sexta-feira, 28 de março de 2025

Lucas 14, 9-14 A justificação é dom de Deus.

-* 9 Para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola: 10 “Dois homens subiram ao Templo para rezar; um era fariseu, o outro era cobrador de impostos. 11 O fariseu, de pé, rezava assim no seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens, que são ladrões, desonestos, adúlteros, nem como esse cobrador de impostos. 12 Eu faço jejum duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’. 13 O cobrador de impostos ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’ 14 Eu declaro a vocês: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva, será humilhado, e quem se humilha, será elevado.” Comentário: * 9-14: Não basta ser perseverante e insistente. É preciso reconhecer e confessar a própria pequenez, recorrendo à misericórdia de Deus. De nada adianta o homem justificar a si mesmo, pois a justificação é dom de Deus. Nas nossas orações, não são as palavras bonitas que agradam a Deus. Igualmente, nas nossas missas, não é a decoração da igreja ou a riqueza dos objetos que impressiona a Deus. O que mais lhe agrada é a intenção com que rezamos ou vamos à missa, é a disposição da nossa mente e do nosso coração para acolher sua Palavra e seu amor. Pois Deus quer misericórdia, e não sacrifícios; quer a humildade sincera, e não a vaidade e a presunção. Ele conhece cada um de nós no nosso íntimo e dá conforme cada um de nós merece. Quem age com misericórdia, humildade e sinceridade encontra a compaixão de Deus. Não por acaso, a liturgia propõe o ato penitencial logo no início da celebração, para que nos aproximemos da Palavra e da Eucaristia conscientes de que somos limitados e pecadores, necessitados do perdão de Deus.

quinta-feira, 27 de março de 2025

Marcos 12, 28-34 O centro da vida.

* 28 Um doutor da Lei estava aí, e ouviu a discussão. Vendo que Jesus tinha respondido bem, aproximou-se dele e perguntou: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?” 29 Jesus respondeu: “O primeiro mandamento é este: Ouça, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor! 30 E ame ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, com todo o seu entendimento e com toda a sua força. 31 O segundo mandamento é este: Ame ao seu próximo como a si mesmo. Não existe outro mandamento mais importante do que esses dois.” 32 O doutor da Lei disse a Jesus: “Muito bem, Mestre! Como disseste, ele é, na verdade, o único Deus, e não existe outro além dele. 33 E amá-lo de todo o coração, de toda a mente, e com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo, é melhor do que todos os holocaustos e do que todos os sacrifícios.” 34 Jesus viu que o doutor da Lei tinha respondido com inteligência, e disse: “Você não está longe do Reino de Deus.” E ninguém mais tinha coragem de fazer perguntas a Jesus. Comentário: * 28-34: Jesus resume a essência e o espírito da vida humana num ato único com duas faces inseparáveis: amar a Deus com entrega total de si mesmo, porque o Deus verdadeiro e absoluto é um só e, entregando-se a Deus, o homem desabsolutiza a si mesmo, o próximo e as coisas; amar ao próximo como a si mesmo, isto é, a relação num espírito de fraternidade e não de opressão ou de submissão. O dinamismo da vida é o amor que tece as relações entre os homens, levando todos aos encontros, confrontos e conflitos que geram uma sociedade cada vez mais justa e mais próxima do Reino de Deus. Ao longo dos anos, os judeus foram criando mandamentos e prescrições a partir do Decálogo. Eram ao todo 248 mandamentos e 365 prescrições que os doutores da Lei haviam contado no mosaísmo e que eles dividiam entre graves e leves. Diante de tantas normas, é natural que houvesse confusão e dúvidas. Entre todas, qual era a mais importante, a cuja luz deviam ser interpretadas todas as demais? Jesus, retomando o Antigo Testamento, simplifica todas essas leis com um mandamento simples, mas bastante exigente: amar a Deus sobre todas as coisas (cf. Dt 6,5) e ao próximo como a si mesmo (cf. Lv 19,18). Respeitando esses dois mandamentos, todos os outros virão como consequência e viveremos sob a proteção de Deus.

quarta-feira, 26 de março de 2025

Lucas 11, 14-23 Jesus é mais forte do que Satanás.

* 14 Jesus estava expulsando um demônio que era mudo. Quando o demônio saiu, o mudo começou a falar, e as multidões ficaram admiradas. 15 Mas alguns disseram: “É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios.” 16 Outros, para tentar Jesus, pediram-lhe um sinal do céu. 17 Mas, conhecendo o pensamento deles, Jesus disse: “Todo reino dividido em grupos que lutam entre si, será destruído; e uma casa cairá sobre outra. 18 Ora, se até Satanás está dividido contra si mesmo, como o seu reino poderá sobreviver? Vocês dizem que é por Belzebu que eu expulso os demônios. 19 Se é através de Belzebu que eu expulso os demônios, através de quem os filhos de vocês expulsam os demônios? Por isso, eles mesmos hão de julgar vocês. 20 Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus chegou para vocês. 21 Quando um homem forte e bem armado guarda a sua casa, os bens dele estão em segurança. 22 Mas, quando chega um homem mais forte do que ele e o vence, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que roubou. 23 Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa.” Comentário: * 14-23: A cura do endemoninhado mostra que a ação de Jesus consiste em libertar o homem da alienação que o impede de falar. A ação de Jesus testemunha a chegada do Reino de Deus, pois para vencer Satanás é preciso ser mais forte do que ele. Mas Jesus é, ao mesmo tempo, a presença da salvação e do julgamento: quem não age com Jesus, torna-se adversário. Os milagres de Jesus provocam reações contraditórias: ao mesmo tempo que é admirado pelos simples, é odiado pelos soberbos. Estes não querem reconhecer Jesus como Messias, o enviado de Deus, por isso atribuem seus milagres à intervenção de Beelzebu, o chefe dos demônios. Jesus expõe a incoerência de tal acusação, mostrando que a divisão de um reino conduz apenas à sua ruína. Por mais que Jesus fale claramente e mostre sinais, quem não está disposto a escutar jamais aceitará a verdade. Quem escuta, por outro lado, começa a fazer parte de uma nova família de filhos de Deus. A Igreja, continuadora dos gestos de Cristo, é sinal visível dessa família e do Reino de Deus. Através dela, hoje, podemos ouvir a voz do Senhor.

terça-feira, 25 de março de 2025

Mateus 5, 17-19 A lei e a justiça.

* 17 “Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento. 18 Eu garanto a vocês: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem sequer uma letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo aconteça. 19 Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será considerado o menor no Reino do Céu. Por outro lado, quem os praticar e ensinar, será considerado grande no Reino do Céu. Comentário: * 17-20: A lei não deve ser observada simplesmente por ser lei, mas por aquilo que ela realiza de justiça. Cumprir a lei fielmente não significa subdividi-la em observâncias minuciosas, criando uma burocracia escravizante; significa, isto sim, buscar nela inspiração para a justiça e a misericórdia, a fim de que o homem tenha vida e relações mais fraternas. Em 5,21-48, Mateus apresenta cinco exemplos, para mostrar como é que uma lei deve ser entendida. Antes de entrar na Terra Prometida, o povo hebreu recebeu de Deus os Dez Mandamentos, Lei fundamental que orienta a vida pessoal e social, pois engloba seus elementos essenciais. São normas para o povo viver harmoniosamente, respeitando a Deus e ao próximo. Jesus não veio abolir essa Lei, mas resgatar seu sentido original, por isso critica o modo como muitos a interpretavam. Jesus leva à perfeição a Lei e os Profetas, dando continuidade ao Antigo Testamento e, ao mesmo tempo, superando-o, como expressão concreta do amor de Deus pela humanidade. O Evangelho (e o Sermão da montanha, de modo particular) representa a nova aplicação da Lei querida por Jesus, por isso é dever de todo cristão observá-lo e pô-lo em prática.

segunda-feira, 24 de março de 2025

Lucas 1, 26-38 O Messias vai chegar.

-* 26 No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré. 27 Foi a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José, que era descendente de Davi. E o nome da virgem era Maria. 28 O anjo entrou onde ela estava, e disse: “Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está com você!” 29 Ouvindo isso, Maria ficou preocupada, e perguntava a si mesma o que a saudação queria dizer. 30 O anjo disse: “Não tenha medo, Maria, porque você encontrou graça diante de Deus. 31 Eis que você vai ficar grávida, terá um filho, e dará a ele o nome de Jesus. 32 Ele será grande, e será chamado Filho do Altíssimo. E o Senhor dará a ele o trono de seu pai Davi, 33 e ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó. E o seu reino não terá fim.” 34 Maria perguntou ao anjo: “Como vai acontecer isso, se não vivo com nenhum homem?” 35 O anjo respondeu: “O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de você será chamado Filho de Deus. 36 Olhe a sua parenta Isabel: apesar da sua velhice, ela concebeu um filho. Aquela que era considerada estéril, já faz seis meses que está grávida. 37 Para Deus nada é impossível.” 38 Maria disse: “Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra.” E o anjo a deixou. Comentário: * 26-38: Maria é outra representante da comunidade dos pobres que esperam pela libertação. Dela nasce Jesus Messias, o Filho de Deus. O fato de Maria conceber sem ainda estar morando com José indica que o nascimento do Messias é obra da intervenção de Deus. Aquele que vai iniciar nova história surge dentro da história de maneira totalmente nova. O Evangelho apresenta a aparição do anjo a Maria, convidando-a a ser a Mãe do Salvador da humanidade. O anjo a saúda com “ave, cheia de graça, o Senhor está contigo”. Maria pensa o que significaria tudo isso. O anjo a tranquiliza, pois ela encontrou graça diante de Deus e será mãe. Ela questiona, pois ainda não está convivendo com nenhum homem. O anjo lhe diz para deixar por conta do Espírito Santo: “Para Deus, nada é impossível”. O Filho a nascer será chamado Jesus, o Messias, o próprio Filho de Deus, que trará a salvação. É justamente no meio do povo pobre que Deus suscita o anúncio de uma nova era de justiça e paz. Deus ouviu o clamor dos pobres e fez brotar do seu meio a salvação esperada: Jesus, que significa “Deus salva”. No final, Maria se coloca a serviço dos planos de Deus: “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim como você me disse”. Deus espera de cada uma abertura para acolher sua vontade. Ele se utiliza das pessoas para realizar seus planos.

domingo, 23 de março de 2025

Lucas 4, 24-30 Reação do povo.

-* 22 Todos aprovavam Jesus, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca. E diziam: “Este não é o filho de José?” 23 Mas Jesus disse: “Sem dúvida vocês vão repetir para mim o provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Faze também aqui, em tua terra, tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum.” 24 E acrescentou: “Eu garanto a vocês: nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. 25 De fato, eu lhes digo que havia muitas viúvas em Israel, no tempo do profeta Elias, quando não vinha chuva do céu durante três anos e seis meses, e houve grande fome em toda a região. 26 No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, e sim a uma viúva estrangeira, que vivia em Sarepta, na Sidônia. 27 Havia também muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu. Apesar disso, nenhum deles foi curado, a não ser o estrangeiro Naamã, que era sírio.” 28 Quando ouviram essas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. 29 Levantaram-se, e expulsaram Jesus da cidade. E o levaram até o alto do monte, sobre o qual a cidade estava construída, com intenção de lançá-lo no precipício. 30 Mas Jesus, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho. Comentário: * 22-30: A dúvida e a rejeição de Jesus por parte de seus compatriotas fazem prever a hostilidade e a rejeição de toda a atividade de Jesus por parte de todo o seu povo. No entanto, Jesus prossegue seu caminho, para construir a nova história que engloba toda a humanidade. É comum ouvirmos algumas pessoas, às vezes de forma ingênua, dizer: “Eu creio no meu Deus”, pensando num deus particular e que seja moldado segundo os interesses humanos. O Deus que Jesus Cristo nos revela é o Deus da universalidade, capaz de fazer o extraordinário a partir das atitudes mais simples. O Deus de Jesus Cristo é o mesmo que interveio em Sarepta e na cura de Naamã, um não israelita. Esse é o único Deus, aquele que nos convida às atitudes da humildade e do arrependimento, gestos simples que conduzem à purificação extraordinária do nosso ser. Através da crítica aos seus conterrâneos, Jesus nos mostra que sua missão é universal. Ele veio para congregar todos os povos, e não apenas para Israel, tido como o povo escolhido do Antigo Testamento. A identificação dos filhos de Deus não é mais a origem, mas sim a fé e a comunhão de vida.

sábado, 22 de março de 2025

Lucas 13, 1-9 Urgência da conversão.

* 1 Nesse tempo, chegaram algumas pessoas levando notícias a Jesus sobre os galileus que Pilatos tinha matado, enquanto ofereciam sacrifícios. 2 Jesus respondeu-lhes: “Pensam vocês que esses galileus, por terem sofrido tal sorte, eram mais pecadores do que todos os outros galileus? 3 De modo algum, lhes digo eu. E se vocês não se converterem, vão morrer todos do mesmo modo. 4 E aqueles dezoito que morreram quando a torre de Siloé caiu em cima deles? Pensam vocês que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? 5 De modo algum, lhes digo eu. E se vocês não se converterem, vão morrer todos do mesmo modo.” 6 Então Jesus contou esta parábola: “Certo homem tinha uma figueira plantada no meio da vinha. Foi até ela procurar figos, e não encontrou. 7 Então disse ao agricultor: ‘Olhe! Hoje faz três anos que venho buscar figos nesta figueira, e não encontro nada! Corte-a. Ela só fica aí esgotando a terra’. 8 Mas o agricultor respondeu: ‘Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e pôr adubo. 9 Quem sabe, no futuro ela dará fruto! Se não der, então a cortarás’.” Comentário: * 1-9: No caminho da vida há acontecimentos trágicos. Estes não significam que as vítimas são mais pecadoras do que os outros. Ao contrário, são convites abertos para que se pense no imprevisível dos fatos e na urgência da conversão, para se construir a nova história. A parábola (vv. 6-9) salienta que, em Jesus, Deus sempre dá uma última chance. Num primeiro momento, o Evangelho relata dois fatos trágicos: as mortes provocadas por Pilatos e as mortes causadas por um acidente com uma torre. As pessoas que morreram não são mais pecadoras do que aquelas que não foram atingidas. Deus não é vingativo e não se alegra com a morte do pecador, mas torce pela sua conversão e vida. Os acidentes narrados não são castigos de Deus, mas podem ser ocasião para chamar à mudança de vida. Num segundo momento, o Evangelho narra a parábola da figueira que não produz frutos. Aceitando a proposta do agricultor, o dono lhe oferece mais tempo para que a figueira produza frutos. É tempo de conversão, é tempo de produzir frutos que enobreçam a vida. As duas partes falam da mesma realidade: a necessidade e a urgência de conversão. O grande risco é uma vida estéril, sem perspectivas, sem aspirações e sem avanços. Não podemos transformar o projeto de Jesus num “cristianismo estéril”.