quarta-feira, 15 de junho de 2022

Lucas 9, 11-17 Saciar a fome do povo.

11 No entanto, as multidões souberam disso, e o seguiram. Jesus acolheu-as, e falava a elas sobre o Reino de Deus, e restituía a saúde a todos os que precisavam de cura. 12 A tarde vinha chegando. Os doze apóstolos se aproximaram de Jesus, e disseram: “Despede a multidão. Assim eles podem ir aos povoados e campos vizinhos para procurar alojamento e comida, porque estamos num lugar deserto.” 13 Mas Jesus disse: “Vocês é que têm de lhes dar de comer.” Eles responderam: “Só temos cinco pães e dois peixes... A não ser que vamos comprar comida para toda esse gente!” 14 De fato, estavam aí mais ou menos cinco mil homens. Mas Jesus disse aos discípulos: “Mandem o povo sentar-se em grupos de cinquenta.” 15 Os discípulos assim fizeram, e todos se sentaram. 16 Então Jesus pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu, pronunciou sobre eles a bênção e os partiu, e ia dando aos discípulos a fim de que distribuíssem para a multidão. 17 Todos comeram, ficaram satisfeitos, e ainda foram recolhidos doze cestos de pedaços que sobraram. Comentário: * 10-17: Lucas salienta que o fato aconteceu em lugar deserto. Trata-se do povo de Deus em marcha pelo deserto, saciado pelo alimento que o próprio Deus concede. O alimento é dom de Deus. Mas os apóstolos, que são o núcleo da comunidade que cria a nova história, precisam não só perceber que o povo está desabrigado e passa fome, mas também organizar esse povo e providenciar para que o alimento seja distribuído de tal maneira que todos se sintam saciados. A Eucaristia é o sacramento do dom de Deus repartido entre os homens. Jesus acolhe as multidões, fala-lhes do Reino e cura os necessitados. O fim do dia, porém, está chegando, e o que fazer com a multidão que necessita de comida e hospedagem? Os discípulos sugerem despedir a multidão, é a solução mais fácil e cômoda. O Mestre, porém, convoca os discípulos para que não se omitam e procurem organizar o povo em grupos, recolher o que havia entre eles e, depois da bênção de Jesus, repartir entre todos. Resultado: todos comeram e ainda sobrou. É o milagre da partilha. No mundo não há falta de alimento, o que existe é a falta da partilha. Onde não se partilha, alguém acumula e muitos ficam na miséria. Onde há partilha, todos podem ter o mínimo para uma vida digna. Somente partilhando, teremos um mundo sem miséria e sem miseráveis. Se ainda há fome no mundo, é sinal de que a sociedade ainda não descobriu o valor da partilha. Ao doar sua vida pela humanidade, Jesus nos mostrou a mais sublime partilha. Na celebração do corpo e sangue de Cristo, fazemos memória dessa doação suprema do Mestre, o qual nos quer solidários com as necessidades do povo. A cena do milagre da partilha dos pães se perenizou na Eucaristia, como gesto do dom de Deus repartido entre todos, para que todos tenham vida.

1 Coríntios 11, 23-26 Eucaristia e coerência.

23 De fato, eu recebi pessoalmente do Senhor aquilo que transmiti para vocês. Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão 24 e, depois de dar graças, o partiu e disse: “Isto é o meu corpo que é para vocês; façam isto em memória de mim” 25 Do mesmo modo, após a Ceia, tomou também o cálice, dizendo: “Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que vocês beberem dele, façam isso em memória de mim.” 26 Portanto, todas as vezes que vocês comem deste pão e bebem deste cálice, estão anunciando a morte do Senhor, até que ele venha. Comentário: * 17-34: O texto é o mais antigo testemunho sobre a Eucaristia: foi escrito no ano 56, dez anos antes dos Evangelhos. No início, a celebração eucarística se fazia depois de uma ceia, onde todos repartiam os alimentos que cada um levava. Em Corinto surge um problema: nas celebrações está havendo divisão de classes sociais e de mentalidades diferentes. Muitos chegam atrasados, provavelmente porque estavam trabalhando, e não encontram mais nada. Resultado: em vez de ser um testemunho de partilha, a celebração está se tornando lugar de ostentação, foco de discriminação e contrastes gritantes. A situação oferece oportunidade para um discernimento: quem é cristão de fato? Nesse contexto, Paulo relembra a instituição da Eucaristia. Ela é a memória permanente da morte de Jesus como dom de vida para todos (corpo e sangue). A Eucaristia é a celebração da Nova Aliança, isto é, da nova humanidade que nasce da participação no ato de Jesus, não só no culto, mas na vida prática. Por isso, a comunidade que celebra a Eucaristia anuncia o futuro de uma reunião de toda a humanidade. Voltando ao problema, Paulo interpela a comunidade a examinar-se: Não será uma incoerência celebrar a Eucaristia quando na própria celebração se fazem distinções e se marginalizam os mais pobres? Anteriormente (10,17), Paulo salientara que, ao participar da Eucaristia, a comunidade forma um só corpo. Se a comunidade não entender isso («sem discernir o Corpo», v. 29), estará celebrando a sua própria condenação, pois desligará a Eucaristia do seu antecedente e de suas conseqüências práticas: solidariedade e partilha. O julgamento do Senhor se manifesta de dois modos: a própria Eucaristia se torna testemunho contra a comunidade; ao mesmo tempo, a fraqueza, doença e morte de muitos membros testemunham a falta de partilha e solidariedade. Paulo termina com duas orientações práticas: esperar que todos cheguem para começar juntos a reunião (v. 33), e não transformá-la em ocasião de ostentação e gula (vv. 21 e 34).

terça-feira, 14 de junho de 2022

Mateus 6, 1-6.16-18 Superar a justiça dos hipócritas.

* 1 “Prestem atenção! Não pratiquem a justiça de vocês diante dos homens, só para serem elogiados por eles. Fazendo assim, vocês não terão a recompensa do Pai de vocês que está no céu.” Relação com o próximo -* 2 “Por isso, quando você der esmola, não mande tocar trombeta na frente, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa. 3 Ao contrário, quando você der esmola, que a sua esquerda não saiba o que a sua direita faz, 4 para que a sua esmola fique escondida; e seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.” Relação com Deus -* 5 “Quando vocês rezarem, não sejam como os hipócritas, que gostam de rezar em pé nas sinagogas e nas esquinas, para serem vistos pelos homens. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa. 6 Ao contrário, quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu Pai ocultamente; e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.” Relação consigo mesmo -* 16 “Quando vocês jejuarem, não fiquem de rosto triste, como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto para que os homens vejam que estão jejuando. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa. 17 Quando você jejuar, perfume a cabeça e lave o rosto, 18 para que os homens não vejam que você está jejuando, mas somente seu Pai, que vê o escondido; e seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.” Comentário: * 6,1: O termo justiça se refere, aqui, a atitudes práticas em relação ao próximo (esmola), a Deus (oração), e a si mesmo (jejum). Jesus não nega o valor dessas práticas. Ele mostra como devem ser feitas para que se tornem autênticas. * 2-4: A esmola é um gesto de partilha, e deve ser o sinal da compaixão que busca a justiça, relativizando o egoísmo da posse. Dar esmola para ser elogiado é servir a si mesmo e, portanto, falsificá-la. * 5-6: Na oração, o homem se volta para Deus, reconhecendo-o como único absoluto, e reconhecendo a si mesmo como criatura, relativizando a auto-suficiência. Por isso, rezar para ser elogiado é colocar-se como centro, falsificando a oração. * 16-18: Jejuar é privar-se de algo imediato e necessário, a fim de ver perspectivas novas e mais amplas para a realização da vida. Trata-se de deixar o egocentrismo, para crescer e dispor-se a realizar novo projeto de justiça. Jejuar para aparecer é perder de uma vez o sentido do jejum. Jesus continua seu ensinamento no contexto do sermão da montanha, apresentando três práticas importantes para os judeus e também para os cristãos: a caridade, a oração e o jejum. Práticas que os judeus começaram a viver no tempo do exílio babilônico, quando não tinham mais o templo para se reunir e realizar sacrifícios. Essas práticas são válidas também para nós nos dias de hoje. Jesus não as condena, mas condena a maneira errada de vivê-las. Não são para nos exibir diante dos outros e ser aplaudidos, como fazem as pessoas hipócritas ou falsas. A esmola ou a caridade é nossa preocupação para com os outros, principalmente aqueles que mais necessitam. A oração nos coloca em comunhão com Deus para aprender dele a conduzir nossa vida. O jejum nos leva a separar aquilo que é fundamental em nossa vida daquilo que é secundário, dispensável.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Mateus 5, 43-48 Amar como o Pai ama.

* 43 “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo, e odeie o seu inimigo!’ 44 Eu, porém, lhes digo: amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que perseguem vocês! 45 Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu, porque ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e a chuva cair sobre justos e injustos. 46 Pois, se vocês amam somente aqueles que os amam, que recompensa vocês terão? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? 47 E se vocês cumprimentam somente seus irmãos, o que é que vocês fazem de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? 48 Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu.” Comentário: * 43-48: O Evangelho abre a perspectiva do relacionamento humano para além das fronteiras que os homens costumam construir. Amar o inimigo é entrar em relação concreta com aquele que também é amado por Deus, mas que se apresenta como problema para mim. Os conflitos também são uma tarefa do amor. O v. 48 é a conclusão e a chave para se compreender todo o conjunto formado por 5,17-47: os discípulos são convidados a um comportamento que os torne filhos testemunhando a justiça do Pai. Sobre os cobradores de impostos, cf. nota em Mc 2,13-17. Nesses dias, o Evangelho de Mateus (capítulo 5) apresentou Jesus ensinando seus seguidores como ler e aperfeiçoar as leis do Antigo Testamento. Depois de nos apresentar o caminho da superação da violência, o Mestre dá mais um passo adiante e nos diz como conviver com aqueles que não são tão simpáticos ou são mesmo inimigos. O recado do Evangelho de hoje é algo muito difícil: amar os inimigos e rezar por aqueles que nos perseguem, seguindo o exemplo do Pai celeste que disponibiliza sol e chuva para todos. O amor de Deus é tão imenso e gratuito que, muitas vezes, até nos assusta. Como filhos e filhas, devemos aprender dele a estender nosso amor além de nosso círculo de amizade. Jesus propõe, com seus ensinamentos, formar comunidades que se espelham no Pai celeste, que estende seu amor e sua misericórdia a todos seus filhos e filhas.

domingo, 12 de junho de 2022

Mateus 5, 38-42 Violência e resistência.

* 38 “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ 39 Eu, porém, lhes digo: não se vinguem de quem fez o mal a vocês. Pelo contrário: se alguém lhe dá um tapa na face direita, ofereça também a esquerda! 40 Se alguém faz um processo para tomar de você a túnica, deixe também o manto! 41 Se alguém obriga você a andar um quilômetro, caminhe dois quilômetros com ele! 42 Dê a quem lhe pedir, e não vire as costas a quem lhe pedir emprestado.” Comentário: * 38-42: Como se pode superar a vingança ou até mesmo a "justa" punição? O Evangelho propõe atitude nova, a fim de eliminar pela raiz o círculo infernal da violência: a resistência ao inimigo não deve ser feita com as mesmas armas usadas por ele, mas através de comportamento que o desarme. A questão do "olho por olho" era a lei que procurava limitar a violência ou a agressão: o agredido não podia revidar mais do que recebeu. É quase uma atitude natural reagir de forma agressiva diante de uma ofensa ou agressão: violência gera violência. Jesus nos ensina a superar esse comportamento e propõe fazer gestos de bondade ao sofrer alguma agressão. Ou seja, enfrentar a lógica do mal com a não violência: o mal é vencido pelo bem e o ódio é vencido pelo amor. O caminho proposto por Jesus é o único para eliminar a espiral de violência vigente na nossa sociedade e nos nossos relacionamentos. Com essa proposta, Jesus não nos pede passividade ou tolerância diante da violência, mas propõe o caminho do bem e do amor. São atitudes que desarmam o adversário e o deixam impotente. Assim cria-se um clima de fraternidade, harmonia e paz.

sábado, 11 de junho de 2022

João 16, 12-15 Jesus sacia a fome do povo.

12 Quando ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: "Recolham os pedaços que sobraram, para não se desperdiçar nada."» 13 Eles recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães que haviam comido. 14 As pessoas viram o sinal que Jesus tinha realizado e disseram: "Este é mesmo o Profeta que devia vir ao mundo." 15 Mas Jesus percebeu que iam pegá-lo para fazê-lo rei. Então ele se retirou sozinho, de novo, para a montanha. Comentário: * 1-15: Jesus propõe a missão da sua comunidade: ser sinal do amor generoso de Deus, assegurando para todos a possibilidade de subsistência e dignidade. A segurança da subsistência não está no muito que poucos possuem e retêm para si, mas no pouco de cada um que é repartido entre todos. A garantia da dignidade não se encontra no poder de um líder que manda, mas no serviço de cada um que organiza a comunidade para o bem de todos. O Evangelho da solenidade da Santíssima Trindade faz parte do grande discurso de despedida de Jesus relatado pelo Evangelho de João. O texto revela a Trindade santa de Deus: Pai, Filho e Espírito. Jesus diz a seus discípulos que tem muita coisa ainda a transmitir-lhes, mas que no momento não têm condições de compreender tudo. O prometido Espírito da Verdade haverá de clarear a vida e a mensagem do Mestre. Não há como penetrar em todos os mistérios de Deus, somente o Espírito Santo irá iluminando aquilo que Jesus praticou, ensinou e revelou. De fato, os discípulos foram entendendo muitas coisas após a ressurreição de Jesus, quando tinham recebido o dom do Espírito. A missão do Espírito Santo não é completar uma obra incompleta nem fazer concorrência com Jesus, mas receber e anunciar o que é do Mestre. Uma só é a revelação: sua fonte está no Pai, realiza-se no Filho e se completa nos fiéis por meio do Espírito. O Espírito age em nós em sintonia com o Pai e o Filho. Pela ação do Espírito, temos condições de construir comunhão de vida entre os humanos. Como é importante deixar-se iluminar e conduzir pelo Espírito da Verdade para compreender a autêntica verdade revelada por Jesus, evitando, com isso, deturpá-la segundo o bel-prazer de cada um.

Romanos 5, 1-5 O motivo da nossa esperança.

* 1 Assim, justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. 2 Por meio dele e através da fé, nós temos acesso à graça, na qual nos mantemos e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus. 3 E não só isso. Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança, 4 a perseverança produz a fidelidade comprovada, e a fidelidade comprovada produz a esperança. 5 E a esperança não engana, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Comentário: * 1-11: Justificados pela fé em Jesus Cristo, estamos em paz com Deus; por isso, começamos a viver a esperança da salvação. Essa esperança é vivida em meio a uma luta perseverante, ancorada na certeza, garantida pelo Espírito Santo que nos foi dado (vv. 1-5). Deus manifestou seu amor em Jesus Cristo, que morreu por nós quando ainda éramos pecadores (vv. 6-8). Agora que já fomos reconciliados podemos crer com maior razão e esperar que seremos salvos pela vida-ressurreição de Jesus (vv. 9-11). O termo "tribulação", que aparece muitas vezes no Novo Testamento, se refere às opressões e repressões de que é vítima o povo de Deus. Opressões e repressões por parte dos poderes humanos, que procuram reduzir o alcance do testemunho cristão para que este não abale a estrutura vigente na sociedade.