. Convém escolher os últimos lugares, assim evita-se passar vergonha. Livra-nos, Senhor, da vaidade e ajuda-nos a percorrer o caminho da humildade. Amém.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Lucas 14, 1-6 Festejar o sábado é dar vida aos homens.

1Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles o observavam. 2Diante de Jesus, havia um hidrópico. 3Tomando a palavra, Jesus falou aos mestres da Lei e aos fariseus: “A Lei permite curar em dia de sábado ou não?” 4Mas eles ficaram em silêncio. Então Jesus tomou o homem pela mão, curou-o e despediu-o. 5Depois lhes disse: “Se algum de vós tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tira logo, mesmo em dia de sábado?” 6E eles não foram capazes de responder a isso.

Comentário:

* 14,1-6: A lei do sábado deve ser interpretada como libertação e vida para o homem.

Coerente com sua missão de libertar as pessoas, Jesus mais uma vez vai causar certo transtorno. Desta vez na casa de um chefe dos fariseus. Apegados à letra da lei, eles punham a observância do sábado acima de qualquer outro mandamento. Não conseguiam entender que a cura de um ser humano é um modo de glorificar o Deus da vida! Decididos a manter sua posição fixa, permaneceram calados e confusos diante da pergunta do Mestre: “É permitido curar no sábado ou não?”. A hidropisia, ou acumulação de líquido, é figura do povo, “inchado pelo ensinamento dos fariseus, também estes inchados pelo orgulho pretensioso e hipócrita de serem perfeitos” (Ivo Storniolo). Jesus, com a implantação do Reino de Deus, mostra que sua missão é devolver ao ser humano a dignidade que lhe é devida.

Oração
Divino Mestre, Jesus Cristo, mediante tuas atitudes aprendemos que não há nenhum dia em que seja proibido fazer o bem. Toda boa obra é agradável a Deus, como o foi certamente a libertação que ofereceste a esse homem. Não deixemos para amanhã as boas obras que podemos realizar hoje. Amém.

 

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Lucas 13, 31-35 Jesus vai até o fim.

 31Naquela hora, alguns fariseus aproximaram-se e disseram a Jesus: “Tu deves ir embora daqui, porque Herodes quer te matar”. 32Jesus disse: “Ide dizer a essa raposa: eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho. 33Entretanto, preciso caminhar hoje, amanhã e depois de amanhã, porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém. 

O julgamento sobre Jerusalém - 34Jerusalém, Jerusalém! Tu que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas tu não quiseste! 35Eis que vossa casa ficará abandonada. Eu vos digo, não me vereis mais, até que chegue o tempo em que vós mesmos direis: ‘Bendito aquele que vem em nome do Senhor'”.

Comentário:

* 31-33: A atividade de Jesus provoca temor e reação das autoridades. Jesus não as teme, e continua a realizar a missão que liberta as pessoas e ao mesmo tempo vai levá-lo à morte.

* 34-35: Cf. nota em Mt 23,37-39 Jerusalém personifica o sistema que se fechou em si mesmo, e recusou a novidade trazida por Jesus. Por isso, seu destino já está traçado: em Jerusalém Jesus vai ser morto, e sua morte trará o julgamento definitivo sobre ela.

Densas e escuras nuvens ameaçam intimidar Jesus em sua missão. A notícia é péssima: “Herodes quer te matar”. Onde cavar força e entusiasmo para seguir fazendo o bem? Um autêntico profeta, porém, não esmorece. Fica abalado, mas não abandona o bom combate. Está decidido a ir até o fim: “Hoje, amanhã e depois de amanhã devo continuar caminhando”. Jesus expressa sentido lamento por Jerusalém, “que mata os profetas”, em cujo número ele se inclui. Faz alusão à destruição do Templo: “Eis que sua casa ficará abandonada”. Entretanto, avisa que virá o tempo em que também os inimigos o reconhecerão como o Enviado de Deus, glorificado por seu povo: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor!”. Por sua morte e sua ressurreição, Jesus realiza a salvação.

Oração
Senhor Jesus, talvez para te intimidar, os fariseus te informam que Herodes quer te matar. Mandas de volta os emissários para avisar aquela “raposa” que tua missão continua enquanto o Pai celeste o quiser. Concede-nos, Senhor, fortaleza e coragem para praticar a vontade de Deus, também nos contratempos. Amém.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Lucas 6, 12-19 Os doze apóstolos.

 12Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus. 13Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: 14Simão, a quem impôs o nome de Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; 15Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelota; 16Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que se tornou traidor.

Anseio por um mundo novo - 17Jesus desceu da montanha com eles e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e grande multidão de gente de toda a Judeia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. 18Vieram para ouvir Jesus e serem curados de suas doenças. E aqueles que estavam atormentados por espíritos maus também foram curados. 19A multidão toda procurava tocar em Jesus, porque uma força saía dele e curava a todos.

Comentário:

* 12-16: Jesus escolhe os doze apóstolos, que formarão o núcleo da comunidade nova que ele veio criar. A palavra apóstolo significa aquele que Jesus envia para continuar a sua obra.

* 17-26: O povo vem de todas as partes ao encontro de Jesus, porque a ação dele faz nascer a esperança de uma sociedade nova, libertada da alienação e dos males que afligem os homens. Os vv. 20-26 proclamam o cerne de toda a atividade de Jesus: produzir uma sociedade justa e fraterna, aberta para a novidade de Deus. Para isso, é preciso libertar os pobres e famintos, os aflitos e os que são perseguidos por causa da justiça. Isso, porém, só se alcança denunciando aqueles que geram a pobreza e a opressão e depondo-os dos seus privilégios. Não é possível abençoar o pobre sem libertá-lo da pobreza. Não é possível libertar o pobre da pobreza sem denunciar o rico para libertá-lo da riqueza.

Simão, um dos doze apóstolos, teria pertencido ao grupo dos zelotas. Estes constituíam uma seita judaica que representava o extremo fanatismo nacional. Suas táticas eram semelhantes às dos modernos terroristas políticos; muitas vezes faziam incursões e matavam, atacando estrangeiros e judeus suspeitos de colaborarem com os forasteiros. Se de fato Simão pertenceu a esse grupo considerado subversivo pelos judeus, é admirável o fato de Jesus buscar, também aí nesse meio, um seguidor e futuro missionário do evangelho. Judas Tadeu aparece no elenco dos doze apóstolos e só se conhece uma intervenção dele no evangelho (cf. Jo 14,22). É tido como o autor da Carta de Judas (apenas um capítulo com trinta e três versículos). Boa parte dos autores modernos, porém, pensa tratar-se de outra pessoa.

Oração
Ó Jesus, incansável pregador do evangelho, escolheste como teus colaboradores os apóstolos São Simão e São Judas. A eles ensinaste, com palavras e exemplos, as linhas fundamentais do Reino de Deus. E eles perseveraram até o fim, selando com o martírio a doação da própria vida. Amém.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Lucas 13, 18-21 O Reino atingirá o mundo inteiro.

  18Jesus dizia: “A que é semelhante o Reino de Deus e com que poderei compará-lo? 19Ele é como a semente de mostarda, que um homem pega e atira no seu jardim. A semente cresce, torna-se uma grande árvore, e as aves do céu fazem ninhos nos seus ramos”. 20Jesus disse ainda: “Com que poderei ainda comparar o Reino de Deus? 21Ele é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado”.

Comentário:

* 18-21: Cf. nota em Mc 4,30-34 Diante das estruturas e ações deste mundo, a atividade de Jesus e daqueles que o seguem parece impotente, e mesmo ridícula. Mas ela crescerá, até atingir o mundo inteiro.

A semente de mostarda e o fermento, aparentemente insignificantes, são elementos que encerram promessa de crescimento e grandeza. Contêm vitalidade. O Reino de Deus é assim: traz na sua essência o dinamismo do Espírito Santo. Ninguém vê nem conhece o processo de crescimento do Reino e da Igreja, mas os resultados aparecem. É no coração das pessoas que se dá o movimento de adesão a Cristo. E isso se dá em ritmo lento, empenhativo. Jesus não se impõe; simplesmente propõe e aguarda com paciência a resposta positiva dos seus possíveis discípulos. Pessoas humildes e frágeis constituem o germe da salvação universal: com o poder de Deus, tornam-se capazes de cristianizar a grande massa humana. Cabe-nos perseverar na prática cotidiana do bem. No devido tempo, os frutos surgirão.

Oração
Ó Jesus Mestre, diante do reino deste mundo, o Reino de Deus era quase imperceptível. Isso poderia desanimar teus discípulos. Então, com as imagens da semente de mostarda e do fermento, revelas que teu Reino terá imenso desenvolvimento e incalculável abrangência. Sejamos teus fiéis seguidores. Amém.