quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Lucas 8, 1-3 As mulheres servem a Jesus .

* 1 Depois disso, Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus. Os Doze iam com ele, 2 e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos maus e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual haviam saído sete demônios; 3 Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e várias outras mulheres, que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam. Comentário: * 8,1-3: Jesus continua sua missão, e vai formando uma comunidade nova, a partir daqueles que são marginalizados pela sociedade do seu tempo, como eram as mulheres. Elas também são parte integrante do grupo que acompanha Jesus. Vida dinâmica a de Jesus e de seus doze apóstolos, concentrados num objetivo comum: anunciar a Boa Notícia do Reino de Deus. Conhecemos o método do trabalho missionário de Jesus: ensinamento e curas libertadoras. Ao grupo de Jesus juntam-se algumas mulheres. Umas tinham sido curadas de suas enfermidades; outras, de poder aquisitivo mais elevado, punham seus bens materiais à disposição de Jesus e da missão. A comunidade de Jesus, desde o início, é composta de homens e mulheres. Todos empenhados no serviço do Reino. Embora a Igreja reconheça a importância da participação da mulher na vida eclesial, o papa Francisco admite que “ainda é preciso ampliar os espaços para uma presença feminina mais incisiva na Igreja” (EG, 103).

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Lucas 7, 36-50 O perdão gera o amor.

-* 36 Certo fariseu convidou Jesus para uma refeição em casa. Jesus entrou na casa do fariseu, e se pôs à mesa. 37 Apareceu então certa mulher, conhecida na cidade como pecadora. Ela, sabendo que Jesus estava à mesa na casa do fariseu, levou um frasco de alabastro com perfume. 38 A mulher se colocou por trás, chorando aos pés de Jesus; com as lágrimas começou a banhar-lhe os pés. Em seguida, os enxugava com os cabelos, cobria-os de beijos, e os ungia com perfume. 39 Vendo isso, o fariseu que havia convidado Jesus ficou pensando: “Se esse homem fosse mesmo um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, porque ela é pecadora”40 Jesus disse então ao fariseu: “Simão, tenho uma coisa para dizer a você.” Simão respondeu: “Fala, mestre.” 41 “Certo credor tinha dois devedores. Um lhe devia quinhentas moedas de prata, e o outro lhe devia cinquenta. 42 Como não tivessem com que pagar, o homem perdoou aos dois. Qual deles o amará mais?” 43 Simão respondeu: “Acho que é aquele a quem ele perdoou mais.” Jesus lhe disse: “Você julgou certo.” 44 Então Jesus voltou-se para a mulher e disse a Simão: “Está vendo esta mulher? Quando entrei em sua casa, você não me ofereceu água para lavar os pés; ela, porém, banhou meus pés com lágrimas, e os enxugou com os cabelos. 45 Você não me deu o beijo de saudação; ela, porém, desde que entrei, não parou de beijar meus pés. 46 Você não derramou óleo na minha cabeça; ela, porém, ungiu meus pés com perfume. 47 Por essa razão, eu declaro a você: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor. Aquele a quem foi perdoado pouco, demonstra pouco amor.” 48 E Jesus disse à mulher: “Seus pecados estão perdoados.” 49 Então os convidados começaram a pensar: “Quem é esse que até perdoa pecados?” 50 Mas Jesus disse à mulher: “Sua fé salvou você. Vá em paz!” Comentário: * 36-50: O fariseu não se considera pecador; por isso, fica numa atitude de julgamento, e não é capaz de entender e experimentar o perdão e o amor. Jesus mostra que a justiça de Deus se manifesta como amor que perdoa os pecados e transforma as condições das pessoas. O amor é expressão e sinal do perdão recebido. Exclusiva de Lucas, esta passagem abre enorme leque para várias considerações. Jesus aceita comer em companhia de um fariseu, que nem suspeita que algo revolucionário vai acontecer. Entra em cena uma mulher, “conhecida na cidade como pecadora”. Um golpe violento para o fariseu, que, por se considerar justo diante de Deus, não digeria a presença de pecadores. Jesus, serenamente, acolhe a mulher e se deixa tocar por ela, que não economiza afagos e lágrimas de amor e gratidão. Jesus sabe da sinceridade do gesto da pecadora, como também “faz leitura” da maldade aninhada no coração do fariseu. Então, põe cada coisa em seu devido lugar: realça a atitude amorosa da mulher e corrige o mau juízo ruminado pelo fariseu. Justifica aquela que fora pecadora e chama à conversão quem se achava impecável.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Lucas 7, 31-35 Os filhos da sabedoria.

-* 31 “Com quem eu vou comparar os homens desta geração? Com quem se parecem eles? 32 São como crianças que se sentam nas praças, e se dirigem aos colegas, dizendo: ‘Tocamos flauta, e vocês não dançaram; cantamos música triste, e vocês não choraram’. 33 Pois veio João Batista, que não comia nem bebia, e vocês disseram: ‘Ele tem um demônio!’ 34 Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e vocês dizem: ‘Ele é um comilão e beberrão, amigo dos cobradores de impostos e dos pecadores!’ 35 Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos.” Comentário: * 31-35: As autoridades religiosas do tempo de Jesus se comportam de maneira infantil: acusam João Batista de louco, porque é severo demais; acusam Jesus de boa-vida, porque parece muito condescendente. O povo e os cobradores de impostos se comportam de maneira sábia: acolhem João Batista e Jesus, reconhecendo neles a revelação da misericordiosa justiça de Deus. Crianças birrentas ficam emburradas e ninguém consegue fazê-las entrar na brincadeira. Imagem escolhida por Jesus para classificar seus conterrâneos. Permaneceram indiferentes e inertes, seja diante da pregação de João Batista, seja com relação à obra libertadora de Jesus. Chamaram João Batista de louco, e apelidaram Jesus de “amigo de cobradores de impostos e pecadores”. Nada os fez sair de seu comodismo. O recado de Jesus atingia, sobretudo, os líderes religiosos, que não acolheram Jesus e seu Reino de justiça; pior: impediam o povo de seguir os passos do Mestre. As pessoas simples, porém, os cobradores de impostos e os pecadores aceitaram Jesus, o Enviado de Deus. Somente os “filhos” da Sabedoria reconhecem e acolhem o Messias em sua maneira simples de agir.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Lucas 7, 11-17 Deus visitou o seu povo.

-* 11 Em seguida, Jesus foi para uma cidade chamada Naim. Com ele iam os discípulos e uma grande multidão. 12 Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto para enterrar; era filho único, e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade ia com ela. 13 Ao vê-la, o Senhor teve compaixão dela, e lhe disse: “Não chore!” 14 Depois se aproximou, tocou no caixão, e os que o carregavam pararam. Então Jesus disse: “Jovem, eu lhe ordeno, levante-se!” 15 O morto sentou-se, e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. 16 Todos ficaram com muito medo, e glorificavam a Deus, dizendo: “Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus veio visitar o seu povo.” 17 E a notícia do fato se espalhou pela Judéia inteira, e por toda a redondeza. Comentário: * 11-17: A atividade libertadora de Jesus é a grande “visita” de Deus que vem salvar o seu povo. Essa visita é a manifestação do amor compassivo, que atende aos mais pobres e necessitados. Situação dramática. A viúva, já sem marido, perde o filho único. Sem família e sem segurança econômica, a caminho do cemitério, encontra-se com Jesus, que, ao ver a comovente cena, “encheu-se de compaixão”. A viúva, afogada pelos soluços e pelas lágrimas, nada pede a Jesus. É ele quem toma a iniciativa e, para atenuar sua dor, diz a ela: “Não chore”, e ao morto: “Jovem, eu lhe ordeno, levante-se”. A palavra poderosa de Jesus restitui a vida ao adolescente e lhe restitui também a palavra: “começou a falar”. Maravilhado, o povo exclama: “Um grande profeta apareceu entre nós. Deus visitou o seu povo”. A salvação é dom de Deus. Em Jesus, vencedor da morte, revela-se a presença bondosa e libertadora de Deus no meio do povo.

domingo, 15 de setembro de 2024

Lucas 7, 1-10 A fé não tem fronteiras.

* 1 Depois que terminou de falar todas essas palavras ao povo que o escutava, Jesus entrou na cidade de Cafarnaum. 2 Havia aí um oficial romano que tinha um empregado, a quem estimava muito. O empregado estava doente, a ponto de morrer. 3 O oficial ouviu falar de Jesus, e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedir a Jesus que fosse salvar o empregado. 4 Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: “O oficial merece que lhe faças esse favor, 5 porque ele estima o nosso povo, e até construiu uma sinagoga para nós.” 6 Então Jesus pôs-se a caminho com eles. Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizer a Jesus: “Senhor, não te incomodes, pois eu não sou digno de que entres em minha casa; 7 nem sequer me atrevi a ir pessoalmente ao teu encontro. Mas dize uma palavra, e o meu empregado ficará curado. 8 Pois eu também estou sob a autoridade de oficiais superiores, e tenho soldados sob minhas ordens. E digo a um: Vá, e ele vai; e a outro: Venha, e ele vem; e ao meu empregado: Faça isso, e ele o faz.” 9 Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Voltou-se para a multidão que o seguia, e disse: “Eu declaro a vocês que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé.” 10 Os mensageiros voltaram para a casa do oficial, e encontraram o empregado em perfeita saúde. Comentário: * 1-10: O oficial era “temente a Deus”, isto é, simpatizante do judaísmo, embora não pertencesse oficialmente aos seus quadros religiosos. Muitas vezes pode-se encontrar mais fé em pessoas que não pertencem a uma instituição religiosa do que entre aquelas que dela fazem parte. Movido por constante zelo missionário, Jesus quer chegar a todos: ao povo eleito, seus conterrâneos, e aos de fora, os pagãos. A este último grupo pertence o centurião. Serve-se de intermediários, “anciãos dos judeus”, para levar seu pedido a Jesus: que fosse curar seu servo. Com essa atitude, ele reconhece que a fé devia ser comunicada aos pagãos por meio de Abraão e seus descendentes. Jesus se põe a caminho. Não chega à casa do enfermo. Não se encontra com o centurião, que se acha indigno de recebê-lo, porém acredita firmemente que basta uma palavra do Mestre para que seu servo recupere a saúde. A cura se dá, e Jesus salienta a profunda fé do centurião: “Nem mesmo em Israel encontrei fé tão grande”. Acaso nossa fé é suficiente para fazer Deus vir em nossa direção e atender nossos pedidos?

sábado, 14 de setembro de 2024

Marcos 8, 27-35 Jesus é o Messias.

-* 27 Jesus partiu com seus discípulos para os povoados de Cesaréia de Filipe. No caminho, ele perguntou a seus discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?” 28 Eles responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas.” 29 Então Jesus perguntou-lhes: “E vocês, quem dizem que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Messias.” 30 Então Jesus proibiu severamente que eles falassem a alguém a respeito dele. 31 Em seguida, Jesus começou a ensinar os discípulos, dizendo: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar depois de três dias.” 32 E Jesus dizia isso abertamente. Então Pedro levou Jesus para um lado e começou a repreendê-lo. 33 Jesus virou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: “Fique longe de mim, satanás! Você não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens.” O seguimento de Jesus -* 34 Então Jesus chamou a multidão e os discípulos. E disse: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. 35 Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim e da Boa Notícia, vai salvá-la. Comentário: * 27-33: A pergunta de Jesus força os discípulos a fazer uma revisão de tudo o que ele realizou no meio do povo. Esse povo não entendeu quem é Jesus. Os discípulos, porém, que acompanham e veem tudo o que Jesus tem feito, reconhecem agora, através de Pedro, que Jesus é o Messias. A ação messiânica de Jesus consiste em criar um mundo plenamente humano, onde tudo é de todos e repartido entre todos. Esse messianismo destrói a estrutura de uma sociedade injusta, onde há ricos à custa de pobres e poderosos à custa de fracos. Por isso, essa sociedade vai matar Jesus, antes que ele a destrua. Mas os discípulos imaginam um messias glorioso e triunfante. * 34-38: A morte de cruz era reservada a criminosos e subversivos. Quem quer seguir a Jesus esteja disposto a se tornar marginalizado por uma sociedade injusta (perder a vida) e mais, a sofrer o mesmo destino de Jesus: morrer como subversivo (tomar a cruz). Jesus quer saber a opinião do povo, principalmente dos discípulos, a seu respeito. Pedro responde: “Tu és o Messias”. Jesus os proíbe de espalhar essa informação, em vista de proteger-se das autoridades e evitar que sua missão seja mal interpretada. É que, para a mentalidade da época, o Messias viria com poder para expulsar os ocupantes estrangeiros e implantar triunfalmente o Reino. Um abalo para o governo! Jesus corrige a resposta de Pedro: o Messias será vítima dos chefes e terá morte trágica. Pedro discorda. Jesus o chama de satanás, isto é, adversário, contrário ao projeto de Deus. O verdadeiro Messias se identifica com o Servo sofredor de Isaías (Is 53: pela paixão, à glória). Os seguidores de Jesus devem estar conscientes desse caminho que o Messias está percorrendo.

Tiago 2, 14-18 A fé se manifesta em atos concretos.

-* 14 Meus irmãos, se alguém diz que tem fé, mas não tem obras, que adianta isso? Por acaso a fé poderá salvá-lo? 15 Por exemplo: um irmão ou irmã não têm o que vestir e lhes falta o pão de cada dia. 16 Então alguém de vocês diz para eles: “Vão em paz, se aqueçam e comam bastante”; no entanto, não lhes dá o necessário para o corpo. Que adianta isso? 17 Assim também é a fé: sem as obras, ela está completamente morta. 18 Alguém poderia dizer ainda: “Você tem a fé, e eu tenho as obras. Pois bem! Mostre-me a sua fé sem as obras, e eu, com as minhas obras, lhe mostrarei a minha fé.” Comentário: * 14-26: O único meio de salvação é a fé, a adesão a Jesus Cristo. Essa fé, porém, não é coisa teórica ou mero sentimento interior; é o compromisso que se manifesta concretamente em atos e fatos visíveis (cf. Mt 7,21). Tiago toma dois exemplos do Antigo Testamento, que podem ser comparados com Hb 11,31 e, principalmente, com Rm 4 e Gl 3. Aparentemente, Tiago e Paulo tiram conclusões opostas, ao usar o mesmo exemplo. Notemos, porém: Paulo diz que Abraão se tornou justo por meio da fé, e não mediante a prática da Lei. Tiago diz mais: a fé que justificou Abraão é uma realidade que se traduz na prática de atos concretos. Ao falar de prática da Lei, Paulo afirma que nenhuma observância de regras pode levar à salvação, e que a fé é o princípio de toda a vida cristã. Tiago, por sua vez, salienta que a fé se traduz no amor, e este realiza atos concretos. Paulo diz a mesma coisa: “a fé age por meio do amor” (Gl 5,6).

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Lucas 6, 39-42 Só Deus pode julgar.

39 Jesus contou uma parábola aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco? 40 Nenhum discípulo é maior do que o mestre; e todo discípulo bem formado será como o seu mestre. 41 Por que você fica olhando o cisco no olho do seu irmão, e não presta atenção na trave que há no seu próprio olho? 42 Como é que você pode dizer ao seu irmão: ‘Irmão, deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando você não vê a trave no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro a trave do seu próprio olho, e então você enxergará bem, para tirar o cisco do olho do seu irmão.” Comentário: * 37-42: Cf. nota em Mt 7,1-5. Lucas salienta que as relações numa sociedade nova não devem ser de julgamento e condenação, mas de perdão e dom. Só Deus pode julgar. Falta-nos capacidade para conhecermos o que se passa no íntimo de outra pessoa. Qualquer juízo está sujeito a não corresponder à verdade. Isso, conforme a gravidade, pode configurar-se como calúnia, certamente um dos maiores pecados do ser humano. Em geral, somos compassivos e benévolos com nossos próprios erros, e “carrascos” em relação aos defeitos dos outros. Jesus nos ensina a considerar primeiro o mal que existe em nós. Então, seremos mais compreensivos e mais tolerantes em relação ao próximo. O famoso pensador chinês Confúcio dizia: “Quando vires um homem bom, tenta imitá-lo; quando vires um homem mau, examina-te a ti mesmo”. Quando enxergamos um defeito em nossos semelhantes, não será porque ele já existe em nós?

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Lucas 6, 27-38 A gratuidade nas relações.

* 27 “Mas, eu digo a vocês que me escutam: amem os seus inimigos, e façam o bem aos que odeiam vocês. 28 Desejem o bem aos que os amaldiçoam, e rezem por aqueles que caluniam vocês. 29 Se alguém lhe dá um tapa numa face, ofereça também a outra; se alguém lhe toma o manto, deixe que leve também a túnica. 30 Dê a quem lhe pede e, se alguém tira o que é de você, não peça que devolva. 31 O que vocês desejam que os outros lhes façam, também vocês devem fazer a eles. 32 Se vocês amam somente aqueles que os amam, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores amam aqueles que os amam. 33 Se vocês fazem o bem somente aos que lhes fazem o bem, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores fazem assim. 34 E se vocês emprestam somente para aqueles de quem esperam receber, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores emprestam aos pecadores, para receber de volta a mesma quantia. 35 Ao contrário, amem os inimigos, façam o bem e emprestem, sem esperar coisa alguma em troca. Então, a recompensa de vocês será grande, e vocês serão filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e maus. 36 Sejam misericordiosos, como também o Pai de vocês é misericordioso.” Só Deus pode julgar -* 37 “Não julguem, e vocês não serão julgados; não condenem, e não serão condenados; perdoem, e serão perdoados. 38 Deem, e será dado a vocês; colocarão nos braços de vocês uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante. Porque a mesma medida que vocês usarem para os outros, será usada para vocês.” Comentário: * 27-36: A vida em sociedade é feita de relacionamentos de interesses e reciprocidade, que geram lucro, poder e prestígio. O Evangelho revoluciona o campo das relações humanas, mostrando que, numa sociedade justa e fraterna, as relações devem ser gratuitas, à semelhança do amor misericordioso do Pai. * 37-42: Cf. nota em Mt 7,1-5. Lucas salienta que as relações numa sociedade nova não devem ser de julgamento e condenação, mas de perdão e dom. Só Deus pode julgar. O fio condutor do ensinamento de Jesus é: “Sejam misericordiosos, como o Pai de vocês é misericordioso”. As demais exigências encontram aí sua raiz e motivação. E nos chocam. Parecem estranhas ou absurdas, pois, em geral, não estamos habituados à gratuidade que Jesus nos pede. Somos frutos da sociedade do intercâmbio, em que as trocas de bens se fazem mediante pagamento. O dinheiro funciona como última palavra, fechamento de negócios: mentalidade comercial. No entanto, Jesus rompe com esse modo de pensar e agir. Busca refrear o egoísmo interesseiro. Propõe aos discípulos do Reino um caminho de desapego e liberdade pessoal, que se traduz em gestos concretos de amor. Só no Deus misericordioso encontraremos força e sentido para pôr em prática essas exigências de Jesus e do seu Reino.

Lucas 6, 20-26 Anseio por um mundo novo.

20 Levantando os olhos para os discípulos, Jesus disse: ”Felizes de vocês, os pobres, porque o Reino de Deus lhes pertence. 21 Felizes de vocês que agora têm fome, porque serão saciados. Felizes de vocês que agora choram, porque hão de rir. 22 Felizes de vocês se os homens os odeiam, se os expulsam, os insultam e amaldiçoam o nome de vocês, por causa do Filho do Homem. 23 Alegrem-se nesse dia, pulem de alegria, pois será grande a recompensa de vocês no céu, porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas. 24 Mas, ai de vocês, os ricos, porque já têm a sua consolação! 25 Ai de vocês, que agora têm fartura, porque vão passar fome! Ai de vocês, que agora riem, porque vão ficar aflitos e irão chorar! 26 Ai de vocês, se todos os elogiam, porque era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas.” Comentário: * 17-26: O povo vem de todas as partes ao encontro de Jesus, porque a ação dele faz nascer a esperança de uma sociedade nova, libertada da alienação e dos males que afligem os homens. Os vv. 20-26 proclamam o cerne de toda a atividade de Jesus: produzir uma sociedade justa e fraterna, aberta para a novidade de Deus. Para isso, é preciso libertar os pobres e famintos, os aflitos e os que são perseguidos por causa da justiça. Isso, porém, só se alcança denunciando aqueles que geram a pobreza e a opressão e depondo-os dos seus privilégios. Não é possível abençoar o pobre sem libertá-lo da pobreza. Não é possível libertar o pobre da pobreza sem denunciar o rico para libertá-lo da riqueza. Jesus denomina “felizes” os pobres, os que têm fome, os que agora choram e os que são rejeitados “por causa do Filho do Homem”. Podem pular de alegria, “porque é grande a recompensa de vocês no céu”. O céu é a vida de comunhão com Deus. O olhar atento e misericordioso do Pai já pousa sobre as pessoas com essas características. Há, porém, outro grupo de pessoas que ouve palavras de acusação: os ricos, os que agora são saciados, os que agora riem, os que são elogiados por todos. Não aparece, aqui, nenhuma condenação. Trata-se, sobretudo, de advertência do Senhor sobre o perigo das riquezas deste mundo. Sempre é tempo de mudar o modo de vida, isto é, passar para o lado dos “felizes”, escolhendo permanecer do lado de Deus. A recompensa não lhes faltará.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Lucas 6, 12-19 Os doze apóstolos.

-* 12 Nesses dias, Jesus foi para a montanha a fim de rezar. E passou toda a noite em oração a Deus. 13 Ao amanhecer, chamou seus discípulos, e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: 14 Simão, a quem também deu o nome de Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; 15 Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelota; 16 Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que se tornou traidor. Anseio por um mundo novo -* 17 Jesus desceu da montanha com os doze apóstolos, e parou num lugar plano. Estava aí numerosa multidão de seus discípulos com muita gente do povo de toda a Judéia, de Jerusalém, e do litoral de Tiro e Sidônia. 18 Foram para ouvir Jesus e serem curados de suas doenças. E aqueles que estavam atormentados por espíritos maus, foram curados. 19 Toda a multidão procurava tocar em Jesus, porque uma força saía dele, e curava a todos. Comentário: * 12-16: Jesus escolhe os doze apóstolos, que formarão o núcleo da comunidade nova que ele veio criar. A palavra apóstolo significa aquele que Jesus envia para continuar a sua obra. * 17-26: O povo vem de todas as partes ao encontro de Jesus, porque a ação dele faz nascer a esperança de uma sociedade nova, libertada da alienação e dos males que afligem os homens. Os vv. 20-26 proclamam o cerne de toda a atividade de Jesus: produzir uma sociedade justa e fraterna, aberta para a novidade de Deus. Para isso, é preciso libertar os pobres e famintos, os aflitos e os que são perseguidos por causa da justiça. Isso, porém, só se alcança denunciando aqueles que geram a pobreza e a opressão e depondo-os dos seus privilégios. Não é possível abençoar o pobre sem libertá-lo da pobreza. Não é possível libertar o pobre da pobreza sem denunciar o rico para libertá-lo da riqueza. Jesus “passou a noite inteira em oração a Deus”. Tinha bom motivo: estava prestes a escolher, dentre seus discípulos, os doze apóstolos. Com eles formaria o primeiro núcleo da comunidade cristã. Escolhe pessoas de níveis sociais e caracteres diferentes; de cultura e orientação política diversificadas. Um deles será o traidor. Com esse grupo nada homogêneo é que Jesus implantará as bases do Reino de Deus. Mediante seus ensinamentos e ações, irá prepará-los para perpetuarem sua obra no mundo. Ao descer da montanha, Jesus continua atendendo a multidão. Com sua palavra poderosa, sua energia e toque terapêuticos, ele restitui a saúde aos enfermos, reintegra na vida social os marginalizados e enche de esperança os pecadores. Missão libertadora de Jesus e dos apóstolos. Missão dos cristãos, hoje.

domingo, 8 de setembro de 2024

Lucas 6, 6-11 A lei de Jesus é salvar o homem.

* 6 Em outro sábado, Jesus entrou na sinagoga, e começou a ensinar. Aí havia um homem com a mão direita seca. 7 Os doutores e os fariseus espiavam, para ver se Jesus iria curá-lo durante o sábado, e assim encontrarem motivo para acusá-lo. 8 Mas Jesus sabia o que eles estavam pensando, e disse ao homem da mão seca: “Levante-se, e fique no meio.” Ele se levantou, e ficou de pé. 9 Jesus disse aos outros: “Eu pergunto a vocês: a Lei permite no sábado fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou deixar que se perca?” 10 Então Jesus olhou para todos os que estavam ao seu redor, e disse ao homem: “Estenda a mão.” O homem assim o fez, e sua mão ficou boa. 11 Eles ficaram com muita raiva, e começaram a conversar sobre o que poderiam fazer contra Jesus. Comentário: * 6-11: Jesus mostra que a lei do sábado deve ser interpretada como libertação e vida para o homem. Por isso, os que preferem ficar com o velho sistema se reúnem para planejar a morte de Jesus: ele está destruindo as ideias de religião e sociedade que eles tinham. Os doutores da Lei e os fariseus, presentes na sinagoga, espreitavam os movimentos de Jesus. Caso ele fizesse alguma cura, eles teriam “motivo de acusá-lo”. Jesus põe no centro da celebração um homem com a mão paralisada, e lança uma pergunta de fácil compreensão: “Eu pergunto a vocês: No sábado, é permitido fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou destruí-la?”. Não se ouvem palpites. A resposta correta é: “Fazer o bem… Salvar uma vida”. Jesus decide fazer o bem, naquele dia, naquela hora. Os doutores da Lei e os fariseus, ao invés, escolhem fazer o mal: “Eles se encheram de raiva, e discutiam entre si sobre o que fariam contra Jesus”. Essa atitude, certamente, não agrada a Deus. São eles que profanam o sábado.

sábado, 7 de setembro de 2024

Marcos 7, 31-37 Jesus inicia uma nova criação.

-* 31 Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole. 32 Levaram então a Jesus um homem surdo e que falava com dificuldade, e pediram que Jesus pusesse a mão sobre ele. 33 Jesus se afastou com o homem para longe da multidão; em seguida pôs os dedos no ouvido do homem, cuspiu e com a sua saliva tocou a língua dele. 34 Depois olhou para o céu, suspirou e disse: “Efatá!”, que quer dizer: “Abra-se!” 35 Imediatamente os ouvidos do homem se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade. 36 Jesus recomendou com insistência que não contassem nada a ninguém. No entanto, quanto mais ele recomendava, mais eles pregavam. 37 Estavam muito impressionados e diziam: “Jesus faz bem todas as coisas. Faz os surdos ouvir e os mudos falar.” Comentário: * 31-37: A missão de Jesus inicia nova criação (Gn 1,31). Para isso ele abre os ouvidos e a boca dos homens, para que eles sejam capazes de ouvir e falar, isto é, discernir a realidade e dizer a palavra que a transforma. Na tradição profética, a surdez (assim como a cegueira) era figura da resistência à mensagem de Deus. No Evangelho, os primeiros a não acolherem a mensagem de Jesus são seus discípulos, que continuam apegados à ideologia nacionalista, isto é, consideram os judeus superiores aos outros povos. Jesus, no entanto, ensina a igualdade de todos os povos em relação ao Reino. A aclamação dos assistentes – “Ele fez bem todas as coisas” – recorda Gn 1,31: “E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo era muito bom”. Essa entusiasta reação do povo nos ajuda a entender o simbolismo, aplicado à liturgia batismal: o catecúmeno torna-se nova criatura mediante a intervenção de Jesus, que, no batismo, lhe abre os ouvidos e lhe solta a língua, para que escute, viva e faça ressoar para os outros a Palavra de Deus.

Tiago 2, 1-5 Deus prefere os pobres.

* 1 Queridos irmãos, não misturem com certos favoritismos pessoais a fé que vocês têm em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória. 2 Por exemplo: entra na reunião de vocês uma pessoa com anéis de ouro e vestida com elegância; e entra também uma pessoa pobre, vestida com roupas velhas. 3 Suponhamos que vocês deem atenção à pessoa que está vestida com elegância e lhe dizem: “sente-se aqui, neste lugar confortável”; mas dizem à pessoa pobre: “fique aí em pé”; ou então: “sente-se aí no chão, perto do estrado dos meus pés.” 4* Nesse caso, vocês estão fazendo diferença entre vocês mesmos e julgando os outros com péssimos critérios. 5 Ouçam, meus queridos irmãos: não foi Deus quem escolheu os que são pobres aos olhos do mundo, para torná-los ricos na fé e herdeiros do Reino que ele prometeu àqueles que o amam? Comentário: * 1-4: O favoritismo, que faz diferença entre as pessoas, opõe-se à fé no Senhor Jesus Cristo. De fato, para o cristão existe uma só glória: é a glória do Senhor. Os vv. 2-4 apresentam exemplo concreto do favoritismo que deforma a comunidade cristã. * 5-13: Deus prefere os pobres e, portanto, essa é a única preferência que se justifica na sociedade humana. A dignidade dos pobres repousa no fato de que eles são ricos na fé e herdeiros do Reino (cf. Mt 5,3; 11,25-27). Os ricos são indignos porque difamam o nome, isto é, a própria pessoa de Jesus (cf. At 9,5) oprimindo, perseguindo e distorcendo a justiça contra aqueles que se comprometem com o projeto de Deus. O favoritismo em prol dos ricos não se concilia com a fé cristã, porque se choca com o mais importante dos mandamentos. Segundo o contexto, próximo, aqui, significa o pobre e oprimido. Qualquer tipo de favoritismo em favor do rico não é simplesmente desobediência a um dos pontos da lei de Deus, mas à lei inteira, que se resume no amor ao pobre. O cristão se rege pelo Evangelho, que tem como centro o mandamento do amor (= lei da liberdade, cf. nota em 1,19-25). E este mandamento se realiza na prática da misericórdia, concretizada na preferência pelos pobres e marginalizados, tornando-se a matéria única do julgamento (cf. Mt 25,31-46).

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Lucas 6, 1-5 Jesus liberta da lei.

* 1 Num dia de sábado, Jesus estava passando por uns campos de trigo. Os discípulos arrancavam e comiam as espigas, debulhando-as com as mãos. 2 Então alguns fariseus disseram: “Por que vocês estão fazendo o que não é permitido em dia de sábado?” 3 Jesus respondeu: “Então vocês não leram o que Davi e seus companheiros fizeram quando estavam sentindo fome? 4 Davi entrou na casa de Deus, pegou e comeu dos pães oferecidos a Deus, e ainda os deu a seus companheiros. No entanto, só os sacerdotes podem comer desses pães.” 5 E Jesus acrescentou: “O Filho do Homem é senhor do sábado.” Comentário: * 1-5: Sendo senhor do sábado, Jesus está acima das leis, mesmo religiosas, que os homens elaboram. Ele relativiza essas leis, mostrando que elas não têm sentido quando impedem o homem de ter acesso aos bens necessários para a própria sobrevivência. Na Antiga Aliança, o sábado era reservado ao culto religioso e ao descanso; ninguém estava autorizado a trabalhar. Nem mesmo os animais (cf. Ex 20,8-11; Dt 5,12-15). Jesus não falta com o respeito ao sábado. É que ele põe o ser humano acima das prescrições sabáticas. Assim, ele liberta da doença algumas pessoas, em dia de sábado. Neste episódio, os fariseus confundem colheita da produção agrícola com o simples catar algumas espigas para matar a fome (necessidade urgente e inadiável). Jesus corrige a mentalidade dos fariseus, dizendo que eles desconhecem as Escrituras, que eles tanto prezam e citam: “Vocês nunca leram o que fez Davi quando estava com fome?”. Jesus é maior do que Davi, que eles muito admiram e valorizam: “O Filho do Homem é Senhor do sábado”.

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Lucas 5, 33-39 Jesus provoca ruptura.

* 33 Eles disseram a Jesus: “Os discípulos de João, e também os discípulos dos fariseus, jejuam com frequência e fazem orações, mas os teus discípulos comem e bebem.” 34 Mas Jesus disse: “Vocês acham que os convidados de um casamento podem fazer jejum enquanto o noivo está com eles? 35 Mas vão chegar dias em que o noivo será tirado do meio deles; nesses dias eles vão jejuar.” 36 Jesus contou-lhes ainda uma parábola: “Ninguém tira retalho de roupa nova para remendar roupa velha; senão, vai rasgar a roupa nova, e o retalho novo não combina com a roupa velha. 37 Ninguém coloca vinho novo em barris velhos; porque, de fato, o vinho novo arrebenta os barris velhos, e se derrama, e os barris se perdem. 38 Vinho novo deve ser colocado em barris novos. 39 E ninguém, depois de beber vinho velho, deseja vinho novo, porque diz: o velho é melhor.” Comentário: * 33-39: Cf. nota em Mc 2,18-22. Lucas salienta que quem está habituado às estruturas do velho sistema, e não se predispõe à mudança, jamais aceita a novidade trazida por Jesus (v. 39). O comentário dos doutores da Lei e dos fariseus é uma provocação a Jesus. Mais que isso, é uma acusação, como se a pequena comunidade de Jesus estivesse cometendo erro. Por que haveriam de fazer jejum os discípulos de Jesus? Eles estão usufruindo da plena presença do Messias (o noivo). O jejum era proposto e observado como sinal de espera da salvação. Ora, o Salvador já está entre eles. A questão é que os mestres da Lei e os fariseus não querem “ver” Jesus, nem reconhecer que ele é o Enviado do Pai para redimir o mundo. Ficam fechados num legalismo paralisante e não se abrem para a Boa-nova. Não aceitam converter-se para Jesus. Acomodam-se às estruturas antigas, ineficazes, sem o sopro renovador do Espírito. Não querem mudança; preferem a mesmice: “O vinho velho é melhor!”.

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Lucas 5, 1-11 O seguimento de Jesus.

-* 1 Certo dia, Jesus estava na margem do lago de Genesaré. A multidão se apertava ao seu redor para ouvir a palavra de Deus. 2 Jesus viu duas barcas paradas na margem do lago; os pescadores haviam desembarcado, e lavavam as redes. 3 Subindo numa das barcas, que era de Simão, pediu que se afastasse um pouco da margem. Depois sentou-se e, da barca, ensinava as multidões. 4 Quando acabou de falar, disse a Simão: “Avance para águas mais profundas, e lancem as redes para a pesca.” 5 Simão respondeu: “Mestre, tentamos a noite inteira, e não pescamos nada. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes.” 6 Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes, que as redes se arrebentavam. 7 Então fizeram sinal aos companheiros da outra barca, para que fossem ajudá-los. Eles foram, e encheram as duas barcas, a ponto de quase afundarem. 8 Ao ver isso, Simão Pedro atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” 9 É que o espanto tinha tomado conta de Simão e de todos os seus companheiros, por causa da pesca que acabavam de fazer. 10 Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão, também ficaram espantados. Mas Jesus disse a Simão: “Não tenha medo! De hoje em diante você será pescador de homens.” 11 Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo, e seguiram a Jesus. Comentário: * 1-11: A cena é simbólica. Jesus chama seus primeiros discípulos, mostrando-lhes qual a missão reservada a eles: fazer que os homens participem da libertação trazida por Jesus e que só pode realizar-se no seguimento dele, mediante a união com ele e sua missão. O convite ao seguimento é exigente: é preciso “deixar tudo”, para que nada impeça o discípulo de anunciar a Boa Notícia do Reino. Jesus está à beira do lago, e sua preocupação primeira não é pescar peixes. Seu interesse se volta principalmente para a multidão que “se apertava ao redor dele para ouvir a Palavra de Deus”. E Jesus as ensinava. A importância desse fato é ilustrada pelo episódio que ocorre na sequência. Pela palavra de Jesus, houve abundância de peixes nas redes dos pescadores. Haverá também aproximação de multidões de pessoas para ouvir a Palavra de Deus, pela voz do discípulo do Senhor: “A partir de agora você vai ser pescador de gente”. A missão está inaugurada. Missionários são os discípulos e discípulas do Mestre de Nazaré. O tema da pregação é a Palavra de Deus. O sucesso da missão virá da humildade do evangelizador (“sou um pecador”) e do poder de Jesus: “Avance para águas mais profundas”.

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Lucas 4, 38-44 Ser livre para servir.

Evangelho: Lucas 4,38-44 * 38 Jesus saiu da sinagoga, e foi para a casa de Simão. A sogra de Simão estava com febre alta, e pediram a Jesus em favor dela. 39 Inclinando-se para ela, Jesus ameaçou a febre, e esta deixou a mulher. Então, no mesmo instante, ela se levantou, e começou a servi-los. 40 Ao pôr do sol, todos os que tinham doentes atingidos por diversos males, os levavam a Jesus. Jesus colocava as mãos em cada um deles, e os curava. 41 De muitas pessoas também saíam demônios, gritando: “Tu és o Filho de Deus.” Jesus os ameaçava, e não os deixava falar, porque os demônios sabiam que ele era o Messias. Jesus anuncia o Reino -* 42 Ao raiar do dia, Jesus saiu, e foi para um lugar deserto. As multidões o procuravam, e, indo até ele, não queriam deixá-lo que fosse embora. 43 Mas Jesus disse: “Devo anunciar a Boa Notícia do Reino de Deus também para as outras cidades, porque para isso é que fui enviado.” 44 E Jesus pregava nas sinagogas da Judéia. Comentário: * 38-41: Cf. nota em Mc 1, 29-34: Para os antigos, a febre era de origem demoníaca. Libertos do demônio, os homens podem levantar-se e pôr-se a serviço. Os demônios reconhecem quem é Jesus, porque sentem que a palavra e ação dele ameaça o domínio que eles têm sobre o homem. * 42-44: A Boa Notícia do Reino é o amor de Deus que provoca a transformação radical das estruturas que escravizam os homens. Para anunciá-la, Jesus vai ao encontro daqueles que ainda não a conhecem. Para os contemporâneos de Jesus, a doença era uma forma de dominação do adversário (demônio). Com febre alta, a sogra de Pedro estava impossibilitada de prestar serviço à comunidade. Jesus a liberta pela cura. Ao curar as enfermidades, Jesus demonstra seu poder libertador sobre as forças que oprimem as pessoas. Com isso, vai-se concretizando a atividade libertadora de Jesus, já esboçada no Cântico de Zacarias (cf. Lc 1,68-79) e anunciada pelo próprio Jesus no seu discurso inaugural, na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,16-19). O Evangelho de Lucas apresenta Jesus sempre a caminho, de modo que ninguém consegue segurá-lo. Sua caminhada terminará em Jerusalém, de onde, outra vez, partirá, mediante seus discípulos, para chegar aos “extremos da terra” (At 1,8).

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Lucas 4, 31-37 Jesus liberta da alienação.

* 31 Jesus foi a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e aí ensinava aos sábados. 32 As pessoas ficavam admiradas com o seu ensinamento, porque Jesus falava com autoridade. 33 Na sinagoga havia um homem possuído pelo espírito de um demônio mau, que gritou em alta voz: 34 “O que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus!” 35 Jesus o ameaçou, dizendo: “Cale-se, e saia dele!” Então o demônio jogou o homem no chão, saiu dele, e não lhe fez mal nenhum. 36 O espanto tomou conta de todos, e eles comentavam entre si: “Que palavra é essa? Ele manda nos espíritos maus com autoridade e poder, e eles saem.” 37 E a fama de Jesus se espalhava em todos os lugares da redondeza. Comentário: * 31-37: Cf. nota em Mc 1, 21-28: A ação demoníaca escraviza e aliena o homem, impedindo-o de pensar e de agir por si mesmo (por exemplo: ideologias, propagandas, estruturas, sistemas etc.): outros pensam e agem através dele. O primeiro milagre de Jesus é fazer o homem voltar à consciência e à liberdade. Só assim o homem pode segui-lo. Marcos não diz qual era o ensinamento de Jesus; contudo, mencionando-o junto com uma ação de cura, ele sugere que o ensinamento com autoridade repousa numa prática concreta de libertação: com sua ação Jesus interpreta as Escrituras de modo superior a toda a cultura dos doutores da Lei. Onde está Jesus, não há lugar para as forças do mal, justamente porque ele é o “Santo de Deus”, conforme expressão do anjo Gabriel a Maria (Lc 1,35). Ele “fala com autoridade”. Sua palavra é eficaz, realiza o que diz (v. 36). “Ele dá ordens aos espíritos impuros, e eles saem”. Diante da multidão maravilhada, Jesus expulsa o demônio impuro. Segundo a mentalidade da época, a doença era atribuída a um poder maligno personificado, o demônio. Como entender essa expulsão? “A principal ação do demônio é alienar as pessoas, impedindo-as de pensar e agir por si mesmas. Tudo aquilo que aliena as pessoas é mau e demoníaco, e então compreendemos que as ideologias, as propagandas mentirosas, os sistemas, as estruturas opressoras são agentes do demônio, enganando e manipulando o povo” (Ivo Storniolo).

domingo, 1 de setembro de 2024

Lucas 4, 16-30 O programa da atividade de Jesus.

16 Jesus foi à cidade de Nazaré, onde se havia criado. Conforme seu costume, no sábado entrou na sinagoga, e levantou-se para fazer a leitura. 17 Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus encontrou a passagem onde está escrito: 18 “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos, 19 e para proclamar um ano de graça do Senhor.” 20 Em seguida Jesus fechou o livro, o entregou na mão do ajudante, e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21 Então Jesus começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura, que vocês acabam de ouvir.” Reação do povo -* 22 Todos aprovavam Jesus, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca. E diziam: “Este não é o filho de José?” 23 Mas Jesus disse: “Sem dúvida vocês vão repetir para mim o provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Faze também aqui, em tua terra, tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum.” 24 E acrescentou: “Eu garanto a vocês: nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. 25 De fato, eu lhes digo que havia muitas viúvas em Israel, no tempo do profeta Elias, quando não vinha chuva do céu durante três anos e seis meses, e houve grande fome em toda a região. 26 No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, e sim a uma viúva estrangeira, que vivia em Sarepta, na Sidônia. 27 Havia também muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu. Apesar disso, nenhum deles foi curado, a não ser o estrangeiro Naamã, que era sírio.” 28 Quando ouviram essas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. 29 Levantaram-se, e expulsaram Jesus da cidade. E o levaram até o alto do monte, sobre o qual a cidade estava construída, com intenção de lançá-lo no precipício. 30 Mas Jesus, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho. Comentário: * 14-21: Colocada no início da vida pública de Jesus, esta passagem constitui, conforme Lucas, o programa de toda a atividade de Jesus. Is 61,1-2 anunciara que o Messias iria realizar a missão libertadora dos pobres e oprimidos. Jesus aplica a passagem a si mesmo, assumindo-a no hoje concreto em que se encontra. No ano da graça eram perdoadas todas as dívidas e se redistribuíam fraternalmente todas as terras e propriedades: Jesus encaminha a humanidade para uma situação de reconciliação e partilha, que tornam possíveis a igualdade, a fraternidade e a comunhão. * 22-30: A dúvida e a rejeição de Jesus por parte de seus compatriotas fazem prever a hostilidade e a rejeição de toda a atividade de Jesus por parte de todo o seu povo. No entanto, Jesus prossegue seu caminho, para construir a nova história que engloba toda a humanidade. Na sinagoga de Nazaré, Jesus lê a passagem de Isaías 61,1-2. É um retrato do Messias e de sua missão libertadora. Tudo decorria tranquilamente, até que Jesus surpreendeu a todos aplicando a si o que acabara de ler: “Hoje se cumpriu essa passagem da Escritura”. Houve cochichos e comentários. Alguns ficaram “admirados” com suas palavras cheias de graça. Entretanto, Jesus sente que muitos concidadãos não o aceitam como Messias. Aproveita para valorizar a fé e a conversão de estrangeiros, os pagãos. Desperta a indignação de muitos da assembleia, que, levados por fúria descontrolada, tentam jogá-lo no precipício. Jesus escapa ileso. Sua missão está traçada: ele conquistará multidões de pobres e marginalizados para o Reino de Deus, porém será acompanhado pela inseparável sombra da perseguição.