domingo, 8 de junho de 2025

João 19, 25-34 A relação entre Israel e a comunidade de Jesus.

* 25 A mãe de Jesus, a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena estavam junto à cruz. 26 Jesus viu a mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava. Então disse à mãe: “Mulher, eis aí o seu filho.” 27 Depois disse ao discípulo: “Eis aí a sua mãe.” E dessa hora em diante, o discípulo a recebeu em sua casa. Jesus amou até o fim -* 28 Depois disso, sabendo que tudo estava realizado, para que se cumprisse a Escritura, Jesus disse: “Tenho sede.” 29 Havia aí uma jarra cheia de vinagre. Amarraram uma esponja ensopada de vinagre numa vara, e aproximaram a esponja da boca de Jesus. 30 Ele tomou o vinagre e disse: “Tudo está realizado.” E, inclinando a cabeça, entregou o espírito. A morte de Jesus é o maior sinal de vida -* 31 Era dia de preparativos para a Páscoa. Os judeus queriam evitar que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque esse sábado era muito solene para eles. Então pediram que Pilatos mandasse quebrar as pernas dos crucificados e os tirasse da cruz. 32 Os soldados foram e quebraram as pernas de um e depois do outro, que estavam crucificados com Jesus. 33 E se aproximaram de Jesus. Vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas, 34 mas um soldado lhe atravessou o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água. Comentário: * 25-27: A mãe de Jesus representa aqui o povo da antiga aliança que se conservou fiel às promessas e espera pelo salvador. E o discípulo amado representa o novo povo de Deus, formado por todos os que dão sua adesão a Jesus. Na relação mãe-filho, o evangelista mostra a unidade e continuação do povo de Deus, fiel à promessa e herdeiro da sua realização. * 28-30: O projeto de Deus a respeito do homem se completa na morte de Jesus, sinal do seu dom de amor até o fim. O Espírito que Jesus entrega é o mesmo que o conduziu em toda a sua atividade. Ele realiza o reino universal e constitui o novo povo de Deus, que continuará a obra de Jesus. * 31-37: Morto na cruz, Jesus é o grande sinal, o ápice de todos os sinais narrados pelo evangelista. O sangue simboliza a morte; a água simboliza o Espírito que dá a vida: com sua morte Jesus trouxe a vida. Captar e testemunhar este sinal é questão decisiva, pois só através dele a história do homem vai encontrar a possibilidade de chegar à sua plenitude, dando lugar à sociedade livre e fraterna. É acreditando na vida de Jesus que o cristão continua a obra libertadora por ele iniciada. Com seu sacrifício na cruz, Cristo devolveu a todos os homens e mulheres a dignidade de filhos amados do Pai. Somos, portanto, todos irmãos em Cristo. E se somos irmãos, temos o mesmo Pai e a mesma Mãe. Nesse sentido, Maria não é apenas a Mãe de Jesus, ela é Mãe de toda a humanidade renascida em Cristo. Ao instituir a memória que hoje celebramos, o papa Francisco assim declarou: “A Mãe, que estava junto à cruz, aceitou o testamento do amor do seu Filho e acolheu todos os homens, personificados no discípulo amado […] tornando-se a amorosa Mãe da Igreja, que Cristo gerou na cruz, dando o Espírito. Por sua vez, no discípulo amado, Cristo elegeu todos os discípulos como herdeiros do seu amor para com a Mãe”.

sábado, 7 de junho de 2025

João 20, 19-23 Jesus ressuscitado está vivo na comunidade.

* 19 Era o primeiro dia da semana. Ao anoitecer desse dia, estando fechadas as portas do lugar onde se achavam os discípulos por medo das autoridades dos judeus, Jesus entrou. Ficou no meio deles e disse: “A paz esteja com vocês.” 20 Dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos ficaram contentes por ver o Senhor. 21 Jesus disse de novo para eles: “A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês.” 22 Tendo falado isso, Jesus soprou sobre eles, dizendo: “Recebam o Espírito Santo. 23 Os pecados daqueles que vocês perdoarem, serão perdoados. Os pecados daqueles que vocês não perdoarem, não serão perdoados.” Comentário: * 19-23: O medo impede o anúncio e o testemunho. Jesus liberta do medo, mostrando que o amor doado até à morte é sinal de vitória e alegria. Depois, convoca seus seguidores para a missão no meio do mundo, infunde neles o Espírito da vida nova e mostra-lhes o objetivo da missão: continuar a atividade dele, provocando o julgamento. De fato, a aceitação ou recusa do amor de Deus, trazido por Jesus, é o critério de discernimento que leva o homem a tomar consciência da sentença que cada um atrai para si próprio: sentença de libertação ou de condenação. Não há mais barreiras que o Ressuscitado não possa atravessar. No mesmo dia da Páscoa, ele aparece aos apóstolos medrosos e lhes deseja a paz: “A paz esteja com vocês”. É o desejo de plenitude que o Mestre lhes oferece. É a primeira Boa Notícia que recebem e a dádiva por excelência, que os auxilia na superação do medo. Após uma segunda saudação do desejo da paz, os discípulos são convidados a dar continuidade à obra do Mestre, e para isso são enviados. Em seguida, sopra sobre eles o Espírito Santo, que é a certeza da sua presença e da sua força na missão dos seus. Com o sopro do Espírito, o Ressuscitado renova a ação de Deus criador que deu vida ao ser humano. Ser humano criado para viver a paz, a reconciliação e a harmonia entre si. Com o sopro do Espírito, Jesus ressuscitado impele sua Igreja a sair de si, não ficar trancada entre quatro paredes e se lançar ao mundo, superando o medo e o comodismo para levar à sociedade os valores do Reino de Deus.

1 Coríntios 12, 3b-7.12-13 Jesus é o Senhor.

E ninguém poderá dizer: “Jesus é o Senhor!” a não ser sob a ação do Espírito Santo. A Trindade gera a comunidade -* 4 Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; 5 diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; 6 diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos.7 Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A comunidade é o Corpo de Cristo -* 12 De fato, o corpo é um só, mas tem muitos membros; e no entanto, apesar de serem muitos, todos os membros do corpo formam um só corpo. Assim acontece também com Cristo. 13 Pois todos fomos batizados num só Espírito para sermos um só corpo, quer sejamos judeus ou gregos, quer escravos ou livres. E todos bebemos de um só Espírito. Comentário: * 12,1-3: Na efervescência carismática dos coríntios existem traços pagãos. Estes se reúnem para cultivar o espetacular e o fascínio pelo sobrenatural impregnado de mística pagã; isso acaba tornando-se verdadeiro ópio. Paulo adverte: nem todas as manifestações de entusiasmo religioso provêm de Deus. Na mística cristã, o primeiro critério para discernir os verdadeiros dons do Espírito é reconhecer Jesus como Senhor. * 4-11: A Trindade é a base sobre a qual a comunidade se constrói: nesta, toda ação provém do Pai, todo serviço provém de Jesus e todos os dons (= carismas) provêm do Espírito. Cada pessoa na comunidade recebe um dom, ou melhor, é um dom para o bem de todos. Por isso, cada um, sendo o que é e fazendo o que pode, age para o bem da comunidade, colocando-se a serviço de todos como dom gratuito. Desse modo, cada um e todos se tornam testemunho e sacramento da ação, serviço e dom do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Paulo enumera apenas os carismas de direção e ensino. A lista não é completa, pois cada pessoa é um carisma para a comunidade toda. * 12-31: A imagem do corpo é usada para falar da unidade, diversidade e solidariedade que caracterizam a comunidade cristã. Esta é una, porque forma o corpo de Cristo, dado que todos receberam o mesmo batismo e o mesmo Espírito, que produzem a comunhão e igualdade fundamental. Contudo, as pessoas são diferentes entre si; cada uma com sua originalidade contribui, de maneira indispensável, para a construção e crescimento de todos; portanto, não há lugar para complexos de superioridade ou inferioridade. O cimento da vida comunitária é a solidariedade, que faz todos voltar-se para cada um, principalmente para os mais fracos e necessitados, partilhando os sofrimentos e alegrias.

sexta-feira, 6 de junho de 2025

João 21, 20-25 O testemunho continua sempre.

vangelho: João 21,20-25 20 Pedro virou-se e viu atrás de si aquele outro discípulo que Jesus amava, o mesmo que estivera bem perto de Jesus durante a ceia e que havia perguntado: “Senhor, quem é que vai traí-lo?” 21 Quando Pedro viu aquele discípulo, perguntou a Jesus: “Senhor, o que vai acontecer a ele?” 22 Jesus respondeu: “Se eu quero que ele viva até que eu venha, o que é que você tem com isso? Quanto a você, siga-me.” 23 Então correu a notícia entre os irmãos de que aquele discípulo não iria morrer. Porém Jesus não disse que ele não ia morrer, mas disse: “Se eu quero que ele viva até que eu venha, o que é que você tem com isso?” O Evangelho é testemunho -* 24 Este é o discípulo que deu testemunho dessas coisas e que as escreveu. E nós sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. 25 Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que não caberiam no mundo os livros que seriam escritos. Comentário: * 15-23: A ideia de superioridade e domínio no exercício do pastoreio é absolutamente contrária ao ensino e atitude de Jesus, que considera todos os seus discípulos como amigos e irmãos. O verdadeiro pastor é aquele que segue a Jesus, colocando-se a serviço da comunidade e sendo capaz de amá-la até o fim, dando por ela até a própria vida. * 24-25: A segunda conclusão do evangelho salienta novamente o tema do testemunho. O Evangelho não é ensinamento de doutrina, nem exposição de verdades ou sistemas, nem conjunto de fórmulas jurídicas, às quais todos deveriam se ajustar. Evangelho é o testemunho de uma comunidade que se transforma cada vez mais ao seguir Jesus na experiência do amor. A “hora” é um conceito muito especial no Evangelho de João. Ela significa o momento da graça, da glorificação, e para ela é conduzida toda a missão de Jesus. Na “hora”, vemos expressa a extrema união entre Pai e Filho, que, por amor, dão aos homens e mulheres a vida eterna. A “hora” é o momento central da história da salvação, no qual Deus é glorificado e Jesus é reconhecido verdadeiramente como o Cristo libertador. João encerra seu Evangelho afirmando que Jesus realizou muitas outras coisas que não foram escritas. Ao longo da história da Igreja, Jesus continuou a agir, manifestando-se na vida dos santos e de todos os cristãos que abrem o coração para ouvi-lo. Ele continua agindo na nossa vida, precisamos apenas confiar e nos entregar em suas mãos. Transformados pela “hora” de Jesus, todos os cristãos assumem a mesma missão dos apóstolos: dar testemunho do Evangelho da graça de Deus.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

João 21, 15-19 Para dirigir a comunidade, é preciso amar.

* 15 Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de João, você me ama mais do que estes outros?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo.” Jesus disse: “Cuide dos meus cordeiros.” 16 Jesus perguntou de novo a Pedro: “Simão, filho de João, você me ama?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo.” Jesus disse: “Tome conta das minhas ovelhas.” 17 Pela terceira vez Jesus perguntou a Pedro: “Simão, filho de João, você me ama?” Então Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Disse a Jesus: “Senhor, tu conheces tudo, e sabes que eu te amo.” Jesus disse: “Cuide das minhas ovelhas. 18 Eu garanto a você: quando você era mais moço, você colocava o cinto e ia para onde queria. Quando você ficar mais velho, estenderá as suas mãos, e outro colocará o cinto em você e o levará para onde você não quer ir.” 19 Jesus falou isso aludindo ao tipo de morte com que Pedro iria glorificar a Deus. E Jesus acrescentou: “Siga-me.” Comentário: * 15-23: A ideia de superioridade e domínio no exercício do pastoreio é absolutamente contrária ao ensino e atitude de Jesus, que considera todos os seus discípulos como amigos e irmãos. O verdadeiro pastor é aquele que segue a Jesus, colocando-se a serviço da comunidade e sendo capaz de amá-la até o fim, dando por ela até a própria vida. Seguir Jesus significa percorrer as dores do caminho da cruz e proclamar as alegrias da ressurreição de Cristo até que ele venha, num mundo que, de tantas formas, teima em contrariar a verdade e afirmar que aquele que morreu jamais há de viver. Somente quem conhece e ama profundamente a Jesus consegue trilhar este caminho, quem se deixa conduzir por ele. O caminho da cruz não está isento de dúvidas e sofrimentos, mas nos conduz à esperança da ressurreição, na certeza de que quem com Cristo sofre com ele um dia reinará, porque o Senhor prepara no céu um trono de glória para todos os que perseverarem. Pedro é o personagem de destaque no Evangelho de hoje. Há aqui uma espécie de remissão, com a declaração de amor de Pedro, contrapondo-se às três vezes que o discípulo renegará o Mestre na paixão. Em contrapartida, Jesus lhe confia a missão de “tomar conta das ovelhas”, ser um bom pastor, seguindo seus passos como Bom Pastor.

quarta-feira, 4 de junho de 2025

João 17, 20-26 A unidade no amor.

-* 20 “Eu não te peço só por estes, mas também por aqueles que vão acreditar em mim por causa da palavra deles, 21 para que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. E para que também eles estejam em nós, a fim de que o mundo acredite que tu me enviaste. 22 Eu mesmo dei a eles a glória que tu me deste, para que eles sejam um, como nós somos um. 23 Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade, e para que o mundo reconheça que tu me enviaste e que os amaste, como amaste a mim. 24 Pai, aqueles que tu me deste, eu quero que eles estejam comigo onde eu estiver, para que eles contemplem a minha glória que tu me deste, pois me amaste antes da criação do mundo. 25 Pai justo, o mundo não te reconheceu, mas eu te reconheci. Estes também reconheceram que tu me enviaste. 26 E eu tornei o teu nome conhecido para eles. E continuarei a torná-lo conhecido, para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu mesmo esteja neles.” Comentário: * 20-26: Graças ao testemunho dos discípulos, as comunidades cristãs do futuro vão acreditar e se comprometer com Jesus. Na unidade do amor, as comunidades serão o sacramento ou expressão da presença atuante de Jesus, lembrando continuamente o próprio Jesus, que é o dom que o Pai concedeu aos homens. Os saduceus não admitiam outra vida depois da morte. Eram materialistas. O horizonte deles era esta vida e nela procuravam manter sua posição de poder e de privilégio. Ao responder ao caso proposto por eles, Jesus atinge também os fariseus. Estes acreditavam na ressurreição e em outra vida, que imaginavam como retorno à vida terrena em condições de total bem-estar. Jesus esclarece: a vida após a morte não é simples retorno ou repetição da vida anterior vivida neste mundo. Trata-se de vida em outra dimensão, “como os anjos”. Bem outro é o esquema da vida eterna. Nela não há matrimônio nem necessidade de procriação para conservar a espécie humana. Quanto à ressurreição dos mortos, a Escritura nos ilumina: o Deus de Jesus é o Deus da vida, porque sua força é a força da vida. Vida sem fim.

terça-feira, 3 de junho de 2025

João 17, 11-19 Os discípulos de Jesus rompem com o mundo.

11 Eu já não estou no mundo. Eles permanecem no mundo, enquanto eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, o nome que tu me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um. 12 Quando eu estava com eles, eu os guardava em teu nome, o nome que tu me deste. Eu os protegi e nenhum deles se perdeu, a não ser o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura. 13 Agora eu vou para junto de ti. Entretanto, continuo a dizer essas coisas neste mundo, para que eles possuam toda a minha alegria. 14 Eu dei a eles a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não pertencem ao mundo, como eu não pertenço ao mundo. 15 Não te peço para tirá-los do mundo, mas para guardá-los do Maligno. 16 Eles não pertencem ao mundo, como eu não pertenço ao mundo. 17 Consagra-os com a verdade: a verdade é a tua palavra. 18 Assim como tu me enviaste ao mundo, eu também os envio ao mundo. 19 Em favor deles eu me consagro, a fim de que também eles sejam consagrados com a verdade.” Comentário: * 6-19: Os discípulos vão continuar a missão de Jesus. Como Jesus, eles romperam com a mentalidade perversa do sistema que rege a sociedade. A missão deles, porém, não é sair do “mundo”, e sim permanecerem unidos, presentes no meio da sociedade, dando testemunho de Jesus. O Pai os protegerá de se contaminarem com o espírito do “mundo”, a cujas ameaças e seduções eles não cederão. Na segunda parte da chamada oração sacerdotal, Jesus pede ao Pai a unidade e a perseverança dos apóstolos, e que sejam sempre fortalecidos e santificados na missão de levar o Evangelho (a verdade) ao mundo. No pedido de Jesus, está expressa a unidade que existe entre Deus e os seres humanos, entre a Trindade e a comunidade cristã, que se revela como rosto de Cristo no mundo. A hora da entrega se aproxima, e Jesus se preocupa com o futuro de seus discípulos. Durante toda a vida pública de Jesus, os discípulos o seguiram, sendo protegidos e orientados. Agora, Jesus pede ao Pai que os proteja, mostrando o caminho a seguir para vencerem os desafios do mundo e continuarem a desempenhar bem a missão confiada pelo Mestre.